Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
42 Ana Carolina Ghisleni e Fabiana Marion Spengler<br />
a socieda<strong>de</strong> e o indivíduo prossegue no próprio indivíduo como luta entre as partes <strong>de</strong><br />
sua essência. 141<br />
Porém, é impossível separar o indivíduo 142 <strong>de</strong> sua situação social, pois o sujeito<br />
só existe como movimento social. To<strong>do</strong>s os movimentos sociais, por sua vez, são<br />
interiormente dividi<strong>do</strong>s porque servem à racionalização e à subjetivação <strong>de</strong> formas<br />
diferentes. 143<br />
Além disso, Touraine 144 enten<strong>de</strong> que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sujeito está diretamente ligada à<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> contestação e racionalização, haja vista que<br />
a socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna ten<strong>de</strong> a negar sua própria criativida<strong>de</strong> e seus<br />
<strong>conflitos</strong> internos e a se representar como um sistema autorregula<strong>do</strong>,<br />
escapan<strong>do</strong> portanto aos autores sociais e seus <strong>conflitos</strong>. [...] É por<br />
isso que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sujeito é antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> contesta<strong>do</strong>ra, o que permite<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a formulação extrema colocada como título <strong>de</strong>ste capítulo: o<br />
sujeito como movimento social. A i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> sujeito certamente não po<strong>de</strong><br />
ocupar uma posição extrema, porque sua importância é por <strong>de</strong>mais<br />
central, mas ela não po<strong>de</strong> mais estar simplesmente no centro da<br />
análise, uma vez que não é ela sozinha, mas o par que ela forma com<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> racionalização, que <strong>de</strong>fine as orientações culturais da<br />
socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> racionalização ten<strong>de</strong> com maior<br />
frequência combinar centralida<strong>de</strong> cultural e associação à gestão da<br />
or<strong>de</strong>m estabelecida; a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sujeito ten<strong>de</strong> a ocupar um lugar<br />
culturalmente central, mas ela está associada a um conteú<strong>do</strong> social<br />
contesta<strong>do</strong>r. A racionalização está mais fortemente ligada à ação das<br />
forças dirigentes, enquanto que a subjetivação muitas vezes constituiu<br />
o tema central <strong>do</strong> movimento social das categorias <strong>do</strong>minadas.<br />
To<strong>do</strong>s os acontecimentos da socieda<strong>de</strong> são fenômenos da natureza humana,<br />
gera<strong>do</strong>s por ações <strong>de</strong> circunstâncias externas sobre os indivíduos; se, neste caso, os<br />
pensamentos e sentimentos estão sujeitos a leis fixas os fenômenos sociais 145 serão<br />
consequência <strong>de</strong>ssas prece<strong>de</strong>ntes. A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circunstâncias <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
os resulta<strong>do</strong>s em diferentes casos po<strong>de</strong> ser tão vasta <strong>de</strong> forma que se <strong>de</strong>ve atentar às<br />
141 Ibi<strong>de</strong>m, p. 83.<br />
142 É em termos <strong>de</strong> autor e <strong>de</strong> conflito social que se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>finir o sujeito: ele não é um princípio que<br />
paira acima da socieda<strong>de</strong> nem o indivíduo na sua particularida<strong>de</strong>; ele é um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> construção da<br />
experiência social, como o é a racionalida<strong>de</strong> instrumental. (Ibi<strong>de</strong>m).<br />
143 TOURAINE, Alain. Crítica da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Petrópolis: Vozes, 1994.<br />
144 Ibi<strong>de</strong>m, p. 257.<br />
145 As leis <strong>do</strong>s fenômenos sociais, por sua vez, “não são nem po<strong>de</strong>m ser outra coisa senão as ações e<br />
paixões <strong>do</strong>s seres humanos uni<strong>do</strong>s entre si em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>. Entretanto, os homens, em um<br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, são ainda homens; suas ações e paixões obe<strong>de</strong>cem às leis da natureza humana<br />
individual. Os homens não são, quan<strong>do</strong> reuni<strong>do</strong>s, transforma<strong>do</strong>s em outro tipo <strong>de</strong> substância com<br />
proprieda<strong>de</strong> diferente, como o hidrogênio e o oxigênio são diferentes na água, ou como o hidrogênio,<br />
o oxigênio, o carbono e o azoto são diferentes <strong>do</strong>s nervos, músculos e tendões. Os seres humanos em<br />
socieda<strong>de</strong> não têm outras proprieda<strong>de</strong>s além daquelas que são <strong>de</strong>rivadas e que po<strong>de</strong>m ser resolvidas<br />
nas leis da natureza <strong>do</strong> homem individual. Nos fenômenos sociais, a Composição <strong>de</strong> Causas é a lei<br />
universal.” (MILL, John Stuart. A lógica das ciências morais. São Paulo: Editora Iluminura Ltda, 1999,<br />
p. 77).