Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
8 Ana Carolina Ghisleni e Fabiana Marion Spengler<br />
1 1 INTRODUÇÃO<br />
INTRODUÇÃO<br />
Atualmente é possível questionar sobre a importância e até mesmo sobre a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar em fraternida<strong>de</strong>. Mais, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar fraternida<strong>de</strong> à<br />
teoria e a prática da política também se per<strong>de</strong>u. Na verda<strong>de</strong>, estudar as relações entre<br />
fraternida<strong>de</strong> e política nunca foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um tema atrativo. A liberda<strong>de</strong> e a<br />
igualda<strong>de</strong> aparecem com frequência nesse <strong>de</strong>bate, mas a fraternida<strong>de</strong> sempre resta<br />
esquecida.<br />
A Revolução Francesa e seus partícipes, que produziram a tría<strong>de</strong> “liberda<strong>de</strong>,<br />
igualda<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong>” – princípios universais <strong>de</strong> caráter político -, aos poucos<br />
expurgaram a fraternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu contexto voltan<strong>do</strong> os olhos somente para as duas<br />
primeiras. É nesse senti<strong>do</strong> que a fraternida<strong>de</strong> passou a ser encarada como “a parente<br />
pobre, a prima <strong>do</strong> interior” 2 , assumin<strong>do</strong> aos poucos outras conotações 3 : religiosa,<br />
consanguínea, ou então na forma <strong>de</strong> “ligações sectárias, no âmbito <strong>de</strong> organizações<br />
secretas, ou que colocam níveis <strong>de</strong> segre<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> outros <strong>de</strong> caráter público –<br />
como a maçonaria – e que buscam fortalecer sua própria re<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r econômico e<br />
político”. 4<br />
Ao abordar o tema da amiza<strong>de</strong> como cimento social possibilita<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um<br />
tratamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> aos <strong>conflitos</strong>, Eligio Resta 5 faz referência ao <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>fraterno</strong>,<br />
mencionan<strong>do</strong> que “a fraternida<strong>de</strong> possui um senti<strong>do</strong> vagamente anacrônico”, uma vez<br />
que nos reporta ao cenário da revolução iluminista. No entanto, não é com essa<br />
conotação que se preten<strong>de</strong> aqui abordar o <strong>direito</strong> <strong>fraterno</strong>, (também não foi assim que<br />
o autor conduziu o seu texto) uma vez que, dito daquela forma, a fraternida<strong>de</strong> “<strong>de</strong>ixava<br />
entrever muitas coisas, mas continuava no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> aceno silencioso”. Desse mo<strong>do</strong>,<br />
“confirmava antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o jogo da pertença <strong>do</strong>s indivíduos, <strong>de</strong> mulheres e homens<br />
<strong>de</strong> carne e osso, ao território <strong>de</strong> nascimento...”. Consequentemente, “ligava<br />
separan<strong>do</strong>, incluía excluin<strong>do</strong>: o sentimento <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> na direção <strong>de</strong> outras<br />
nações, <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> uma nação, ao povo <strong>de</strong> outras nações.” Assim abria o cenário <strong>do</strong><br />
cosmopolitismo para fechá-lo imediatamente <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> recinto <strong>de</strong> pertencimento<br />
nacional. 6 Por isso o anacronismo da fraternida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser traduzi<strong>do</strong> como um<br />
2 RESTA, Eligio. Il diritto <strong>fraterno</strong>. Laterza: Roma, 2005 (introduzione), p. IX.<br />
3 Tal afirmativa é apenas ilustrativa uma vez que o presente estu<strong>do</strong> não tem por objetivo investigar<br />
profundamente a fraternida<strong>de</strong> no contexto cristão/familiar/associativo.<br />
4 BAGGIO, Antonio Maria (Org.). O princípio esqueci<strong>do</strong>. São Paulo: Cida<strong>de</strong> Nova, 2008, p. 20.<br />
5 RESTA, Eligio. Le verità e il processo. In: MARINI, Alarico Mariani. Processo e verità. Pisa: Plus, 2004,<br />
p. 9.<br />
6 Nesse ponto o autor salienta: “Il diritto <strong>fraterno</strong> sembrerebbe aver trovato la sua istituzionalizzazione<br />
formale nella gran<strong>de</strong> codificazione di fine secolo, dapprima com le Dichiarazione universali e poi com<br />
um vero e proprio processo di constituzionalizzazione che si apre com questa affermazione<br />
<strong>de</strong>ll’ugualianza di fronte alla lege. Ma già nella netta separazione tra l’ugualianza e la fraternità<br />
riemerge il problema <strong>de</strong>ll’universalismo; la fraternità è il critério direttivo, la nuova regola, <strong>de</strong>i rapporti<br />
com gli altri Stati e com gli altri cittadini. Essa indica uma scelta di solidarietà cosmopolitica Che non<br />
solo non contesta, ma addirittura presuppone i confini statuali, ‘sovrani’, sulla base di território.<br />
L’ugualianza, al contrario, proprio perchè supportata da uma legge Che nasce dal nuovo patto <strong>de</strong>lla