(a): Maikon Levi Vilar Veiga - Outros Tempos - Uema
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2 O QUE SABEMOS SOBRE NÓS NO XIX ?<br />
Sem dúvidas, o primeiro grande golpe que sofreu o sistema escravista<br />
brasileiro foi a abolição do tráfico internacional de africanos. A partir de 1850, a<br />
economia brasileira, fundada no trabalho escravo, desligou-se do fornecimento<br />
africano. Sem a fonte de renovação dos plantéis, vital para sua sobrevivência, o<br />
escravismo entrou em colapso.<br />
No Maranhão, o escravo esteve presente em grandes quantidades desde<br />
a segunda metade do século XVIII até os anos 80 do século XIX, assim como em<br />
todo o Brasil, era o escravo quem assegurava a economia maranhense. A mão-de-<br />
obra escrava foi tão importante para o Maranhão que a redução de 73.245 peças<br />
para 33.446 entre 1872 e 1887 em razão do tráfico internacional, ajudou na<br />
estagnação da lavoura e do comércio da província. Em 1821, o trabalho escravo<br />
predominava nas atividades agrícolas do Maranhão. ”Entre os trabalhadores desse<br />
setor, 77,7% eram escravos e 22.3% livres. Em 1872, os números havia se invertido,<br />
os homens livres representavam 70,4% e os escravos 39,6% dessa mão-de-obra”. 3<br />
O modelo de colonização do Maranhão foi marcado pela economia<br />
agrário-exportadora, escravista e mercantil, definida, particularmente, a partir da<br />
segunda metade do século XVIII.<br />
Assim, a condição jurídica, livre ou escravo, e o padrão de renda das<br />
pessoas, somadas a elementos da tradição européia do Ocidente, como os<br />
resíduos das relações de suserania e vassalagem, ainda presentes na<br />
mentalidade do colonizador português, imprimiram formalmente, os códigos<br />
das relações sociais no Maranhão. 4<br />
O escravo representava e demonstrava opulência e o alto prestígio social<br />
dos fazendeiros maranhenses, mesmo que para isso eles se endividassem junto aos<br />
vendedores de escravos. Como se pode notar, esse comportamento indica o quanto<br />
estavam presentes no imaginário dessa elite econômica, os resíduos da mentalidade<br />
senhorial do ocidente medieval, caracterizada, em grande parte, pelo desejo de ser<br />
servido e reverenciado por uma larga clientela. “Assim, sendo a condição de ser<br />
senhor, definia-se na tradição nobiliárquica acrescida de um novo elemento: a<br />
3 PEREIRA DO LAGO apud FARIA, Regina Helena Martins de. A transformação dos trabalhos nos trópicos:<br />
propostas e realizações. Recife, 2001. Centro de Filosofia e Ciencias Humanas.Programa de Pós-Graduação em<br />
História. Universidade Federal de Pernanbuco. p. 157<br />
4 PEREIRA, Josenildo de Jesus. Na fronteira do cárcere e do paraíso: um estudo sobre as práticas e resistência<br />
escrava no Maranhão oitocentista. 2001. Dissertação ( mestrado em História Social) – Programa de pós<br />
Graduação em História Política Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001. p. 32