(a): Maikon Levi Vilar Veiga - Outros Tempos - Uema
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De acordo com edição de 14 de fevereiro de 1869 de “O Artista” 12 , pode-<br />
se perceber com riqueza de detalhes a descrição dos livres pobres maranhenses:<br />
São homens ou famílias que não tem suas terras vivem nas alheias,<br />
intrusos ou com licença dos respectivos donos. Há proprietários que tem<br />
centenas de intrusos e não tem meios de os fazerem evacuar. Mas evacuar<br />
para quê? Seria melhor arrendar-lhes terras: mas é que eles não se<br />
sujeitam a um arrendamento e se assinassem algum seria logo necessário<br />
expeli-los por falta de pagamentos, e as coisas ficariam como estão. Quem<br />
não tem uma energia fora do comum não expulsa um desses intrusos por<br />
ter que adquirir um inimigo que tem uma infinidade de meios de fazer mal. O<br />
pior é que de todo modo, quer como amigos quer como inimigos, fazem-se<br />
pesados ao senhor das terras: cortam madeira reservada, colhem-nas<br />
escondidas nas roças, desmancham cercas, quebram porteiras, ligam-se<br />
com escravos, para prejudicarem os senhores, tem laços com escravos<br />
fugidos, avisam-lhes das diligências, amigam-se com as escravas, matam<br />
os animais domésticos, esfaltam os cavalos nos passeios noturnos, animam<br />
os escravos a insubordinação com discursos subversivo,suas mulheres são<br />
parteiras de abortos clandestinos entre as escravas que pretendem subtrair<br />
a escravidão o fruto de seu ventre, andam por detrás dos ranchos dos<br />
escravos abrindo caminhos novos para fins ilícitos, o pretexto de fazerem o<br />
que eles chamam picada de caçador; de maneira que o proprietário não<br />
pode ter em sua casa a ordem que deseja. 13<br />
Ainda em “O Artista”, percebemos entre os livres pobres os que se dizem<br />
lavradores por possuírem roça, embora em terra alheia:<br />
Pescam ou caçam num dia, fazem farinha noutro, trabalham uma hora na<br />
roça em outro e dormem ou passeiam o resto da semana. Andam léguas<br />
para ir cavar num buraco onde sabem que há uma paca ou um tatu, ou para<br />
trazerem uma arroba de frutos silvestres e voltam com seu achado: se a<br />
caça é morta a tiro, avaliam-na no custo da carga da pólvora; se é morta a<br />
facão ou a laço ou se é fruta, tudo é lucro: são dons gratuitos que nada<br />
custaram porque eles não sabem dar valor ao tempo, são pródigos de sua<br />
fortuna.<br />
A liberdade e a ociosidade dos livres pobres, de acordo com o exposto no<br />
jornal “O Artista”, são estereotipadas por não estarem inseridas no contexto da<br />
grande lavoura de exportação; portanto a ociosidade do livre era vista pela elite<br />
agrária como preguiça e falta de valor ao tempo e ainda eram taxados de<br />
vagabundos.<br />
Existia desde a colônia leis que proibiam a vadiagem. O código criminal do<br />
Império determinava pena de prisão com trabalho, por oito e vinte e quatro dias, a<br />
qualquer pessoa que não tivesse uma “ocupação honesta e justa” para o império. O<br />
que seria uma ocupação honesta para o Império?Seria estar na órbita do sistema<br />
agrário de exportação? O modo de vida dos livres pobres não era honesto por não<br />
se enquadrar em tal contexto?<br />
12 Jornal dedicado, principalmente, às artes mecânicas, encontrado na Biblioteca Pública Benedito Leite: “Só<br />
chegamos a ser livres à proporção que nos fazemos industriosos e moraes” (C. B. Dunoyer).<br />
13 O Artista, 14 de fevereiro de 1869 apud FARIA p. 163.