Novembro de 2012 - Canal : O jornal da bioenergia
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Sorgo<br />
O coadjuvante volta à cena<br />
Com a retoma<strong>da</strong> nos investimentos em sorgo sacarino, cultura volta a figurar<br />
no rol <strong>da</strong>s estratégias para a diversificação <strong>da</strong> matriz energética brasileira<br />
40 milhões<br />
<strong>de</strong> litros<br />
É o volume <strong>de</strong> etanol <strong>de</strong> sorgo sacarino<br />
produzido no Brasil durante a última safra<br />
12 • 12 CANAL, • CANAL, Jornal Jornal <strong>da</strong> Bioenergia <strong>da</strong> Bioenergia<br />
60 dias<br />
É o prazo máximo que a cultura <strong>de</strong> sorgo<br />
sacarino po<strong>de</strong> ocupar na entressafra <strong>de</strong><br />
cana-<strong>de</strong>-açúcar atualmente<br />
R$ 270 milhões<br />
É o total <strong>de</strong> recursos liberados pelo governo<br />
fe<strong>de</strong>ral, por linhas <strong>de</strong> créditos, para os<br />
produtores interessados no cultivo <strong>de</strong> sorgo<br />
sacarino<br />
3,5 mil litros<br />
É a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> por hectare indica<strong>da</strong> pela<br />
Embrapa para a safra <strong>2012</strong>/2013<br />
igor Augusto Pereira<br />
A<br />
utilização do sorgo sacarino<br />
como matéria-prima para a produção<br />
<strong>de</strong> etanol não é um assunto<br />
novo. As pesquisas para o<br />
incremento <strong>da</strong> cultura existem no Brasil<br />
há pelo menos 40 anos, embora tenham<br />
perdido o ritmo com a criação do<br />
Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool),<br />
com foco na cana-<strong>de</strong>-açúcar. Esse panorama,<br />
contudo, tem ganhado novos contornos.<br />
Com a crescente <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por<br />
biocombustíveis, o sorgo sacarino volta a<br />
<strong>de</strong>spontar como alternativa viável para o<br />
consumidor e lucrativa para o produtor.<br />
A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir em até 60<br />
dias o período <strong>de</strong> entressafra, amortizando<br />
os custos <strong>de</strong> para<strong>da</strong> e reservando a<br />
cana-<strong>de</strong>-açúcar, é aponta<strong>da</strong> por especia-<br />
listas como o principal atrativo do sorgo<br />
sacarino para o setor sucroenergético.<br />
Entretanto, polêmicas a respeito <strong>da</strong> real<br />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> planta ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>ixam<br />
muitos empresários com o pé atrás na<br />
hora <strong>de</strong> investir, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> relatos<br />
sobre volumes <strong>de</strong>cepcionantes em experiências<br />
anteriores.<br />
Segundo o pesquisador André May, <strong>da</strong><br />
Embrapa Milho e Sorgo, a falta <strong>de</strong> conhecimento<br />
sobre boas práticas <strong>de</strong> manejo<br />
ain<strong>da</strong> é um entrave para a consoli<strong>da</strong>ção<br />
<strong>de</strong>sta cultura. “Para quem tem a tradição<br />
<strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, é difícil enten<strong>de</strong>r as<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> planta. O sorgo sacarino<br />
não ‘aguenta tanto <strong>de</strong>saforo’, é exigente.<br />
Para maiores produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, exige uma<br />
fertilização equilibra<strong>da</strong>”, explica.<br />
Em razão <strong>da</strong>s características i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong><br />
manejo do sorgo sacarino, o pesquisador<br />
Para o pesquisador<br />
André May, maiores<br />
empresas do setor têm<br />
mais facili<strong>da</strong><strong>de</strong> na<br />
produção <strong>de</strong> sorgo<br />
sacarino<br />
acredita que empresas com estruturas <strong>de</strong><br />
negócios mais consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s saiam na frente<br />
na hora <strong>de</strong> produzir. “É uma planta<br />
específica para empresas que tenham sistemas<br />
<strong>de</strong> gestão agrícola mais <strong>de</strong>senvolvidos,<br />
que invistam pesado em tecnologia e<br />
capacitação”, conta May.<br />
Hoje, aproxima<strong>da</strong>mente 15 empresas do<br />
setor sucroenergético exploram o negócio<br />
no Brasil, incluindo Raízen, ETH, Bunge e<br />
São Martinho. Anuncia<strong>da</strong> como uma <strong>da</strong>s<br />
primeiras do setor a investir no cultivo <strong>de</strong><br />
sorgo sacarino no Brasil, a Cerradinho<br />
informou, por meio <strong>de</strong> sua assessoria <strong>de</strong><br />
imprensa, que não tem planos para a cultura<br />
no momento. Na última safra, a<br />
empresa produziu 1,4 milhão litros <strong>de</strong> etanol<br />
<strong>da</strong> planta, cultiva<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> híbridos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos pela Monsanto/<br />
CanaVialis.<br />
Durante a safra 2011/<strong>2012</strong>, a área planta<strong>da</strong><br />
no País chegou a 20 mil hectares, com total<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> etanol.<br />
O valor está bem abaixo <strong>da</strong> previsão<br />
divulga<strong>da</strong> no início do ciclo pela consultoria<br />
internacional Datagro, que apontava um cultivo<br />
<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 60 mil hectares no País. Para<br />
2013/2014, a Embrapa Milho e Sorgo espera<br />
que esse índice se mantenha, uma vez que o<br />
volume <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar disponível para<br />
moagem é consi<strong>de</strong>rado alto. De acordo com<br />
o pesquisador, o impacto se justifica porque o<br />
mercado ten<strong>de</strong> a se interessar menos pela<br />
cultura complementar quando a principal, a<br />
cana-<strong>de</strong>-açúcar, tem gran<strong>de</strong> oferta.<br />
Para a fabricante <strong>de</strong> híbridos Ceres, no<br />
entanto, o clima é <strong>de</strong> mais otimismo.<br />
Especializa<strong>da</strong> em culturas energéticas, a<br />
empresa preten<strong>de</strong> dobrar o fornecimento<br />
<strong>de</strong> sementes no Brasil em relação à safra<br />
passa<strong>da</strong>. Para isso, irá lançar seis novos produtos,<br />
além <strong>de</strong> reforçar as ven<strong>da</strong>s dos híbridos<br />
comerciais Bla<strong>de</strong>, disponíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
2011. Já o governo fe<strong>de</strong>ral tem uma meta<br />
ain<strong>da</strong> mais au<strong>da</strong>ciosa. O Ministério <strong>da</strong><br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />
espera uma safra <strong>de</strong> até 120 mil hectares e,<br />
para isso, incluiu o sorgo sacarino no Pacote<br />
Agrícola, reservando R$ 270 milhões em<br />
linhas <strong>de</strong> crédito para a produção.<br />
Conciliando manutenção e produção agrícola<br />
Em virtu<strong>de</strong> dos expressivos custos em horas-<br />
para<strong>da</strong>s, uma <strong>da</strong>s maiores preocupações aponta<strong>da</strong>s<br />
por profissionais do setor sucroenergético é<br />
com a manutenção <strong>de</strong> equipamentos industriais,<br />
feita durante a entressafra. Entretanto, o aumento<br />
no interesse pelo cultivo <strong>de</strong> sorgo sacarino<br />
neste período <strong>de</strong>ixou uma dúvi<strong>da</strong>: como fazer as<br />
duas coisas ao mesmo tempo?<br />
A resposta, segundo o pesquisador André May,<br />
<strong>da</strong> Embrapa Milho e Sorgo, po<strong>de</strong> estar na remo<strong>de</strong>lagem<br />
<strong>da</strong>s usinas. Para o especialista, o agronegócio<br />
tem apontado uma tendência em reduzir ca<strong>da</strong><br />
vez mais a entressafra. “É possível até chegar a um<br />
momento em que não exista mais esse período,<br />
mas isso vai exigir certos investimentos. Para a<br />
cultura <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, por exemplo, uma<br />
alternativa seria separar as moen<strong>da</strong>s em conjuntos.<br />
Assim, enquanto parte operaria, o restante<br />
estaria em manutenção”, esclarece.<br />
Antônio Kaupert, <strong>da</strong> Ceres: novo<br />
cronograma para manutenção po<strong>de</strong><br />
aju<strong>da</strong>r a conciliar produção <strong>de</strong> sorgo<br />
sacarino e cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />
Enquanto esse novo layout <strong>da</strong>s usinas não<br />
chega ao mercado, a opção é fazer alterações<br />
no cronograma tradicional <strong>de</strong> manutenção.<br />
Segundo o gerente <strong>de</strong> Marketing <strong>da</strong> Ceres,<br />
Antônio Kaupert, uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> é concentrar<br />
o trabalho no fim <strong>da</strong> safra <strong>de</strong> sorgo sacarino.<br />
“A entressafra vai <strong>de</strong> novembro a abril e<br />
estamos ocupando até dois meses <strong>de</strong>sse período.<br />
Para conciliar as duas culturas, é preciso<br />
fazer a manutenção nos <strong>de</strong>mais meses”, avalia<br />
Kaupert.<br />
O investimento, na visão do gerente, vale a<br />
pena. Embora o sorgo sacarino apresente níveis <strong>de</strong><br />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> inferiores ao <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e<br />
ain<strong>da</strong> não mostre vocação para li<strong>de</strong>rar a produção<br />
<strong>de</strong> etanol, a planta po<strong>de</strong> trazer um acréscimo <strong>de</strong><br />
recursos e <strong>de</strong> conhecimentos técnicos estratégicos<br />
para o setor. “Tudo isso aproveitando os ativos<br />
já existentes”, acrescenta.<br />
<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong> • 13