Novembro de 2012 - Canal : O jornal da bioenergia

Logística
16 • CANAL, Jornal da Bioenergia
Petrobras recua
no etanolduto
A Petrobras, uma
das investidoras
na construção
do duto que
vai ligar Rio de
Janeiro, São
Paulo, Minas
Gerais e Goiás,
anunciou que
não vai investir
na obra em
2013. Valor total
do projeto é
estimado em
R$ 7 bi
rogério Guimarães,
de São Paulo
A
notícia dá continuidade à sequência de
anúncios negativos da Petrobras no
segundo semestre deste ano. Em outubro
a empresa anunciou queda na
produção diária para uma média de 1,843
milhão de barris de petróleo em setembro, o
menor índice nos últimos quatro anos. Ainda
em outubro a estatal admitiu uma retração de
12% no lucro líquido do terceiro trimestre em
relação ao mesmo período de 2011. Em agosto o
baque veio com a confirmação de um prejuízo
histórico de R$ 1,346 bilhão no segundo trimestre
de 2012, enquanto no mesmo período de
2011 o cenário foi bem diferente: lucro líquido
de R$ 10,943 bilhões.
Para o diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, Adriano Pires, a Petrobras se
viu obrigada a reavaliar o etanolduto. “A
Petrobras está repensando a obra. O etanolduto
foi pensado num momento de crescimento
vertiginoso do etanol, muito diferente do
cenário de hoje que é de crise. A produção
vem caindo ao longo dos anos, o setor sucroenergético
não é amparado por política pública,
ainda mais após o pré-sal. A situação é tão
desfavorável que o próprio governo se viu
obrigado a reduzir a mistura de álcool anidro
na gasolina de 25 para 20% no ano passado”,
explicou o diretor do CBIE. Ainda segundo
Pires, a Petrobras passa por uma fase de rearrumação
da Casa, palavras da própria presidente
da estatal, Graça Foster.
Diante do quadro da empresa, Pires acredita
que investimentos no etanol só no final de 2014
ou em 2015. “A empresa enfrenta problema de
caixa e, por isso, o etanolduto deixou de ser
prioridade, e talvez para os outros sócios a análise
possa ser a mesma. Teremos de esperar
quase dois anos pra saber se a Petrobras já terá
condições de fazer o aporte. A prioridade agora
da empresa petrolífera é levantar a curva de
produção. Apesar desse cenário, o projeto não
foi abortado,” analisou Pires.
O comunicado foi divulgado no final de
outubro. Na época a Petrobras informou aos
seus sócios junto à Logum Logística S/A, a
empresa responsável pela construção e operação
do Sistema Logístico de Etanol, que não vai
fazer em 2013 o aporte financeiro para as obras
do duto. Mas a Petrobras anunciou também,
durante a divulgação dos resultados financeiros
do 3º trimestre, que manterá a sociedade com a
Logum. A Companhia vai avaliar até março de
2013, a partir do que prevê o Plano de Negócios
2012-2016, o valor do novo aporte, mas o percentual
de participação deverá ser mantido no
mesmo patamar de 20%. Em nota, a Petrobras
disse que “considera o etanolduto um empreendimento
de infraestrutura importante para o
País, que contribuirá para a melhoria de produtividade
do sistema”.
Os outros sócios da Logum são as gigantes
produtoras e comercializadoras de etanol
Raízen, Copersucar e Odebrecht/ETH, e ainda,
Uniduto e Camargo Corrêa. Apesar do recuo da
Petrobras, esses investidores devem honrar os
aportes no ano que vem. Em 2012 os investi-
mentos no duto vão somar R$ 1 bilhão, sendo R$
700 milhões obtidos por meio de um empréstimo
do Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e R$ 300 milhões
pelos sócios.
A direção da Logum, por meio da assessoria de
imprensa, diz que não vai falar mais sobre o assunto
por enquanto. À época do anúncio da Petrobras,
o presidente da empresa, Alberto Guimarães, falou
que a situação está sendo discutida e que deve ser
resolvida até meados do ano que vem, quando
haverá a primeira chamada de capital para 2013.
Ainda segundo o presidente, o cronograma de
obras deve ser mantido com a primeira inauguração
de trecho em março do ano que vem. As obras
no percurso de 212 quilômetros entre Ribeirão
Preto (SP) e Paulínia (SP) já estão com 97% do
previsto concluídas. Já o segundo trecho entre
Ribeirão Preto (SP) e Uberaba (MG), prevista para
ter início no terceiro trimestre deste ano, ainda não
começou. As obras, segundo a Logum, devem
começar assim que houver a primeira inauguração.
Esse atraso preocupa os produtores que estão na
ponta do etanolduto, em Goiás, onde usineiros
investem na construção e ampliação de indústrias
pensando no escoamento da produção pelo novo
modal de 1,3 mil quilômetros de extensão, mais
seguro e com maior rapidez no escoamento. Além
disso, dizem especialistas, o duto vai ajudar a diminuir
o volume de caminhões trafegando nas estradas,
reduzindo assim os gastos com manutenção e
conservação de rodovias.
Após a conclusão em Uberaba, o projeto original
prevê o prolongamento até Itumbiara (GO), no
Sul do Estado, e, na sequência, um ramal até Jataí,
no Sudoeste goiano. “O anúncio da Petrobras traz
ms
presidente
epitácio
jataí
Aparecida
taboado
pr
go
quirinópolis
Araçatuba
sp
senador
Canedo
itumbiara
Anhembi
Barueri
uberaba
uma atenção especial a esse assunto, mas devemos
buscar ter mais informações a respeito, pois
a Petrobras pode fazer os aportes imobilizando
dutos que já pertencem a ela, os outros sócios
podem fazer os aportes e diluírem a participação
da Petrobras ou poderia haver a entrada de outro
sócio no projeto. Caso os sócios decidam pelo
adiamento do cronograma, isso poderá provocar
um grande entrave à nossa competitividade”, avaliou
o Presidente-executivo dos sindicatos da
Indústria de Fabricação de Etanol e Açúcar do
Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar), André Luiz
Baptista Lins Rocha
A possibilidade de adiamento da construção
até Goiás coincide com a fase de grande retração
do consumo de etanol no País devido à perda de
competitividade do produto em relação à gasolina,
afirma André Rocha. “Houve aumento de
custos de produção de etanol e diminuição da
ribeirão preto
guararema
guarulhos
paulínia
mg
são josé
dos Campos
são sebastião
rj
rio de janeiro
porto de ilha d’água
tributação da gasolina (fim da Cide), que hoje é
praticamente a mesma do etanol, ao contrário do
resto do mundo, que valoriza tributariamente os
combustíveis limpos e renováveis. Em alguns
casos, chegando a subsidiar os produtores e/ou os
consumidores”. Ainda de acordo com o Presidente/
Executivo do Sifaeg/Sifaçúcar, atualmente apenas
nos Estados de Goiás, São Paulo e Mato Grosso há
paridade do preço do etanol frente à gasolina
(que acontece quando o preço do etanol é inferior
a 70 % do valor da gasolina). “Os consumidores
não estão valorizando os ganhos ambientais do
etanol (que emite 90% a menos de CO2 do que a
gasolina), a maior geração de empregos (8 vezes
mais do que a gasolina), entre outras vantagens.
Apesar do aumento da frota flex, a participação
do etanol como combustível dos veículos leves
hoje é de cerca de 35%, tendo alcançado mais de
50% em 2010, finalizou Rocha.
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