Novembro de 2012 - Canal : O jornal da bioenergia
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Inovação<br />
Energia que<br />
vem <strong>da</strong>s marés<br />
Brasil tem a primeira<br />
usina <strong>de</strong> energia<br />
maremotriz, possível<br />
alternativa diante<br />
do crescimento do<br />
consumo interno <strong>de</strong><br />
eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
22 • CANAL, Jornal <strong>da</strong> Bioenergia<br />
igor Augusto Pereira<br />
Quando o assunto é a energia que vem<br />
dos mares, o Brasil chama a atenção<br />
do mundo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, com a <strong>de</strong>scoberta<br />
<strong>da</strong> cama<strong>da</strong> do pré-sal ao longo<br />
<strong>de</strong> 800 quilômetros <strong>da</strong> costa nacional. Mas os<br />
oceanos po<strong>de</strong>m oferecer muito mais que combustível<br />
fóssil em cama<strong>da</strong>s profun<strong>da</strong>s. Essa é a<br />
aposta <strong>de</strong> um projeto que quer gerar energia<br />
limpa a partir <strong>da</strong> força <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, que têm<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar o equivalente a 17% <strong>da</strong><br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> total instala<strong>da</strong> no País.<br />
Com tecnologia brasileira, a iniciativa está<br />
em fase <strong>de</strong> testes e serve como um laboratório<br />
em escala real, instalado no Porto <strong>de</strong><br />
Pecém, em São Gonçalo do Amarante (CE). O<br />
projeto integra chama<strong>da</strong> <strong>da</strong> Agência Nacional<br />
<strong>de</strong> Energia Elétrica (Aneel) e leva o nome <strong>de</strong><br />
“Implantação <strong>de</strong> Protótipo <strong>de</strong> Conversor <strong>de</strong><br />
On<strong>da</strong>s Onshore nas Condições <strong>de</strong> Mar do<br />
Nor<strong>de</strong>ste do Brasil”.<br />
O empreendimento tem como proponente<br />
a Tractebel Energia, gigante <strong>da</strong> geração priva<strong>da</strong><br />
que <strong>de</strong>tém um parque composto por 22<br />
usinas. A Fun<strong>da</strong>ção Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Projetos,<br />
Pesquisas e Estudos Tecnológicos <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
(Coppe/UFRJ) é a responsável por executar as<br />
pesquisas para a implantação <strong>da</strong> usina.<br />
Os testes começaram em junho e foram retomados<br />
no fim <strong>de</strong> agosto. Na primeira vez, os<br />
sistemas operaram por 10 minutos e abasteceram<br />
os sistemas auxiliares <strong>da</strong> usina, como iluminação<br />
e ar condicionado. Na segun<strong>da</strong> experiência,<br />
em menos <strong>de</strong> duas horas <strong>de</strong> funcionamento,<br />
a usina produziu mais <strong>de</strong> 12,9 megawatts.<br />
As on<strong>da</strong>s do mar têm gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> energia mecânica, que po<strong>de</strong> ser transforma<strong>da</strong><br />
em eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>. A tecnologia tem similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
com a geração <strong>de</strong> energia eólica,<br />
uma vez que as on<strong>da</strong>s nascem pela ação dos<br />
ventos na superfície do mar. A primeira experiência<br />
nesse sentido surgiu na França, em<br />
1966, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> La Rance.<br />
A usina brasileira funciona com dois gran<strong>de</strong>s<br />
braços mecânicos (fotos), que têm bóias circulares<br />
em suas pontas, aproveitando o movimento<br />
<strong>de</strong> elevação e abaixamento <strong>da</strong> água. Com o<br />
movimento, essa estrutura recebe pressão em<br />
um espaço fechado, transformando energia<br />
mecânica em energia elétrica. Segundo<br />
a Coppe, o dispositivo construído no Porto<br />
<strong>de</strong> Pecém simula a força <strong>de</strong> cascatas <strong>de</strong> até<br />
400 metros.<br />
Investimento é lei<br />
A legislação brasileira estabelece que<br />
empresas geradoras, transmissoras e distribuidoras<br />
<strong>de</strong> energia apliquem 1% <strong>de</strong><br />
sua receita anual em projetos <strong>de</strong> pesquisa<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento, que são fiscalizados<br />
pela Aneel. Segundo o gerente <strong>de</strong><br />
Operação <strong>da</strong> Produção, Pesquisa e<br />
Desenvolvemento <strong>da</strong> Tractebel Energia,<br />
Sergio Maes, a empresa tem buscado<br />
atuar <strong>de</strong> maneira prática, com resultados<br />
concretos e <strong>de</strong> aplicação prática no mercado<br />
nacional.<br />
“Este projeto é um bom exemplo <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>rência a estes objetivos. Ao fazê-lo,<br />
acreditamos que <strong>da</strong>mos um sinal positivo<br />
na busca <strong>de</strong> tecnologias nacionais,<br />
genuinamente brasileiras, para a geração<br />
<strong>de</strong> energia elétrica a partir <strong>de</strong> fontes<br />
renováveis, limpas e ain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s”,<br />
garante Maes.<br />
Segundo um estudo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> (Furg), só na costa<br />
europeia existe um potencial <strong>de</strong> energia<br />
<strong>de</strong> 219 gigawatts. No Brasil, esse índice<br />
chegaria a 160 gigawatts. Atualmente,<br />
há usinas para geração <strong>de</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> a<br />
partir <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s em construção na<br />
Dinamarca, Finlândia, Estados Unidos,<br />
Inglaterra, Japão e Portugal.<br />
“To<strong>da</strong>s essas pesquisas ain<strong>da</strong> estão em<br />
fase experimental. Acredito que as iniciativas<br />
hoje não <strong>de</strong>vem ultrapassar o número<br />
<strong>de</strong> 20 protótipos”, explica. Por isso<br />
mesmo, a Tractebel vê na falta <strong>de</strong> componentes<br />
disponíveis no mercado um <strong>de</strong>safio<br />
para o funcionamento <strong>da</strong> usina.<br />
O contrato com a Aneel foi assinado<br />
em março <strong>de</strong> 2009, com prazo <strong>de</strong> execução<br />
<strong>de</strong> 36 meses, mas, com os atrasos<br />
ocorridos, foi prorrogado por mais um<br />
ano. Além disso, <strong>de</strong>mandou um aporte<br />
<strong>de</strong> 25% sobre o valor final, que <strong>de</strong>ve ficar<br />
por volta dos R$ 18 milhões.<br />
<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong> • 23