Painéis A reforma educativa da Irlanda e A - Câmara dos Deputados
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CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO<br />
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES<br />
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL<br />
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA<br />
EVENTO: Seminário N°: 1156/07 DATA: 13/08/2007<br />
INÍCIO: 13h51min TÉRMINO: 16h55min DURAÇÃO: 2h53min<br />
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h53min PÁGINAS: 56 QUARTOS: 35<br />
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO<br />
AYNE HYLAND - Vice-Presidente do Conselho de Pesquisas para as Humani<strong>da</strong>des e Ciências<br />
Sociais <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>.<br />
SIMON SCHWARTZMAN - Pesquisador do Instituto de Estu<strong>dos</strong> do Trabalho e Socie<strong>da</strong>de —<br />
IETS, Rio de Janeiro.<br />
JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA SILVA - Presidente do Centro Federal de Educação Tecnológica<br />
<strong>da</strong> Paraíba — CEFET-PB.<br />
SUMÁRIO: <strong>Painéis</strong> A <strong>reforma</strong> <strong>educativa</strong> <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> e A <strong>reforma</strong> <strong>educativa</strong> do Chile: novos e<br />
velhos desafios, do Seminário sobre Reformas na Educação.<br />
OBSERVAÇÕES<br />
Houve exibição de imagens.<br />
Houve exposição em inglês, com tradução simultânea.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Comissão de Educação e Cultura<br />
Número: 1156/07 Data: 13/08/2007<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Gastão Vieira) - Vamos reiniciar os trabalhos<br />
às 14h. O tempo será suficiente para ouvirmos as experiências do Chile e <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong><br />
e para ampliarmos o debate. (Pausa.)<br />
Comunico que as perguntas não respondi<strong>da</strong>s na parte <strong>da</strong> manhã serão<br />
respondi<strong>da</strong>s por e-mail e ficarão disponíveis nos diversos sites que dão cobertura ao<br />
evento.<br />
Peço a quem for fazer perguntas nesta reunião que, por favor, registre seu<br />
e-mail, para receber as respostas. (Pausa prolonga<strong>da</strong>.)<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Gastão Vieira) - Boa-tarde a to<strong>dos</strong>.<br />
Vamos <strong>da</strong>r início à segun<strong>da</strong> etapa do nosso seminário.<br />
Ao meu lado está o Deputado Alex Canziani, Coordenador desta Mesa.<br />
Passo a palavra à Dra. Ana Paula para apresentar a nossa convi<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
A SRA. APRESENTADORA (Ana Paula) - Boa-tarde a to<strong>dos</strong>.<br />
É uma satisfação tê-los de volta.<br />
Como já foi informado pelo Deputado Gastão Vieira, o Coordenador <strong>da</strong> Mesa<br />
será o Deputado Alex Canziani.<br />
A partir de agora, ouviremos a Sra. Ayne Hyland, <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>. S.Sa.<br />
aposentou-se recentemente como professora de educação e de Vice-Presidente <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Cork, na Irlan<strong>da</strong>; é Vice-Presidente do Conselho de Pesquisa para<br />
as Humani<strong>da</strong>des e Ciências Sociais Irlandês; publicou inúmeros trabalhos sobre<br />
políticas e práticas educacionais; durante 25 anos, chefiou e foi membro de<br />
inúmeras comissões de educação na Irlan<strong>da</strong>; é membro do Programa Institucional<br />
de Avaliação <strong>da</strong> Associação Européia <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des; e coordena uma rede de<br />
instituições de educação superior do Programa Institucional de Liderança <strong>da</strong><br />
Fun<strong>da</strong>ção Carnegie para o Avanço do Ensino e <strong>da</strong> Aprendizagem.<br />
presentes.<br />
Desde já, agradeço a to<strong>dos</strong> pela participação.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Alex Canziani) - Boa-tarde a to<strong>dos</strong> os<br />
Em nome do Deputado Gastão Vieira, cumprimento os Srs. Deputa<strong>dos</strong> e as<br />
demais pessoas que compõem este belo seminário realizado na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong><br />
Deputa<strong>dos</strong>.<br />
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Nome: Comissão de Educação e Cultura<br />
Número: 1156/07 Data: 13/08/2007<br />
Temos grande satisfação em poder contar com a presença <strong>da</strong> Profa. Ayne<br />
Hyland, Vice-Presidente do Conselho de Pesquisa para as Humani<strong>da</strong>des e Ciências<br />
Sociais Irlandês, que abor<strong>da</strong>rá o tema A Reforma Educativa <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>.<br />
Com a palavra a Profa. Ayne Hyland.<br />
A SRA. AYNE HYLAND (Exposição em inglês. Tradução simultânea.) - Muito<br />
obriga<strong>da</strong>. É um prazer enorme e uma honra para mim estar aqui no Brasil. É a<br />
minha primeira visita ao seu País e, na ver<strong>da</strong>de, é a minha primeira visita à América<br />
do Sul.<br />
Hoje eu vou falar sobre as <strong>reforma</strong>s na educação fun<strong>da</strong>mental irlandesa. A<br />
educação irlandesa passou por <strong>reforma</strong>s radicais na última geração; <strong>reforma</strong>s que,<br />
na sua maior parte, foram bem-sucedi<strong>da</strong>s, mas, evidentemente, como alguns<br />
oradores já mencionaram, elas não ocorreram de uma forma indolor e sem<br />
controvérsias.<br />
Gostaria de começar, então, com a primeira transparência.<br />
(Segue-se exibição de imagens.)<br />
Esta é uma citação sobre a educação de quali<strong>da</strong>de do Chefe <strong>da</strong> OCDE,<br />
falando sobre o Programa PISA, do qual participam muitos países.<br />
A educação de quali<strong>da</strong>de é o patrimônio mais valioso para as gerações<br />
presentes e futuras. Alcançar uma educação de quali<strong>da</strong>de exige um compromisso<br />
sério de to<strong>dos</strong>, incluindo-se aí governos, professores, pais e os próprios alunos.<br />
Mais uma vez isso foi dito hoje de manhã pelo Prof. Heyneman, que expôs a<br />
necessi<strong>da</strong>de de to<strong>dos</strong> estarem comprometi<strong>dos</strong> com a <strong>reforma</strong> de quali<strong>da</strong>de.<br />
Antes de falar sobre o seu sistema educacional, gostaria de falar um<br />
pouquinho sobre a Irlan<strong>da</strong>.<br />
A Irlan<strong>da</strong> é uma ilha no Oceano Atlântico Norte, na costa oeste <strong>da</strong> Europa. É<br />
uma ilha pequenina, de acordo com os padrões brasileiros, cobrindo apenas 70 mil<br />
quilômetros quadra<strong>dos</strong>. Somos uma república independente desde 1921, portanto<br />
há quase 90 anos, e nos tornamos membros <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Européia em 1972.<br />
Fazer parte <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União Européia foi um passo muito<br />
importante. O fato de nos termos tornado uma república foi um período muito<br />
excitante para a geração <strong>dos</strong> meus pais, que estavam vivos naquela época, depois<br />
de a Irlan<strong>da</strong> ter sido, por 800 anos, uma colônia britânica. Aquele foi um momento<br />
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muito animador, mas, na ver<strong>da</strong>de, durante os primeiros 50 anos <strong>da</strong> nossa<br />
independência, éramos um país muito pobre.<br />
Hoje temos uma população de 4,2 milhões, o que, de acordo com padrões<br />
brasileiros, corresponde a apenas uma gotinha, porque, na ver<strong>da</strong>de, não<br />
corresponde sequer à população de algumas ci<strong>da</strong>des brasileiras. É uma população<br />
crescente. Diferente <strong>da</strong> Coréia, temos uma população crescente de jovens e uma<br />
taxa de natali<strong>da</strong>de e de imigração também em ascensão. Enfim, somos hoje um país<br />
vibrante depois de muitas déca<strong>da</strong>s de pobreza e desemprego. Em 1972, éramos o<br />
país mais pobre <strong>da</strong> União Européia; hoje, somos um <strong>dos</strong> países mais ricos.<br />
Aqui, o mapa do meu país, só para lembrá-los de que é apenas uma<br />
pequenina ilha. É claro que nós somos ain<strong>da</strong> uma ilha dividi<strong>da</strong>. Os 6 con<strong>da</strong><strong>dos</strong> <strong>da</strong><br />
Irlan<strong>da</strong> do Norte pertencem ain<strong>da</strong> ao Reino Unido <strong>da</strong> Grã Bretanha, e são<br />
governa<strong>dos</strong> a partir de Westminster, mas este ano, finalmente, o processo de paz<br />
mostra seus resulta<strong>dos</strong>.<br />
Hoje, temos um arranjo de compartilhamento de poder acor<strong>da</strong>do entre os dois<br />
parti<strong>dos</strong> extremos, o mais extremo, o Unionist Party, e o Sinn Féin, que, na ver<strong>da</strong>de,<br />
é fun<strong>da</strong>ção política do IRA. Para nós, é uma grande alegria dizer que esses dois<br />
la<strong>dos</strong> estão hoje trabalhando juntos para construir, esperamos, uma economia muito<br />
vibrante na Irlan<strong>da</strong> do Norte. Hoje, as relações entre o sul e o norte são muito<br />
positivas. Eu, por exemplo, participei de várias comissões sobre educação na Irlan<strong>da</strong><br />
do Norte com o intuito de <strong>reforma</strong>r a educação naquela parte do país também.<br />
O sistema de educação <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> é considerado como tendo contribuído para<br />
o boom econômico que experimentamos recentemente. A recente riqueza <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong><br />
baseia-se muito naquilo que se tornou conhecido como sendo a economia do<br />
conhecimento.<br />
A Irlan<strong>da</strong>, evidentemente, foi um país predominante agrícola durante todo o<br />
último século. Quando nos unimos à União Européia, muitas pessoas acharam que<br />
foi uma decisão inadequa<strong>da</strong>, porque sabíamos que as suas políticas agrícolas<br />
poderiam não aju<strong>da</strong>r a Irlan<strong>da</strong>. Na ver<strong>da</strong>de, a agricultura hoje tornou-se uma parte<br />
muito pequena <strong>da</strong> economia irlandesa, em comparação com o que era no passado.<br />
Já que não dispomos de recursos naturais, não temos os recursos naturais<br />
que um grande país, como o Brasil, tínhamos que nos basear no nosso povo. O<br />
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nosso maior recurso é o recurso humano, o nosso povo. Com isso, temos o<br />
desenvolvimento <strong>da</strong>quilo que chamamos de economia do conhecimento.<br />
Já mencionei o fato de que, evidentemente, somos um país basicamente de<br />
língua inglesa, embora tenhamos o nosso próprio idioma, o galês. Na ver<strong>da</strong>de, é<br />
uma benção o fato de falarmos inglês, porque, evidentemente, isso nos aju<strong>da</strong> a<br />
tomar o nosso lugar num mundo ca<strong>da</strong> vez mais globalizado, desempenhando nosso<br />
papel na economia global.<br />
Como se pode observar, temos o nível mais baixo de desemprego na Europa<br />
— no momento, abaixo de 4%. Há 20 anos, tínhamos um desemprego de 20% a<br />
25% a nível nacional e, em algumas áreas especificamente pobres, onde havia uma<br />
alta concentração de pobreza, o desemprego chegava aos 50%. É claro que ain<strong>da</strong><br />
há bolsões de desemprego, mas, em grande parte, isso é algo que pertence ao<br />
passado, algo que o jovens não conhecem. Evidentemente, isso é bom de um lado,<br />
mas, de outro, eles têm uma confiança que a nossa geração não tinha.<br />
Temos o segundo maior salário mínimo na Europa. Os senhores que<br />
conhecem a Irlan<strong>da</strong> sabem que é um país caro. Isso, logicamente, tem implicações<br />
para a nossa economia, porque as organizações multinacionais que usavam a<br />
Irlan<strong>da</strong> para fabricar seus produtos já não o fazem por conta de os salários serem<br />
altos demais.<br />
O crescimento do nosso PIB continua acima de 4% por ano, e temos algo que<br />
para mim é extraordinário: um superávit do governo. Como jovem aluna, há 45 anos,<br />
eu jamais poderia imaginar que a Irlan<strong>da</strong> teria uma superávit de governo, mas é o<br />
que nós experimentamos hoje.<br />
Temos uma estabili<strong>da</strong>de política considerável também. O atual governo foi<br />
reconduzido ao poder pelo terceiro man<strong>da</strong>to consecutivo. Portanto, o atual<br />
Primeiro-Ministro e o seu governo de coalizão estão de volta ao poder para o 11º,<br />
12º e 13º anos, e espero que continuemos assim durante mais anos, o que nos fará<br />
alcançar a estabili<strong>da</strong>de política.<br />
Ao desemprego já me referi. O nível de emprego excede 2 milhões pela<br />
primeira vez. A mão-de-obra se expandiu dramaticamente, e temos um nível de<br />
imigração que jamais experimentamos antes. Quando eu escrevi esse trabalho há<br />
um mês e meio, os números já mostravam a nossa imigração como sendo acima de<br />
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8% a 10% <strong>da</strong> mão-de-obra mas, desde então, os números revistos mostram que os<br />
não irlandeses são hoje entre 10% e 12% <strong>da</strong> mão-de-obra. Pela primeira vez temos<br />
crianças que não falam inglês em nossas escolas, o que para nós é um novo<br />
desafio.<br />
Mais uma vez falo sobre nosso quantitativo populacional de 4,2 milhões de<br />
habitantes — a maior população desde a fun<strong>da</strong>ção do nosso Estado. Nossas taxas<br />
de natali<strong>da</strong>de têm sofrido um aumento continuado, sendo uma <strong>da</strong>s mais altas <strong>da</strong><br />
Europa. É claro que, sendo um país católico, sempre tivemos uma alta taxa de<br />
natali<strong>da</strong>de, mas, durante alguns anos, durante os problemas econômicos, essa taxa<br />
decresceu muito. Ao mesmo tempo, isso é uma bênção e um problema. É ótimo, a<br />
longo prazo, porque nossa população não está se tornando crescentemente i<strong>dos</strong>a,<br />
como mencionado pelo Prof. Heyneman, mas o sistema educacional enfrentará um<br />
desafio, porque, em termos proporcionais, a quanti<strong>da</strong>de de jovens é muito alta se<br />
compara<strong>da</strong> com padrões europeus.<br />
Pela primeira vez, o nosso sistema de educação está tendo de li<strong>da</strong>r com um<br />
nível de diversi<strong>da</strong>de cultural que não tínhamos antes. Estou consciente de que, em<br />
algumas áreas rurais do oeste <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, há grupos de brasileiros que estão<br />
contribuindo com grande eficácia para a economia. Portanto, temos to<strong>da</strong> uma<br />
varie<strong>da</strong>de de questões, como idioma, etnia, religião, que representam um novo<br />
desafio para o nosso sistema educacional.<br />
Com relação à nossa posição dentro <strong>da</strong> OCDE, nas últimas 2 déca<strong>da</strong>s,<br />
começamos a participar de estu<strong>dos</strong> comparativos de desempenho de educação,<br />
principalmente no sistema PISA. A Irlan<strong>da</strong> apareceu, em recente estudo, como<br />
mencionou o Prof. Heyneman, como um <strong>dos</strong> países com melhor desempenho, com<br />
scores muito altos na taxa de alfabetização, na taxa de término do ensino médio e<br />
na transferência para universi<strong>da</strong>de. Entretanto, não apresentamos bom desempenho<br />
na educação pré-escolar, que tem baixa participação, e, em termos relativos, temos<br />
uma baixa proporção de PhDs forma<strong>dos</strong> pelas nossas universi<strong>da</strong>des. Por outro lado,<br />
tradicionalmente, muitos <strong>dos</strong> nossos forma<strong>dos</strong> vão para os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e para o<br />
Reino Unido para o que chamamos de quarto nível, a educação em mestrado e<br />
doutorado.<br />
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Na próxima tabela menciono os testes padroniza<strong>dos</strong>. Temos um exame que é<br />
aplicado aos alunos de 11 anos, 12 anos de i<strong>da</strong>de, já mencionado pelo Prof.<br />
Heyneman. É claro que isso é muito comum na Europa. Quando eu saí <strong>da</strong> escola e<br />
até o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60, to<strong>da</strong>s as crianças de 11 anos, 12 anos, tinham de ser<br />
aprova<strong>da</strong>s num exame para prosseguirem na educação secundária. Àquela altura, o<br />
sistema indicava os alunos que receberiam educação secundária e os que seriam<br />
encaminha<strong>dos</strong> para a educação profissional. Isso terminou no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70.<br />
Com o fim dessa seleção, terminou também o teste padronizado <strong>da</strong> educação<br />
primária, que foi uma coisa boa e ruim, e vou discutir o motivo.<br />
No momento, temos pouco menos de meio milhão de alunos no ensino<br />
primário e cerca de 26 mil professores. Imaginamos que até 2010 teremos meio<br />
milhão de alunos, e esse número continuará a crescer, em parte pela imigração, em<br />
parte pelo crescimento <strong>da</strong> taxa de natali<strong>da</strong>de.<br />
Quando digo que temos ca<strong>da</strong> vez mais crianças com necessi<strong>da</strong>des<br />
individuais nas escolas, não é que tenhamos crianças com necessi<strong>da</strong>des especiais.<br />
O fato é que estamos mais conscientes <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des individuais <strong>da</strong>s crianças,<br />
tanto em termos físicos quanto intelectuais. Essas crianças precisarão de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>,<br />
de atenção individual. A maior parte dessas crianças está integra<strong>da</strong> à escola<br />
primária comum, mas é claro que isso envolve implicações consideráveis para os<br />
professores em sala de aula.<br />
Gostaria de citar vários fatores que, na minha opinião, contribuíram, durante<br />
as últimas déca<strong>da</strong>s, para o êxito do sistema. Alguns desses motivos são bastante<br />
semelhantes aos que foram menciona<strong>dos</strong> hoje de manhã pelo Prof. Heyneman e<br />
pelo Prof. Lee.<br />
O nosso sistema de governança e de administração, incluindo o envolvimento<br />
<strong>dos</strong> pais, consiste em: liderança escolar; professores bem forma<strong>dos</strong> e bem pagos,<br />
de alto calibre acadêmico; educação de professores de quali<strong>da</strong>de; serviços<br />
constantes de apoio para professores e diretores; um currículo moderno e flexível;<br />
avaliação de alunos; plano de desenvolvimento escolar.<br />
Gostaria agora de falar sobre governança e administração ou gerenciamento.<br />
O nosso sistema de escolas primárias é, praticamente na sua totali<strong>da</strong>de, privado. É<br />
um sistema diferente, e o motivo para isso é histórico. Há mais de 150 anos, através<br />
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de um acordo entre a Igreja e o Estado, as igrejas receberam o poder de abrir e<br />
operar escolas, e o Estado concordou em financiá-las. Mesmo depois de nos<br />
tornarmos uma República, em 1921, isso não mudou. Portanto, não temos nenhuma<br />
cama<strong>da</strong> intermediária, não temos um município, por exemplo. Temos o governo<br />
central, que deve focalizar o planejamento estratégico, e depois, a um nível local,<br />
ca<strong>da</strong> escola tem a sua própria diretoria administrativa, e o seu chefe normalmente é<br />
o bispo — 98% <strong>da</strong>s escolas são católicas, opera<strong>da</strong>s pela Igreja.<br />
Desde os problemas <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> do Norte, há um número ca<strong>da</strong> vez maior de<br />
escolas mistas. Muitas famílias não gostavam do sistema de segregação, mas<br />
falamos ain<strong>da</strong> de uma proporção muito pequenina. Menos de 1% <strong>da</strong>s escolas são<br />
mistas do ponto de vista religioso.<br />
Na sua grande maioria, as escolas são de proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Igreja e<br />
administra<strong>da</strong>s por ela. Ca<strong>da</strong> escola emprega os seus próprios professores, mas os<br />
seus salários são pagos pelo Estado.<br />
Existe uma parceria muito forte entre o Estado, as comuni<strong>da</strong>des locais e os<br />
professores. Várias pessoas hoje falaram sobre o sindicato de professores. Temos<br />
apenas um sindicato forte no nível primário. Entretanto, muitos de nós argumentam<br />
que houve uma influência positiva, porque é um sindicato e uma organização<br />
profissional ao mesmo tempo, que desempenhou um papel muito importante em<br />
questões como, por exemplo, <strong>reforma</strong> curricular, <strong>reforma</strong> do sistema de avaliação,<br />
<strong>reforma</strong> <strong>da</strong> política educacional de uma forma geral. Portanto, a parceria é muito<br />
forte em to<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social irlandesa entre os sindicatos, os<br />
empregadores e o governo. Acho que isso realmente contribui para uma situação de<br />
grande estabili<strong>da</strong>de, principalmente em termos <strong>da</strong> introdução de <strong>reforma</strong>s.<br />
Liderança escolar: apenas recentemente é que estamos conscientes <strong>da</strong><br />
importância <strong>da</strong> liderança escolar, principalmente a exerci<strong>da</strong> pelo diretor <strong>da</strong> escola. A<br />
tradição na Irlan<strong>da</strong> é que os diretores <strong>da</strong>s escolas tenham sido professores. Não<br />
temos diretores que jamais tenham <strong>da</strong>do aula. Então, até certo ponto, os diretores<br />
<strong>da</strong>s escolas são considera<strong>dos</strong> como tendo recebido uma promoção <strong>da</strong> sala de aula,<br />
o que é bom e ruim ao mesmo tempo, porque às vezes perdemos os melhores<br />
professores para posições de liderança de diretoria, mas, por outro lado, em geral,<br />
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eles foram bons professores e entendem a boa pe<strong>da</strong>gogia e as abor<strong>da</strong>gens<br />
positivas ao ensino e ao aprendizado.<br />
Nos últimos 5 anos, o governo estabeleceu o que chamamos de Serviço<br />
Nacional de Desenvolvimento de Gestores Escolares, o que ajudou muito para<br />
garantir que os diretores <strong>da</strong>s escolas, nos níveis primário e secundário, tenham forte<br />
entendimento sobre administração e liderança na área de educação. Além disso,<br />
existe apoio para professores que esperam tornar-se diretor de escolas.<br />
Talvez a parte mais eficaz do nosso sistema, e isso na ver<strong>da</strong>de se reporta a<br />
muitos anos, é a tradição de haver professores muito bem-educa<strong>dos</strong>; que as<br />
melhores pessoas <strong>da</strong>s nossas escolas secundárias entrem no magistério. Não vou<br />
falar <strong>dos</strong> antecedentes, porque isso faz parte do legado que recebemos de termos<br />
sido um país muito pobre. Quando eu estava crescendo, e meu pai antes de mim,<br />
uma <strong>da</strong>s coisas que mais se queria era ver os filhos professores <strong>da</strong>s escolas locais.<br />
Eram posições muito respeita<strong>da</strong>s, com grande status, era uma profissão muito bem<br />
paga, e continua a ser o caso em grande parte.<br />
Assim sendo, nas nossas escolas primárias, no momento, <strong>da</strong>queles que<br />
fazem o exame de nível médio, os 20% que têm as notas mais altas tendem a ir<br />
para o ensino primário. Então, há alunos com alto desempenho que se tornam<br />
professores. Eles fazem um curso — desde a déca<strong>da</strong> de 70 é assim — numa<br />
instituição educacional separa<strong>da</strong> para professores, e o grau que recebem é vali<strong>da</strong>do<br />
por umas <strong>da</strong>s principais universi<strong>da</strong>des nacionais.<br />
Os professores do ensino primário são educa<strong>dos</strong> numa universi<strong>da</strong>de<br />
separa<strong>da</strong>, portanto têm nível universitário. Há aspectos positivos e negativos. É claro<br />
que seu enfoque é sobre as matérias ensina<strong>da</strong>s na escola primária e a pe<strong>da</strong>gogia<br />
adequa<strong>da</strong> para o ensino dessas matérias. Esse é um ponto positivo. O lado negativo<br />
é que essas pessoas não recebem educação com seus pares de outras profissões,<br />
como Medicina, Direito etc.<br />
Quanto ao salário <strong>dos</strong> professores, no meio <strong>da</strong> carreira, eles recebem acima<br />
<strong>da</strong> média <strong>da</strong> OCDE, e os salários são comparáveis aos <strong>dos</strong> professores nos Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong>, no Japão, na Austrália e ligeiramente acima <strong>da</strong> média do Reino Unido. Não<br />
estão no topo <strong>da</strong> tabela de salários de professores <strong>da</strong> OCDE, mas são profissionais<br />
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muito bem pagos. Os salários são ligeiramente acima do nível do PIB per capita na<br />
Irlan<strong>da</strong>, e são considera<strong>dos</strong> profissionais muito bem pagos em termos relativos.<br />
O problema para muitos professores, por outro lado, é que não existe<br />
perspectiva de promoção, porque se, por um lado, há 25 mil professores no sistema<br />
de educação, há apenas 3 mil diretores. Ou seja, muitos não serão promovi<strong>dos</strong>. Aí<br />
reside a diferença entre professores, médicos ou advoga<strong>dos</strong>, que podem progredir<br />
mais em suas carreiras.<br />
Como ocorre em muitos outros países, o ensino ca<strong>da</strong> vez mais é uma<br />
profissão feminina. Daqueles que se tornam professores primários, em torno de 90%<br />
são mulheres; no nível secundário, em torno de 75%. Acho que essa é uma questão<br />
para muitos países, algo que não é singular para a Irlan<strong>da</strong>.<br />
Educação de professores, formação continua<strong>da</strong>. O governo enfatiza muito o<br />
que às vezes chamamos, em inglês, os 3 “is”: educação inicial, indução e educação<br />
em serviço. Existe um desenvolvimento muito estruturado <strong>dos</strong> nossos professores:<br />
<strong>dos</strong> seus 3 ou 4 anos antes do trabalho, no ambiente universitário até o primeiro ano<br />
nas escolas, quando são examina<strong>dos</strong> pelo inspetor escolar. Até que tenham sido<br />
aprova<strong>dos</strong> nesse exame, não podem registrar-se plenamente como professores.<br />
Existem várias oportuni<strong>da</strong>des, durante to<strong>da</strong> a carreira <strong>dos</strong> professores, para<br />
atualização <strong>da</strong>s suas qualificações. Há uma cultura ca<strong>da</strong> vez mais constante de<br />
aprendizado continuado para os professores no sistema irlandês.<br />
Os tipos de oportuni<strong>da</strong>des variam. Quando há <strong>reforma</strong> curricular, por<br />
exemplo, o ministério fornece o treinamento. No caso <strong>dos</strong> professores primários, há<br />
uma longa tradição de cursos de verão de uma semana, que lhes permitem sair<br />
durante três anos, o que é considerado muito significativo para o professor. Se o<br />
professor tem um casamento na família, algo especial para um filho, um filho que se<br />
vai formar na universi<strong>da</strong>de, e se o professor precisar de um dia, isso quer dizer que<br />
ele tem 3 dias para usar. É um incentivo barato mas muito eficaz, que se reporta há<br />
pelo menos 40, 50 anos em nosso sistema.<br />
A metade <strong>dos</strong> nossos professores primários faz esse curso de verão para<br />
garantir que tenham alguns dias livres durante o ano. Mas eles estão ca<strong>da</strong> vez mais<br />
fazendo cursos noturnos, mestrado, de fim de semana, online; alguns poucos fazem<br />
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seus doutora<strong>dos</strong> na área de educação, que são ofereci<strong>dos</strong> por muitas universi<strong>da</strong>des.<br />
Alguns cursos são de educação a distância ou online.<br />
Além <strong>dos</strong> cursos para professores, existe to<strong>da</strong> uma varie<strong>da</strong>de de serviços de<br />
apoio. A escola exige apoio em determina<strong>dos</strong> momentos. Por exemplo, se houver o<br />
desenvolvimento de uma política de relações de escolas domiciliares, existe apoio<br />
para isso. Se houver o estabelecimento de metas para reduzir a evasão prematura<br />
<strong>da</strong> escola, no caso de áreas mais pobres, existe um apoio para isso também. Existe<br />
apoio curricular específico. Se uma escola quiser usar mais as artes ou a tecnologia,<br />
oferece-se esse apoio tanto à escola quanto aos professores - não apenas para os<br />
professores sozinhos, mas para a escola inteira.<br />
Nosso currículo é difícil, e tive dificul<strong>da</strong>de de explicá-lo aos meus colegas que<br />
falaram aqui hoje. É difícil dizer por que o currículo foi um sucesso. Costumávamos<br />
ter um currículo primário focalizado em exames até o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70.<br />
Quando disponibilizamos a educação secundária gratuita para to<strong>dos</strong>, resolvemos<br />
mu<strong>da</strong>r o currículo <strong>da</strong> educação primária, porque ele já não seria um único programa,<br />
mas apenas o início de um processo de aprendizado para a vi<strong>da</strong> inteira.<br />
Portanto, o objetivo disso, em grande parte, é, obviamente, aju<strong>da</strong>r a criança a<br />
desenvolver habili<strong>da</strong>des de letramento, mas também a motivação e as habili<strong>da</strong>des<br />
para que essas pessoas se tornem aprendizes para a vi<strong>da</strong> inteira, de forma que<br />
tenham uma atitude positiva e consigam entender como aprender e quão importante<br />
é a educação.<br />
Na ver<strong>da</strong>de, é um conceito bastante complexo, mas que realmente fez<br />
diferença. Vejo muito diferença <strong>da</strong> minha própria infância e <strong>dos</strong> meus primeiros dias<br />
como professora quando olho a situação de hoje em dia. As crianças, na maior parte<br />
do tempo, estão muito motiva<strong>da</strong>s; são ambiciosas, competitivas; querem conseguir<br />
seus lugares, e acham que a educação é parte importante desse processo. Muitos<br />
<strong>dos</strong> senhores talvez saibam que, há 40 anos, 50 anos, os irlandeses tinham<br />
reputação de serem preguiçosos, atrasa<strong>dos</strong>, não muito confiáveis e pouco pontuais.<br />
Na ver<strong>da</strong>de isso mudou, houve uma mu<strong>da</strong>nça cultural, e é isso que nos difere<br />
<strong>dos</strong> asiáticos, que sempre foram pessoas altamente motiva<strong>da</strong>s. Infelizmente, não<br />
ocorre o mesmo com os irlandeses, mas hoje, e acho que realmente que o sistema<br />
escolar contribuiu para isso, houve uma mu<strong>da</strong>nça cultural. Os nossos jovens<br />
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trabalham muito, durante muitas horas; são muito confiáveis, são extremamente<br />
pontuais. Eles esperam se <strong>da</strong>r bem, mas sabem que têm que trabalhar muito para<br />
isso.<br />
Na minha opinião, a cultura mudou muito. Hoje temos pessoas mais<br />
confiantes e mais prontas a enfrentar o mundo. Elas se apresentam dessa forma. E<br />
acima de tudo, do ponto de vista econômico, o sistema educacional deu um jeito de<br />
instilar uma cultura empreendedora, que era completamente estranha na Irlan<strong>da</strong><br />
quando eu estava crescendo. Nós esperávamos que o governo oferecesse to<strong>dos</strong> os<br />
empregos; havia um ou dois empregadores. Nunca nos ocorria que poderíamos criar<br />
os nossos próprios empregos. Isso mudou, e hoje há muitas empresas na Irlan<strong>da</strong>,<br />
principalmente na área <strong>da</strong> economia do conhecimento.<br />
Novamente, hoje é diferente <strong>da</strong> minha experiência em sala de aula. Quando<br />
eu era jovem, as salas de aula na Irlan<strong>da</strong> tinham 50, 60 crianças senta<strong>da</strong>s em<br />
fileiras de carteiras. Os professores eram a única fonte do conhecimento, e ele ou<br />
ela eram bastante rígi<strong>dos</strong>. A disciplina era muito importante. Hoje em dia isso é<br />
muito diferente.<br />
Segundo os padrões <strong>da</strong> OCDE, ain<strong>da</strong> temos salas de aula bastante grandes,<br />
a capaci<strong>da</strong>de média <strong>da</strong>s nossas salas de aula é de 25 alunos, mas a atmosfera é<br />
bem diferente. Na maioria <strong>da</strong>s escolas, os alunos são automotiva<strong>dos</strong>; estão<br />
senta<strong>dos</strong> em volta de mesas, utilizando diversos instrumentos para aprendizado, até<br />
certo ponto tecnologia, embora talvez não tanto quanto em outros países.<br />
Nós não investimos tanto em tecnologia, talvez menos do que devêssemos<br />
ter feito. Ban<strong>da</strong> larga ain<strong>da</strong> é um problema nas nossas áreas rurais. É difícil ter<br />
acesso rápido à Internet em algumas áreas <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>. Então, ain<strong>da</strong> temos essas<br />
contradições dentro do país.<br />
Mencionei a ênfase crescente na alfabetização, na alfabetização matemática,<br />
e penso que isso mostrou resulta<strong>dos</strong> na pesquisa recente <strong>da</strong> OCDE. No uso de<br />
tecnologia, eu diria que é uma <strong>da</strong>s nossas áreas mais fracas.<br />
Já mencionei que, no estudo do PISA, tivemos resulta<strong>dos</strong> de alto nível, mas<br />
essa não é uma ver<strong>da</strong>de universal. Da mesma forma, vocês podem olhar seu país e<br />
ver que alguns Esta<strong>dos</strong> estão indo muito bem e outros nem tanto e a média os traz<br />
para baixo. Nacionalmente, a nossa média é alta, mas temos pequenos bolsões de<br />
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escolas, especialmente nas áreas mais pobres, onde o aprendizado e a<br />
alfabetização matemática é mais baixo. Esse é nosso grande desafio para a próxima<br />
déca<strong>da</strong>, e é a mesma questão menciona<strong>da</strong> pelo Prof. Lee: como melhorar a<br />
quali<strong>da</strong>de, aumentar os padrões e garantir que, no processo, não estejamos<br />
diminuindo ou reduzindo os sucessos de forma alguma. Esse é um grande desafio.<br />
Mencionei rapi<strong>da</strong>mente o tempo de instrução simplesmente porque era um<br />
<strong>dos</strong> indicadores. Tempo na tarefa era uma referência utiliza<strong>da</strong> anteriormente.<br />
Tínhamos a impressão de que os países com um número alto de horas de contato<br />
entre o aluno e o professor tinham os maiores níveis de desempenho, mas como<br />
podem ver, isso não é necessariamente o caso. Então, é complexo. Como se<br />
alcança o sucesso é uma questão mais complexa.<br />
Outras duas questões que tiveram bastante sucesso, e tanto o Prof.<br />
Heyneman como o Prof. Lee mencionaram hoje de manhã, é fazer com que to<strong>da</strong><br />
escola tenha um plano e o desenvolva. Temos bastante suporte hoje, usando tanto<br />
méto<strong>dos</strong> educacionais quanto de negócios para os nosso líderes escolares, a fim de<br />
que, em completa colaboração com professores, pais, funcionários e a comuni<strong>da</strong>de,<br />
desenvolvam um plano de desenvolvimento <strong>da</strong> escola, um PDE, com alvos<br />
defini<strong>dos</strong>, metas defini<strong>da</strong>s para 3, 5, 15 anos. Eles monitoram essas metas e<br />
ajustam suas ambições e suas metas de acordo com os resulta<strong>dos</strong> que obtêm.<br />
Esses planos de desenvolvimento <strong>da</strong> escola e a inspeção que ocorre no sistema de<br />
avaliação nacional de escolas são publica<strong>dos</strong> no site nacional.<br />
E, assim, finalmente, não temos testes dessa maneira estreita de visão. Uma<br />
<strong>da</strong>s questões trazi<strong>da</strong> hoje pela manhã: o que é o sucesso? Temos de pensar na<br />
complexi<strong>da</strong>de do sucesso para uma escola numa área muito pobre, em que<br />
nenhuma criança chegava ao fim do ensino médio há 10 anos: pode ser um sucesso<br />
considerável 50% <strong>da</strong>s crianças terminarem o ensino médio. E assim por diante. Para<br />
uma escola que tinha níveis baixos de alfabetização, o sucesso pode ser aumentar<br />
em 10 ou 15 pontos o nível de alfabetização. E assim por diante.<br />
Então, encorajamos nossas escolas a ter uma amplitude grande de<br />
indicadores de sucesso de desempenho, dependendo do histórico <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong><br />
tradição. E a monitorar esses indicadores, alcançá-los, continuar a aumentar as<br />
metas e colocá-las em padrões ca<strong>da</strong> vez mais altos. Não temos mecanismo como<br />
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tem o Reino Unido de pagamento por mérito, não temos mecanismo para nos<br />
livrarmos de maus professores ou maus líderes. É muito difícil no nosso sistema se<br />
livrar de um professor ruim ou de um diretor ruim.<br />
Portanto, precisamos estar vigilantes o tempo inteiro, <strong>da</strong>r apoio, vigiar. É claro<br />
que as decisões <strong>dos</strong> pais freqüentemente são as decisões importantes, porque os<br />
pais têm escolhas nas escolas. Por causa <strong>da</strong> natureza particular do sistema, o<br />
Estado não legisla sobre onde a criança deve ir para a escola. É semelhante ao que<br />
o Prof. Heyneman disse antes: eles normalmente vão para a escola mais próxima.<br />
Noventa e oito por cento de nossas crianças <strong>da</strong>s escolas primárias vão para as<br />
escolas públicas, a escola do Estado. Nós temos tradição moribun<strong>da</strong> de escolas<br />
particulares, e elas praticamente não existem mais, exceto para pequena área na<br />
ci<strong>da</strong>de.<br />
Espera-se do Ministério uma avaliação externa global <strong>da</strong>s escolas, um<br />
trabalho com as escolas para definir metas, avaliá-las, ver se estão alcançando os<br />
objetivos e trabalhar com elas em colaboração, em conjunto. Ajudá-las a alcançar as<br />
metas.<br />
Quando falamos em gastos públicos, nossos níveis de gastos não são<br />
especialmente altos pelos padrões <strong>da</strong> OCDE. Mas, como já mencionei, esses são os<br />
gastos públicos. Temos tradição de longo tempo de voluntariado para arreca<strong>da</strong>r<br />
fun<strong>dos</strong>. Mesmo que não se paguem as taxas, se a pessoa mora numa ci<strong>da</strong>de<br />
pequena na Irlan<strong>da</strong>, no verão haverá uma parti<strong>da</strong> de futebol, um concerto, um leilão,<br />
todo tipo de programas para arreca<strong>da</strong>r fun<strong>dos</strong> para melhorar a infra-estrutura.<br />
Normalmente, é para tornar o edifício mais atraente. Então, essa conta não está<br />
presente nesses números. E esses números que mostram nossos gastos a 13% do<br />
orçamento público são relativamente baixos de acordo com o padrão <strong>da</strong> OCDE. Mas<br />
é isso que significa, e, de acordo com uma parte do país, o números são mais altos.<br />
A Nova Zelândia, por exemplo, investe mais de 20%. A Alemanha, a Itália, a Grécia<br />
têm populações baixas. Temos população relativamente alta de jovens. Para a<br />
Irlan<strong>da</strong> isso é um nível relativamente baixo.<br />
Em termos de PIB, novamente isso é um número baixo. Ouvimos alguns<br />
números hoje pela manhã. Na Irlan<strong>da</strong>, a proporção é de apenas 4,5% do PIB. A<br />
média <strong>da</strong> OCDE é de 6%. Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e a Dinamarca, por exemplo, gastam<br />
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mais de 7% do PIB. Mas lembrem que a contribuição voluntária <strong>dos</strong> pais tende a ser<br />
invisível aqui.<br />
E, finalmente, o último número que mostramos indica os gastos na educação<br />
pública na Irlan<strong>da</strong>, em comparação a outros países, 6 mil dólares por aluno por ano,<br />
o que é baixo, comparado aos 11 mil dólares por aluno por ano nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.<br />
É claro que é muito mais baixo em países como o México e a República <strong>da</strong><br />
Eslováquia, de 2 mil dólares por aluno por ano. Mas, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as riquezas <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>,<br />
esses números são baixos. A União Européia freqüentemente chama atenção do<br />
nosso Governo para esse fato. Temos realmente que ser vigilantes, prestar atenção,<br />
ter certeza, garantir que continuamos a manter os programas e a melhorá-los no que<br />
pudermos.<br />
Será que precisamos de <strong>reforma</strong> ou de melhorias nesse estágio? Acho que o<br />
povo <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> está relativamente satisfeito com nosso sistema educacional. É claro<br />
que os políticos estão ouvindo o que o povo diz, e o povo, por sua vez, é<br />
influenciado pela mídia, e é por isso que fico feliz ao ver tanta gente <strong>da</strong> mídia, <strong>da</strong><br />
imprensa aqui hoje, porque quando a educação está à frente na mídia, os políticos<br />
escutam. O povo irlandês teve muito sucesso ao levar as questões para os políticos<br />
através <strong>da</strong> mídia. E, realmente, quando chegam as eleições, a educação entra no<br />
programa de todo aspirante a político.<br />
Quais são as nossas questões atuais? O desenvolvimento de sistema<br />
educacional que possa mu<strong>da</strong>r as necessi<strong>da</strong>des de nossa socie<strong>da</strong>de e aten<strong>da</strong> às<br />
necessi<strong>da</strong>des de nossa socie<strong>da</strong>de em nosso país. Precisamos examinar a<br />
economia, as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> economia e <strong>dos</strong> indivíduos e as mu<strong>da</strong>nças que<br />
ocorrem nessas necessi<strong>da</strong>des.<br />
Na Irlan<strong>da</strong> — tenho certeza de que é igual no Brasil —, temos a forte<br />
sensação de que precisamos ser fiéis à nossa cultura e à nossa história. Isso tem<br />
sido questão relativa à cultura gálica, que é parte de nossa economia, além talvez, é<br />
claro, <strong>da</strong> música irlandesa — os senhores já devem ter ouvido falar no River<strong>da</strong>nce<br />
—, que acontecem sem o apoio do sistema educacional. Existe um equilíbrio entre<br />
olhar para frente e manter o melhor <strong>da</strong> nossa história, <strong>da</strong>s tradições e <strong>da</strong> cultura.<br />
De maneira semelhante, temos de vigiar nosso currículo o tempo todo. É<br />
preciso haver mu<strong>da</strong>nças contínuas e ajustes, mas, às vezes, pode ser necessária<br />
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uma <strong>reforma</strong> radical de currículo, e essa é questão que estamos debatendo o tempo<br />
inteiro. Por exemplo, tínhamos um sistema dividido entre vocação acadêmica, entre<br />
academia e vocação, e o sistema mudou. Atualmente, não existe estratificação <strong>da</strong>s<br />
crianças em uma trilha de carreira ou outra.<br />
Há cerca de 15 anos, nós abrimos esse debate sobre o que seria melhor.<br />
Seria melhor ter vocações separa<strong>da</strong>s ou área acadêmica separa<strong>da</strong>, mas não<br />
seguimos esse rumo, e acho que essa foi a decisão correta, porque com mu<strong>da</strong>nças<br />
tão rápi<strong>da</strong>s nos empregos, no tipo de emprego e nos trabalhos na Irlan<strong>da</strong>, os jovens<br />
precisam ser muito flexíveis. Se tivessem sido treina<strong>dos</strong> em uma vocação, ou tarefa<br />
ou habili<strong>da</strong>de específica, muitos estariam desemprega<strong>dos</strong> hoje. A decisão foi <strong>da</strong>r a<br />
to<strong>dos</strong> uma educação básica forte e oferecer treinamento através de cursos de<br />
treinamento muitas vezes fora <strong>da</strong> escola, e acho que essa provavelmente foi a<br />
decisão correta, porque há regiões onde temos indústrias americanas que entraram,<br />
montaram fábricas.<br />
Vamos falar, por exemplo, sobre a tecnologia do plástico. Se tivéssemos nos<br />
concentrado somente no treinamento <strong>da</strong> indústria plástica nessas áreas, quando os<br />
salários <strong>dos</strong> irlandeses subiram tais indústrias saíram de nosso país, foram para<br />
países como Índia e China. E nossos jovens estariam desemprega<strong>dos</strong> se não<br />
fossem flexíveis, criativos e capazes de se ajustar a mu<strong>da</strong>nças. Essa é nossa<br />
experiência, mas é claro que diferentes países têm diferentes experiências.<br />
Também precisamos continuar a atender às necessi<strong>da</strong>des especiais <strong>da</strong><br />
educação, entre 3% a 5% de nossa população, porque to<strong>da</strong> criança é importante e<br />
to<strong>da</strong> criança tem alguma coisa para contribuir para a socie<strong>da</strong>de, para a cultura e<br />
para a economia também.<br />
Precisamos manter a quali<strong>da</strong>de. Assim como o Prof. Lee, acredito que, como<br />
eu já disse tantas vezes, não existe falta de conexão entre igual<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de.<br />
São coisas contínuas e que trabalham juntas. É preciso continuar a imprimir isso,<br />
para que as pessoas possam sentir que não é possível haver diferença; que a<br />
igual<strong>da</strong>de e a quali<strong>da</strong>de podem coexistir. Acredito firmemente que elas pode<br />
coexistir.<br />
Precisamos continuar a trabalhar para superar o que chamo de lacuna<br />
educacional; as diferenças que existem entre pessoas de níveis socioeconômicos<br />
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mais altos, os ricos, e aqueles de níveis socioeconômicos mais baixos, os pobres.<br />
Como disse antes, os nossos jovens, to<strong>dos</strong>, vão para as mesmas escolas estaduais,<br />
de maneira geral. É claro que a localização geográfica faz diferença, como em to<strong>dos</strong><br />
os países do mundo. Especialmente nas nossas ci<strong>da</strong>des, tendemos a ter guetos de<br />
pobreza, e as escolas que ficam nessas áreas não têm resulta<strong>dos</strong> tão bons quantos<br />
as que estão nas áreas mais ricas. Isso acontece, em parte, por causa <strong>da</strong><br />
arreca<strong>da</strong>ção de fun<strong>dos</strong> voluntários. As escolas de áreas ricas podem ter adições<br />
relativamente pequenas e coletar, arreca<strong>da</strong>r dinheiro na sua área e ter instalações<br />
ótimas.<br />
É claro que o governo pode <strong>da</strong>r dinheiro para escolas em localizações mais<br />
pobres para superar essa diferença. Realmente, as escolas nas áreas de nível<br />
socioeconômico mais baixo recebem mais recursos do governo do que as de áreas<br />
mais ricas. É um esforço para tentar equilibrar essa relação, e funciona até certo<br />
ponto. Fez uma grande diferença, por exemplo, em termos de proporção de crianças<br />
que seguem para a educação superior, mas ain<strong>da</strong> temos uma diferença. Se você<br />
vier de uma família de classe média ou classe média alta, as suas chances de ir<br />
para o nível superior são de 90%; se vier de uma família mais pobre, poder ser de<br />
apenas 20%. Então, existe um desequilíbrio.<br />
Precisamos garantir que a lacuna que existe na alfabetização também seja<br />
diminuí<strong>da</strong>. Como disse antes, os nossos resulta<strong>dos</strong> em alfabetização e aprendizado<br />
de matemática são altos, mas não tão altos nas escolas em áreas mais pobres.<br />
Precisamos continuar a aperfeiçoar a infra-estrutura educacional. Não<br />
deveríamos depender tanto de contribuições voluntárias para melhorar a nossa infra-<br />
estrutura.<br />
Precisamos de um melhor planejamento nas escolas para atender o número<br />
crescente de imigrantes. Essa foi uma surpresa para o governo, temos áreas onde<br />
não existem vagas suficientes na escola e isso precisa ser resolvido.<br />
Temos uma legislação de novos empregos que é bastante ampla, mas que<br />
está causando bastante dificul<strong>da</strong>de para as escolas; legislação de emprego, de<br />
igual<strong>da</strong>de, que estão causando bastante trabalho para os líderes <strong>da</strong>s escolas.<br />
Como já disse antes, não exploramos a tecnologia na educação tanto quanto<br />
poderíamos para ter um bom aprendizado.<br />
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Então, há muitas lições negativas e positivas a serem aprendi<strong>da</strong>s com a<br />
experiência irlandesa. Esse tem sido um processo vagaroso, mas é contínuo e<br />
obtém sucesso.<br />
Usei a seguinte frase no meu trabalho: não existe solução de tamanho único.<br />
Soluções diferentes vão funcionar para países deferentes, para áreas diferentes de<br />
um país, para escolas diferentes e até mesmo para pessoas diferentes. Portanto, a<br />
flexibili<strong>da</strong>de é importante, mas aprender com experiências internacionais foi uma<br />
parte principal de nosso sucesso. Quando começamos a olhar para fora; quando<br />
começamos a participar na OCDE e em outros estu<strong>dos</strong> internacionais e levamos<br />
essas descobertas a sério foi quando começamos a melhorar. E como envolvemos<br />
os políticos, os professores e os pais, tudo isso fez diferença.<br />
Muito obriga<strong>da</strong>. (Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Alex Canziani) - Agradeço à Profa. Ayne<br />
Hyland a bela conferência.<br />
Passaremos agora ao debate.<br />
Vamos alterar a ordem. Ouviremos primeiro a próxima conferência e depois<br />
passaremos ao debate.<br />
A SRA. APRESENTADORA (Ana Paula) - Convido a Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz a<br />
integrar a Mesa. (Palmas.)<br />
O Prof. Simon Schwartzman é pesquisador do Instituto de Estu<strong>dos</strong> do<br />
Trabalho e Socie<strong>da</strong>de — IETS, no Rio de Janeiro. Estudou Sociologia e Ciência<br />
Política na Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais, tem mestrado em Sociologia pela<br />
Facul<strong>da</strong>de Latino-Americana de Ciências Sociais e é doutor em Ciências Políticas<br />
pela Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Califórnia, em Berkeley. Nos últimos anos, tem trabalhado em<br />
temas de educação, ciência e tecnologia e políticas sociais. Foi professor de<br />
Ciências Políticas e diretor científico do Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior<br />
<strong>da</strong> USP, entre 1990 e 1994, e presidente do IBGE, entre 1994 e 1998. É autor, entre<br />
outros livros, de Os desafios <strong>da</strong> educação no Brasil, com Colin Brock (Rio de<br />
Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2005); Pobreza, exclusão social e moderni<strong>da</strong>de: uma<br />
introdução ao mundo contemporâneo; A escola vista por dentro, com João Batista<br />
Araújo e Oliveira (Ed. Alfa Educativa, Belo Horizonte). É também membro <strong>da</strong><br />
Academia Brasileira de Ciências.<br />
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Prof. Simon Schwartzman, seja muito bem-vindo.<br />
O SR. SIMON SCHWARTZMAN - Muito obrigado, Deputado Gastão Vieira e<br />
demais organizadores <strong>da</strong> reunião, pela oportuni<strong>da</strong>de de estar aqui, neste momento.<br />
Pediram-me que eu falasse sobre o Chile, país que prezo muito. Fiz meu<br />
curso de mestrado naquele país, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60, ain<strong>da</strong>. Continuei<br />
mantendo contato com o país e tive oportuni<strong>da</strong>de, em 2003, de participar <strong>da</strong><br />
comissão <strong>da</strong> OECD que fez avaliação do sistema <strong>da</strong> educação do Chile. Então,<br />
apesar de eu não ser um especialista em Chile, é um país que tenho acompanhado<br />
e, de fato, acredito que seja um laboratório de <strong>reforma</strong>s. Gostaria, então, de<br />
começar apresentando o contexto do tema.<br />
(Segue-se exibição de imagens.)<br />
O Chile é um país pequeno; tem 7 milhões de habitantes. Passou por um<br />
período, como os senhores sabem, de regime militar extremamente duro e violento,<br />
em certa época, o regime Pinochet. Em 1990, houve o processo de transição, de<br />
democratização. A partir de 1990, até o presente, o Chile vem sendo governado pela<br />
mesma coalização política de 2 parti<strong>dos</strong>, o Partido Democrata Cristão e o Partido<br />
Socialista. No começo, os presidentes eram democrata-cristãos; no atual governo e<br />
no anterior, presidentes socialistas. A economia chilena depende fortemente <strong>da</strong><br />
exportação de alguns produtos, principalmente o cobre. No passado, o país tinha um<br />
setor público muito grande, muito pesado, que foi desmontado durante o período<br />
Pinochet. A partir de 1990, o Chile passou por um processo de crescimento<br />
econômico tido como o mais importante <strong>da</strong> América Latina, em termos relativos,<br />
tendo duplicado a ren<strong>da</strong> per capita em 10 anos, entre 1990 e o ano 2000. Acho que<br />
isso dá um pouco o contexto em que essas <strong>reforma</strong>s foram feitas.<br />
Este quadro mostra os marcos históricos <strong>da</strong> evolução do Chile. A expressão<br />
“Estado docente” descreve o primeiro período, que vai até o Governo Allende.<br />
Acho que é notável no Chile, como no caso <strong>da</strong> Argentina, que o tema<br />
educação existe desde a fun<strong>da</strong>ção do país. No momento <strong>da</strong> independência do Chile,<br />
pessoas como Andrés Bello, ou como, na Argentina, Sarmiento, são pessoas,<br />
políticos que têm a educação como tema central e consciência de que a formação<br />
do Estado nacional requer educação pública <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Compare isso com o<br />
Brasil, onde a educação pública só se transformou realmente em tema nacional em<br />
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1930. Até 1930, no Brasil, o Governo Federal não fala em educação, nem havia um<br />
Ministério <strong>da</strong> Educação.<br />
Até 1960, o Chile tinha um sistema tradicional, a educação era pública,<br />
nacional, os professores eram funcionários do Estado. Era um sistema de elite, que<br />
produzia educação tradicional de quali<strong>da</strong>de, mas que não atingia a população como<br />
um todo. Na época do primeiro presidente Frei, no final <strong>dos</strong> anos 60, houve<br />
importante esforço de modernização. Começaram a desenvolver indicadores de<br />
quali<strong>da</strong>de; a introduzir novas pe<strong>da</strong>gogias, mais abertas, menos autoritárias, rígi<strong>da</strong>s e<br />
hierárquicas; a pôr em prática uma tentativa de mexer no sistema; e a se preocupar<br />
com o tema <strong>da</strong> ampliação e <strong>da</strong> participação.<br />
Depois do Governo Frei, veio o Governo de Salvador Allende, um governo<br />
socialista, período de muita polarização política. Houve o que se chamou de escola<br />
nacional unifica<strong>da</strong>, um projeto de modificação do sistema político que foi muito<br />
discutido e que polarizou muito a socie<strong>da</strong>de chilena. Não vou entrar muito em<br />
detalhes sobre isso, porque nem eu entendo muito bem. O fato é que,<br />
aparentemente, não mu<strong>da</strong>va muito em relação à idéia anterior. Era uma idéia de<br />
continuar a expansão, continuar a melhoria, continuar colocando mais dinheiro na<br />
educação. Mas esse processo polarizou muito a socie<strong>da</strong>de. Foi visto como um<br />
ataque ao ensino privado. Enfim, foi um elemento <strong>da</strong>quele ambiente conturbado do<br />
Governo Allende, que terminou, como sabemos, na ditadura Pinochet.<br />
O Governo Pinochet começou um processo de repressão política muito<br />
violenta, que atingiu de maneira muito forte professores, intelectuais e pessoas que<br />
se haviam associado mais ao governo de esquer<strong>da</strong> no passado.<br />
O período do Estado docente, em que o governo nacional assumiu a<br />
responsabili<strong>da</strong>de pela educação, terminou na ver<strong>da</strong>de com a <strong>reforma</strong> que começa<br />
no período Pinochet.<br />
O período seguinte foi o <strong>da</strong> descentralização e <strong>da</strong> competição. O Governo<br />
Pinochet, como disse, começou com um período muito repressivo. O regime durou<br />
muito tempo — foi até o fim <strong>dos</strong> anos 80 — e, no final, ele introduz uma <strong>reforma</strong><br />
basea<strong>da</strong> na <strong>reforma</strong> <strong>da</strong> Escola de Chicago, de Economia. O Chile fez todo um<br />
processo de descentralização <strong>da</strong> economia, de desmontagem do Estado<br />
centralizado. Isso aconteceu em diferentes setores <strong>da</strong> economia, com abertura do<br />
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mercado. Isso também ocorreu na área <strong>da</strong> educação. Uma <strong>da</strong>s coisas que<br />
aconteceram então foi que o governo nacional deixou de ter as escolas. As escolas<br />
públicas foram transferi<strong>da</strong>s para os municípios. O governo permitiu a criação e a<br />
ampliação de um sistema de escolas priva<strong>da</strong>s, subsidia<strong>da</strong>s pelo famoso sistema do<br />
voucher. Ou seja, o governo consignava a ca<strong>da</strong> aluno certa quantia em dinheiro, o<br />
aluno escolhia a escola particular em que quisesse estu<strong>da</strong>r, e a escola recebia o<br />
dinheiro do governo.<br />
Na América Latina, o Chile foi o país que mais avançou nesse sistema,<br />
introduzindo-o de maneira bastante radical. O sistema que subsiste no Chile conta<br />
com as escolas municipais e um pequeno segmento de escolas priva<strong>da</strong>s, sem<br />
subsídio, as escolas <strong>da</strong> classe alta.<br />
O final do período Pinochet se deu após a derrota do governo militar em um<br />
plebiscito. Mas houve to<strong>da</strong> uma negociação de transição de governo, e um <strong>dos</strong><br />
aspectos <strong>da</strong> negociação foi que o antigo governo permaneceria ain<strong>da</strong>, e o próprio<br />
Pinochet continuou como uma <strong>da</strong>s pessoas mais importantes do país —<br />
coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s, Senador etc. — por um período muito longo. E<br />
ele fez aprovar, no apagar <strong>da</strong>s luzes do governo, o que se chamou de LOCE, uma<br />
lei de ordenamento <strong>da</strong> educação. Trata-se de uma lei constitucional que, durante<br />
longo período, não foi possível modificar, porque, ain<strong>da</strong> que a maioria do governo<br />
não fosse <strong>da</strong> linha do Pinochet, o velho regime ain<strong>da</strong> tinha poder para impedir uma<br />
<strong>reforma</strong> constitucional. Essa é uma razão pela qual essa lei não foi modifica<strong>da</strong>.<br />
O fato é que o Governo <strong>da</strong> Concertación — acordo que une o Partido<br />
Democrata Cristão e Partido Socialista, coalizão que ganha sucessivamente as<br />
eleições no Chile —, resolve não desmontar, não volta atrás, decide manter algumas<br />
características do sistema descentralizado. Ele faz isso tanto na economia quanto na<br />
educação. A economia chilena se descentraliza, se abre, se moderniza muito<br />
rapi<strong>da</strong>mente. Isso tem sucesso, haja vista que o Chile tem uma <strong>da</strong>s taxas de<br />
crescimento econômico mais importantes <strong>da</strong> América Latina. Na área <strong>da</strong> educação o<br />
Governo também mantém esse sistema descentralizado que havia sido implantado,<br />
mas começa a introduzir uma série de modificações, que consistem basicamente em<br />
novos investimentos em educação, preocupação com a quali<strong>da</strong>de, preocupação<br />
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com a eqüi<strong>da</strong>de, preocupação com currículos e preocupação também com os<br />
professores.<br />
Então, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 houve uma série de medi<strong>da</strong>s. Vou mencionar<br />
algumas <strong>da</strong>s que foram feitas no sentido de melhorar a educação, corrigir os<br />
problemas <strong>da</strong> educação no Chile, mas mantendo-se basicamente esse formato geral<br />
que havia sido estabelecido no período anterior.<br />
Quais foram, então, as políticas educacionais do Governo <strong>da</strong> Concertación?<br />
Primeiro, a manutenção <strong>da</strong> descentralização e do subsídio político às escolas<br />
priva<strong>da</strong>s. Claro, também havia o subsídio às escolas municipais, manti<strong>da</strong>s pelos<br />
municípios, mas com o apoio do Governo nacional. O sistema de escolas priva<strong>da</strong>s<br />
continuou existindo.<br />
O aumento substancial de investimentos na educação. Ele mais que duplica<br />
os investimentos na educação, vai aumentando-os progressivamente. Os salários<br />
<strong>dos</strong> professores são aumenta<strong>dos</strong> substancialmente, o que faz com que a carreira de<br />
professor se torne mais atrativa.<br />
Ele desenvolve o SNED, sistema de avaliação e prêmios para as escolas<br />
públicas subvenciona<strong>da</strong>s. Refiro-me às escolas públicas, às escolas municipais. Ele<br />
cria um sistema por meio do qual as escolas recebem um bônus se conseguirem ter<br />
desempenho melhor do que aquele que era esperado. Enfim, considerando o nível<br />
socioeconômico <strong>dos</strong> alunos, ele cria incentivo financeiro e monetário para as<br />
escolas.<br />
Ele chega a completar a universalização do ensino obrigatório de 12 anos.<br />
Hoje, o Chile praticamente já universalizou esses 12 anos de educação. Já havia<br />
conseguido a universalização <strong>dos</strong> primeiros anos; agora completa a universalização<br />
<strong>dos</strong> 12 anos de educação, ou seja, primário e médio, fun<strong>da</strong>mental e médio. E<br />
começa um processo de criação de escolas de tempo completo de 6 horas. Hoje em<br />
dia, praticamente todo o sistema já tem isso. As crianças ficam na escola 6 horas<br />
por dia, no sistema público e no sistema subvencionado.<br />
O SIMCE é um sistema de avaliação do desempenho <strong>dos</strong> alunos, é uma<br />
avaliação nacional. Ca<strong>da</strong> aluno tem uma nota nesse sistema. Isso é utilizado, por<br />
exemplo, para avaliar se a escola consegue atrair bons alunos, estabelecer que<br />
alunos vão para as universi<strong>da</strong>des. Há to<strong>da</strong> uma política educacional basea<strong>da</strong> nessa<br />
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avaliação <strong>dos</strong> alunos. É um sistema que vem sendo aperfeiçoado. Começou na<br />
época de Pinochet e foi progressivamente se desenvolvendo.<br />
O Banco Mundial, como foi mencionado aqui, tem alguns programas de apoio,<br />
principalmente de infra-estrutura para as escolas em situação mais precária, como<br />
as escolas rurais. Há um apoio para a infra-estrutura, para a melhoria <strong>da</strong>s condições<br />
<strong>da</strong>s escolas.<br />
Há um trabalho de reformulação <strong>dos</strong> currículos, aumento de dias de aula por<br />
ano. O calendário é mais completo. Como já disse, a escola de tempo integral é algo<br />
que vai crescendo. Recentemente, há 4 ou 5 anos, foi criado o programa Enlaces,<br />
por meio do qual são coloca<strong>dos</strong> computadores nas escolas, com acesso à Internet.<br />
Isso é baseado em um sistema nacional de desenvolvimento de materiais<br />
pe<strong>da</strong>gógicos para os professores. Algo parecido com isso foi mencionado em<br />
relação à Coréia. Com esse sistema de apoio às escolas, os professores têm acesso<br />
a informações, material pe<strong>da</strong>gógico e programas de curso.<br />
Há também um trabalho interessante de cooperação com a companhia<br />
telefônica, que provê apoio técnico para que os computadores funcionem<br />
adequa<strong>da</strong>mente.<br />
Há uma inovação importante, mas há também todo um trabalho de formação<br />
e qualificação <strong>dos</strong> professores.<br />
Outra característica é a continui<strong>da</strong>de. Ca<strong>da</strong> Governo pode mu<strong>da</strong>r o Ministro<br />
<strong>da</strong> Educação, mas, basicamente, a equipe <strong>dos</strong> educadores que está envolvi<strong>da</strong> com<br />
esse Ministério, que está envolvi<strong>da</strong> com esse projeto, desde 1990, está lá até hoje.<br />
De uma forma ou de outra, eles estão aí, há um processo contínuo de<br />
aprendizagem, de formação. O Chile participa desses estu<strong>dos</strong> internacionais, as<br />
pessoas circulam, adquirem conhecimento. É um processo de aprendizagem e de<br />
criação de um setor público competente. Essa, portanto, é uma característica muito<br />
importante em relação a isso.<br />
Mostro alguns desses resulta<strong>dos</strong>. Nessas 3 colunas, faço uma comparação<br />
considerando os anos de 1990, 1995 e 2000. Não mu<strong>da</strong> muito o perfil <strong>da</strong> escola. As<br />
escolas municipais representam mais ou menos metade do sistema; as escolas<br />
priva<strong>da</strong>s subsidia<strong>da</strong>s, 30%, 40%; a escola particular paga, um pequeno grupo.<br />
Depois vêm as escolas de empresas, corporativas.<br />
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Outra característica que o sistema educacional chileno apresenta — algo que<br />
aparece relativamente menos, inclusive nessa análise que vemos — é a<br />
segmentação. Há um sistema técnico e um sistema de educação geral.<br />
Vemos na imagem que está representado em azul o sistema de educação<br />
geral, que eu chamo de científica e humanística. Em vermelho, o<br />
técnico-profissional. Em marrom, estão representa<strong>dos</strong> os alunos que deveriam estar<br />
no ensino médio e estão fora do sistema. Menos de 10% <strong>dos</strong> alunos estão fora do<br />
sistema ain<strong>da</strong>.<br />
O sistema é dividido ao meio. Já foi menciona<strong>da</strong> em várias <strong>da</strong>s<br />
apresentações essa questão <strong>da</strong> separação, no ensino médio, entre o ensino técnico<br />
e o acadêmico. O Chile tem essa divisão, que existe há muito tempo. É uma<br />
estratificação claramente marca<strong>da</strong>: os filhos de classe média vão para os cursos<br />
acadêmicos, que levam à universi<strong>da</strong>de; os filhos de classes mais pobres vão para o<br />
ensino técnico, profissional, que não leva à universi<strong>da</strong>de, supostamente os prepara<br />
para o mercado de trabalho.<br />
Esse sistema tem sido objeto de alguma tentativa de <strong>reforma</strong>. No passado<br />
havia enorme quanti<strong>da</strong>de de cursos técnicos de qualquer tipo. To<strong>da</strong> avaliação que<br />
se fazia era extremamente negativa a respeito disso, porque, na ver<strong>da</strong>de, acabava<br />
não sendo de fato um sistema de formação técnica, era uma espécie de sistema de<br />
formação de segun<strong>da</strong> classe para as classes sociais menos favoreci<strong>da</strong>s.<br />
Houve uma tentativa de se definirem melhor os conteú<strong>dos</strong>. Há projetos no<br />
sentido de que se faça uma associação mais forte entre a educação técnica, as<br />
escolas técnicas e o setor empresarial. Em alguns casos, o próprio setor empresarial<br />
assumiu a responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Pelo que já li e vi, esse assunto não está sendo muito discutido no Chile. Há<br />
cursos desse tipo que são muito bons, mas são a minoria. É como aquele problema<br />
que foi discutido no caso <strong>da</strong> Coréia, no caso <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, o do tracking. Criam-se 2<br />
caminhos, e quem entrar por um deles não tem saí<strong>da</strong>, vai ficar ali, não tem<br />
possibili<strong>da</strong>de de voltar para o outro. Esse é um tema importante, que existe ain<strong>da</strong> no<br />
Chile, e eu diria que não tem sido objeto <strong>da</strong> discussão que eu esperava que<br />
houvesse neste momento.<br />
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Outro resultado é que as taxas caem fortemente. Nunca foram muito altas. Os<br />
<strong>da</strong><strong>dos</strong> do Chile sobre abandono e repetência sempre foram muito melhores que os<br />
do Brasil. Estou falando de taxa de 6%, níveis baixos de abandono e de repetência.<br />
Vemos, na parte de cima, as taxas de abandono relativas à educação média.<br />
Sabemos que, em regra, os jovens abandonam a escola aos 15, 16 anos de i<strong>da</strong>de.<br />
Então, as taxas são maiores. Elas caíram muito fortemente durante a déca<strong>da</strong> de 90.<br />
Agora estão mais ou menos estabiliza<strong>da</strong>s. Quanto à educação fun<strong>da</strong>mental,<br />
também. Basicamente, podemos dizer que o Chile resolveu o problema <strong>da</strong><br />
repetência e <strong>da</strong> evasão até o fim do ensino médio.<br />
Vem então a surpresa. Justamente na época que a comissão <strong>da</strong> OECD<br />
estava no Chile, em 2003, saem os resulta<strong>dos</strong> do famoso PISA, que todo mundo<br />
está mencionando. O estudo <strong>da</strong> OECD compara o desempenho <strong>dos</strong> jovens aos 15<br />
anos de i<strong>da</strong>de. E o Chile não se sai bem.<br />
Esses são os resulta<strong>dos</strong> país a país. Essas linhas indicam os diferentes<br />
níveis. A mais baixa, a primeira delas, em azul, representa as pessoas que estão<br />
abaixo do nível 1 — o PISA classifica as pessoas por vários níveis —, não<br />
alcançaram o mínimo satisfatório. A Finlândia é o país que tem melhor desempenho<br />
no PISA. Outros países, como a Irlan<strong>da</strong>, como a Coréia, têm níveis muito altos. Na<br />
outra ponta, são os países que estão em pior situação. No caso de países<br />
latino-americanos, o Peru tem o pior desempenho. Brasil, México e Chile estão em<br />
situação mais ou menos pareci<strong>da</strong>.<br />
Então, no Chile, as pessoas se perguntavam: “O que aconteceu? Por que<br />
todo esse esforço de melhoria não deu um resultado melhor?” No caso, o Chile é<br />
melhor que o Brasil, é melhor que outros, mas o nível dele ain<strong>da</strong> é muito baixo. E os<br />
chilenos gostam de se comparar com a Europa, evidentemente. Então se<br />
perguntavam: “Como não conseguimos chegar lá?” Isso provocou uma grande<br />
discussão, um grande debate no Chile. A imprensa deu enorme cobertura, a<br />
socie<strong>da</strong>de to<strong>da</strong> se mobilizou. No Brasil, temos esses resulta<strong>dos</strong>, e ninguém dá muita<br />
bola. Dizem que a situação é ruim mesmo. O problema não chega a ser um<br />
escân<strong>da</strong>lo. No Chile, foi um escân<strong>da</strong>lo. Houve uma discussão muito grande.<br />
Observando esse sistema, o que foi conseguido nesses anos, vê-se que o<br />
Chile fez uma série de coisas que todo mundo diz que tem que ser feita: melhorar o<br />
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currículo, <strong>reforma</strong>r o currículo, apoiar os professores, aumentar os salários,<br />
estabelecer o tempo integral. Tudo isso que achamos que tem que ser feito o Chile<br />
fez. E o que aconteceu? Primeiro, a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação não melhorou. Não há<br />
só o PISA, um instituto internacional de matemática também mostrou que o Chile<br />
não avançou como seria de se esperar.<br />
Quanto ao desempenho, a desigual<strong>da</strong>de social continua. Isso, como vimos,<br />
existe na Irlan<strong>da</strong>, certamente nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. Em quase to<strong>dos</strong> os países do<br />
mundo, as pessoas que vêm de famílias mais pobres, menos educa<strong>da</strong>s, com<br />
tradição operária, com menos tradição de educação em casa, as crianças têm pior<br />
desempenho na escola. Só que no Chile a desigual<strong>da</strong>de é grande, ela não se reduz<br />
muito. Persiste a duali<strong>da</strong>de do sistema de educação, dividido em 2 ramos, o técnico<br />
e o acadêmico, e o técnico como educação de segun<strong>da</strong> classe.<br />
O que fica mais claro é que as escolas municipais não reagem. É como se o<br />
sistema de incentivos baseado em desempenho estimulasse o setor privado<br />
subvencionado. Muitas famílias gostam, man<strong>da</strong>m os filhos para lá, mas o sistema<br />
municipal não reage ou reage muito pouco. Há algumas avaliações que mostram<br />
que o sistema de incentivos baseado em desempenho tem algum efeito. Há estu<strong>dos</strong><br />
estatísticos, econométricos que tentam medir isso, mas a sensação é de que o<br />
sistema é rígido.<br />
As escolas municipais chilenas têm os problemas que têm as nossas escolas<br />
municipais e estaduais: o diretor não tem autonomia, a Prefeitura controla o<br />
orçamento, as nomeações são políticas, enfim, há uma série de coisas, o diretor <strong>da</strong><br />
escola não tem poder de tomar decisões ou inclusive a competência específica para<br />
entender o que está acontecendo. O Governo nacional estabelece diretrizes,<br />
orientações, incentivos, mas a escola, na ver<strong>da</strong>de, é controla<strong>da</strong> pelos municípios;<br />
portanto, não responde diretamente ao Governo nacional. Enfim, há uma dificul<strong>da</strong>de.<br />
O fato é que o setor <strong>da</strong>s escolas municipais, as escolas públicas para onde vai a<br />
população mais pobre, é o que menos melhora, menos se beneficia desse processo.<br />
A insatisfação <strong>dos</strong> professores. Durante o período de Pinochet, os<br />
professores sofreram uma repressão e um rebaixamento muito fortes, por causa <strong>da</strong><br />
questão política. Eles se mobilizaram contra o regime, eram favoráveis ao regime<br />
anterior, perderam posição, deixaram de ser funcionários públicos. Houve um corte<br />
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muito importante de recursos para a educação, os salários foram corta<strong>dos</strong>. Então, o<br />
professor chileno tem um ressentimento muito grande, por conta desse tipo de<br />
ataque que sofreu. Ele tem uma nostalgia <strong>da</strong>quele tempo, do qual muitos deles<br />
talvez não se lembrem mais. Muitos <strong>dos</strong> jovens talvez até desconheçam esse<br />
período em que havia uma escola nacional, a profissão docente era muito<br />
importante, os professores eram funcionários do Estado. Então, há um clima de<br />
insatisfação, principalmente nas escolas municipais.<br />
Há outra questão que tem a ver com o que eu chamo de custos e tensões <strong>da</strong><br />
economia competitiva. O Chile criou uma economia de mercado, cortou muito <strong>da</strong><br />
segurança que as pessoas tinham na vi<strong>da</strong>; por pertencerem a certa corporação, a<br />
certo grupo, tinham benefícios. Tudo aquilo de alguma forma se modificou. A<br />
socie<strong>da</strong>de ficou mais rica, mas também muito mais competitiva, em que o<br />
desempenho passou a ser um critério para definir quem vai estar melhor e quem vai<br />
estar pior. Muita gente gostou disso, muita gente se beneficiou disso, mas muita<br />
gente se sentiu ameaça<strong>da</strong>, frustra<strong>da</strong>. Então, isso gerou na socie<strong>da</strong>de chilena uma<br />
tensão, que tem a ver com esse processo de transformação.<br />
Esse é um <strong>da</strong>do interessante, de uma pesquisa recente. Num questionário foi<br />
perguntado assim: “Você é a favor ou contra esse governo? Você apóia ou não esse<br />
governo?” Isso foi feito no Chile de hoje, alguns meses atrás. Havia opções como<br />
estas: apóia muito; apóia mais ou menos; não apóia; tem dúvi<strong>da</strong>. Isso tem esse<br />
formato de M. O que significa? Significa que a socie<strong>da</strong>de chilena está dividi<strong>da</strong>. São<br />
16 anos de um governo de coalizão. Fala-se em esgotamento político desse<br />
processo. A população está insatisfeita. Há um grupo pequeno que o apóia, um<br />
grupo grande que não o apóia. A coalizão ganhou, mas poderia não ter ganhado,<br />
quer dizer, foi uma disputa acirra<strong>da</strong>. Há to<strong>da</strong> uma discussão se de fato a coalizão vai<br />
continuar conseguindo manter-se no poder no Chile.<br />
Eu acho que esse contexto explica certa tensão na socie<strong>da</strong>de chilena, e há<br />
outros indicadores que mostram a mesma coisa. No Chile, por exemplo, têm<br />
ocorrido revoltas, como a de estu<strong>da</strong>ntes, muito violentas, episódios que não estamos<br />
acostuma<strong>dos</strong> a ver em nosso País. Lojas são incendia<strong>da</strong>s, bombas são joga<strong>da</strong>s no<br />
palácio, estu<strong>da</strong>ntes com máscaras enfrentam a polícia nas ruas. Não é um grande<br />
número de pessoas que faz isso, mas a visibili<strong>da</strong>de é muito grande.<br />
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Isso expressa um pouco a tensão que o país passou a viver, apesar do<br />
sucesso em relação a outros fatores. É uma história de sucessos ao longo <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 90, sem dúvi<strong>da</strong> nenhuma, na educação e na economia, mas a situação<br />
atual é tensa.<br />
Na próxima eleição, se a coalizão perder, quem vai ganhar não é a esquer<strong>da</strong>,<br />
mas a direita, ain<strong>da</strong> que hoje não seja a direita de Pinochet. Há uma nova direita, um<br />
novo centro, à direita, diferente. De qualquer maneira, há um processo de mu<strong>da</strong>nça.<br />
Aconteceu lá o que se chamou de “revolução <strong>dos</strong> pingüins”. No caso, pingüins são<br />
os estu<strong>da</strong>ntes, com seus uniformes — paletó escuro, calça mais clara. Estu<strong>da</strong>ntes<br />
saíram às ruas em grande número, no princípio deste ano, logo depois <strong>da</strong> eleição de<br />
Bachelet, a Presidente do Chile, para protestar, para exigir a <strong>reforma</strong> <strong>da</strong> educação<br />
no Chile.<br />
Esse movimento pegou de surpresa o Governo, então eleito recentemente,<br />
que tem à frente uma Presidente jovem, uma mulher inovadora em uma série de<br />
aspectos. Havia uma espécie de lua-de-mel <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de com essa nova<br />
presidência, e subitamente explodiu nas ruas do Chile um movimento estu<strong>da</strong>ntil com<br />
o apoio de professores e de grupos políticos organiza<strong>dos</strong>. Uma série de projeções<br />
levam o Governo a estabelecer uma comissão para repensar o sistema de educação<br />
e refazer a LOCE, Lei Orgânica Constitucional Educativa, cria<strong>da</strong> por Pinochet, no<br />
final do seu Governo.<br />
Hoje, o consenso no Chile é que aquele tempo já passou. O velho controle<br />
<strong>dos</strong> militares sobre o regime não mais existe, trata-se de situação completamente<br />
supera<strong>da</strong>. Agora, o Congresso faz o que quer. Está mesmo na hora de se rever essa<br />
lei, to<strong>dos</strong> concor<strong>da</strong>m. Contudo, para onde vamos? O que vai ser feito? Como o<br />
sistema vai transformar-se?<br />
Essas são as deman<strong>da</strong>s <strong>dos</strong> movimentos de estu<strong>da</strong>ntes e de professores,<br />
etc. Na ver<strong>da</strong>de, eles querem o restabelecimento do estado docente do Governo<br />
Pinochet. Querem a volta <strong>da</strong> nacionalização <strong>da</strong>s escolas, a eliminação do sistema<br />
de subsídio, inclusive a eliminação <strong>da</strong>s escolas priva<strong>da</strong>s, com fins lucrativos. A idéia<br />
é permitir somente a existência de escolas não lucrativas. E a discussão se dá<br />
apenas no sentido de saber se essas escolas não serão como as nossas, que,<br />
embora digam não serem lucrativas, elas o são de fato.<br />
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Há, também, a idéia de maiores benefícios para os estu<strong>da</strong>ntes. Essa grande<br />
reivindicação de mu<strong>da</strong>nça institucional está associa<strong>da</strong> à passagem de ônibus<br />
gratuita, etc. Enfim, uma série de reivindicações tópicas mobilizam os estu<strong>da</strong>ntes.<br />
O Governo criou uma grande comissão com mais de 60 membros, com a<br />
participação de to<strong>dos</strong> os grupos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Eu nem saberia reproduzir aqui esse<br />
processo de longa discussão. Em certo momento, alguns grupos saíram e<br />
elaboraram seu próprio documento. No momento, esses documentos estão no<br />
Congresso, o que tem provocado contínua produção de artigos, textos, materiais,<br />
etc. Esse é o debate que está havendo hoje no Chile.<br />
Uma <strong>da</strong>s questões fun<strong>da</strong>mentais no Chile é saber como se constrói e se<br />
mantém o consenso político para que o projeto de <strong>reforma</strong>s seja levado adiante. É<br />
bastante claro que foi obti<strong>da</strong> uma série de vantagens no sistema tal como ele está, e<br />
há uma série de problemas. Entre as pessoas que formam essa comuni<strong>da</strong>de de<br />
especialistas, eu diria que existe consenso sobre quais as coisas que devem ser<br />
manti<strong>da</strong>s e em que se deve mexer.<br />
Digo mais, a polarização política que levou à crise, na época Allende, e à<br />
repressão, na época Pinochet, destrói esse trabalho. Nesse momento, o Chile corre<br />
o risco de não ser capaz de fazer uma transição e manter aquilo que foi conquistado<br />
e foi bom, mas simplesmente retroagir a um sistema muito ideologizado e muito<br />
politizado, o que esse contexto político que mencionei pode proporcionar. Como o<br />
Chile vai enfrentar essa transição, de 16 anos de governo consensual, basicamente,<br />
para uma situação polariza<strong>da</strong>? O que vem depois? Esse é o grande desafio que o<br />
país tem de enfrentar. Disso depende a possibili<strong>da</strong>de de implementar uma política<br />
educacional que não seja defini<strong>da</strong> em termos estritamente ideológicos ou<br />
partidários.<br />
A quali<strong>da</strong>de do ensino é muito importante. Mencionei aqui a <strong>reforma</strong> <strong>da</strong><br />
flexibili<strong>da</strong>de e o construtivismo, a nova ênfase <strong>dos</strong> currículos bem defini<strong>dos</strong> e<br />
estrutura<strong>dos</strong>, tema que também está em discussão no Brasil. Nesse caso, acontece<br />
um vaivém. Se nos lembrarmos <strong>da</strong>s antigas escolas, com o professor na frente,<br />
batendo com uma vara nos alunos que não aprendem, com os alunos tendo que<br />
decorar to<strong>da</strong>s as matérias, perceberemos que isso tudo levou a uma educação que<br />
poderia ser considera<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de, mas rígi<strong>da</strong>, autoritária; as pessoas sofriam.<br />
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Às vezes, burocratizava-se um aprendizado sem qualquer conteúdo. Isso gerou uma<br />
reação: muitas vezes se pensava em se fazer algo mais criativo, mais centrado no<br />
aluno, <strong>da</strong>ndo ao professor mais liber<strong>da</strong>de para educar como achasse mais<br />
conveniente. Esse foi um importante movimento.<br />
Contudo, se o professor não é bem formado, se o aluno não tem nenhum<br />
background educacional e se o currículo não é definido, vai-se a outro extremo: o<br />
aluno não aprende na<strong>da</strong>. O movimento gera, então, o sentido contrário.<br />
Hoje em dia, a tendência internacional — e as pessoas que estu<strong>da</strong>m no Chile<br />
têm muita clareza sobre isso — é voltar a reforçar o currículo. Ninguém defende a<br />
volta do ensino autoritário de 50 anos atrás, mas a idéia é o aluno ter muito mais<br />
definido o que tem de aprender, e o conteúdo tem de ser de nível mais elevado.<br />
Eu ia mostrar uma tabela, mas o PowerPoint não funciona.<br />
Qual é a proposta deles? Por exemplo, na área <strong>da</strong> linguagem, em vez de o<br />
aluno simplesmente analisar uma frase, ele terá de interpretar o conteúdo de um<br />
texto, terá de ser capaz de ler e, depois, ir mais adiante, entender o texto, dizer do<br />
que se trata.<br />
Antigamente, na História e nas Ciências Sociais, tinha-se de decorar o nome<br />
<strong>da</strong>s capitais, o nome <strong>dos</strong> reis, a <strong>da</strong>ta <strong>da</strong>s batalhas, ou seja, decoravam-se <strong>da</strong>tas e<br />
fatos, mas não se sabia do que se tratava. Isso nos levou a outro extremo: agora se<br />
fala sobre processos históricos, lutas de classe, escravidão, dependência, economia,<br />
e ninguém sabe quem foi D. Pedro I, D. Pedro II, ou quando foi proclama<strong>da</strong> a<br />
República. Agora o objetivo é saber quais são as <strong>da</strong>tas e os fatos importantes e<br />
aprender a interpretá-los, sabendo que pode haver uma série de tipos de<br />
interpretação. Não se trata apenas de doutrinar o aluno e dizer qual a interpretação<br />
correta, e sim capacitá-lo, para que ele possa posicionar diante de em leque de<br />
alternativas.<br />
Na matemática, em vez de o aluno aprender a calcular os algoritmos ou<br />
realizar uma conta de dividir com 3 decimais, ele aprende a raciocinar um problema<br />
matemático, para resolvê-lo. Nas Artes, em vez de o aluno aprender a desenhar,<br />
aprende sobre História <strong>da</strong> Arte. A preocupação é avançar na definição <strong>dos</strong> currículos<br />
mínimos e fazer algo mais próximo entre o que o aluno tem que aprender e o<br />
sistema de avaliação.<br />
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Outra constatação feita pelos chilenos foi a de que o sistema de avaliação por<br />
eles implantado e há muito tempo utilizado estava descolado <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong><br />
ensina<strong>dos</strong> nas escolas. Por quê? Em parte, porque os especialistas em avaliação<br />
não são os professores, mas especialistas em uma espécie de econometria, em<br />
testes. Eles sabem como fazer testes, mas o currículo é feito de outro jeito, e as<br />
duas formas não casam.<br />
Pode-se dizer que tal escola produz bons alunos em Matemática, em<br />
Português ou em Espanhol, no caso do Chile, e a outra não. Contudo, não se é<br />
capaz de dizer especificamente para o professor o que ele tem de fazer para<br />
melhorar, principalmente quando o que se está querendo não é fazê-lo decorar<br />
alguns pontos e seguir alguns procedimentos, e sim medir sua capaci<strong>da</strong>de de<br />
pensar, de entender, de interpretar. Como associar esse tipo de avaliação,<br />
importante instrumento para se elaborar uma política de quali<strong>da</strong>de, com o que<br />
acontece na sala de aula?<br />
Esse processo é complicado, requer o envolvimento <strong>dos</strong> professores. As<br />
pessoas que fazem os testes e os professores têm que dialogar e conversar<br />
permanentemente. Isso tem de ser desenvolvido e criado. Não é algo que se faz de<br />
cima para baixo.<br />
A formação de professores também é um aspecto fun<strong>da</strong>mental. No Chile,<br />
assim como no Brasil, a formação <strong>dos</strong> professores se dá nas universi<strong>da</strong>des e em<br />
cursos de Pe<strong>da</strong>gogia autônomos e independentes do Ministério <strong>da</strong> Educação. E não<br />
necessariamente o professor aprende os conteú<strong>dos</strong> que tem de ensinar. O<br />
professor, nos primeiros anos de educação — não só nos anos mais avança<strong>dos</strong>,<br />
mas inclusive na educação fun<strong>da</strong>mental —, tem que saber bem o Português, a<br />
Matemática e as ciências que ele vai ensinar às crianças. Ele tem que dominar bem<br />
a língua, não pode errar a língua que vai ensinar. Ele tem que escrever<br />
corretamente, tem que entender o que está sendo transmitido.<br />
É claro que, nas séries mais avança<strong>da</strong>s, no segundo ciclo, <strong>da</strong> 5ª série em<br />
diante, o professor precisa ter um conhecimento especializado na sua área, de boa<br />
quali<strong>da</strong>de. Essa ênfase maior na formação, na pe<strong>da</strong>gogia, no conhecimento do<br />
desempenho que o aluno precisa ter, e não simplesmente nas questões mais gerais,<br />
pe<strong>da</strong>gógicas — o que é muito típico em nossas escolas de Pe<strong>da</strong>gogia —, é uma<br />
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transformação do sistema de formação de professores. No Chile, há uma<br />
consciência bastante clara, pelo menos em certos grupos, de que isso é importante,<br />
de que isso deve ser feito, mas não está sendo feito ain<strong>da</strong> como deveria.<br />
Depois disso, vem a questão de se avançar na <strong>reforma</strong> institucional. Uma <strong>da</strong>s<br />
propostas é voltar ao formato de um sistema monopolizado pelo Estado, com to<strong>dos</strong><br />
os defeitos que os sistemas centraliza<strong>dos</strong> têm. A idéia é manter a plurali<strong>da</strong>de do<br />
sistema institucional. Isso significa que o Estado vai continuar a ter um papel<br />
importante nas escolas, um sistema público que precisa ser <strong>reforma</strong>do para ser mais<br />
capaz de reagir aos incentivos e assumir responsabili<strong>da</strong>des pelo desempenho <strong>da</strong><br />
educação. É preciso manter o setor privado, que não é só uma técnica de se<br />
manipular o sistema educacional, mas um princípio de liber<strong>da</strong>de de ensino que faz<br />
parte de uma socie<strong>da</strong>de democrática, e é preciso fortalecer a capaci<strong>da</strong>de do setor<br />
público de avaliar, apoiar e cobrar resulta<strong>dos</strong>. Isso tem a ver com a competência do<br />
setor público e, também, com o desenho <strong>da</strong>s instituições. Quem deve avaliar a<br />
educação? O próprio Ministério <strong>da</strong> Educação? Ou ele tem que criar instituições<br />
independentes, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, com o apoio do Estado, etc., que possa avaliar de<br />
maneira independente? Como administrar isso?<br />
Não pode haver simplesmente um sistema no qual é o próprio Estado que<br />
avalia, por mais que a avaliação seja bem-intenciona<strong>da</strong>. Isso pode trazer problemas.<br />
A idéia de se criar um sistema que a socie<strong>da</strong>de faça isso de maneira autônoma é<br />
uma alternativa.<br />
Então, há to<strong>da</strong> uma questão de como se restabelecem os vínculos entre as<br />
escolas municipais e o Governo nacional, na medi<strong>da</strong> em que as políticas nacionais<br />
podem efetivamente impactar as políticas municipais e não se pode manter essa<br />
questão dissocia<strong>da</strong>. Enfim, há uma série de questões na agen<strong>da</strong>.<br />
Neste momento, o Chile está discutindo tudo isso, e simplesmente temos de<br />
acompanhar e esperar que eles consigam fazer essa passagem para um sistema<br />
que possa transformar-se num sistema ca<strong>da</strong> vez melhor e com mais quali<strong>da</strong>de. Esse<br />
é um <strong>dos</strong> pontos que eu gostaria de trazer à discussão, a partir dessa experiência.<br />
presentes.<br />
Muito obrigado. (Palmas.)<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Boa-tarde a to<strong>dos</strong> os<br />
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Cumprimentando e parabenizando o nosso Presidente, Deputado Gastão<br />
Vieira, agradeço a S.Exa. o presente que recebemos durante o dia de hoje: a<br />
oportuni<strong>da</strong>de de discutir mais e de aprender mais a partir de experiências exitosas.<br />
Quero cumprimentar meus companheiros Deputa<strong>dos</strong> presentes e agradecer<br />
aos nossos parceiros, a Confederação Nacional do Comércio e o Instituto Alfa e<br />
Beto. Também cumprimento nossos educadores e demais pessoas interessa<strong>da</strong>s na<br />
educação do nosso País.<br />
hoje.<br />
Desejo fazer um rápido resumo do que tivemos a oportuni<strong>da</strong>de de aprender<br />
Não se pode falar em desenvolvimento, em crescimento, sem discutir<br />
educação. Para fazer mu<strong>da</strong>nças, corre-se risco, e é necessário assumir os riscos<br />
<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças e ter coragem para que nós possamos realmente efetivar ações que<br />
venham ao encontro <strong>dos</strong> anseios e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> nossa população.<br />
Deve-se <strong>da</strong>r priori<strong>da</strong>de aos recursos para a educação, <strong>da</strong>ndo-se digni<strong>da</strong>de às<br />
condições físicas <strong>da</strong>s nossas escolas, <strong>dos</strong> nossos equipamentos. Sabemos que<br />
devemos não só priorizar a destinação de mais recursos, mas também controlar a<br />
utilização desses recursos.<br />
Falou-se muito <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de uma revisão curricular, com o currículo<br />
centrado no aluno, com flexibili<strong>da</strong>de e desenvolvimento de múltiplas habili<strong>da</strong>des e<br />
apropriação <strong>da</strong>s novas tecnologias, para que possamos preparar o jovem para o<br />
mundo em mu<strong>da</strong>nça. Isso ficou bem claro. Nós estamos com o grande desafio de<br />
descobrir o caminho para promover a quali<strong>da</strong>de na nossa educação, por isso é<br />
importante prestarmos bastante atenção na preparação do jovem para esse mundo<br />
em mu<strong>da</strong>nça, e do professor como dinamizador.<br />
Falou-se também <strong>da</strong> permanência do aluno na escola. Estamos buscando o<br />
aumento <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> escolar. Vimos que isso é uma característica de alguns países<br />
que hoje tivemos oportuni<strong>da</strong>de de conhecer. Vimos os avanços que vêm obtendo na<br />
área <strong>da</strong> educação.<br />
Praticamente to<strong>dos</strong> comentaram a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> valorização do professor,<br />
incluindo a questão do salário, <strong>dos</strong> cargos e <strong>da</strong> formação inicial e continua<strong>da</strong>,<br />
acompanha<strong>da</strong> de forma bastante segura e clara, para obtermos a resposta no<br />
processo educacional.<br />
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Quanto à centralização <strong>da</strong> política educacional e <strong>da</strong> avaliação externa, com a<br />
descentralização do planejamento e <strong>da</strong> ação <strong>educativa</strong> — ca<strong>da</strong> escola faz o seu<br />
plano de desenvolvimento, com a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de —, acho que ficou<br />
bem claro que é necessário que se descentralize a ação e o planejamento, para que<br />
possamos atender aos anseios <strong>da</strong>quela comuni<strong>da</strong>de, principalmente considerando-<br />
se as diferenças regionais.<br />
Também tivemos oportuni<strong>da</strong>de de conhecer modelos diferencia<strong>dos</strong> de gestão,<br />
como o modelo <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, em que o gerenciamento é privado mas o financiamento<br />
é público, e o do Chile, onde se caminha para a nacionalização, reduzindo-se ca<strong>da</strong><br />
vez mais o ensino privado.<br />
Achei bastante interessante esta oportuni<strong>da</strong>de de uma visão bem ampla. O<br />
meu contentamento e alegria devem ser também a alegria de to<strong>dos</strong> nós que<br />
estivemos aqui hoje.<br />
Ficou clara também a necessi<strong>da</strong>de de buscarmos caminhos para reduzir as<br />
desigual<strong>da</strong>des sociais, integrando as políticas públicas e trazendo para a escola a<br />
responsabili<strong>da</strong>de de melhorar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> nossos alunos. Enquanto não<br />
tivermos todo o foco voltado para os nossos alunos, não teremos condição de fazer<br />
com que a escola cumpra o seu papel de ensinar, de formar, de preparar a nossa<br />
criança e o nosso jovem para esse mundo competitivo em que vivemos, que torna<br />
ca<strong>da</strong> vez mais premente a necessi<strong>da</strong>de de uma melhor preparação para a vi<strong>da</strong>.<br />
Agradeço ao Dr. Simon Schwartzman a belíssima exposição, assim como a<br />
to<strong>dos</strong> os nossos palestrantes, que nos brin<strong>da</strong>ram com experiências tão ricas e com<br />
colocações tão precisas e corretas, as quais nos permitiram ampliar, ratificar e<br />
retificar nossa visão sobre as questões <strong>da</strong> educação. Enfim, agradeço a to<strong>dos</strong>.<br />
Neste momento, iniciamos os debates.<br />
Concederemos a palavra aos nossos companheiros Deputa<strong>da</strong>s e Deputa<strong>dos</strong>.<br />
Reiteramos que as perguntas e respostas estarão à disposição no site <strong>da</strong><br />
nossa Comissão, assim como as transparências e os materiais utiliza<strong>dos</strong> nos<br />
trabalhos de hoje.<br />
A palavra está aberta aos nossos companheiros Parlamentares. Há alguma<br />
pergunta? (Pausa.) Acho que as exposições foram muito claras.<br />
Com a palavra o Deputado Alex Canziani.<br />
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O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Gostaria de perguntar ao Prof. Simon,<br />
grande estudioso na área de educação, se ele tem acompanhado e, se positivo, qual<br />
a visão dele sobre o Plano de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação — PDE, lançado<br />
recentemente pelo Governo, que pretende fazer com que o Brasil chegue à nota 6<br />
no PISA, <strong>da</strong>qui a 15 anos. Estamos no caminho correto para chegarmos ao nível<br />
pretendido?<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Vamos ouvir to<strong>da</strong>s as<br />
perguntas e responder ao final.<br />
Concedo a palavra à Deputa<strong>da</strong> Angela Amin.<br />
A SRA. DEPUTADA ANGELA AMIN - Sou Angela Amin, Deputa<strong>da</strong> Federal<br />
por Santa Catarina.<br />
Volto a insistir na necessi<strong>da</strong>de de focar o tipo de aluno que chega à escola.<br />
Existe uma política de análise do cliente, quer dizer, do aluno que chega à escola<br />
nessas duas experiências? O sistema de avaliação utilizado nas duas experiências<br />
produziu indicadores? Qual foi o mecanismo utilizado para a produção desses<br />
indicadores?<br />
O SR. DEPUTADO ELIENE LIMA - Sou o Deputado Eliene Lima, de Mato<br />
Grosso. Quero cumprimentar os palestrantes e sau<strong>da</strong>r, em especial, os<br />
representantes de Mato Grosso, os quais, com certeza, em muito contribuirão com<br />
as experiências salutares que nos trouxeram.<br />
Gostaria de destacar as duas experiências apresenta<strong>da</strong>s. Ouvi a palestra do<br />
Prof. Simon sobre a experiência do Chile e quero fazer uma reflexão: será que no<br />
Brasil, nas uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação <strong>da</strong>s Regiões Sul e Sudeste, há experiências tão<br />
evoluí<strong>da</strong>s ou até mais evoluí<strong>da</strong>s, em São Paulo ou em Santa Catarina?<br />
Apenas desejo fazer essa reflexão, ou seja, buscarmos no próprio Brasil<br />
experiências que possam diminuir as desigual<strong>da</strong>des regionais, o que, sob meu ponto<br />
de vista, é o nosso maior problema, principalmente em razão <strong>da</strong>s distâncias. E como<br />
há pouco tempo os meios de comunicação chegaram ao Norte e ao Nordeste, essa<br />
diferença ficou ain<strong>da</strong> mais evidente.<br />
A outra observação refere-se à importância <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> escola, como bem<br />
expôs a representante <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>. Percebemos, principalmente em nosso Estado, o<br />
Mato Grosso, que o diretor, na maioria <strong>da</strong>s vezes, não é a maior liderança na escola.<br />
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O que temos que fazer para implementar essa experiência? Devo dizer que não foi a<br />
primeira vez que ouvimos essa referência na Comissão. Realmente, a<br />
descentralização <strong>da</strong> gestão nas escolas faz diferença.<br />
E o IDEB provoca uma tendência nesse sentido, porque privilegia a<br />
competitivi<strong>da</strong>de, a partir <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong>, vinculando-os à destinação de mais<br />
recursos para ca<strong>da</strong> escola. Qual seria, portanto, a melhor aplicação para um País<br />
tão diferente, com reali<strong>da</strong>des tão distintas, inclusive em suas regiões?<br />
Muito obrigado.<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Mais algum<br />
Parlamentar gostaria de usar a palavra? (Pausa.)<br />
Não havendo mais quem queira fazer perguntas, vamos passar a palavra aos<br />
expositores, para as respostas.<br />
obriga<strong>da</strong>.<br />
Primeiramente, concedo a palavra à Profa. Ayne Hyland.<br />
A SRA. AYNE HYLAND (Exposição em inglês. Tradução simultânea.) - Muito<br />
Eu concordo com o Deputado de Mato Grosso. Vale a pena analisar, dentro<br />
do Brasil, por que algumas regiões têm mais sucesso do que outras. Ele já deu<br />
algumas indicações — questões de liderança, por exemplo. Então, é óbvio que é<br />
preciso aprender primeiro dentro do próprio País, porque vocês têm um país tão<br />
grande, com tantos Esta<strong>dos</strong> diferentes.<br />
Hoje pela manhã ouvimos sobre os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, que têm diferenças<br />
bastante significativas entre um Estado e outro. E essa é uma experiência de<br />
aprendizado bastante importante.<br />
Quanto à questão <strong>da</strong> análise do tipo de estu<strong>da</strong>nte, eu realmente acho que<br />
isso é muito importante. Parte do trabalho que a minha universi<strong>da</strong>de e a minha<br />
equipe estão fazendo é o que chamamos de inteligências múltiplas <strong>dos</strong> estu<strong>da</strong>ntes,<br />
reconhecendo que alunos diferentes aprendem de formas diferentes, têm<br />
abor<strong>da</strong>gens diferentes de aprendizagem.<br />
Temos de construir as forças de ca<strong>da</strong> aluno. Acho que isso é muito<br />
importante. É um desafio para os professores. Mas a educação <strong>dos</strong> professores<br />
deve ajudá-los a serem indivíduos, por assim dizer, em seu ensinamento. Até<br />
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mesmo na sala de aula com 30, 35 alunos, ca<strong>da</strong> aluno aprende de forma muito<br />
diferente e ca<strong>da</strong> professor ensina de forma diferente. Acho que isso é importante.<br />
Fico nervosa em relação às avaliações bastante estreitas, por este motivo:<br />
porque acho que você pode condenar uma criança ao fracasso muito cedo, se você<br />
avaliar a criança como um fracasso. Se você avaliar essa criança como um fracasso,<br />
ela será um fracasso. E essa é uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des, porque, por um lado,<br />
precisamos avaliar. Precisamos avaliar para obter progresso. Mas, por outro lado, se<br />
condenarmos uma criança, dermos a ela um rótulo logo cedo, ela ficará<br />
desencoraja<strong>da</strong>. E os professores ficarão desencoraja<strong>dos</strong>. Então, é um equilíbrio<br />
difícil de se atingir entre o encorajamento e a motivação <strong>da</strong>s crianças: reconhecer o<br />
que uma criança pode fazer e não o que uma criança não pode fazer.<br />
Freqüentemente, é o que a avaliação faz.<br />
Temos questões difíceis e precisamos realmente chamar a atenção para elas.<br />
Era isso que eu queria dizer.<br />
Obriga<strong>da</strong>.<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Concedo a palavra ao<br />
Prof. Simon Schwartzman.<br />
O SR. SIMON SCHWARTZMAN - Em relação à primeira pergunta, sobre se<br />
vamos conseguir, em 15 anos, chegar ao nível europeu e se estamos no caminho<br />
errado ou certo, eu diria que estamos no caminho certo, no sentido de que, pela<br />
primeira vez, depois de vários anos, o Governo atual está admitindo que temos um<br />
problema de quali<strong>da</strong>de, que precisamos melhorar e atingir os níveis de quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>dos</strong> países europeus. Nesse sentido, acho que estamos no rumo.<br />
Pessoalmente, porém, não vislumbro chegarmos ao objetivo proposto em 15<br />
anos. Não sei quais contas foram feitas para isso, mas a impressão que tenho é que<br />
a meta é utópica, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as grandes dificul<strong>da</strong>des e a grande distância que nos<br />
separa <strong>dos</strong> países europeus. Acho que devemos trabalhar nesse sentido e fazer o<br />
melhor que podemos. É o que posso dizer no momento. Eu teria que examinar mais<br />
detalha<strong>da</strong>mente como foi feito o cálculo. Pelo pouco que conheço <strong>dos</strong> <strong>da</strong><strong>dos</strong> do<br />
SAEB e <strong>da</strong>s avaliações e <strong>da</strong><strong>dos</strong> europeus, acho que a distância é bastante grande e<br />
não será facilmente supera<strong>da</strong>.<br />
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Sobre o tema <strong>da</strong>s avaliações, trata-se de uma discussão complexa. Devemos<br />
distinguir duas coisas que freqüentemente se confundem. A primeira delas é a<br />
avaliação como diagnóstico geral do sistema. O SAEB até hoje nos dizia a situação<br />
<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> no Brasil, em geral, mas agora temos alguma indicação, ain<strong>da</strong> que<br />
precária, <strong>da</strong>s escolas.<br />
A Prova Brasil, espécie de versão miniatura do SAEB aplica<strong>da</strong> nas principais<br />
escolas — não em to<strong>da</strong>s —, foi feita apenas pelos alunos presentes naquele<br />
determinado dia. Portanto, nem to<strong>dos</strong> fizeram. É uma indicação interessante, porque<br />
nos dá uma visão melhor do que a do SAEB. Repito: o SAEB apenas nos mostrava<br />
o Estado como um todo; agora, podemos analisar melhor, mas ain<strong>da</strong> não é<br />
suficiente para dizermos como estão especificamente as escolas, muito menos<br />
como estão os alunos ou o que deve ser feito para melhorar o seu desempenho.<br />
Devemos ser capazes de separar essas coisas, do contrário, continuaremos<br />
trabalhando para obter melhor nota na prova, quando sabemos que apenas estu<strong>da</strong>r<br />
para a prova não adianta. É claro que a prova é importante, e não podemos<br />
defender sistema educacional sem provas, sem avaliações. Não vamos incorrer no<br />
erro de achar que a educação deve ser o quantum necessário para se passar na<br />
prova. Se assim for, a educação frustra-se e perde seu objetivo.<br />
Portanto, devemos avançar muito na questão <strong>da</strong>s avaliações.<br />
Quanto ao exemplo chileno, não conheço os detalhes. Claramente, devemos<br />
criar um diálogo muito mais forte entre o professor e os avaliadores, que<br />
freqüentemente vêm de mun<strong>dos</strong> distintos. Normalmente, o pe<strong>da</strong>gogo não conhece<br />
muito bem os méto<strong>dos</strong> quantitativos, não sabe o que significam as escalas<br />
utiliza<strong>da</strong>s, enfim, há to<strong>da</strong> uma tecnologia estatística associa<strong>da</strong> a esses processos<br />
que o professor não conhece. E, muitas vezes, o especialista em testes não<br />
conhece o conteúdo do que está sendo ensinado, ele tem apenas noções gerais.<br />
Então, os sistemas de avaliação devem ser aplica<strong>dos</strong> em vários níveis, a<br />
exemplo do que se faz no Chile, onde há uma avaliação de desempenho final do<br />
aluno <strong>da</strong> escola pública fun<strong>da</strong>mental. Deve haver avaliações periódicas, ou seja,<br />
saber qual o desempenho do aluno em ca<strong>da</strong> semestre. Enfim, é um processo<br />
complexo. E é um trabalho cultural, que deman<strong>da</strong> cultura de avaliação, com a<br />
participação <strong>da</strong>s escolas, professores e especialistas.<br />
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Esse processo tem a ver muito com o fortalecimento <strong>da</strong> pesquisa em<br />
educação no País, área que precisa ser fortaleci<strong>da</strong>.<br />
Não vamos desenvolver a educação no Brasil se não tivermos densi<strong>da</strong>de na<br />
competência em pesquisar e entender o que está acontecendo com os estu<strong>da</strong>ntes,<br />
enfim, fazer uma comparação do Brasil com outros países etc.<br />
Acho que essa preocupação faz parte de conjunto de medi<strong>da</strong>s a ser adotado.<br />
Não mencionei — e não ouvi alguém fazê-lo — a preocupação com a<br />
formação pré-escolar. Algo que não aparece na discussão sobre o modelo chileno é<br />
a educação pré-escolar. Hoje em dia, muitos <strong>dos</strong> déficits educacionais que as<br />
crianças trazem para a escola são forma<strong>dos</strong> nos 2 primeiros anos de vi<strong>da</strong>.<br />
Se o aluno que chega à escola aos 7 anos de i<strong>da</strong>de não recebeu uma aju<strong>da</strong><br />
na família e na pré-escola no sentido de preparação, de contato com uma linguagem<br />
mais rica, se não teve despertado o interesse por livros etc., pode já chegar com<br />
baixo handicap ou limitação que lhe imporá dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong>li para frente. Então, essa<br />
é uma outra discussão que está ganhando importância.<br />
Trata-se de tema difícil, porque a discussão deságua sempre na necessi<strong>da</strong>de<br />
de se destinar dinheiro às creches. In<strong>da</strong>ga-se: esse dinheiro será retirado <strong>da</strong><br />
educação básica!?... Isso não pode ocorrer. Então, de onde virão os recursos?...<br />
E também não adianta investir em qualquer tipo de pré-escola, deve-se ter a<br />
preocupação com quali<strong>da</strong>de, com conteúdo. Não se trata apenas de colocar o<br />
menino na creche e achar que tudo está resolvido.<br />
Essa é uma discussão que está começando no Brasil e em to<strong>da</strong> a América<br />
Latina, o que traz novo desafio para a educação.<br />
Certamente, o Brasil tem muitas experiências exitosas, e é muito importante<br />
estu<strong>da</strong>rmos essas experiências. Por isso existem as reuniões do CONSED, em que<br />
os Secretários de Educação se reúnem e trocam informações. É preciso fomentar<br />
essas redes de contato e troca de conhecimentos entre as diferentes áreas de<br />
educação.<br />
Nesse sentido, o Estado tem papel supletivo. Acho que o Governo tem de<br />
apoiar, incentivar, trabalhar no sentido de criar modelos, desenvolver sistemas de<br />
avaliação, criar uma série de mecanismos adicionais, mas, evidentemente, se os<br />
Esta<strong>dos</strong> e Municípios não assumirem o seu papel, a sua responsabili<strong>da</strong>de pela<br />
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educação, não vamos ter muito progresso. E, aí, vamos ter uma situação muito<br />
pareci<strong>da</strong> com a americana. Somos muito mais pareci<strong>dos</strong> com os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>,<br />
em termos de tamanho e complexi<strong>da</strong>de, do que com o Chile, a Irlan<strong>da</strong> ou a Coréia.<br />
O Brasil é um país muito diferenciado, muito desigual. E, possivelmente,<br />
vamos ter, com já temos hoje, sistemas educacionais bastante razoáveis e outros<br />
muito ruins. Mas essa situação de desigual<strong>da</strong>de vai persistir e, portanto, temos de<br />
trabalhar o tempo todo para reduzi-la. Não podemos esperar que essas ações criem<br />
situação igual para todo o País, porque as diferenças regionais são muito fortes.<br />
A gestão escolar, evidentemente, é <strong>da</strong> maior importância. Por isso a<br />
experiência do Chile é acompanha<strong>da</strong> com muito interesse, a experiência <strong>dos</strong><br />
vouchers. É uma maneira muito radical de se dizer que o Governo não vai<br />
administrar escolas. As pessoas vão se organizar e criar suas escolas e terão<br />
liber<strong>da</strong>de de escolha. O aluno vai para onde quiser.<br />
O que se constata, como mencionado, no caso <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e do<br />
Chile, é que as famílias pobres não escolhem, acabam man<strong>da</strong>ndo o menino para a<br />
escola que está mais perto. Eles não sabem escolher porque não têm informação<br />
adequa<strong>da</strong>. Por outro lado, as escolas subsidia<strong>da</strong>s selecionam os melhores alunos,<br />
mas não recebem os piores. Portanto, os pais não sabem buscar a boa escola, e o<br />
pior aluno também não consegue entrar nas boas escolas. Conclusão: o sistema<br />
também não resolve o problema <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de e mantém as escolas ruins.<br />
Igualmente, não adianta descentralizar no entendimento de que as escolas<br />
vão competir por quali<strong>da</strong>de. Elas podem não competir ou até competir por outras<br />
coisas, a exemplo <strong>da</strong>s que investem em melhores estádios, campos de futebol,<br />
enfim, qualquer outra coisa. O correto seria associar um sistema de<br />
descentralização com concessão de maior importância para o conteúdo educacional.<br />
É essencial que a ele se dê priori<strong>da</strong>de, que esse conteúdo seja mais visível e que<br />
tenha proeminência.<br />
E não necessariamente se obtém quali<strong>da</strong>de educacional privatizando o<br />
sistema. Na ver<strong>da</strong>de, o Brasil tem experiências de escolas autônomas e não<br />
priva<strong>da</strong>s, ou seja, comunitárias, que trabalham com a comuni<strong>da</strong>de e têm autonomia<br />
mercê de vários tipos de apoio. Mas o diretor é responsável e comprometido com a<br />
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educação, além de a escola ter flexibili<strong>da</strong>de no uso de seus recursos e na<br />
administração de seu pessoal.<br />
Enfrentar o desafio <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> autonomia <strong>da</strong> escola é fun<strong>da</strong>mental. Se<br />
não tivermos diretores de escola capazes de assumir responsabili<strong>da</strong>des pelo<br />
desempenho <strong>dos</strong> seus alunos, não iremos a lugar algum. Mas não necessariamente<br />
se faz isso privatizando o sistema.<br />
Pode-se também ter boas escolas priva<strong>da</strong>s com esse modelo — e temos<br />
bons exemplos no Brasil. Mas isso pode ser feito igualmente no setor público,<br />
apenas devemos pensar em outro desenho para a educação, que tem a ver com a<br />
maneira de se escolher o diretor, a responsabili<strong>da</strong>de e a autori<strong>da</strong>de que ele terá e o<br />
tipo de informação que a socie<strong>da</strong>de fornecerá a respeito <strong>da</strong> escola e do<br />
desempenho <strong>dos</strong> alunos em comparação com os demais.<br />
Esse é o caminho. Mas será um processo longo de desmontagem do sistema<br />
burocratizado que temos, que não funciona em razão <strong>da</strong> rigidez <strong>da</strong> burocracia e <strong>da</strong><br />
falta de compromisso e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> diretores de escola,<br />
fun<strong>da</strong>mentalmente com o seu desempenho.<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Obriga<strong>da</strong>, professores.<br />
Vamos passar às perguntas escritas.<br />
Pergunta <strong>da</strong> Sra. Ana Valesca Amaral, <strong>da</strong> <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, dirigi<strong>da</strong> à<br />
Profa. Ayne: “Qual o nível de disseminação do computador em sala de aula? Qual o<br />
impacto <strong>da</strong> tecnologia sobre a aprendizagem nas escolas irlandesas?”<br />
A segun<strong>da</strong> pergunta, também para a Profa. Ayne, é do Sr. Suélio <strong>da</strong> Silva<br />
Araújo, <strong>da</strong> Secretaria Estadual de Casas de Estu<strong>da</strong>ntes de Goiás: “Solicito que a<br />
Profa. Ayne discorra sobre se há uma política pública volta<strong>da</strong> para a assistência<br />
estu<strong>da</strong>ntil plena, seguri<strong>da</strong>de estu<strong>da</strong>ntil plena, ao estu<strong>da</strong>nte de baixa ren<strong>da</strong> oriundo<br />
de famílias pobres e de origem popular, que permita a igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>de<br />
quanto ao acesso e à permanência nos níveis educacionais primário, secundário e<br />
superior”.<br />
Pergunta <strong>da</strong> Sra. Ana Cláudia Santana, estu<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> UnB: “A senhora<br />
poderia explicar melhor como funciona o sistema de escolas primárias na Irlan<strong>da</strong>,<br />
que são priva<strong>da</strong>s mas têm financiamento público? Os alunos pagam mensali<strong>da</strong>de?<br />
São instituições sem fins lucrativos?”<br />
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Pergunta ao Prof. Simon a Sra. Maria Cristina Madeira <strong>da</strong> Silva, do CEFET de<br />
João Pessoa, Paraíba: “Prof. Simon, penso que um <strong>dos</strong> grandes problemas <strong>da</strong><br />
educação no Brasil é a falta de continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s políticas educacionais por parte<br />
<strong>dos</strong> Governos, em to<strong>da</strong>s as esferas. A federalização <strong>da</strong> educação seria uma opção<br />
para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação no Brasil?”<br />
Pergunta <strong>dos</strong> Srs. Getúlio e Luiz Oliveira, alunos de Geografia e Pe<strong>da</strong>gogia,<br />
respectivamente do Projeção e <strong>da</strong> UNIBRASÍLIA, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Sebastião,<br />
Distrito Federal: “O que fazer para amenizar os índices de evasão escolar que<br />
sabemos muito grandes no Brasil?”<br />
Também para o Prof. Simon, de Jerry Pereira Sá, servidor <strong>da</strong> <strong>Câmara</strong><br />
Municipal de Valparaízo de Goiás: “To<strong>dos</strong> os palestrantes, entre outras questões,<br />
enfocaram a avaliação <strong>da</strong>s instituições como forma de detectar a situação em que<br />
se encontram os respectivos sistemas de ensino no Brasil. O MEC realiza<br />
avaliações periódicas através de diversos méto<strong>dos</strong>, tais como o ENAD, submetendo<br />
sempre os alunos a provas padrões, sem levar em conta as diferenças sociais e<br />
regionais, perscrutando, repito, sempre os estu<strong>da</strong>ntes, ao invés <strong>da</strong>s próprias<br />
instituições. Pergunto: não seria o caso de se aplicar tais provas às respectivas<br />
escolas e facul<strong>da</strong>des, avaliando também seus professores?”<br />
Agora uma pergunta dirigi<strong>da</strong> aos 2 palestrantes, <strong>da</strong> Sra. Rose Pacheco,<br />
estu<strong>da</strong>nte de Brasília. “Qual é a participação <strong>dos</strong> alunos na definição <strong>da</strong>s propostas<br />
curriculares?”<br />
Outra pergunta: “Quem — Estado, comuni<strong>da</strong>de escolar ou socie<strong>da</strong>de —<br />
propõe as mu<strong>da</strong>nças nos currículos?”<br />
obriga<strong>da</strong>.<br />
São as perguntas que recebemos até o momento.<br />
Vou passar a palavra, primeiramente, à Profa. Ayne.<br />
A SRA. AYNE HYLAND (Exposição em inglês. Tradução simultânea.) - Muito<br />
Vou responder às perguntas na ordem em que me foram dirigi<strong>da</strong>s.<br />
A primeira pergunta é sobre o impacto <strong>da</strong>s tecnologias em nossas escolas.<br />
Como já disse, nas comparações <strong>da</strong> OCDE, a Irlan<strong>da</strong> não se sai particularmente<br />
bem em relação ao uso de computadores nas salas de aula. Temos alguns<br />
computadores, é claro, mas não existe uma correspondência de 1 computador para<br />
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1 aluno, em nenhum nível do sistema. Provavelmente, esse número está mais<br />
próximo de 1 para 6 ou 1 para 8, que é bem baixo, de acordo como os padrões <strong>da</strong><br />
OCDE.<br />
Existe um certo uso de tecnologia em sala de aula, mas não é tão avançado<br />
quanto poderia ser. Concordo com o Prof. Steve Heyneman, que mencionou hoje<br />
pela manhã a rapidez <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça em relação à tecnologia na sala de aula.<br />
Presenciei essa mu<strong>da</strong>nça nos últimos 15 ou 20 anos. Inicialmente, falávamos em<br />
ensinar as crianças a programar computadores; agora, falamos em usar<br />
computadores de maneira bastante prática. Atualmente, vemos os computadores<br />
simplesmente como uma ferramenta de aprendizagem, especialmente para<br />
obtenção de informações.<br />
De certa forma, um país como a Irlan<strong>da</strong>, que atualmente está atrás de outros<br />
países, pode conseguir alcançá-los rapi<strong>da</strong>mente, porque não investimos muito em<br />
computadores e não temos muito a perder. Se fizermos um grande investimento em<br />
tecnologia atualiza<strong>da</strong>, haverá uma grande diferença. Mas também mencionei que<br />
temos questões de ban<strong>da</strong> larga em algumas <strong>da</strong>s nossas áreas rurais que precisam<br />
ser resolvi<strong>da</strong>s.<br />
A segun<strong>da</strong> pergunta refere-se a políticas públicas de apoio aos alunos de<br />
ren<strong>da</strong> mais baixa. “Como o governo apóia a igual<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des<br />
educacionais?” É uma questão muito importante para nós na Irlan<strong>da</strong>, que constou do<br />
nosso programa durante 15 anos. E algumas estatísticas em relação ao<br />
desempenho de alunos, <strong>da</strong>s escolas e professores mostraram que, em áreas mais<br />
pobres — e refiro-me ao desempenho de to<strong>dos</strong>, instituições, alunos e professores;<br />
portanto, às oportuni<strong>da</strong>des <strong>dos</strong> alunos —, não eram tão bons quanto aquele<br />
verificado em áreas com condições socioeconômicas melhores.<br />
Então, o governo tomou a decisão de monitorar continuamente e revisar as<br />
previsões de recursos adicionais para crianças em áreas com essas desvantagem,<br />
especialmente as de níveis mais baixos.<br />
Essas políticas se basearam em descobertas de pesquisas internacionais. As<br />
mu<strong>da</strong>nças começam muito cedo. Também ouvimos isso na palestra anterior.<br />
Portanto, a educação na pré-escola está disponível mais facilmente para<br />
crianças em áreas mais pobres. O Estado subsidia e oferece educação infantil, o<br />
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que não necessariamente ocorre em áreas mais ricas. Há instituições que permitem<br />
aos pais comprarem esse tipo de facili<strong>da</strong>de educacional para suas crianças de 2, 3<br />
ou 4 anos, mas em áreas mais pobres existem pré-escolas subsidia<strong>da</strong>s pelo<br />
governo. Então, para crianças de 4 a 8 anos, o tamanho <strong>da</strong> sala de aula é menor em<br />
áreas mais pobres para tentar minimizar os históricos, talvez, de desvantagem<br />
desses alunos em relação à situação que têm em casa.<br />
Temos também projetos que encorajam o envolvimento <strong>dos</strong> pais. Isso<br />
possibilita esquemas de ligação muito forte com as escolas, especialmente nessas<br />
áreas mais carentes, entre os alunos, os trabalhadores e os assistentes sociais.<br />
Igualmente, há muitos investimentos para a permanência <strong>dos</strong> alunos na<br />
escola, porque são áreas onde temos a taxa de desistência mais alta.<br />
Há, portanto, to<strong>da</strong> uma gama de questões. É uma área em que estive muito<br />
envolvi<strong>da</strong> profissionalmente, por meio <strong>da</strong> minha universi<strong>da</strong>de. Trabalhamos com<br />
esses projetos na ci<strong>da</strong>de onde moro e trabalho.<br />
Consigo ver certa variação em relação ao sucesso dessas ações. Alguns<br />
fracassam até certo ponto, mas são projetos de alto risco, porque estamos tentando<br />
abor<strong>da</strong>gens diferentes. Algumas funcionam; outras não. Temos que ser honestos<br />
com o que não funciona e retirar recursos desses projetos. Não é uma tarefa fácil,<br />
porque ninguém gosta de perder recursos, mesmo que não consiga mostrar<br />
resulta<strong>dos</strong>.<br />
Então, existem investimentos consideráveis também em universi<strong>da</strong>des.<br />
Houve uma melhoria muito grande. Ain<strong>da</strong> existem desigual<strong>da</strong>des nas taxas de<br />
participação de crianças de famílias mais pobres, mas essas desigual<strong>da</strong>des são<br />
muito menores do que eram há 20 anos, 10 anos, até mesmo 5 anos.<br />
Então, existe suporte financeiro em to<strong>dos</strong> os níveis, especialmente no âmbito<br />
<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. Ninguém paga universi<strong>da</strong>des na Irlan<strong>da</strong>, nem matrícula ou<br />
mensali<strong>da</strong>de. Além de não pagarem mensali<strong>da</strong>des, os estu<strong>da</strong>ntes de famílias mais<br />
pobres recebem apoio e empréstimos e há permissão para utilização desses<br />
recursos para que também ajudem suas famílias, tal como se estivessem<br />
trabalhando.<br />
Portanto, muito dinheiro está sendo investido com algum sucesso e há melhorias<br />
visíveis a ca<strong>da</strong> ano. Mas, como eu já disse, é um processo lento, leva algum tempo.<br />
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É claro que novos desafios continuam a surgir. Por exemplo: crianças imigrantes<br />
que não têm o inglês como primeira língua, cujos pais têm pouca educação. É uma<br />
desafio permanente para nós.<br />
A terceira questão, em relação à estrutura de gestão de nossas escolas. Eu<br />
entendo a dificul<strong>da</strong>de de se compreender isso, porque é um sistema bastante<br />
diferente. Embora as escolas sejam particulares, eu uso essa frase porque a<br />
maioria, 98% delas, são <strong>da</strong>s igrejas, mesmo assim são as únicas escolas no<br />
sistema, basicamente. Então, elas têm fun<strong>dos</strong> públicos, mas elas têm donos<br />
particulares, elas não podem cobrar mensali<strong>da</strong>des.<br />
Dessa forma, não temos um sistema de educação primária que pague<br />
mensali<strong>da</strong>des. A parte boa é que não temos um sistema de dois níveis, assim como<br />
outros países. Mas é claro que temos um sistema de segregação geográfica. Se<br />
uma área tem guetos, habitação pública, teremos famílias mais pobres naquela<br />
escola. Mas eu consigo entender que os alunos não pagam, os pais não pagam.<br />
Penso que o motivo <strong>da</strong> tradição <strong>da</strong> igreja é uma tradição de voluntariado e de<br />
arreca<strong>da</strong>ção de fun<strong>dos</strong> voluntária. Então, o Estado não paga tanto per capita quanto<br />
vocês fariam em outros países, simplesmente porque nós, como pais, sempre<br />
estivemos acostuma<strong>dos</strong> a arreca<strong>da</strong>ção de fun<strong>dos</strong>. Usamos a arreca<strong>da</strong>ção de fun<strong>dos</strong><br />
para nossas igrejas tradicionalmente. Essa é uma questão crescente, porque nem<br />
to<strong>da</strong>s as escolas são <strong>da</strong>s igrejas e há poucas pessoas envolvi<strong>da</strong>s na religião e ca<strong>da</strong><br />
vez mais as escolas são dirigi<strong>da</strong>s e geri<strong>da</strong>s pelos pais. E ain<strong>da</strong> precisam levantar<br />
partes <strong>dos</strong> fun<strong>dos</strong>.<br />
Então, não são tão entusiasma<strong>da</strong>s ao fazer isso. Se tivessem num sistema<br />
municipal pagariam algo. Não temos um sistema municipal, por isso não pagamos<br />
taxas como outros sistemas, mas acima de tudo nenhum aluno ou pai precisa pagar<br />
mensali<strong>da</strong>des nem nas escolas priva<strong>da</strong>s, nem nas escolas públicas, nem na<br />
universi<strong>da</strong>de. Não existe um sistema de pagamento de mensali<strong>da</strong>des. Então, o<br />
dinheiro não é um divisor em nosso sistema educacional.<br />
A questão <strong>da</strong> <strong>reforma</strong> curricular e a participação <strong>dos</strong> alunos. Eu penso que é<br />
uma excelente pergunta. Ca<strong>da</strong> vez mais o Ministério envolve diretamente os alunos,<br />
mesmo alunos <strong>da</strong> escola primária. As suas opiniões estão sendo ouvi<strong>da</strong>s. Nos<br />
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últimos 5 anos existe uma carta <strong>da</strong>s crianças. Os direitos <strong>da</strong>s crianças estão sendo<br />
descritos e identifica<strong>dos</strong>.<br />
Por exemplo, nas últimas 4 semanas, o Ministério <strong>da</strong> Educação, do Governo,<br />
realizou um fórum de alunos que tinham acabado de fazer o exame público <strong>dos</strong> 18<br />
anos, perguntando a sua opinião, não sobre o conteúdo do sistema, mas<br />
perguntando se foi difícil. Como o exame foi feito? Foi pressão demais? Então, por<br />
exemplo, é um sistema cheio de muitas pressões. E procuraram-se os pontos de<br />
vistas <strong>dos</strong> alunos. E <strong>da</strong> mesma forma os pontos de vista <strong>dos</strong> alunos são procura<strong>dos</strong><br />
na área de mu<strong>da</strong>nças curriculares, no nível secundário. E as opiniões <strong>dos</strong> alunos<br />
são escuta<strong>da</strong>s na área de <strong>reforma</strong> universitária. Os alunos universitários participam<br />
<strong>da</strong>s reuniões de alocação de recursos. Então, ca<strong>da</strong> vez mais a voz <strong>dos</strong> alunos está<br />
ficando importante.<br />
A última pergunta sobre a avaliação <strong>dos</strong> alunos. Eu concordo. Os professores<br />
e as instituições têm de ser avalia<strong>dos</strong> também, juntamente com os alunos. Eu penso<br />
como se usa a palavra avaliação, varia entre a Europa e os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, por<br />
exemplo. Nós tentamos usar a palavra “avaliação” em relação aos alunos. Como<br />
assessment e evaluation, avaliação também em português, com relação a<br />
professores e instituições. Então, são duas palavras que em português se traduzem<br />
<strong>da</strong> mesma forma e que são usa<strong>da</strong>s para professores, instituições ou para alunos. Há<br />
uma diferença entre os dois la<strong>dos</strong> do Atlântico e o Pacífico.<br />
Obriga<strong>da</strong>. (Palmas.)<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Com a palavra o Prof.<br />
Simon Schwartzman.<br />
O SR. SIMON SCHWARTZMAN - A primeira pergunta é relativa à<br />
continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s políticas educacionais e se não seria preferível um sistema<br />
federativo. Quero lembrar que estamos num sistema federativo.<br />
Disse alguém hoje que o Governo Federal é o principal responsável pelo<br />
financiamento <strong>da</strong> educação, mas isso não é ver<strong>da</strong>de. A principal fonte de recursos<br />
para a educação fun<strong>da</strong>mental e média no Brasil é proveniente <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> e <strong>dos</strong><br />
municípios. O Governo Federal tem papel suplementar do ponto de vista financeiro,<br />
e ele resolve o que pode fazer. O Governo Federal não tem escolas, tem<br />
universi<strong>da</strong>des. No caso do Chile, o problema é que houve essa transferência <strong>da</strong>s<br />
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escolas do Governo nacional para os municípios. Lá há uma discussão que<br />
considero relevante para nós. Os municípios no Chile têm uma lógica política local,<br />
enquanto o Governo tenta fazer uma política nacional para a educação. Como se dá<br />
essa relação entre as duas? Como o Governo pode criar mecanismos de incentivo e<br />
de estímulo para, de alguma maneira, fazer com que os municípios reajam bem?<br />
Uma proposta seria a de centralizar tudo.<br />
Já houve no Brasil quem estivesse propenso a isso, nacionalizar to<strong>da</strong>s as<br />
escolas. Acho que isso seria um pesadelo. Se pensarmos que o Governo Federal<br />
mal consegue administrar suas universi<strong>da</strong>des, imaginem mais de 200 mil escolas!<br />
Um sistema federal e um sistema municipal é a tendência em todo o mundo,<br />
no Chile e, certamente, em to<strong>da</strong> a América Latina. Ele está aí para ficar. A questão é<br />
como se desenvolver políticas em que o Governo nacional possa ter influência no<br />
sentido de estimular, desenvolver, criar modelos de financiamento adicional. No<br />
caso <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, como já vimos, o Governo cria o incentivo e determina<br />
algumas condições. Então, existe um papel suplementar importante a ser exercido<br />
pelo Governo nacional na área de parâmetros, mas ele não vai substituir a<br />
socie<strong>da</strong>de.<br />
Na ver<strong>da</strong>de, o nosso problema não é nacionalizar, é fazer com que a<br />
socie<strong>da</strong>de assuma mais responsabili<strong>da</strong>de pela educação. Isso coloca também a<br />
questão do currículo. Como se constrói um currículo? Quem constrói o currículo?<br />
A construção do currículo tem de ser basicamente um trabalho conjunto de<br />
educadores e especialistas em educação, com a participação ca<strong>da</strong> vez maior de<br />
outros setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Tem de ser construído por consenso. E esse consenso<br />
vai ser diferente num país grande feito o Brasil. Na medi<strong>da</strong> em que houver uma<br />
socie<strong>da</strong>de grande e descentraliza<strong>da</strong>, vai haver ênfases diferentes, aspectos<br />
diferentes. O equilíbrio é saber como se preservar algumas coisas essenciais. É<br />
importante que ca<strong>da</strong> Estado, ca<strong>da</strong> município possa fazer o que quiser, desde que as<br />
crianças apren<strong>da</strong>m a ler, escrever e usar números. Isso elas têm de saber. Além<br />
disso, elas podem aprender uma série de coisas que serão defini<strong>da</strong>s localmente.<br />
Insere-se aí a muito importante questão <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de. No caso de um país<br />
complexo, quanta diversi<strong>da</strong>de, quanta unificação de conteú<strong>dos</strong> tem de haver! É<br />
preciso fazer um balanço. Mas eu diria que o fun<strong>da</strong>mental — o caso do Chile é um<br />
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exemplo muito interessante — é construir uma comuni<strong>da</strong>de de especialistas em<br />
educação. Eles vão trabalhar, vão desenvolver um consenso sobre o que é e o que<br />
não possível fazer, em razão do conhecimento que se tem no país, <strong>da</strong> experiência<br />
de outros, experiências fracassa<strong>da</strong>s ou bem-sucedi<strong>da</strong>s. E tudo isso deve ser<br />
comunicado à socie<strong>da</strong>de, quer seja pela imprensa, quer seja por intermédio do<br />
congresso, mas que seja discutido com a socie<strong>da</strong>de, que to<strong>dos</strong> compartilhem desse<br />
consenso, que deve ser <strong>reforma</strong>do permanentemente. Esse é o processo que nós<br />
queremos.<br />
No regime democrático, os Governos são troca<strong>dos</strong> a ca<strong>da</strong> 4 ou 5 anos — e é<br />
bom que não sejam sempre os mesmos, até porque eles se desgastam. Então, se<br />
esse processo não for totalmente implantado no novo Governo, que essa não seja<br />
uma política de terra arrasa<strong>da</strong>. Muitas vezes, tudo o que foi feito é jogado fora e<br />
começa-se novamente o trabalho quando há troca de Governo. Como se pode fazer<br />
para evitar essa prática ruim? Com um grupo de pessoas, no caso, educadores e<br />
especialistas que estão nos Ministérios, nas Secretarias e nos Centros de Pesquisa,<br />
que desenvolvem certo consenso sobre o que fazer, quais as boas práticas, as boas<br />
maneiras para se trabalhar e como tudo tem de se desenvolver. A constituição<br />
dessa comuni<strong>da</strong>de de competência na área de educação é o fun<strong>da</strong>mental eixo a<br />
partir do qual as coisas podem ser feitas.<br />
Hoje, pela manhã, vimos como age a Coréia. Lá, segundo ouvimos, resolveu-<br />
se fazer e foi feito. Aqui no Brasil também resolvemos fazer, mas, na maioria <strong>da</strong>s<br />
vezes, não é feito. Por trás disso, há a necessi<strong>da</strong>de de formação de pessoal, de<br />
criação de institutos e do desenvolvimento de área de pesquisa e de competência<br />
para tanto.<br />
Perguntaram ain<strong>da</strong> se são avalia<strong>dos</strong> apenas os resulta<strong>dos</strong>, se não se deveria<br />
avaliar também as condições de trabalho, pensando mais no ensino superior,<br />
assunto que não estamos discutindo hoje. São coisas completamente diferentes.<br />
Quero saber se o aluno sabe a língua que ele precisa saber. O mundo<br />
moderno exige que a criança saiba não apenas soletrar e ler, mas entender o que<br />
leu; não apenas fazer uma conta, mas saber como utilizar a Matemática. E claro que<br />
interessa saber porque o aluno sabe ou mais ou sabe menos. É bom saber que tal<br />
escola recebe alunos tão bons que, qualquer coisa que faça, os alunos se dão bem;<br />
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outra, não, enfrenta dificul<strong>da</strong>des, tem grande número de alunos malforma<strong>dos</strong> e, por<br />
isso, precisa de maior investimento.<br />
Enfim, as condições são muito importantes para se entender os resulta<strong>dos</strong>.<br />
Não se pode, porém, misturar causa com conseqüência, porque, <strong>da</strong>í não se<br />
entenderá na<strong>da</strong>. Há escola que pega o aluno lá embaixo e o traz até certo ponto.<br />
Essa escola tem grande resultado, mas é ain<strong>da</strong> muito pobre, se comparado com a<br />
outra, que talvez acrescente pouco, mas já está lá em cima, porque seus alunos já<br />
são muito bons. Muito bem: têm-se de saber que aquela escola está indo bem, mas<br />
é preciso reforçá-la para que chegue lá em cima. É preciso haver um padrão. E o<br />
padrão não pode ser relativo. Não se pode simplesmente, como se faz muitas vezes<br />
no Brasil — e o Chile está evoluindo nesse sentido — comparar os padrões, saber<br />
quais são as melhores e as piores. Tem de haver uma referência, querer chegar em<br />
certo nível. Não se pode dizer que uma escola de Medicina é melhor que a outra,<br />
têm-se de saber se o médico vai ou não matar o paciente. Tem de haver padrão de<br />
quali<strong>da</strong>de.<br />
E a definição do padrão de quali<strong>da</strong>de é o que tem sido apresentado como<br />
questão fun<strong>da</strong>mental.<br />
O último ponto mencionado foi a avaliação <strong>dos</strong> professores.<br />
Os professores resistem muito a esse tipo de coisa. E, freqüentemente, com<br />
alguma razão, diziam que não podiam ser puni<strong>dos</strong> por não terem tido boa formação,<br />
não terem tido melhores condições de trabalho e por seus alunos, na maioria vin<strong>dos</strong><br />
de situação muito ruim, não aprenderem. Então, não seria justo que fossem<br />
avalia<strong>dos</strong> e castiga<strong>dos</strong> por não terem tido bom desempenho. Essa preocupação é<br />
legítima e tem a ver com o mau uso <strong>da</strong> avaliação, porque a avaliação pode ser mal<br />
utiliza<strong>da</strong>.<br />
Por outro lado, pode haver um sistema em que se verifique que o professor<br />
conhece efetivamente as técnicas pe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s e domina o conteúdo<br />
que deveria ensinar aos alunos.<br />
Quanto ao que fazer, se ele não dominar essas técnicas e os recursos, para<br />
melhorar, trata-se de processo político complicado — e o tema mencionado aqui<br />
várias vezes pelo Sindicato é <strong>da</strong> maior importância.<br />
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No caso <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, o sindicato é, ao mesmo tempo, também uma corporação<br />
profissional, e não simplesmente uma organização para defesa <strong>dos</strong> direitos<br />
econômicos <strong>dos</strong> professores. Ele cui<strong>da</strong> <strong>da</strong> competência profissional.<br />
Não haverá educação de quali<strong>da</strong>de, se o corpo docente não for qualificado,<br />
competente e respeitado pela socie<strong>da</strong>de. Claro que esses profissionais vão se<br />
organizar e apresentar suas deman<strong>da</strong>s e pontos de vista. E eles têm de ser ouvi<strong>dos</strong>.<br />
Agora, se o sindicato defende simplesmente direitos econômicos, o resultado será<br />
desastroso. Será simplesmente um bloqueio a mu<strong>da</strong>nças, um elemento de<br />
conservação.<br />
Agora, se consegue juntar as 2 coisas — e creio que dispomos de<br />
experiências na América Latina, inclusive no Brasil, onde se consegue isso, onde os<br />
sindicatos são associações profissionais preocupa<strong>da</strong>s com a questão salarial, com<br />
as condições de trabalho e com a quali<strong>da</strong>de e formação <strong>dos</strong> professores —, esse é<br />
o mundo que queremos. É para isso que temos de trabalhar. (Palmas.)<br />
A SRA. COORDENADORA (Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz) - Agradeço aos<br />
palestrantes e a to<strong>dos</strong> que participaram deste Seminário.<br />
Nilmar Ruiz.<br />
Passo a palavra ao Sr. Presidente, Deputado Gastão Vieira.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Gastão Vieira) - Obrigado, nobre Deputa<strong>da</strong><br />
Como havíamos planejado, convido o Sr. João Batista de Oliveira Silva para<br />
fazer uma síntese do que os palestrantes nos apresentaram.<br />
O SR. JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA SILVA - Serei breve e tentarei<br />
organizar meu pensamento sobre a conversa que mantenho há algum tempo com os<br />
palestrantes — com alguns há 20 anos, com outros há 3, 4 meses.<br />
Ontem, fizemos algumas revisões de pontos de vista comuns, de acertos. E<br />
quero beneficiá-los com a visão comparativa <strong>dos</strong> experimentos de vários países,<br />
mantendo firme o compromisso deste seminário, que não é falar do Brasil e, sim, de<br />
outros países, para que ca<strong>da</strong> faça sua reflexão.<br />
Uma sobrinha minha fez mestrado em Zoologia, na Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />
Minas Gerais. Contou-me ela uma experiência muito interessante. Um professor de<br />
Clínica to<strong>dos</strong> os dias man<strong>da</strong>va que a turma examinasse um cavalo. E to<strong>dos</strong> os dias<br />
os alunos voltavam e diziam que o cavalo estava bem. Depois de 20, 30 dias,<br />
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perguntaram ao professor porque ele só man<strong>da</strong>va examinar bons cavalos. Ele disse<br />
que fazia isso porque, no dia em que eles vissem um animal doente saberiam que<br />
ele estava mesmo doente. Para saber se um cavalo está doente, é preciso conhecer<br />
um cavalo são.<br />
Essa é a idéia quando apresentamos aqui modelos de países em que a<br />
educação dá certo. E dizer que dá certo não significa afirmar que tudo é excelente,<br />
mas que há progressos, avanços, resulta<strong>dos</strong> consistentes.<br />
O meu objetivo é sintetizar e concentrar naquilo que é comum a experiência<br />
desses países bem-sucedi<strong>dos</strong>.<br />
Tomei a liber<strong>da</strong>de de acrescentar a Finlândia. E, <strong>da</strong>qui a um mês, no próximo<br />
seminário, vamos ouvir falar muito desse país.<br />
O que parece haver de comum em termos de evidência?<br />
Primeiro, os números. Falamos aqui <strong>da</strong> Coréia, Irlan<strong>da</strong> e Finlândia, que estão<br />
acima <strong>da</strong> média, que é de 500 pontos no PISA. No caso, analisamos Matemática, no<br />
ano de 2003. Não temos aqui a média do Chile, mas deve estar em torno de 400.<br />
Temos a variação entre escolas, o que tem a ver com eqüi<strong>da</strong>de. E vemos que a<br />
Finlândia tem um nível muito baixo de variação entre as escolas, ou seja, alto nível<br />
de eqüi<strong>da</strong>de. A Irlan<strong>da</strong> um pouco mais, a Coréia um pouco menos. E o nível <strong>dos</strong><br />
alunos piores mais embaixo. Novamente, a Finlândia tem menos alunos no nível<br />
mais baixo, a Coréia, 9% e a Irlan<strong>da</strong> um pouco mais. No Brasil são 54% e no Chile<br />
38%.<br />
E to<strong>dos</strong> têm uma característica. Uma coisa é a educação para todo mundo,<br />
educação compulsória, básica. Depois, chega-se a um ponto em que tem de haver<br />
diversificação, porque nem todo mundo consegue fazer tudo igual.<br />
E os números estão aí: 31%, 28%, 59%, 40% de pessoas que têm acesso a<br />
diferentes opções de ensino secundário, vocacional ou técnico que seja, tendência<br />
em expansão. No próximo mês, aprofun<strong>da</strong>remos esse aspecto.<br />
Temos de refletir sobre essas evidências.<br />
O que existe de comum nessa <strong>reforma</strong>? Aqui entra a água destila<strong>da</strong>, a<br />
destilação do que ouvimos. Precisaremos de muitos meses para refletir sobre o que<br />
ouvimos hoje aqui.<br />
Vou citar alguns pontos demonstra<strong>dos</strong> no quadro e outros.<br />
51
dá certo:<br />
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Então, em primeiro lugar, ocorrem 4 coisas em todo lugar onde a educação<br />
1 - A formação inicial <strong>dos</strong> professores é muito boa. Essa é uma constante em<br />
qualquer país em que a educação é boa. Na maioria <strong>dos</strong> casos de <strong>reforma</strong><br />
educacional, essa foi uma <strong>da</strong>s primeiras coisas a serem feitas. Em outros, demorou<br />
mais.<br />
2 - O status social do professor no país é elevado. É uma constante.<br />
3 - Os programas de ensino são claros, detalha<strong>dos</strong>. Há clareza para as<br />
escolas, para os professores, para a comuni<strong>da</strong>de sobre o que deve ser ensinado em<br />
ca<strong>da</strong> nível, em ca<strong>da</strong> série.<br />
4 - A escola tem autonomia. Ela tem condições de exercitar a sua autonomia.<br />
Isso é constante. Quase todo o resto que discutimos varia muito: se é grande<br />
o número de salas e o número de alunos; se há computador ou não; se há<br />
ar-condicionado ou não; se se fez isso ou se se fez aquilo; se há caratê; se há<br />
capoeira.<br />
Agora, parece que esses 4 pontos aponta<strong>da</strong>s são constantes não só nos<br />
países que fizeram <strong>reforma</strong>s em algumas déca<strong>da</strong>s, mas também naqueles que têm<br />
boa educação. Isso dá o que pensar.<br />
O quinto aspecto diz respeito à avaliação. Além de haver avaliação, ela tem<br />
conseqüência. A forma dessa avaliação pode ser diferente nos países. Mas em<br />
to<strong>dos</strong> eles há avaliação na escola. E alguma coisa acontece — não é simplesmente<br />
punir o aluno pela repetência.<br />
Esse conjunto de variáveis está dentro do sistema. E do lado de fora, o que<br />
existe? Primeiro, pressão popular, legitimi<strong>da</strong>de, pressão <strong>dos</strong> pais, interesse pela<br />
educação. É a questão cultural, menciona<strong>da</strong> nesta manhã pelo Ministro e reforça<strong>da</strong><br />
por vários participantes. Tem de haver cultura, cobrança <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. O Governo<br />
sozinho, a escola sozinha, o Secretário sozinho não podem promover a educação.<br />
Em segundo lugar — parece que é uma constante externa —, a <strong>reforma</strong><br />
<strong>educativa</strong>, em muitos casos, quase sempre está associa<strong>da</strong> a uma <strong>reforma</strong> social<br />
maior. Seja uma <strong>reforma</strong> econômica, como no caso <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, <strong>da</strong> Coréia, <strong>da</strong><br />
Finlândia, sem dúvi<strong>da</strong>, seja uma <strong>reforma</strong> normal de modernização do setor público,<br />
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como no caso <strong>da</strong> Nova Zelândia, conforme foi mencionado pela manhã pelo Prof.<br />
Steve Heyneman.<br />
E, finalmente, há uma característica comum a to<strong>dos</strong> os países que fizeram<br />
<strong>reforma</strong> constante, conforme disseram hoje: to<strong>dos</strong> eles olharam para fora. Mas não<br />
olharam para os países que não dão certo. Eles olharam para os países que dão<br />
certo.<br />
O foro <strong>da</strong> OCDE, em particular, no caso <strong>dos</strong> países europeus, permite a eles<br />
se olharem no espelho, examinando experiências que deram certo em outros<br />
países. Não é para copiar, mas para destilar a experiência e a<strong>da</strong>ptar à sua condição<br />
de sucesso. Todo o resto, parece-me, pelo que ouvimos hoje, são especifici<strong>da</strong>des,<br />
coisas do local. Dizem que o PIB tem de ser tanto. Não tem na<strong>da</strong> disso. Um é de<br />
4,5%, o outro é de cerca de 7%, e to<strong>dos</strong> estão muito bem. Um está até melhor do<br />
que o outro. Não é questão de ter mais recursos. O que ocorre é que to<strong>dos</strong> usam<br />
bem os recursos.<br />
Nível do salário <strong>dos</strong> professores. O Prof. Lee nos mostrou que, depois <strong>da</strong><br />
Coréia, o Brasil tem o segundo maior salário per capita, em termos de poder<br />
aquisitivo.<br />
Uso de incentivo. Uns têm, outros não têm; uns funcionam, outros não. São<br />
idéias interessantes, mas não é isso que mu<strong>da</strong> a educação.<br />
Centralização. Há os centraliza<strong>dos</strong>, os mais centraliza<strong>dos</strong>, os menos<br />
centraliza<strong>dos</strong>. Depende, varia. Ca<strong>da</strong> um tem a sua cultura. Não é isso que vai<br />
determinar se as outras coisas não estão bem.<br />
Agora, de novo, por que o Chile? O Chile tem muito a ver conosco. E ele tem<br />
muita coisa a ver com o objetivo deste seminário. Olhar experiências e fazer coisas<br />
nem sempre é o suficiente para ter resulta<strong>dos</strong>. Para conseguir bom resultado, é<br />
preciso olhar as experiências, fazer as coisas certas, no momento certo, na <strong>dos</strong>e<br />
certa.<br />
A experiência do Chile mostra o que nós temos pensar para o Brasil. Não<br />
adianta só fazer, é preciso fazer a coisa certa. Começou pela avaliação. Muito bem.<br />
Mas, e as outras coisas? Desmoralizou a profissão do docente. Bom, mas o docente<br />
é o mais importante. Se tivessem começado pelo docente e depois ido para a<br />
avaliação, talvez tivessem tido melhor resultado. É preciso olhar a experiência, ver o<br />
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global, entender as coisas que funcionam bem e conseguir a legitimi<strong>da</strong>de. E aí é que<br />
entra o estadista, o <strong>reforma</strong>dor, para fazer essas <strong>reforma</strong>s passarem. O Chile, muito<br />
claramente, seguiu à risca muito do doutrinário, chamado neoliberal, do mercado,<br />
mas se esqueceu de fazer algumas políticas básicas que só o Governo pode fazer.<br />
Então, tem de haver uma coisa assim, mas eventualmente tem de haver a outra<br />
também.<br />
Concluindo, estamos tendo a oportuni<strong>da</strong>de, que nos foi <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Deputado<br />
Gastão Vieira, de discutir na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> uma forma diferente de pensar<br />
a educação: a educação basea<strong>da</strong> em evidências, nas reali<strong>da</strong>des, nos resulta<strong>dos</strong>, no<br />
que está aí.<br />
Não viemos aqui para ouvir regras, mas para ouvir reflexões. E saímos <strong>da</strong>qui,<br />
creio eu, com muitas lições para a solução do problema.<br />
O Prof. Steve Heyneman, em sua palestra, falou muito sobre consenso.<br />
Reforma sem consenso começa, mas não vai longe. Então, tem de haver consenso.<br />
E o primeiro consenso que começa a emergir no Brasil é o de que temos um<br />
problema. Maravilha! O Ministro está dizendo isso, e está todo mundo de acordo.<br />
Quem sabe, a partir desse primeiro passo, possamos caminhar?<br />
Segundo ponto: tem de haver foco. Temos de tirar os detalhes: o computador,<br />
o giz colorido, o audiovisual. Vamos nos concentrar no que é fun<strong>da</strong>mental, no que<br />
precisamos fazer, e ter paciência. Os melhores casos aqui apresenta<strong>dos</strong> levaram<br />
algumas déca<strong>da</strong>s para chegar onde chegaram. E começaram pelo primário, depois<br />
pelo médio, pelo secundário, pelo superior etc. Não adianta querer fazer tudo ao<br />
mesmo tempo. Ninguém conseguiu isso até hoje, e dificilmente nós conseguiremos.<br />
Espero que dentro de 1 mês to<strong>dos</strong> os senhores tenham a publicação deste<br />
seminário. Vamos ter os 4 artigos publica<strong>dos</strong>, com introdução e conclusão.<br />
Esperamos que os senhores levem isso para seus foros de debate.<br />
Este ciclo de seminários tem 3 apresentações. No próximo mês haverá<br />
debate sobre a diversificação do ensino médio, as tendências mundiais na<br />
diversificação. Não vamos falar de Brasil. Vamos ver a experiência de outros países.<br />
E em outubro trataremos <strong>da</strong> questão de zero a 3 anos de i<strong>da</strong>de, que também foi<br />
muito menciona<strong>da</strong> aqui, ou seja, <strong>da</strong> educação infantil, <strong>da</strong> base <strong>da</strong> educação infantil,<br />
nos anos iniciais.<br />
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Termino agradecendo, mais uma vez, ao Deputado Gastão Vieira a<br />
oportuni<strong>da</strong>de dessa parceria e à Confederação Nacional do Comércio, que vai estar<br />
sempre apoiando os nossos seminários.<br />
Muito obrigado a to<strong>dos</strong>. (Palmas.)<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Gastão Vieira) - Agradeço ao Prof. João<br />
Batista. Agradeço de forma especial a to<strong>dos</strong> aqueles que compareceram ao nosso<br />
seminário. Agradeço ao Deputado Alex Canziani e à Deputa<strong>da</strong> Nilmar Ruiz, que<br />
presidiram as sessões.<br />
Finalizo dizendo que gostaria muito que já estivéssemos em setembro, que<br />
amanhã já fosse dia 17, para que pudéssemos prosseguir aproveitando este clima<br />
altamente positivo e favorável para os senhores, pelo que ouviram, e para esta<br />
Casa.<br />
Espero que ca<strong>da</strong> um compreen<strong>da</strong> que nós desejamos desempenhar um papel<br />
diferente para a solução <strong>da</strong>s questões educacionais brasileiras. Esta Casa tem sido<br />
muito passiva na discussão desses problemas. Ela tem procurado receber as<br />
propostas do Executivo, sempre melhorando-as, tornando-as mais próximas <strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong>des do povo brasileiro.<br />
A Frente Parlamentar sobre Educação, que congrega a Comissão, os<br />
parti<strong>dos</strong>, não permite qualquer alteração na Constituição brasileira. Mais de 160<br />
Parlamentares fazem parte dessa frente. Qualquer alteração constitucional que<br />
demande quorum qualificado terá de ser amplamente negocia<strong>da</strong> com os Deputa<strong>dos</strong><br />
que a compõem.<br />
Há muito debate sobre ampliação <strong>da</strong> DRU, desvinculação <strong>da</strong>s verbas <strong>da</strong><br />
educação. Tudo isso pode até ser feito, se houver consenso de que é o melhor para<br />
o País. Mas o assunto tem de ser amplamente discutido na Casa pelos<br />
Parlamentares, que levam muito a sério a questão educacional brasileira.<br />
Muitas vezes a socie<strong>da</strong>de não percebe a importância do papel do Parlamento<br />
brasileiro, até porque não há colaboração por parte de nossos agentes<br />
multiplicadores.<br />
A proposta do FUNDEB — para citar apenas um exemplo — foi amplamente<br />
melhora<strong>da</strong> nesta Casa. Ela estava em regime de urgência urgentíssima e não seria<br />
suficientemente discuti<strong>da</strong>. Iria direto para o plenário. Propusemos ao Ministro que<br />
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retirasse a urgência e assumimos o compromisso de, num prazo razoável, aprovar a<br />
matéria. Havia certo temor de que ocorressem muitas divergências no plenário. No<br />
entanto, a proposta foi aprova<strong>da</strong> em menos de 60 dias, por unanimi<strong>da</strong>de, no plenário<br />
<strong>da</strong> Casa. To<strong>dos</strong> os Parlamentares, <strong>dos</strong> mais diversos parti<strong>dos</strong>, contribuíram com o<br />
seu voto, com a sua palavra, com a sua voz para melhorá-la. No dia seguinte, nos<br />
grandes jornais de circulação nacional, havia meia coluna sobre o FUNDEB, como<br />
se nós não tivéssemos aprovado um planejamento financeiro <strong>da</strong> educação brasileira<br />
para os próximos 10 anos.<br />
Portanto, estamos aqui assumindo — o Presidente Arlindo Chinaglia deixou<br />
isso muito claro, hoje pela manhã... Eu sou do PMDB. Meu partido assume a<br />
bandeira <strong>da</strong> educação, instigado pelos Parlamentares que compõem essa frente.<br />
Enfim, queremos ter um papel ativo na condução dessas questões.<br />
Gostaria que, do seminário relativo ao ensino médio, surgissem algumas<br />
propostas que se consubstanciassem em atitudes legislativas para melhorar a<br />
situação.<br />
Quanto a políticas para crianças de zero a 3 anos, na<strong>da</strong> impede que esta<br />
Casa, a partir do debate, com a participação <strong>dos</strong> senhores, elabore, com o seu<br />
corpo técnico <strong>da</strong> maior competência, propostas legislativas. Aprova<strong>da</strong>s, elas serão<br />
envia<strong>da</strong>s ao Governo, para que este as execute.<br />
Não há mais tempo a perder, até porque o momento é extremamente<br />
adequado para que essas coisas ocorram.<br />
Agradeço muito à Confederação Nacional do Comércio pela aju<strong>da</strong><br />
indispensável para a realização deste seminário. O grande problema nosso seria<br />
como viabilizá-lo financeiramente. A CNC, numa parceria antiga com a Casa, na<br />
área de turismo, assumiu também importante papel com a érea de educação.<br />
Agradeço a to<strong>dos</strong> aqueles que brilhantemente expuseram suas idéias, que<br />
vão ficar nos instigando durante os próximos dias, e aos Parlamentes.<br />
Como to<strong>da</strong>s as palestras foram grava<strong>da</strong>s, na<strong>da</strong> impede que ca<strong>da</strong> Parlamentar<br />
leve para seu Estado e para seu município o que foi discutido aqui e amplie a<br />
discussão entre os seus, para que essas questões circulem. To<strong>dos</strong> nós defendemos<br />
a idéia de que tudo tem de ocorrer na escola. E a escola está no município de ca<strong>da</strong><br />
um <strong>dos</strong> Parlamentares que compõem esta Casa.<br />
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Prof. João Batista, a partir de amanhã to<strong>da</strong>s as palestras e os gráficas —<br />
tanto os <strong>da</strong> Comissão de Educação como os do seminário — estarão<br />
disponibiliza<strong>dos</strong> no nosso site.<br />
Está encerra<strong>da</strong> a reunião.<br />
Muito obrigado a to<strong>dos</strong>. (Palmas.)<br />
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