Helena Sofia Garrido Espadeiro Orientadora: Professora Doutora ...
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condicionada pela visão que o leitor tem do mundo, caso não haja uma referência<br />
contextual. O enunciado “Descubra o Peru” 49 , desprovido de um contexto que o situe, é<br />
fonte de mal-entendidos, em virtude de não existir uma referência específica ao objecto<br />
de incitamento que é feito no slogan, se ao país, se à ave galinácea.<br />
Lakoff defende a ideia de uma relação de “família”, em que cada significado<br />
partilha, pelo menos, uma propriedade com outro. Assim, todos pertencem a uma<br />
mesma categoria polissémica, agrupados a partir da associação com um significado<br />
básico, encarado pelos falantes como o protótipo 50 , e estabelecidos por processos<br />
metafóricos, metonímicos ou de implicação. Coração na acepção de músculo cardíaco é<br />
mais central que nas acepções de parte central, como em “coração da cidade”, e de bons<br />
sentimentos, como em “tem um grande coração”. Estas categorias linguísticas, devido à<br />
sua flexibilidade, adaptam-se facilmente a novos contextos e integram novas entidades<br />
como membros periféricos. No nível básico processam-se as que são apreendidas e<br />
aplicadas em primeiro lugar, expressas por termos curtos e simples, sendo usadas para<br />
estruturar metaforicamente categorias abstractas.<br />
Ao representar uma economia de signos, a polissemia defende que os usos e<br />
significados múltiplos de uma palavra, por apresentarem diferentes graus de saliência,<br />
estão organizados em torno de um protótipo, derivando por parecenças de família em<br />
relação ao núcleo 51 . Apesar de a polissemia abarcar todos os níveis de análise, neste<br />
estudo ocupar-nos-emos somente dos itens lexicais.<br />
Se pensarmos, por exemplo, na palavra cabeça nos sentidos de parte do corpo,<br />
parte de algo ou inteligência, e nas expressões idiomáticas 52 de que esta palavra faz<br />
parte, nomeadamente “subir à cabeça” (julgar-se importante perante os outros; ficar<br />
estonteado), “estar de cabeça quente” (estar irritado), “cabeça de lista” (indivíduo que<br />
lidera uma lista, normalmente com fins eleitorais), cabeça do dedo” (extremidade distal<br />
do dedo), intuitivamente concluimos que todos os casos enumerados não são mais do<br />
que significados da palavra. O sentido prototípico serve de perspectiva interpretativa<br />
para a criação de outros. Estes processos são construídos subjectivamente para fazerem<br />
49<br />
Fonte: Revista especializada Tropicalíssimo, colecção “Flores e Viagens”, Operador Turístico<br />
Soltrópico, Inverno 2005/2006, p. 17<br />
50<br />
“...a ideia de protótipo relaciona-se com a de “encadeamento” (“chaining”). Um objecto pode ser<br />
designado pelo nome de uma categoria devido a certas semelhanças com um terceiro objecto de certo<br />
modo similar; esse terceiro objecto pode, mais uma vez, ser protótipo de um quarto; e assim por diante.”<br />
in Batoréo (2004c:2)<br />
51<br />
Cf. Batoréo (2004b:50)<br />
52<br />
Entende-se por expressão idiomática qualquer “elemento textual cujo sentido global não pode ser<br />
determinado a partir da soma dos sentidos que a compõem” in Coimbra (2002:67)<br />
19