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Helena Sofia Garrido Espadeiro Orientadora: Professora Doutora ...

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compreendemos como sendo novo é aquilo que demonstra determinadas diferenças em<br />

relação a qualquer coisa que já existe. 64<br />

Desta forma, para reconhecer e descodificar a mensagem, não compreendida de<br />

imediato, o leitor deve integrar e dominar o universo cultural retratado na mensagem<br />

para poder associar, mediante inferências, o conteúdo dos anúncios a conhecimentos<br />

prévios enraizados na sua mente. A estes dá-se, nos anúncios, um novo sentido que<br />

começa paulatinamente a desenhar-se no imaginário do leitor. Segundo Alexandra<br />

Guedes Pinto (1997) 65 , no momento da descodificação a recuperação virtual da fórmula<br />

original deve coexistir com a verificação da compatibilidade entre a fórmula original e a<br />

fórmula criada a partir desta. Reclama-se a interpretação do contexto extralinguístico na<br />

análise dos anúncios, na descodificação do que se tenciona dizer por detrás do que<br />

efectivamente se diz, já que se evoca um estado de coisas que transcende o mero<br />

conhecimento linguístico. Todo este processo de interpelação do leitor para o integrar<br />

no processo verbal implica um dispêndio de energia mental.<br />

Importa, neste ponto, aflorar a noção de intertextualidade, que remete para a<br />

ligação de um texto com outros textos. Este conceito foi desenvolvido por Julia Kristeva<br />

na década de 60, na sequência de estudos de Bakhtine 66 e defende que: “...tout texte est<br />

absorption et transformation d’un autre text.” 67 O recurso a enunciados padronizados e<br />

manipulados em jogos intertextuais exige uma certa confluência cultural para que se<br />

estabeleçam conexões entre ambos. Veja-se que o texto criado a partir do original nem<br />

sempre é óbvio, preservando apenas algumas características linguísticas. Cabe ao leitor<br />

restabelecer a parte intertextual entre os dois textos, processo de transposição que requer<br />

alguma atenção, devido à quebra de linearidade. A compreensão dos textos em<br />

discussão depende do conhecimento de outros textos, pois testemunham uma herança<br />

colectiva 68 , presentificam-se na evocação de outros.<br />

Por conseguinte, constituem-se como textos que provocam e rompem com a<br />

ordem significativa das regras assimiladas, distanciam-se dos padrões e da organização<br />

64 “...quelque chose qui est différent, donc en partie semblable. Car nous ne pouvons percevoir la<br />

différence que si nous la rattachons à des choses que nous connaissons déjà (...) Donc, ce que nous<br />

percevons comme nouveau c’est qui présent un ou plusieurs degrés de différence par rapport à quelque<br />

chose que nous connaissons déjà.” Jaoui (1990:9) in Galhardo (2002:55)<br />

65 Cf. Pinto (1997:112)<br />

66 Cf. Bakhtine (1977 a), “Il problema del testo”, in V. V. Ivanot et alii, Semiotica, teoria della<br />

Letteratura e Marxismo, Bari, Dedalo Livri, pp. 197-229; Bakhtine, Mikaïl (1978), Esthétique et théorie<br />

du roman, Paris, Gallimard.<br />

67 Kristeva, Julia (1969), Recherches pour une Sémanalyse, Paris, Éditions du Seuil (1969:146)<br />

68 Coimbra (2001:1) reitera esta questão, mencionando que “nenhum texto nasce isolado”.<br />

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