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Baixe em PDF - Carta da Paz

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Rose Marie Inojosa<br />

Brasileira<br />

São Paulo, SP<br />

educação socioambiental;<br />

saúde; gestão pública<br />

Sou vivente, mãe, aprendiz, trabalhadora. Gosto de compar-<br />

tilhar idéias, conversas, leituras, visões. No processo de<br />

formação andei pelos saberes <strong>da</strong> Comunicação Social, <strong>da</strong><br />

Administração, <strong>da</strong> Saúde Pública, do Terceiro Setor. Na<br />

última déca<strong>da</strong> mergulhei nos fazeres <strong>da</strong> Educação Socioambi-<br />

ental, onde esses e outros saberes dialogam pelo respeito<br />

à vi<strong>da</strong>, núcleo central <strong>da</strong> Cultura de <strong>Paz</strong>. Desde 2006,<br />

estou dirigindo a UMAPAZ – Universi<strong>da</strong>de Aberta do Meio<br />

Ambiente e Cultura de <strong>Paz</strong>, uma s<strong>em</strong>ente de cultura de paz<br />

<strong>em</strong> São Paulo, de cuja concepção tive a alegria de participar.<br />

A Cultura de <strong>Paz</strong> v<strong>em</strong> permeando essa caminha<strong>da</strong>, aprendi-<br />

zado e atuação, e me apresenta, cotidianamente, o desafio<br />

de ser coerente com seus pressupostos no pensar e no<br />

agir: “que a <strong>Paz</strong> prevaleça na Terra, a começar por mim”.<br />

MENSAGEM A UMA VIVENTE<br />

Era uma vez um grupo de jovens de várias partes do mundo que veio à Universi<strong>da</strong>de<br />

Aberta do Meio Ambiente e <strong>da</strong> Cultura de <strong>Paz</strong>, <strong>em</strong> São Paulo. Dançaram no parque, com as<br />

bandeiras dos povos, instalaram um marco <strong>da</strong> paz e nos ensinaram um belo mantra: “Que a<br />

paz prevaleça na Terra, a começar por mim”.<br />

Por isso, dirijo-me a mim mesma, parte dos trilhões de viventes, com a firme esperança<br />

de que a paz prevaleça na Terra e a certeza de que, para isso, preciso cultivá-la, com<br />

o cui<strong>da</strong>do de um jardineiro, diariamente, com sol e com chuva e s<strong>em</strong>pre com amor.<br />

Ca<strong>da</strong> um de nós, ci<strong>da</strong>dãos planetários, olha o mundo do lugar onde vive. Alguns presos a<br />

ele por circunstâncias, outros por uma escolha amorosa. Apesar <strong>da</strong>s maravilhosas máquinas<br />

de voar, <strong>da</strong> grande asa que é a internet e dos amados livros que nos franqueiam o<br />

acesso a contatos, imagens, vozes, ideias de todo o mundo, somos também um aqui e agora<br />

singular, como indivíduos e como povos.<br />

Ações locais e redes globais mantêm um diálogo, harmônico e caótico, caórdico. Esse diálogo<br />

modela o nosso mundo cont<strong>em</strong>porâneo.<br />

HundertWasser, artista ambientalista, vê o hom<strong>em</strong> com cinco peles: a sua epiderme,<br />

seu vestuário, sua casa ou abrigo, o meio social <strong>em</strong> vive e a mora<strong>da</strong> ecológica - a nossa<br />

pele planetária.<br />

Assim é que, à minha volta, vejo e sinto uma de minhas peles, a ci<strong>da</strong>de de São Paulo. Uma<br />

megalópole, mais cinza do que verde, se vista de longe. De perto, berço de transformação.<br />

As mesmas mãos que destruíram matas, retificaram sinuosos rios, expulsaram patas<br />

e asas, hoje, meio encardi<strong>da</strong>s de poluição, quebram cimento para plantar árvores, proteg<strong>em</strong><br />

mananciais, acercam-se dos bichos, redescobr<strong>em</strong> a convivência.<br />

É um movimento silencioso, às vezes hesitante, surpreso com ele mesmo, deslumbrado<br />

quando as árvores cobr<strong>em</strong> o asfalto de flores. Um dia, São Paulo amanhecerá mais verde<br />

do que cinza, fruto de um movimento de paz. Assim também essa nave azul a que chamamos<br />

Terra, liberta <strong>da</strong> poluição que tol<strong>da</strong> a visão dos tripulantes. Ecos de HundertWasser:<br />

“Quando deixamos a natureza repintar as paredes, elas tornam-se humanas e nós pod<strong>em</strong>os<br />

voltar a viver.”(RESTANY, 2003:45).<br />

Atualmente, a corrente de vi<strong>da</strong> é puxa<strong>da</strong> por crianças e jovens, invertendo um processo<br />

milenar de transmissão de cultura. As novas gerações estão tomando o futuro <strong>em</strong> suas<br />

mãos. Eu observo isso acontecendo ao meu redor, com alegria. Respeitar a vi<strong>da</strong> e preservar<br />

o planeta são dois dos seis compromissos do Manifesto 2000 pela cultura de paz e<br />

não-violência. Eles também estão no cerne <strong>da</strong> <strong>Carta</strong> <strong>da</strong> Terra. Dois manifestos <strong>da</strong> nossa<br />

era, que se compl<strong>em</strong>entam - a <strong>Carta</strong> <strong>da</strong> Terra buscando expressar um compromisso dos<br />

povos, o Manifesto 2000, o compromisso de ca<strong>da</strong> pessoa.<br />

Ah, mas esse Manifesto 2000 traz um compromisso muito original: ouvir para compreender.<br />

Gene Knudsen Hoffman que trabalha com Escuta Compassiva (2003) ensina que o inimigo<br />

é alguém cuja história não conhec<strong>em</strong>os e explica que, quando nos dispomos a ouvir a história<br />

<strong>da</strong>quele que nos é contrário, autor de algo que repudiamos, que pensamos ser inimigo,<br />

encontramos ali um pe<strong>da</strong>ço de nós, <strong>da</strong> nossa humani<strong>da</strong>de comum. E, então, pode ser possível<br />

o diálogo e, até mesmo, a justiça restaurativa.<br />

Somos todos filhos do “era uma vez”, porque carregamos nossas histórias, grava<strong>da</strong>s a<br />

luz ou a fogo. Amamos nossa própria história. Justificamo-nos por meio dela. Mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

t<strong>em</strong>os a generosi<strong>da</strong>de de ouvir a história do outro. Se não ouvimos, vamos julgar seus<br />

atos apenas pela nossa visão, pela nossa história.<br />

Será que estou escutando para compreender?<br />

Vou prestar mais atenção ao que vocês, meu irmão, minha irmã, me contar<strong>em</strong>. Estarei atenta<br />

não somente à sua fala, mas ao seu silêncio. Vou ouvir atentamente com meus ouvidos, com a<br />

minha mente, com o meu coração. E se ain<strong>da</strong> assim não os compreender, vou pedir para recontar<strong>em</strong><br />

a sua história, até que esse “era uma vez” seja meu também; até que tal como uma criança<br />

eu possa vestir seu personag<strong>em</strong>, rir e chorar com vocês e, afinal, vivermos <strong>em</strong> paz.<br />

Rose Marie Inojosa<br />

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