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Vinde a mim as Criancinhas!<br />
“E então surge <strong>em</strong> mim o saber que existe um espaço interno<br />
para uma segun<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, Maior e s<strong>em</strong> limites de t<strong>em</strong>po.”<br />
Rainer Maria Rilke<br />
Segundo ensinamentos <strong>da</strong>s tradições espirituais <strong>da</strong> Índia, a humani<strong>da</strong>de cumprindo<br />
um ciclo de experiências, vive atualmente o final <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de do Ferro (Kali Yuga). Nela<br />
sentimos a degra<strong>da</strong>ção dos relacionamentos dos homens entre si e do hom<strong>em</strong> com a<br />
natureza – causas geradoras <strong>da</strong> desconfiança, fome, epid<strong>em</strong>ias, violência, corrupção, do<br />
medo, do desrespeito aos direitos humanos, <strong>da</strong> poluição do meio ambiente, <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />
climática e dos desastres e catástrofes naturais. Fenômenos decorrentes do crescente<br />
desinteresse pelos ensinamentos e vivências espirituais e acentuado apego ao poder e a acumulação<br />
de bens materiais, que passaram a ser símbolos de prestígio e realização social.<br />
O Hom<strong>em</strong> se esqueceu de sua ligação com a divin<strong>da</strong>de e criou-se um vazio existencial<br />
<strong>em</strong> si que lhe causa angústias e sofrimentos para os quais, muitas vezes, não encontra<br />
leniência. Daí, a ânsia sôfrega e o desejo incontido pela posse e o mais ter. Como se<br />
satisfeitas tais necessi<strong>da</strong>des, pudesse reencontrar a paz.<br />
Um dos caminhos para este apaziguamento interior, segundo Jean-Yves Leloup, sacerdote<br />
hesicaste e fun<strong>da</strong>dor do Colégio Internacional dos Terapeutas (CIT), é conferir<br />
sentido a este insuportável sofrimento. Além de eventuais explicações racionais que<br />
possam nos ser <strong>da</strong><strong>da</strong>s, trata-se de caminhar <strong>em</strong> direção a si mesmo – deixar o conhecido<br />
<strong>em</strong> direção a um lugar desconhecido dentro de si, instigado por uma promessa de uma<br />
nova vi<strong>da</strong> a ser saborea<strong>da</strong>.<br />
O convite que se apresenta a humani<strong>da</strong>de neste ponto do ciclo <strong>da</strong> Kali Yuga é participar<br />
de sua transformação para a I<strong>da</strong>de do Diamante (Sangam Yuga): A alquimia do<br />
ferro <strong>em</strong> diamante; a confluência dos rios com o Oceano (de Deus com Sua criação).<br />
Tarefa exclusiva <strong>da</strong> fonte de energia de transmutação divina.<br />
Através <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> não-violência (ahimsa), Mahatma Gandhi ressuscitou o ideal<br />
de estabelecer uma socie<strong>da</strong>de estrutura<strong>da</strong> <strong>em</strong> valores humanos e princípios espirituais.<br />
No entanto, este ideal não pode se tornar reali<strong>da</strong>de pois ele viu seu povo se dividir pela<br />
intolerância religiosa. Para a materialização de seu sonho, Gandhi intuiu ser necessária a<br />
profun<strong>da</strong> transformação interior: “Faça <strong>em</strong> você a transformação que quer ver no mundo”,<br />
nos ensinou.<br />
Nesta trilha cíclica e evolutiva - caminho árduo e desafiador - cabe-nos desvelar os<br />
sonhos mais recônditos de nossa alma, e buscar forças no Dom que nos foi gratuitamente<br />
presenteado para esta existência. Investigu<strong>em</strong>os aquilo que nos causava arrepios e<br />
momentos de intensa felici<strong>da</strong>de, quando tínhamos cerca de 20 anos, recomen<strong>da</strong> Roberto<br />
Cr<strong>em</strong>a, reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Internacional <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> (UNIPAZ). E que, a partir <strong>da</strong> recor<strong>da</strong>ção<br />
destes momentos de deslumbramentos, poder<strong>em</strong>os mais facilmente reconhecer<br />
nossa Missão de Vi<strong>da</strong>: o que nos trouxe aqui e nos convoca para a ação. Agora!<br />
Há <strong>em</strong> alguns de nós, diante <strong>da</strong> situação caótica que presenciamos diariamente, o<br />
desejo de se retirar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e de isolar <strong>em</strong> comuni<strong>da</strong>des espiritualistas, no afã de<br />
vivermos o mistério e o misticismo e <strong>da</strong>í, irradiar Luz e compreensão para a humani<strong>da</strong>de<br />
- forma de se contrapor ao profano. Sinto, entretanto, que transcendendo a este louvável<br />
movimento, há outro que poderá trazer mais força e assertivi<strong>da</strong>de para o momento<br />
de transformação que se aproxima inexoravelmente para a humani<strong>da</strong>de: colocarmo-<br />
-nos no meio do mundo (na praça do mercado), com a integri<strong>da</strong>de e benevolência esqueci<strong>da</strong>s,<br />
criando valores éticos e ex<strong>em</strong>plos vivos de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia universal, a partir <strong>da</strong><br />
ver<strong>da</strong>de interior de ca<strong>da</strong> um de nós.<br />
Decorridos dois anos de um sonho que tive, <strong>em</strong> uma vivência terapêutica, inauguramos<br />
dia 18 de outubro passado, a Creche Casulo, <strong>em</strong> Ananindeua, Estado do Pará, com<br />
recursos <strong>da</strong> FUNDAÇÃO ARTE DE EDUCAR. Inicialmente, atender<strong>em</strong>os 45 crianças de 2<br />
a 5 anos, com os ensinamentos <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia Waldorf. Nesta faixa de i<strong>da</strong>de (primeiros<br />
sete anos de vi<strong>da</strong>), segundo a Antroposofia, o ser humano está respirando o mundo exterior<br />
e pode internalizar a percepção de que “o mundo é bom”. Gerando a consciência<br />
e o desejo <strong>da</strong> cooperativi<strong>da</strong>de, <strong>em</strong>patia, compaixão, amorosi<strong>da</strong>de e confiança na vi<strong>da</strong>.<br />
Vivências e aprendizados que levarão para to<strong>da</strong>s suas existências.<br />
Recent<strong>em</strong>ente tive outro sonho: tinha sido presenteado com um diamante que se<br />
incrustou <strong>em</strong> meu dedo indicador <strong>da</strong> mão direita, que imantado pela energia crística <strong>da</strong><br />
amorosi<strong>da</strong>de, tinha o poder de tocar os corações mais duros e petrificados de pessoas<br />
de poder e deles fazer jorrar o amor incondicional e a disposição para a cari<strong>da</strong>de e o<br />
altruísmo. E l<strong>em</strong>brei-me de como me <strong>em</strong>ocionava ao me relacionar com as crianças,<br />
desde minha mais tenra i<strong>da</strong>de – como se invejasse nelas a inocência, a alegria, a beleza,<br />
a entrega e a presença.<br />
T<strong>em</strong>os a possibili<strong>da</strong>de de despertar e promover nossa transformação interior a qualquer<br />
momento, por mais difícil e sofri<strong>da</strong> que ela se torne com o passar dos anos e com a<br />
cristalização de comportamentos repetitivos de nosso ego. Certamente, mais fácil será<br />
construirmos um exército de operários divinos - coroados com ramos de murta (troféu<br />
concedido aqueles que promov<strong>em</strong> a <strong>Paz</strong>) - se pudermos acolher as crianças <strong>em</strong> ambientes<br />
que os inspir<strong>em</strong> a mu<strong>da</strong>r o mundo a partir de si, <strong>em</strong> contato com o outro, com a<br />
socie<strong>da</strong>de e com a natureza.<br />
Talvez seja esta minha Missão de Vi<strong>da</strong> (ou tarefa de casa): tornar-me um <strong>em</strong>preendedor<br />
social e cui<strong>da</strong>dor de crianças – resgatando <strong>em</strong> mim as quali<strong>da</strong>des e o ânimo de<br />
minha própria criança interior. Para ela peço inspiração, compaixão, amorosi<strong>da</strong>de, humil<strong>da</strong>de,<br />
paciência, confiança, corag<strong>em</strong>, fé e determinação.<br />
Elpidio Alves Pinheiro<br />
Presidente <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Arte de Educar Cogente<br />
Outubro de 2009<br />
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