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Kaká Werá<br />
Brasileiro<br />
São Paulo, SP<br />
Escritor. Ambientalista. Especialista na cosmovisão e<br />
filosofia tupy-guarani. Terapeuta e Empreendedor<br />
Social. Focaliza cursos, imersões e vivências á 15 anos<br />
na Unipaz (Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>) e no Instituto<br />
Arapoty. Conferencista internacional, já percorreu mais<br />
de 10 países discorrendo sobre diversi<strong>da</strong>de<br />
cultural,sabedoria ancestral, sustentabili<strong>da</strong>de e<br />
responsabili<strong>da</strong>de social. Entre eles: Inglaterra, França<br />
e Estados Unidos.<br />
Conselheiro <strong>da</strong> Bovespa Social, m<strong>em</strong>bro do Colégio Internacional<br />
dos Terapeutas, m<strong>em</strong>bro-fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> URI<br />
(United Religions Initiative), <strong>da</strong> Ashoka Empreendedores<br />
Sociais, conselheiro <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>cion France libertes<br />
Danielle Mitterrand.<br />
Fico tentando entender como o chamado o mundo palestino,<br />
egípcio, árabe, ou africano consegu<strong>em</strong> aceitar <strong>em</strong> seu cotidiano<br />
tanta agressivi<strong>da</strong>de, tantos desastres e mortes, tantos conflitos<br />
e intervenções externas <strong>em</strong> nome de soberania, pátria,<br />
deus, poder, território, defesa de castas, dogmas, orgulho,<br />
supr<strong>em</strong>acia e muitos outros motivos supostamente justos. E no<br />
Brasil, “o novo mundo”, assim como nas Américas, tantos<br />
conflitos gerados a partir de inúmeros fatores de desigual<strong>da</strong>des<br />
sociais que por sua vez são tão contundentes e graves como nos<br />
velhos continentes.<br />
Fico tentando entender como entre as nossas famílias também<br />
se gera mágoas, distorções, ódios, dores e insatisfações.<br />
E entre pessoas, mesmo aquelas que possu<strong>em</strong> vi<strong>da</strong> econômica<br />
estável e status social considerável, frequent<strong>em</strong>ente entram nas<br />
mais diversas situações de desarmonia. Digo isso observando<br />
a mim mesmo e as minhas relações pessoais e sociais; vendo<br />
como não é difícil desestabilizar as <strong>em</strong>oções e <strong>em</strong> determina<strong>da</strong>s<br />
circunstâncias gerar insatisfação, ou mesmo raiva, nervosismo,<br />
ou tons variados de agressivi<strong>da</strong>de.<br />
Existe alojado <strong>em</strong> diferentes níveis de ca<strong>da</strong> um de nós m<strong>em</strong>órias<br />
de situações, coisas e fatos que causaram o oposto <strong>da</strong><br />
paz. Seja na dimensão coletiva ou individual. Fico tentando<br />
entender tudo isso. Qual a causa dessa gama interminável de<br />
manifestações que se opõe ao estado pacífico? E a resposta que<br />
silenciosamente ouço é: você se afastou <strong>da</strong> sua natureza.<br />
Não é a natureza étnica, n<strong>em</strong> a natureza cultural, n<strong>em</strong><br />
tampouco a bucólica natureza dos diversos ecossist<strong>em</strong>as que se<br />
expressa <strong>em</strong> beleza diante dos nossos olhos. A clareza com que<br />
o silêncio disse foi: “ você se afastou <strong>da</strong> sua natureza essencial”.<br />
Então perguntei, qual é esta natureza essencial? E a voz<br />
do silêncio disse:” a natureza do espírito. Você é espírito. Sopro<br />
vivo e luminoso. Emanação de uma fonte misteriosa e inesgotável<br />
<strong>em</strong> abundância de vi<strong>da</strong>. Exatamente como tudo que existe.<br />
Portanto, quando entenderes de ver<strong>da</strong>de que tudo se irmana,<br />
se iguala nas mais diversas diferenças, e comunga-se a<br />
mesma respiração, saberás o que é a natureza essencial.”<br />
A natureza essencial conduz ao estado de paz. Este, por sua<br />
vez, não é passivi<strong>da</strong>de e n<strong>em</strong> ausência de conflito. Ás vezes<br />
distorc<strong>em</strong>os o sentido <strong>da</strong> palavra paz e a entend<strong>em</strong>os como<br />
omissão, como inércia, e negligenciamos o aprendizado primevo<br />
e ancestral, que deveria ser o enraizamento <strong>em</strong> nossa natureza<br />
essencial, ver<strong>da</strong>deira fonte de onde <strong>em</strong>ana a vi<strong>da</strong> que se manifesta<br />
através de nossos pensamentos, palavras, gestos e ações.<br />
A ver<strong>da</strong>de é que vamos vivendo a vi<strong>da</strong> de acordo com nossas<br />
crenças de escassez, de desafetos, de necessi<strong>da</strong>des básicas,<br />
decorridos <strong>da</strong> ideia de separativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>-fonte-única<br />
que foi introjeta<strong>da</strong> <strong>em</strong> nossa consciência desde t<strong>em</strong>pos r<strong>em</strong>otos.<br />
Viv<strong>em</strong>os de acordo com nossas soberbas pessoais e coletivas,<br />
criando ideias de superiori<strong>da</strong>de perante pessoas, povos, nações.<br />
Passamos nossas vi<strong>da</strong>s correndo para atender necessi<strong>da</strong>des de<br />
riqueza por não reconhece-la diante do nosso interior. Passamos<br />
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