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Marco Antonio<br />
Lirio De Mello<br />
Brasileiro<br />
Porto Alegre-RS-BR<br />
Educação, História, Assessoria <strong>em</strong><br />
Educação Popular junto a Movimentos<br />
Sociais e Populares e Administrações<br />
Públicas.<br />
Historiador, Educador e Coordenador Pe<strong>da</strong>gógico na<br />
Rede Pública Municipal de Educação de Porto Alegre-RS.<br />
Atua na área de formação de educadores e processos<br />
de reconstrução curricular junto à administrações<br />
públicas e como assessor junto a diversos movimentos<br />
sociais e populares, do campo e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e organi-<br />
zações não-governamentais que trabalham com crianças<br />
e adolescentes <strong>em</strong> situação de vulnerabili<strong>da</strong>de. T<strong>em</strong><br />
trabalhado ao longo dos últimos quinze anos com um<br />
amplo leque de t<strong>em</strong>áticas <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> educação popular,<br />
educação do campo, educação de jovens e adultos,<br />
educação e relações étnico-raciais, teologia <strong>da</strong> liber-<br />
tação e ecumenismo, direitos humanos, educação para a<br />
paz, gestão d<strong>em</strong>ocrática, projeto político-pe<strong>da</strong>gógico,<br />
currículo, planejamento pe<strong>da</strong>gógico interdisciplinar,<br />
avaliação educacional e planejamento estratégico situa-<br />
cional. T<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> diversos artigos e livros publicados,<br />
entre eles “Pesquisa Participante e Educação Popular:<br />
<strong>da</strong> intenção ao gesto”, “A educação na ci<strong>da</strong>de de Porto<br />
Alegre”, “Paulo Freire e a Educação Popular”.<br />
Para as crianças, grandes e pequenas, de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des...<br />
“De anônimas gentes, sofri<strong>da</strong>s gentes, explora<strong>da</strong>s gentes aprendi, sobretudo,<br />
que a <strong>Paz</strong> é fun<strong>da</strong>mental, indispensável, mas que a <strong>Paz</strong> implica lutar por ela.<br />
A <strong>Paz</strong> se cria, se constrói na e pela superação de reali<strong>da</strong>des sociais perversas.<br />
A <strong>Paz</strong> se cria, se constrói na construção incessante <strong>da</strong> justiça social. Por isso, não creio<br />
<strong>em</strong> nenhum esforço chamado de educação para a <strong>Paz</strong> que, <strong>em</strong> lugar de desvelar<br />
o mundo <strong>da</strong>s injustiças o torna opaco e tenta miopizar as suas vítimas.”<br />
Espero encontrar-te b<strong>em</strong>.<br />
90 91<br />
Paulo Freire<br />
Te envio esta carta, que chega à tuas mãos na forma de um livro ou <strong>em</strong> pdf, mas que<br />
foi r<strong>em</strong>eti<strong>da</strong> por e-mail e antes disso, escrita com lápis <strong>em</strong> papel (à mo<strong>da</strong> antiga, l<strong>em</strong>bras<br />
como era antes?) desejando saúde, força e luz na tua jorna<strong>da</strong>. Sau<strong>da</strong>de de ti e dos teus.<br />
Te escrevo para contar do quanto t<strong>em</strong>os avançado por aqui na área de formação de<br />
educadores junto às escolas, grupos populares, OnG´s e Movimentos Sociais do campo e <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de na difusão e vivência de uma ver<strong>da</strong>deira Educação e Cultura de <strong>Paz</strong>: dialética, crítica<br />
e contraheg<strong>em</strong>ônica.<br />
Então quero partilhar contigo essas nossas pequenas e grandes conquistas. Como lutadores<br />
e lutadoras do povo, sab<strong>em</strong>os que a paz é um fruto saboroso e nutritivo que nasce,<br />
cresce, se desenvolve e nos alimenta quanto vence as pragas e int<strong>em</strong>péries <strong>da</strong> injustiça<br />
social e <strong>da</strong> nossa própria ignorância e imperfeição. A propósito, viste que belo o texto de<br />
Freire que transcrevi acima? Achei que irias gostar.<br />
Daí, sabes, estou ca<strong>da</strong> vez mais convicto de que é preciso, o que chamo do “bom-combate à<br />
nossa vi<strong>da</strong> aliena<strong>da</strong>”. Por que, s<strong>em</strong> a superação <strong>da</strong> ideologia dominante, expressa no senso<br />
comum - essa forma de pensar e explicar o mundo que <strong>em</strong> grande medi<strong>da</strong> reproduz a<br />
exploração, a exclusão e as formas de opressão como o racismo, o sexismo, a homofobia<br />
e a intolerância religiosa - não conseguir<strong>em</strong>os romper com a heg<strong>em</strong>onia burguesa <strong>em</strong><br />
nossa socie<strong>da</strong>de.<br />
Mas, enfim, vamos às boas notícias: ombro a ombro nos campos, nas florestas, nas águas,<br />
nas ci<strong>da</strong>des, a opção de estarmos com nossa classe, a classe que vive do seu trabalho, organizados,<br />
solidários e <strong>em</strong> movimento, b<strong>em</strong> o compreendes, t<strong>em</strong> nos humanizado, nos aproximando,<br />
nos tornando mais gente. Esse t<strong>em</strong> sido uma aprendizado realmente extraordinário.<br />
São t<strong>em</strong>pos difíceis. Estamos construindo passo a passo um novo projeto de socie<strong>da</strong>de<br />
no qual a justiça seja a medi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s as coisas. E nesse processo também nos reconstruímos,<br />
cultivando valores e princípios orientados para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, o trabalho coletivo<br />
e a <strong>em</strong>ancipação humana. Não t<strong>em</strong> sido um caminho fácil, como te relatei na outra carta, mas<br />
creio que é assim mesmo, para grandes transformações, grandes lutas.<br />
Desde há muito, mais de 500 anos, nossos ancestrais têm lutado: para assegurar o sagrado<br />
direito à existência, por digni<strong>da</strong>de, por respeito às nossas culturas, por soberania,<br />
por direitos ain<strong>da</strong> tão distantes... Essa resistência indígena, negra, f<strong>em</strong>inista e popular<br />
precisa ser l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong>, quando tombam nossos irmãos por não se acorva<strong>da</strong>r<strong>em</strong> e dizer<strong>em</strong><br />
não aos senhores do capital. Como aconteceu ont<strong>em</strong> com o Cacique Kaiowá Nísio Gomes, morto<br />
com vários tiros de espingar<strong>da</strong>, calibre 12, por pistoleiros a mando dos latifundiários <strong>da</strong><br />
região de Amambaí, Mato Grosso do Sul. Como caíram ain<strong>da</strong> anteont<strong>em</strong> os trabalhadores rurais<br />
José Cláudio Silva e Maria do Espírito Santo Silva, no sudoeste do Pará, também assassinados<br />
pelo agronegócio. E assim t<strong>em</strong> sido aqui <strong>em</strong> nuestra America com Dorothi Stang, Chico<br />
Mendes, Bolívar, José Marti, Bertha Lutz, Sandino, Luiza Mahin, Zapata, Zumbi, Sepé Tiaraju,<br />
as Mães <strong>da</strong> Praça de Maio, Tupac-Amaru, Olga Bernário e Che Guevara e tantos outros mártires<br />
anônimos <strong>da</strong> luta popular, nossa gente.<br />
É preciso l<strong>em</strong>brar nossa história, pois a m<strong>em</strong>ória é um campo privilegiado de disputa<br />
ideológica. A Utopia Socialista não é um discurso para os dias de festa. É uma questão a ser<br />
efetiva<strong>da</strong> desde o cotidiano – no trabalho de auto-organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, inclusive <strong>da</strong><br />
escola, e sab<strong>em</strong>os o quanto vale a pena esse esforço ca<strong>da</strong> vez que nos encontramos com o<br />
brilho do olho de um pequeno que, cúmplice, sabe que somos seu parceiro de caminha<strong>da</strong>.