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tiça, decorre dessa <strong>Paz</strong> que é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo diálogo entre o hom<strong>em</strong> e Deus e que exige,<br />
portanto, a oração e a consagração dos atos e <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s dos homens. A crise <strong>da</strong><br />
humani<strong>da</strong>de reside na não-graça do ódio, <strong>da</strong> inveja, <strong>da</strong> disputa, <strong>da</strong> cobiça, do desamor.<br />
O hom<strong>em</strong> é analfabeto do sentimento do amor. Uma educação para a <strong>Paz</strong> deve necessariamente<br />
poder despertar a humani<strong>da</strong>de e conduzi-la ao amor e à misericórdia de<br />
uns para com os outros, como Deus t<strong>em</strong> para com ela, tentando, mesmo <strong>em</strong> meio à sua<br />
fragili<strong>da</strong>de, retomar o sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o diálogo. Daí que se deve ter um cui<strong>da</strong>do com<br />
a banalização e per<strong>da</strong> de sentido de expressões como cultura de <strong>Paz</strong>, muito usa<strong>da</strong>s<br />
institucional e mercadologicamente, porém, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre tendo um real alcance, podendo<br />
cair na vulgari<strong>da</strong>de e na per<strong>da</strong> de sentido.<br />
Há, contudo, uma íntima ligação entre <strong>Paz</strong> e Justiça: “só se pode estabelecer uma<br />
<strong>Paz</strong> vital, ver<strong>da</strong>deira, entre socie<strong>da</strong>des internamente justas”. Ou seja, quando se<br />
instaura, segundo Buber, uma ver<strong>da</strong>deira vi<strong>da</strong> comunitária.<br />
A <strong>Paz</strong> exige o renascimento do diálogo, <strong>da</strong> relação Eu-Tu no coração dos homens,<br />
“requer o florescimento dessa dimensão, acima de tudo. É nela que se torna possível<br />
a ‘mu<strong>da</strong>nça dos corações’ pela qual passa necessariamente o caminho para <strong>Paz</strong>”. Essa<br />
mu<strong>da</strong>nça nos corações é também enfatiza<strong>da</strong> pela tradição cristã: “Eu vos deixo a <strong>Paz</strong>,<br />
eu vos dou a minha <strong>Paz</strong>. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração,<br />
n<strong>em</strong> se at<strong>em</strong>orize” (Jo 14:27).<br />
Do ponto de vista do cristianismo, <strong>em</strong> Jesus a mensag<strong>em</strong> de <strong>Paz</strong> é o el<strong>em</strong>ento<br />
central pelo qual se orienta Sua palavra. Paulo descreve Deus como o Deus de <strong>Paz</strong>, a<br />
mensag<strong>em</strong> cristã é chama<strong>da</strong> de o Evangelho <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>, e <strong>Paz</strong> é um dos frutos do Espírito<br />
de Deus. A visão cristã a esse respeito é de longo alcance e desafiadora: harmonia<br />
entre os seres humanos, entre estes e Deus e com to<strong>da</strong> a criação. A <strong>Paz</strong> está entre<br />
as b<strong>em</strong>-aventuranças proclama<strong>da</strong>s por Jesus: “B<strong>em</strong> aventurados os que promov<strong>em</strong><br />
a <strong>Paz</strong>, pois serão chamados de filhos de Deus” (Mr 5.9).<br />
Sendo um estado de tranquili<strong>da</strong>de entre pessoas - diferindo <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> social, a qual<br />
envolve justiça e a eliminação de guerras, de conflitos e de violência -, a <strong>Paz</strong> pessoal<br />
é assenta<strong>da</strong> na Cari<strong>da</strong>de. Esta orienta os homens para conter e renunciar a<br />
seus apetites, buscando o amor e Supr<strong>em</strong>o B<strong>em</strong> que é Deus. Não há <strong>Paz</strong> interior s<strong>em</strong> o<br />
direcionamento <strong>da</strong> pessoa para o b<strong>em</strong>. Mesmo sendo pessoal, a <strong>Paz</strong> atinge o próximo,<br />
envolve-o no sentido do amor e alcança, desse modo, a socie<strong>da</strong>de. Ela é, assim, pré-<br />
-requisito para a <strong>Paz</strong> social.<br />
Belém, Pará, fevereiro de 2012<br />
Kátia Mendonça<br />
1. Este texto é parte integrante de MENDONÇA, Kátia. Valores para a <strong>Paz</strong>. Belém: Paka Tatu,<br />
2011, no prelo.<br />
2. Vide RICOEUR, Paul. Percurso do reconhecimento. São Paulo: Loyola, 2006, p. 234.<br />
3. Vide AHLMARK, Per, et al. Imaginar a <strong>Paz</strong>. Unesco: Ed. Paulus, 2006, p. 139.<br />
4. Vide RICOEUR. Paul. Op. cit., 2006; vide também SANTANA. I. C. de. A resposta de Paul Ricoeur<br />
ao contratualismo hobbesiano e a impossibili<strong>da</strong>de de uma ética s<strong>em</strong> metafísica. Pensar – Revista<br />
Eletrônica <strong>da</strong> FAJE v.1, n.1, 2010.<br />
5. RICOEUR. Op. cit., 2006, p. 234.<br />
6. Ibid<strong>em</strong>, p. 235.<br />
7. Ibid<strong>em</strong>, p. 236.<br />
8. Vide PEACE. In: Christian Values for Schools. Disponível <strong>em</strong>: .<br />
Acesso <strong>em</strong> 25.06.2011<br />
9. DASCAL. M. A idéia de <strong>Paz</strong> na filosofia de Martin Buber apud BUBER, Martin. Op. cit., 1982, p. 25.<br />
10. Ibid<strong>em</strong>. grifos meus.<br />
11. CHRISTIAN VALUES... Op. cit.<br />
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