Estabelecimentos das Fazendas Nacionais do Piauí - Portal do Sertão

alguns momentos de crise. Da mesma forma, ocorrerá uma participação crescente da indústria de
alimentos ao longo do séc. XX, que já em 1920 chegará à marca de 40,2%, com destaque para o
congelamento de carnes. Toda esta “febre industrial”, porém, estava concentrada na Capital
Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul. Os demais Estados teriam uma participação muito
pequena em todo esse processo 114 .
Apesar desse quadro favorável de industrialização e dos grandes saltos que o setor de
laticínios dava no mundo, paradoxalmente, no Brasil, o processamento de leite ainda seria
bastante incipiente durante a maior parte do século XIX. Os relatos do rudimentar processo de
feitura e da total falta de higiene demonstram que, praticamente, não existia o produto que
atualmente designamos por manteiga. Capistrano de Abreu informa-nos que “[...] pouco valia a
manteiga, se merece este nome o esquisito produto guardado em botijas, que se aquecia para
extrair o conteúdo”. 115 Essa constatação é corroborada por vários cronistas dos anos 1800 , tais
como Jonh Mawe, que se assustavam diante da grosseira forma de fabricação da manteiga.
Somente nas últimas décadas do séc. XIX esse quadro mudaria, com a implantação do processo
de pasteurização do leite pelo Estado de Minas Gerais. O Piauí seria o sucessor, no qual se
integra a Fábrica de Laticínios do sítio Campos, tornando este Estado o segundo a possuir tal
modalidade de industrialização do leite 116 .
O início do funcionamento desta fábrica, mesmo com a especificidade de estar
incrustada no centro do sertão piauiense, caracterizar-se-ia pela sintonia com o que havia de mais
avançado na indústria mundial de laticínios. Para Sampaio, constituía-se em um empreendimento
à altura dos mais modernos contidos em outros países:
Aquele estabelecimento póde em tudo rivalisar com os primeiros congeneres do
estrangeiro, como sejam o de Cham, no cantão de Zug, na Suissa, onde fabrica-se o
leite condensado, vendido em nosso mercado; o de Ayles bury Dairy Company, na
Inglaterra; Samenmelkerij van Oostcamp, na Bélgica, etc., e muitos outros que visitei
em paizes europeus. 117
Essa observação também pode ser ilustrada pelas inúmeras histórias que ficaram
guardadas na memória da população acerca da epopéia que tornou possível o funcionamento da
Fábrica de Laticínios. As máquinas, trazidas da Suíça, teriam vindo em carros-de-boi do Porto de
Colônia, onde se localizava a Escola de São Pedro de Alcântara, até o sítio Campos, da fazenda
Castelo. Contam-se os milhares de bois que teriam morrido nesse trajeto de 240 km, vítimas do
gigantesco peso das máquinas:
114 PRADO JR., op. cit., p. 259-262.
115 ABREU, op. cit,. p. 235.
116 DIAS, João Castanho. 500 anos de leite no Brasil. São Paulo: Calandra Editorial, 2006. p. 91.
117 SAMPAIO, op. cit., p. 26.
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