Estabelecimentos das Fazendas Nacionais do Piauí - Portal do Sertão

italianas, certamente levando ao desespero aqueles que vieram pensando em trabalhar, mas
encontraram pela frente a morte, a dor e uma região semi-árida de difícil convivência. No calor
dos conflitos que se gestaram com a ação italiana, os moradores da Vila de Colônia – onde ficava
o Estabelecimento Rural – principalmente deputados, comerciantes e fazendeiros - saíram, em
nota, na defesa de Sampaio, alegando que a “... conducta sediciosa de alguns dos colonos” nada
mais era do que “... greve, tão comum na Europa e nos Estados do Sul do Brazil.” 124 . Já para o
delegado do governo italiano que acompanhava a formação do núcleo, tudo ocorrera em função
da inaptidão dos colonos para a agricultura e do caráter violento das famílias 125 .
Justificando-se para o presidente Prudente de Morais em uma carta que pedia
recursos para solucionar problemas acarretados pela seca na região, Sampaio informa que a União
despendeu cerca de 60 contos de réis “[...] com a introdução desta primeira colonização
estrangeira em terras nacionaes do Norte [...]” . Permaneceram na região pouco mais de 50
pessoas, as quais deixaram muitos descendentes que hoje se espalham por alguns municípios da
região central do Piauí, tais como Picos e Ipiranga.
Fig. 08: Trabalhadores negros da fábrica.
Nas janelas, possivelmente, italianos.
Fonte: Museu Ozildo Albano, Picos-PI
Apesar do não direcionamento desses colonos para trabalhos industriais, não
podemos negar a importância que pessoas vindas da Europa possuíram para a instalação da
Fábrica. O contrato já previa que o arrendatário era obrigado a “mandar vir da Europa, a
expensas suas, pessoal habilitado para o preparo dos produtos lacticínios” 126 , medida que foi
mantida pelas décadas posteriores, como consta no relato do seu José Mariano Filho, um ex-
124 Nota assinada pelos moradores da Vila de Colônia. 13/05/1896. Ver: SAMPAIO, op. cit., p. 59-60.
125 Depoimento do Dr. Giuseppe Reminolfi. 20/02/1896. Doc. nº 23. Ver: Id., Ibid., p. 52.
126 SAMPAIO, 1892. p. 09.
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