AS AVES DO AMBIENTE COSTEIRO DO BRASIL ... - Viva Marajó
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caracterizam-se pela ausência ou escassez de inimigos naturais. São áreas<br />
seguras e tranquilas, onde as aves podem dormir e alimentar-se com baixo<br />
nível de perturbação. Quando a presença do ser humano na área de<br />
condicionamento torna-se frequente, esta área perde sua funcionalidade para<br />
as aves, apesar da presença do alimento. A presença humana inclui todas as<br />
formas de recreação, turismo, tráfico terrestre e aéreo, ruídos, obras, pesca, e<br />
animais domésticos. Para a costa do Brasil não existem dados quantitativos<br />
sobre tal perturbação humana, e sobre os efeitos da mesma nas aves. A<br />
experiência geral é que nos trechos de praia na proximidade de cidades e<br />
balneários, as aves desaparecem quando o movimento de pessoas aumenta<br />
em períodos de férias e feriados (Vooren, com. pess.). Para os migrantes<br />
neárticos que fazem invernagem ou condicionamento na costa do Brasil, a<br />
presença humana deve ser mantida em nível reduzido sobre trechos da costa<br />
com extensão suficiente para o sustento das populações destas aves.<br />
No ano de 1982, a população total mundial de Calidris canutus rufa era<br />
em torno de 200 000 aves, e deste total, 150 000 aves invernaram na costa da<br />
Patagônia (Harrington, 1982). Infere-se que a costa do Rio Grande do Sul é<br />
área de condicionamento destas 150 000 aves. Nesta costa, existem dois<br />
trechos de praia com status de área de conservação, a saber 35 km de praia<br />
do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, e 18 km de praia da Estação Ecológica<br />
do Taim, totalizando-se 53 km de praia protegida dentro da extensão de 640<br />
km de praia que é a costa como um todo. Grandes números de Calidris<br />
canutus rufa ocorrem habitualmente na praia da Lagoa do Peixe, por exemplo,<br />
11 000 aves no dia 29 de abril de 1984 (Harrington et al., 1986). Isto pode dar a<br />
impressão de que com a conservação dos 35 km de praia da Lagoa do Peixe, a<br />
área de condicionamento de Calidris canutus rufa no sul do Brasil é garantida.<br />
Porém, não há evidência de que este pequeno trecho de praia sustenta, ou é<br />
capaz de sustentar, o condicionamento de todos os 150 000 rufa que passam<br />
pela costa sul do país no mês de abril. Na Praia do Cassino, 120 km ao sul da<br />
Lagoa do Peixe, as aves ocorrem também em grandes números no mês de<br />
abril, e realizam ali também seu condicionamento, ou seja, a muda pré-nupcial<br />
e o acúmulo de gordura. Vooren & Chiaradia (1990) demonstraram isto e<br />
registram no mês de abril do ano de 1983, num trecho de 60 km desta praia,<br />
580 aves no dia 11, 8900 no dia 17, e 590 no dia 26. No dia 17, as aves<br />
ocorreram com densidade média de um indivíduo por 6,7 m de extensão de<br />
praia, alimentando-se exclusivamente numa faia estreita da zona de varrido.<br />
Alimentação intensa com tal densidade populacional deve causar considerável<br />
impacto sobre os recursos alimentares em pouco tempo. Isto implica em que as<br />
aves devem deslocar-se constantemente, colhendo e esgotando o alimento a<br />
medida que avançam pelo habitat. Evidência a favor desta hipótese é a grande<br />
variação temporal supracitada da abundância das aves na Praia do Cassino no<br />
mês de abril do ano de 1983, da ordem de milhares de aves em poucos dias.<br />
Isto leva à conclusão de que para a população de rufa que faz invernagem na<br />
Argentina, não somente a praia da Lagoa do Peixe, mas a costa do Rio Grande<br />
do Sul como um todo é a área de condicionamento no mês de abril. Isto tem<br />
consequências para o manejo ambiental desta costa, e da costa do Brasil em<br />
geral. As populações das aves costeiras neárticas que utilizam a costa do país<br />
para invernagem e acondicionamento são grandes, da ordem de centenas de<br />
milhares de indivíduos, e os tamanhos das áreas de conservação devem<br />
corresponder com isto. Tais áreas devem abranger trechos da costa com<br />
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