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Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 12<br />

estabelecida a partir do motim do ICM; sobre a dificuldade de obtenção de recursos financeiros<br />

para treinamento adequado de pessoal; sobre a inadequação arquitetônica das Casas onde os<br />

adolescentes cumprem medida de privação de liberdade, entre outros.<br />

Solicitou que, emergencialmente, fossem abertas as celas de “isolamento” do<br />

IJM, permitindo aos meninos “isolados” que, pelo menos, pudessem ficar ocupando<br />

a área do “cofre”, todos juntos, com seus colchões, tênis e livre acesso ao<br />

banheiro. Solicitou, também, que no IPF fossem liberadas as visitas e que o<br />

acesso ao pátio fosse mais freqüente e livre, não tendo os meninos que<br />

permanecer cabisbaixos, calados e imóveis.<br />

A presidente da Febem comprometeu-se a examinar a possibilidade de implementar as<br />

medidas propostas após consultar a diretoria de cada Casa. Foi explanado o plano de<br />

reutilização do ICM, bem como as reformas em andamento em outros espaços para uso dos<br />

meninos com privação de liberdade o que resolveria, em parte, os problemas mais agudos de<br />

superlotação.<br />

"Após a conversa com a presidente da Febem, voltamos ao IJM para visitar os adolescentes<br />

“isolados” que haviam nos passado os nomes dos monitores que promoveram os<br />

espancamentos. O objetivo da visita foi a certificação de que não haviam sofrido nenhuma<br />

represália. Apenas uma diferença foi identificada em relação à realidade da visita anterior: havia<br />

mais um menino no “isolamento”, sendo, agora, quatro em uma das celas individuais.<br />

Após conversarmos novamente com os jovens, estes solicitaram permissão para utilizar o<br />

banheiro. Enquanto faziam isto, perguntamos ao representante da direção do IJM e aos<br />

monitores presentes no “cofre” - uns quatro ou cinco - sobre a possibilidade de abrir as celas. Foi<br />

verificado que a mesma segurança nas janelas das celas (grades duplas, por dentro e por fora)<br />

apresentava-se na janela do banheiro. E que a porta do “cofre”, que dá acesso ao corredor, é tão<br />

bem fechada quanto as das celas, composta por três ferrolhos de ferro, cada uma, com grandes<br />

cadeados. Foi constatado, também, em conversa com os adolescentes que lá se encontravam,<br />

que não havia problemas entre eles que justificassem sua separação em três celas pequenas”.<br />

Em 19 de dezembro de <strong>1995</strong>, a CCDH oficiou o Juizado da Infância e da Juventude (JIJ),<br />

informando sobre as denúncias de espancamento, nomes e apelidos dos acusados, e sobre a<br />

realidade observada das condições de vida dos adolescentes internos na FEBEM.<br />

Em janeiro de 1996, o JIJ oficiou a CCDH informando que as denúncias foram remetidas ao<br />

governador do Estado, ao corregedor geral de justiça, à Coordenadoria das Promotorias<br />

Criminais e à Coordenadoria das Promotorias Cíveis, para exame e providências.<br />

Resta-nos a pergunta: onde está a prioridade absoluta?<br />

Adolescente foragido reapresenta-se e é espancado por monitores na<br />

Febem<br />

Ainda no que diz respeito à Febem e ao acompanhamento da CCDH de violações<br />

cometidas, parece-nos bastante ilustrativo o que sucedeu ao jovem J.L.B. que demonstra, de<br />

forma incontrastável, o sentido verdadeiramente operante de instituições como a Febem e a<br />

reprodução sistêmica de mecanismos de exclusão a partir do próprio aparelho de Estado.<br />

A CCDH foi procurada pela mãe de J.L.B, sra. M.L.L.B., em 15 de maio de <strong>1995</strong>, para<br />

relatar o fato de que este havia sido espancado por monitores no IJM, na madrugada do dia 8 de<br />

maio, no interior do estabelecimento.<br />

O jovem havia recebido uma medida sócio-educativa em outubro de 1993, a ser cumprida<br />

no IJM. Lá permaneceu por sete meses, até maio de 1994, quando ocorreu uma fuga coletiva da<br />

qual participou. J.L.B., então, trabalhou num estabelecimento comercial durante um ano, sem<br />

apresentar qualquer problema de conduta, vindo a se apresentar ao Juiz competente, em função<br />

da grande insistência de sua mãe para que ele regularizasse sua situação jurídica. Tal<br />

apresentação, entretanto, teve como única decorrência sua volta à Febem, para onde foi<br />

encaminhado no dia 05 de maio, uma sexta-feira. O jovem recebeu a visita de sua mãe no<br />

domingo. Na madrugada de segunda-feira, quando estavam de plantão os mesmos monitores do<br />

dia em que J.L.B. havia conseguido fugir, foi chamado por um deles e levado para uma sala em

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