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Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 8<br />

Ângelo, que condenaram o Estado do RS ao cumprimento de sua obrigação de fazer constar no<br />

orçamento verba suficiente para criar, instalar e manter em funcionamento programas de<br />

internação e semi-liberdade para adolescentes infratores, conforme os artigos 94 e 124 do ECA.<br />

Os valores destinados pela proposta orçamentária do governo referentes ao exercício de 1996<br />

para a construção das Casas de Abrigo são, entretanto, irrisórios. Permitirão, tão somente, a<br />

construção de três Casas, sendo uma em Porto Alegre. Tudo leva a crer, então, que as crianças<br />

e adolescentes autores de ato infracional continuarão sendo penalizados, ao invés de<br />

recuperados, com o afastamento do convívio possível com suas famílias e comunidades, sendo<br />

“empilhados” em Porto Alegre, em Casas que foram construídas para reproduzir, mesmo em<br />

seus detalhes mais repugnantes, a estrutura dos presídios.<br />

A Febem não cumpre a lei<br />

A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) da AL/RS tem tentado<br />

acompanhar de perto todos os esforços para a efetiva implantação do ECA no Estado. Durante o<br />

ano de <strong>1995</strong>, realizamos duas audiências públicas específicas para tratar do tema, em 7 de<br />

junho e 11 de outubro, e uma audiência pública onde se abordou a Campanha Nacional Contra a<br />

Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 13 de dezembro. Além disso, a comissão<br />

tem visitado regularmente várias unidades da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor<br />

(Febem), como em março de <strong>1995</strong> com a deputada Maria Augusta Feldman (PSB), ou como em<br />

maio de <strong>1995</strong> e em duas oportunidades em dezembro do mesmo ano, com o deputado <strong>Marcos</strong><br />

<strong>Rolim</strong> (PT).<br />

O que se pode perceber é que há uma realidade brutal que permanece inalterada no RS,<br />

em que pese as declarações de boas intenções dos governantes e mesmo o esforço já realizado<br />

por inúmeros profissionais efetivamente comprometidos com as mudanças que se impõem.<br />

Particularmente no que diz respeito à Febem, o ano de <strong>1995</strong> foi pouco alvissareiro. Ocorreram<br />

vários motins, rebeliões e fugas no “complexo penitenciário” para crianças e adolescentes, que<br />

permanece intacto. Em cada uma daquelas crises agudas tornou-se evidente a ocorrência de<br />

violações absurdas aos direitos dos jovens, incluindo-se a prática reiterada de espancamentos,<br />

castigos cruéis e humilhantes, e supressão arbitrária de direitos elementares.<br />

Em 6 de março de <strong>1995</strong>, um dia após o motim desencadeado no Instituto Juvenil Masculino<br />

(IJC) da Febem, a dep. Maria Augusta Feldman (PSB), membro da CCDH, esteve visitando<br />

aquele estabelecimento, tendo apresentado o seguinte relatório:<br />

“Verificamos, quanto ao local, que:<br />

1. Ala 01 intacta, pois foram os adolescentes desse setor que deram início ao motim;<br />

2. as demais alas (dormitórios), bem como o gabinete dentário, sala de arquivos e registros<br />

estavam em processo de limpeza e organização, após terem sido destruídas na noite anterior;<br />

3. enfermaria: este setor, separado do resto da "Casa" por porta tipo grades de ferro com<br />

cadeado, apresenta uma sala ampla, tipo “hall” com armários onde desembocam duas a três<br />

celas (tipo isolamento para uma pessoa) com portas gradeadas e fechadas a cadeado, um<br />

elevado de alvenaria em cada cela onde deveria existir um colchão (mas estava apenas o<br />

cimento puro);<br />

4. as instalações sanitárias encontravam-se em péssimo estado, goteiras pelo derrame de<br />

água sobre o teto, corredores e alas sem energia elétrica.<br />

As crianças e adolescentes estavam em grande maioria no pátio, para onde nos dirigimos<br />

ao final da visita ao prédio, para com ela nos comunicarmos.<br />

Já tínhamos, anteriormente, ouvido os funcionários da Casa. Esses fizeram um relato<br />

sucinto de como ocorreram os fatos. Em contradição ao que informou a direção da entidade, eles<br />

confirmaram a entrada do Pelotão de Choque da Brigada Militar, armado.<br />

Quanto às crianças (em número de, aproximadamente, 90 a 100) , essas levantaram uma<br />

série de acusações sobre a violência com que foram abordadas durante o motim. Algumas<br />

indicavam equimoses pelo corpo, dentes quebrados, cortes na cabeça, relatando a ocorrência de<br />

tiros desferidos por policiais. Além disso, queixaram-se sobre a alimentação deteriorada e outros

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