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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 42<br />
M. era empregada doméstica e chegou a participar da pastoral comunitária da cidade.<br />
Fugindo de S.B., estava abrigada e trabalhando na região portuária, ponto de meretrício. Ali<br />
sentia-se segura e acreditava estar a salvo.<br />
Em 27 de setembro, por volta das 19 horas, foi atraída pela sogra, quando fazia compras,<br />
próxima a sua residência, em Rio Grande, quando foi espancada por S.B. até cair. Ela estava<br />
grávida de oito meses. Desmaiada, continuou a apanhar do ex-marido, que saltou sobre sua<br />
barriga, pulou em sua cabeça, batendo-a no cordão da calçada. S.B. só parou pela interferência<br />
de um motoqueiro que socorreu M. Devido às agressões, M. ficou oito dias internada na Santa<br />
Casa. O seu olho direito saiu do lugar e teve que ser recolocado. A ossatura da face foi<br />
esmagada.<br />
Em 6 de outubro, foi realizada uma manifestação de mulheres em frente ao Fórum,<br />
reivindicando a permanência da prisão de S.B. como forma de garantia da integridade física de<br />
M.M. Cerca de 30 mulheres foram atendidas pelo juiz da 1ª Vara e pelo promotor substituto.<br />
Segundo informações prestadas pelo delegado de Polícia da 7ª RP - Centro de Operações -<br />
, a partir de solicitação da CCDH, o Posto da Mulher de Rio Grande conta com apenas duas<br />
escrivãs para atender a uma média mensal de 120 ocorrências. A delegacia também não tem<br />
estrutura para atender a esta demanda, possui três viaturas velhas que estragam diariamente.<br />
Prostituição: entre a profissionalização e o delito, a<br />
sobrevivência do dia a dia<br />
A legislação brasileira não penaliza aqueles que se prostituem. No entanto, o Código Penal<br />
Brasileiro tipifica os crimes de lenocínio e lascívia (art. 227 a 230), tornando-se crime a indução,<br />
o convencimento ou o impedimento de alguém sair da prostituição.<br />
No “<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong>” de 1994, apresentamos uma série de denúncias sobre a exploração<br />
sexual de crianças e adolescentes, casos de abusos de autoridade contra profissionais do sexo<br />
e assassinatos cometidos por clientes. Em <strong>1995</strong>, por pressão de entidades internacionais, foi<br />
lançada a “Campanha Nacional Contra a Exploração Infanto-Juvenil”, com o apoio de diversas<br />
ONGs, governo federal e governos estaduais. Denúncias de prostituição de crianças de até cinco<br />
anos e o turismo sexual, apuradas por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPIs) e pelo<br />
movimento de mulheres e organizações de defesa dos direitos de crianças e adolescentes,<br />
fazem com que o Estado tenha que tomar posição. Na maioria das vezes, as iniciativas são de<br />
repressão policial. Ainda não temos elaboradas e implementadas políticas públicas que tratem o<br />
problema com a abrangência que ele requer.<br />
Em Porto Alegre, o Grupo de Apoio a Prevenção da AIDS (GAPA/RS) tem sido o porta-voz<br />
de denúncias de abuso de autoridade por determinados agentes do Estado, principalmente<br />
funcionários da Brigada Militar, contra profissionais do sexo. Nos primeiros dias de janeiro, a<br />
CCDH recebeu um conjunto de denúncias formuladas por mulheres e travestis, que, entretanto,<br />
não registraram ocorrência policial por temerem represálias dos agentes das agressões.<br />
No centro de Porto Alegre, na avenida Farrapos, diversas ações ameaçaram as mulheres e<br />
as impediram de trabalhar. Nas proximidades da avenida São João, determinado policial militar,<br />
conhecido pela costumeira violência, dirigiu operações que resultaram na violência física contra<br />
as mulheres e na destruição de seus documentos.<br />
Na semana de 9 a 13 de janeiro, por volta das 20h30min, as mulheres que se prostituem na<br />
Praça da Alfândega disseram ter sido vítimas de operações violentas por parte de funcionários<br />
da Brigada Militar. Algumas mulheres teriam sido recolhidas para o Cais do Porto e obrigadas a<br />
ficar nuas e em posições incômodas com o argumento de que teriam drogas. Depois de muitos<br />
gritos e ameaças, ao amanhecer foram liberadas com a explícita recomendação para que não<br />
denunciassem, se não teriam mais violência.<br />
A CCDH, através da sua presidência, encaminhou este conjunto de denúncias ao Comando-<br />
Geral da Brigada Militar, solicitando informações sobre a veracidade dos fatos e providências, e<br />
ao Ministério Público. Até o momento da elaboração deste relatório, não obtivemos desses<br />
órgãos nenhuma informação.