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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 36<br />
As vítimas do esforço repetitivo<br />
As mulheres são as mais atingidas pela doença ocupacional conhecida por Lesão por<br />
Esforço Repetitivo (LER). É a doença que mais cresce em empresas e indústrias. As mulheres<br />
são mais atingidas porque além das funções profissionais, acumulam atividades domésticas que<br />
também exigem esforços repetitivos.<br />
Pesquisa realizada em Belo Horizonte (MG) revela que as categorias mais atingidas são<br />
digitadores, caixas de bancos, auxiliares de escritórios, escriturários, telefonistas, operários de<br />
linha de montagem, além de trabalhadores que usam muito o computador e outros<br />
equipamentos de esforço repetitivo. A idade dos atingidos varia entre 20 e 29 anos (30,8%), 30 e<br />
39 anos (43,8%) e 40 e 49 anos (21,2%). Dos profissionais afastados pela doença, 72% são<br />
mulheres. A categoria dos bancários, em sua maioria mulheres, apresenta 34% dos casos de<br />
LER (Zero Hora, 28/08/95, p. 48).<br />
Aborto<br />
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicados no Jornal do Brasil (31/01/95,<br />
p.8), revelam que, a cada ano, 20 milhões de mulheres interrompem uma gravidez indesejada.<br />
Cerca de 70 mil morrem devido às complicações advindas da intervenção. Cerca de 500 mil<br />
mulheres morrem durante a gravidez ou no parto, 99% dessas mortes em países em<br />
desenvolvimento. A cada ano, dois milhões de adolescentes são submetidas a mutilações<br />
sexuais, representando seis mil casos por dia, cinco por minuto. Dois terços da morbidade<br />
feminina está relacionado a problemas de saúde reprodutiva.<br />
As diferentes posições a respeito da prática do aborto continuaram a mobilizar debates e<br />
atitudes. Apesar da posição brasileira na "IV Conferência da Mulher" da ONU, no Congresso<br />
Nacional foi apresentada a proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 25/95 estabelecendo a<br />
inviolabilidade do direito à vida, desde a sua concepção. Na prática, significava a perda do direito<br />
ao aborto previsto na legislação do país desde 1940, pelo Código Penal. No Brasil, o aborto<br />
pode ser realizado nos casos de estupro e risco de vida da mãe.<br />
A proposta mobilizou entidades de defesa dos direitos das mulheres e direitos humanos e<br />
provocou debates acalorados na Câmara dos Deputados. A campanha contra a emenda<br />
defendia “a vida das mulheres” e “nenhum direito a menos”. Em Porto Alegre, no dia 27 de<br />
novembro, na Assembléia Legislativa, houve um debate com lideranças feministas e<br />
parlamentares para definir estratégias de atuação para garantir os direitos já adquiridos. A PEC<br />
nº 25/95 foi arquivada.<br />
O Vaticano condenou a freira e teóloga brasileira Ivone Gebara, 50 anos, por ter defendido,<br />
em uma entrevista publicada em 1993, pela revista Veja, a descriminalização e a legalização do<br />
aborto. Ela disse que passou a ter esta posição depois de conviver com mulheres pobres da<br />
periferia de Recife. "Ela deverá ficar dois anos na Europa estudando teologia e não podendo<br />
manifestar-se publicamente" (Folha de São Paulo, 20/07/95, p.3-4).<br />
A violência nossa de cada dia<br />
A ONU divulgou diversas pesquisas sobre a situação das mulheres em todo planeta.<br />
Segundo a jurista Radhika Coomaraswamy, do Sri Lanka, autora de um destes trabalhos, a<br />
omissão dos governos para com a gravidade dos crimes cometidos contra as mulheres faz com<br />
que a violência fique impune e prolifere. As mutilações sexuais chegam a atingir cerca de 100<br />
milhões de mulheres na África e no Oriente Médio. O estudo analisa também o estupro como<br />
crime de guerra e contra refugiadas, citando os exemplos da Bósnia e Cachimira.<br />
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência contra a Mulher, instalada pela<br />
Câmara Federal, em 1993, revelou que 50% dos casos de estupro ocorrem dentro da família. As<br />
donas-de-casa são 88,8% das vítimas de violência recenseadas pela CPI. Em 1994, existiam<br />
apenas quatro albergues para as mulheres vítimas da violência em todo país, um deles, em<br />
Porto Alegre. O governo do Brasil reconhece que a violência social e doméstica, física e sexual,<br />
é um dado presente no cotidiano feminino em nosso país.