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Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 44<br />

homossexuais e prostitutas) a identificação de seus ‘clientes’, quer pelas placas de seus<br />

automóveis, quer pelo nome próprio, buscando-se, a depois, a ressonância junto aos meios<br />

locais de comunicação social, aos efeitos de ampla divulgação dos mesmos.” Esquece o<br />

promotor de Justiça o preceito constitucional de que “são invioláveis a intimidade, a vida privada,<br />

a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou<br />

moral decorrente de sua violação” (CF, Art. 5 o , inciso X).<br />

No mesmo dia, por volta das 23 horas, foram presos 13 travestis acusados de formação de<br />

bando ou quadrilha, crime inafiançável, e recolhidos ao Presídio Central de Porto Alegre. Dez<br />

dias depois, em 24 de novembro, outra “blitz” prendeu oito prostitutas e dois “rufiões” por<br />

“corrupção de menores, vadiagem, rufianismo, etc.”<br />

Entidades de defesa da cidadania fizeram a denúncia do que consideraram abuso das<br />

autoridades locais. A CCDH pautou este debate em audiência pública, em 13 de dezembro. Com<br />

base nos Inquéritos Policiais, cópias fornecidas pela Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, a<br />

Comissão Parlamentar enviou seu posicionamento para o promotor, juiz e autoridades policiais<br />

encarregadas. Nas correspondências ficou registrado o parecer da CCDH de que no “auto de<br />

prisão” fica evidente o “elevado grau de preconceito que animou a autoridade policial no<br />

cumprimento de seu dever, além de claras inobservâncias de direitos mínimos assegurados<br />

tanto constitucionalmente como pelo ordenamento jurídico ordinário”.<br />

A conclusão a que chegou a CCDH, expressa através de ofício da presidência, é que<br />

“inexistiu a prática de qualquer ilícito justificado do flagrante. Temos, tão-só, (a) a constatação de<br />

que são contumazes a fazer barulho, mas não há a verificação de que estariam a fazer barulho<br />

naquele momento(...); (d) que só havia comentários de moradores anônimos de que “se reúnem<br />

para a prática de outros delitos”, mas, no momento do ‘flagrante’, ninguém cometia “outros”<br />

delitos; (e) que apesar de tal operação já ter sido realizada antes, não foi localizado tóxico entre<br />

eles.” Assim, segue o documento, o ‘flagrante’ "se constitui em justificativa para abrigar a<br />

arbitrariedade montada sobre o preconceito, pois não há descrição de uma única figura típica<br />

com previsão no Código Penal.”<br />

No caso das prostitutas, presas em 24 de dezembro, uma adolescente foi detida sob a<br />

acusação de “corrupção de menores”. Como pode ela ser corruptora, se menor de idade? Foram<br />

identificados dois homens como exploradores das mulheres. Fica a pergunta: se as mulheres<br />

são exploradas pelos rufiões, por que foram presas? O Código Penal criminaliza o rufianismo,<br />

não a prostituição.<br />

De todo episódio fica a constatação da intolerância e do preconceito. As “blitz” - que<br />

mobilizaram viaturas da BM, microônibus, motocicletas - não localizaram os estelionatários, nem<br />

os pequenos traficantes, nem os "batedores de carteiras", estes sim autores de delitos contra a<br />

coletividade, voltaram-se contra os profissionais do sexo que tiveram que arcar com dívidas para<br />

poder readquirir a liberdade.<br />

Mulheres raptadas no Espírito Santo chegam a Rio Grande<br />

Em 30 de maio, oito mulheres, duas menores de idade, foram libertadas de um navio<br />

romeno. Elas ficaram 28 dias em cárcere privado. Em 3 de maio, elas embarcaram no navio para<br />

fazer programas com os marinheiros. Foram vitimadas por espancamentos, pela fome e pelo frio.<br />

Todas apresentavam hematomas e marcas de violência. Duas afirmaram ter abortado em altomar<br />

em função dos maus tratos. O próprio comandante teria contratado o serviço para os 29<br />

tripulantes. Três dias depois de terem subido a bordo foram liberadas, mas sem o dinheiro<br />

combinado. Negaram-se a descer e foram levadas para o sul. O navio ia para a Argentina. A<br />

Justiça Federal pediu a prisão provisória do comandante da embarcação (Zero Hora, 02/06/95,<br />

p.64).<br />

Assédio sexual<br />

Em <strong>1995</strong>, intensificaram-se os debates sobre o assédio sexual nos locais de trabalho. A<br />

utilização do poder e da hierarquia profissional para obtenção de favores sexuais foi largamente<br />

discutida. Grandes empresas, principalmente nos EUA, foram sacudidas por indenizações

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