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<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 20<br />
dia não faltará quem justifique a punição de nasciturnos, especialmente se forem filhos de<br />
pobres...".<br />
Tem trocadinho?<br />
A CCDH recebeu relatório do perfil dos meninos e meninas pedintes nas<br />
sinaleiras de Porto Alegre, realizado pela Fundação de Edu-<br />
cação Social e Comunitária (FESC) da Prefeitura de Porto Alegre, em <strong>1995</strong>.<br />
O documento expõe a situação vivida por 158 meninos e meninas que atuam<br />
pedindo dinheiro em 32 sinaleiras da capital. Pelo estudo, sabe-se que a grande<br />
maioria deles é do sexo masculino (75,9%), entre oito e 12 anos de idade (65,8%) .<br />
As meninas, em menor número, vão para a sinaleira mais cedo, a partir dos cinco<br />
anos, aproximadamente. Mais da metade das crianças freqüenta a escola, mas<br />
poucas atingem a quinta série. Os meninos freqüentam mais a escola mas, por<br />
outro lado, as meninas permanecem mais tempo alcançando séries mais<br />
avançadas.<br />
O turno da tarde é mais concorrido pelos pequenos pedintes, embora muitos<br />
permaneçam o dia inteiro, para ganhar o equivalente, em média, a pouco mais do<br />
que um dia de trabalho remunerado pelo salário mínimo (pouco mais de 3,30 reais<br />
em <strong>1995</strong>).<br />
A atividade na sinaleira é, assim, uma importante fonte de renda para a<br />
família. A grande maioria dos meninos e meninas, aliás, mantém vínculo familiar<br />
(98,7%), pertencendo a famílias extensas, de seis membros ou mais (74,8%). A<br />
maior parte dessas famílias têm mais de um filho nas sinaleiras. Geralmente, o pai<br />
ou o padrasto é o principal mantenedor, seguido da mãe, todos com profissão<br />
declarada, sendo a maioria no setor informal do mercado de trabalho. Os pais têm<br />
um nível muito baixo de escolaridade, sendo que o analfabetismo atinge 17% do<br />
total pesquisado.<br />
A extensão das famílias e a baixa remuneração expressa uma renda per capita<br />
de meio salário mínimo. Vivendo em condições precárias, em áreas ocupadas, sem<br />
instalações sanitárias e sem água potável (20,9%), essas crianças apresentam<br />
muitos problemas de saúde: doenças respiratórias, doenças de pele, problemas<br />
dentários, entre outros.<br />
A pesquisa da FESC subsidiou propostas de parceria entre o Poder Público e a<br />
iniciativa privada, como convênio entre a Prefeitura de Porto Alegre e a<br />
Distribuidora de Petróleo Ipiranga, que financiará bolsas-auxílio de permanência na<br />
escola no Projeto Sinal Verde, que prevê a reintegração social das crianças que<br />
mendigam. Outro programa de parceria, em prol da infância e da juventude, que<br />
merece destaque, foi firmado entre a Prefeitura de Porto Alegre , a Shell do Brasil<br />
e o Grupo Gerdau, com o apoio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e<br />
do Adolescente, da Capital. Este projeto viabilizou a Casa da Acolhida, que abriga<br />
crianças vítimas de maus tratos.<br />
Trabalho infantil<br />
O Ministério do Trabalho, através da Delegacia Regional do Trabalho neste<br />
Estado, está propondo o Programa de Ações Integradas (PAI) para eliminação do<br />
trabalho infantil, buscando sensibilizar instituições, lideranças e sociedade civil<br />
para ações articuladas com o Poder Público em busca da erradicação dessa forma<br />
de exploração e violação do direito à infância.<br />
O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Porto<br />
Alegre e a Comissão Especial dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem<br />
dos Advogados do Brasil (OAB/RS), o Amencar, o Cedica, e várias outras<br />
instituições prioritariamente voltadas às crianças e adolescentes têm estado