18.04.2013 Views

Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

Relatório Azul 1995 - Marcos Rolim

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Relatório</strong> <strong>Azul</strong> <strong>1995</strong> Página 14<br />

A partir dessa definição, a Comissão Especial analisou os casos de 149 homicídios de<br />

crianças e adolescentes no RS ocorridos entre 1991 e 1993, dos quais considerou 15 como<br />

sendo de situação de extermínio.<br />

A Comissão do Cedica examinou variáveis criminológicas desses casos e concluiu que o<br />

agressor típico é do sexo masculino (100% dos casos), com idade média de 26 anos,<br />

predominantemente branco (77,7% dos casos), pobre (100% dos casos), com registro de história<br />

de vida como autor ou vítima de problemas de comportamento social (54% dos casos).<br />

Quanto às vítimas, eram todas do sexo masculino, entre 13 e 18 anos, predominantemente<br />

brancos (69,23%) e sempre pobres. A maioria das vítimas (72,7%) não havia sido autora ou<br />

vítima de situações comumente chamadas de “desvio de conduta”. Mais da metade dos casos<br />

ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre, onde se concentram 33% da população<br />

gaúcha. Predominaram casos de extermínio durante o inverno, sendo que 75% dos casos<br />

ocorreram nas noites ou madrugadas dos finais de semana, em locais isolados ou pouco<br />

freqüentados. 75% dos extermínios foram cometidos por mais de um autor contra uma só vítima,<br />

estando ou não presentes outras pessoas na situação do crime. A maioria dos agressores e<br />

vítimas se conheciam previamente, embora não tenha sido relatada situação de parentesco. Em<br />

pouco mais da metade dos casos, houve algum tipo de ingestão tóxica por parte dos envolvidos,<br />

sendo o álcool a droga preferida em 83% dos casos constatados. As armas de fogo foram as<br />

mais utilizadas, isoladamente ou em combinação com outras. Por motivos de extermínio<br />

verificaram-se, predominantemente, atos de vingança entre grupos rivais (40%) ou represálias a<br />

atos lesivos ao patrimônio (26,6%).<br />

Esses dados permitiram à Comissão do Cedica chegar a algumas conclusões:<br />

"Há extermínio de crianças e adolescentes no RS, o que corresponde a uma média de 10%<br />

do total de mortes violentas nesta faixa etária. Não há indícios, entretanto, de grupos de<br />

extermínio de ação sistemática, uma vez que os casos revelam ações isoladas.<br />

O Estado, em geral, não tem sido omisso, embora muito lerdo, na apuração dos crimes e<br />

punição dos culpados. O extermínio em si, entretanto, tem nítida relação com a ineficácia do<br />

Estado em promover a segurança em nível preventivo e mesmo no combate à criminalidade. O<br />

extermínio, embora grave, é apenas uma das formas de violência sofridas pelas crianças e<br />

adolescentes no RS. O uso indiscriminado de armas de fogo por crianças e adolescentes é um<br />

fato alarmante que exige providências urgentes por parte do Poder Público. A desarticulação e a<br />

incapacidade das organizações encarregadas, constitucionalmente, da segurança pública, dá<br />

margem à produção de propostas alternativas e ilegais de combate ao crime, especialmente<br />

violentas".<br />

A Comissão Especial do Cedica encaminhou seu estudo ao Ministério Público (MP), ao<br />

Poder Judiciário e à CCDH da AL/RS.<br />

A CCDH ocupou-se em contribuir para pressionar a agilização das investigações sobre duas<br />

mortes violentas, ainda pendentes na data da publicação do relatório, com suspeita de serem<br />

outros casos de extermínio. As vítimas foram:<br />

- J.P.D.M., morto em São Leopoldo (RS), em 15 de setembro de 1992. A CCDH buscou<br />

informações junto ao MP e nas duas Delegacias de Polícia (DP) de São Leopoldo. Segundo o<br />

relatório do Cedica, a elucidação deste crime carecia da própria abertura de Inquérito Policial,<br />

inexistente devido à falta de registro da morte do adolescente. Em novembro de <strong>1995</strong>, a CCDH<br />

recebeu resposta do MP informando que o Inquérito Policial sobre o caso encontrava-se em fase<br />

de conclusão, tramitando junto a primeira DP de São Leopoldo.<br />

- P.F.T.S., morto em Cachoeirinha (RS), em março de 1992. A CCDH solicitou informações<br />

junto ao MP e à Polícia Civil da cidade e ficou sabendo que o atraso excessivo da autoridade<br />

policial, no início da realização das investigações, foi objeto de requisição de medidas pelo MP<br />

para apuração junto à Primeira Divisão do Departamento de Polícia Metropolitana - Corregedoria<br />

da Polícia Civil - em Alvorada, o que resultou na instalação de inquérito naquele órgão policial. A<br />

conclusão do inquérito sobre a morte do menino, remetido à Justiça em 1º de novembro de<br />

1994, sob o número 785/94, foi que a vítima teria saído de casa na noite do fato a fim de furtar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!