19.04.2013 Views

A mensagem de Eclesiastes - Derek Kidner.pdf - Webnode

A mensagem de Eclesiastes - Derek Kidner.pdf - Webnode

A mensagem de Eclesiastes - Derek Kidner.pdf - Webnode

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

29 Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas<br />

astúcias.<br />

A admissão honesta <strong>de</strong> fracasso na busca da sabedoria (na verda<strong>de</strong>, quando a observamos,<br />

recuamos a cada passo, ao percebermos que nenhuma <strong>de</strong> nossas sondagens chega até o fundo<br />

das coisas) é, se não co começo da sabedoria, pelo menos um passo na direção do começo.<br />

Depois da ambiciosa busca do capítulo 2, a investigação passa agora a áreas menos exóticas,<br />

mergulhando na experiência comum e fazendo pausas <strong>de</strong> vez em quando para ver o que se po<strong>de</strong><br />

fazer da vida no dia-a-dia, sejam quais forem finalmente os seus segredos. Neste nível, as<br />

<strong>de</strong>scobertas talvez tenham sido bastante sagazes, até sagazes <strong>de</strong>mais. Mas tendo dito tudo isto<br />

experimentei-o (v.23), em busca <strong>de</strong> uma resposta à pergunta “o que é a vida?”, elas não <strong>de</strong>ram<br />

nem sobra <strong>de</strong> resposta.<br />

Portanto a confissão <strong>de</strong> 7:23 tem uma finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vastadora. Po<strong>de</strong>ria ser o epitáfio <strong>de</strong><br />

qualquer filósofo, e nós po<strong>de</strong>ríamos dispô-la nesta forma, a<strong>de</strong>quada para qualquer sepultura:<br />

“Eu disse:<br />

tornar-me-ei sábio,<br />

mas a sabedoria estava longe <strong>de</strong> mim.<br />

O que está longe e mui profundo,<br />

quem o achará?”<br />

Como qualquer pergunta sem resposta, este quebra-cabeças acerca da vida tinha sido um<br />

estímulo no princípio. A série <strong>de</strong> verbos, conhecer... investigar... buscar (v.25), transmite a<br />

sincerida<strong>de</strong> da busca, como Edgar Jones <strong>de</strong>staca. 67 Mas faz parte da condição do homem que,<br />

embora ele possa formular a sua tarefa em termos <strong>de</strong> pesquisa imparcial e com filosofias<br />

(buscando um resumo total das coisas, 68 consciente do mal como estultícia e loucura) 69, ele tem<br />

também <strong>de</strong> se voltar para a esfera dos relacionamentos humanos em sua busca <strong>de</strong> significado<br />

para o mundo, ainda que os vendo necessariamente através das lentes distorcidas do pecado.<br />

Assim o nosso autor nos <strong>de</strong>ixa perplexos com o seu amargo veredito: entre mil homens ele<br />

encontrou apenas um que não fosse um <strong>de</strong>sapontamento, mas mulher nenhuma. Como vamos<br />

encarar isso?<br />

Para começar, <strong>de</strong>vemos observar que ele não está dogmatizando, mas informando. É a<br />

experiência <strong>de</strong> um homem e ele não a universaliza. 70 Mas o mais pertinente é que ele nos<br />

apresenta o papel que o pecado po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar em ambos os lados <strong>de</strong> um encontro entre os<br />

sexos. Um caso profundamente <strong>de</strong>senganador como o <strong>de</strong>scrito no versículo 26 po<strong>de</strong> distorcer ou<br />

até mesmo <strong>de</strong>struir qualquer tentativa subseqüente <strong>de</strong> relacionamento. Sem dúvida Coelet<br />

conseguiu escapar, como ele dá a enten<strong>de</strong>r no versículo 26b – mas não sem ferimentos. Sua<br />

busca infrutífera <strong>de</strong> uma mulher em que pu<strong>de</strong>sse confiar po<strong>de</strong> nos dizer muita coisa sobre ele e<br />

sobre a sua maneira <strong>de</strong> pensar, como também sobre as suas amiza<strong>de</strong>s. Sentimo-nos tentados a<br />

acrescentar (e isto po<strong>de</strong>ria ser concebivelmente relevante) que, tal como Salomão, cujo manto<br />

ele assumira anteriormente, 71 Coelet teria feito melhor se tivesse lançado a sua re<strong>de</strong> sobre um<br />

número menor, e não sobre “mil”! ele quase diz o mesmo em 9:9, com um elogio à simples<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> conjugal.<br />

No último versículo do capítulo 7 sua conclusão sobre a natureza humana é mais firme do<br />

que ele po<strong>de</strong>ria ter adquirido por sua simples experiência. Ele se volta para o que foi revelado,<br />

baseando-se evi<strong>de</strong>ntemente em Gênesis 1-3. Para apreciarmos a importância <strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong><br />

vista bíblico acerca <strong>de</strong> Deus e o homem, só precisamos ouvir a narrativa sobre o assunto na<br />

Teodicéia Babilônica, on<strong>de</strong> os <strong>de</strong>uses são os responsáveis pela malignida<strong>de</strong> dos homens: “com<br />

mentiras, e não verda<strong>de</strong>, eles os dotaram para sempre.” 72 Tal perspectiva é paralisante, pois a<br />

67 Jones, pg 321<br />

68 O juízo (vs 25,27) po<strong>de</strong>ria ser traduzido por “o balanço” com os dois sentidos que esse termo possui;<br />

isto é, a “totalida<strong>de</strong>” e a “exposição” das coisas (cf. McNeile).<br />

69 O versículo 25b está bem traduzido na ERAB: “...a perversida<strong>de</strong> é insensatez, e a insensatez é loucura”;<br />

melhor do que “a malda<strong>de</strong> e a falta <strong>de</strong> juízo são loucura” (BLH).<br />

70 Por outro lado, o v.20 mostra que ele não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> universalizar, quando for o caso.<br />

71 Veja os comentários iniciais da sessão 1:12-2:26<br />

72 “The Babylonian Theodicy”, linha 280 em Babylonian Wisdom Literature <strong>de</strong> W. G. Lambert (Claredon,<br />

Oxford, 1960) pg89<br />

36

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!