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A mensagem de Eclesiastes - Derek Kidner.pdf - Webnode

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violência na mão dos opressores” (4:1). A própria estrutura da socieda<strong>de</strong> contribui para essas<br />

coisas (5:8); no entanto, estas não são enfermida<strong>de</strong>s apenas dos governantes, mas da<br />

humanida<strong>de</strong>. “Não há homem justo sobre a terra” (7:20); realmente, “o coração dos homens está<br />

cheio <strong>de</strong> malda<strong>de</strong>, neles há <strong>de</strong>svarios enquanto vivem” (9:3). O leitor po<strong>de</strong> refletir sobre a<br />

insanida<strong>de</strong> coletiva que visivelmente toma conta <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempos em tempos, mas<br />

não po<strong>de</strong> ignorar também a loucura que permanece invisível porque participa <strong>de</strong>la como o clima<br />

do seu século.<br />

Ainda por cima, como se a morte e o mal não bastassem, há ainda o fator menor, mas<br />

igualmente incontrolável, “do tempo e do acaso”, que é preciso reconhecer (9:11). O homem bem<br />

organizado po<strong>de</strong> regalar-se na sua auto-suficiência, porém Coelet vê através <strong>de</strong>la, é pura<br />

<strong>de</strong>cepção. Até mesmo os prêmios mais específicos e mais previsíveis da vida (para não se falar<br />

da busca <strong>de</strong> algo <strong>de</strong>finitivo) po<strong>de</strong>m se per<strong>de</strong>r, e o homem acaba sem nada. “Não é dos ligeiros o<br />

prêmio, nem dos valentes a vitória” – pelo menos, não e assim tão garantido. “Pois o homem não<br />

sabe a sua hora” (9:12). Ele po<strong>de</strong> até fingir que sabe, mas o faz-<strong>de</strong>-conta não serve como base<br />

para a sua vida. Basta lembrarmos o comentário final acerca do homem que pensou em tudo<br />

menos nisso: “Deus lhe disse: Louco!...”<br />

De volta ao alicerce<br />

Se pouca coisa restou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta análise, é exatamente isto que o escrito preten<strong>de</strong>, mas<br />

apenas como trabalho preliminar. Ele está <strong>de</strong>molindo para reconstruir. Se prestarmos atenção,<br />

veremos que as perguntas penetrantes que ele levanta são aquelas que a própria vida nos faz.<br />

Ele po<strong>de</strong> fazê-las porque nos capítulos finais tem boas novas para nós, contanto que paremos <strong>de</strong><br />

fazer <strong>de</strong> conta que as coisas mortais no bastam, a nós que temos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber o que é<br />

eterno.<br />

São novas, paradoxalmente, <strong>de</strong> juízo.<br />

Para tornar esse paradoxo mais inteligível, seria bom divagarmos por algum tempo<br />

examinando um velho exemplo <strong>de</strong> secularismo radical, sem o abrandamento <strong>de</strong> nossas<br />

mo<strong>de</strong>rnas fantasias utópicas e sem a formalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum sentimento transcen<strong>de</strong>nte: apenas<br />

pela sua própria espirituosida<strong>de</strong> e fria imparcialida<strong>de</strong>. A passagem, muito livremente<br />

parafraseada e apresentada aqui, é o diálogo entre um senhor e seu servo, ambos mesopotâmios,<br />

escrito talvez antes do tempo <strong>de</strong> Moisés. 6<br />

– Servo, obe<strong>de</strong>ça-me<br />

– Sim, senhor, sim.<br />

– A carruagem... Prepare-a. Vou ao palácio.<br />

– Vá, meu senhor, vá!... O rei há <strong>de</strong> ser benevolente.<br />

– Não, servo, não vou ao palácio.<br />

– Não vá, meu senhor, não vá. O rei po<strong>de</strong> enviá-lo a algum lugar longínquo. O senhor não<br />

terá mais um momento <strong>de</strong> paz.<br />

Então ele resolve jantar, o que o servo acha muito conveniente. Não há nada mais<br />

agradável e confortador, não é mesmo? Mas o capricho passa: ele resolve não jantar mais. O<br />

servo acha isto muito a<strong>de</strong>quado: existe algo mais vulgar do que comer?<br />

E assim o diálogo prossegue. Ele vai caçar... Mas resolve não ir mais. Ou, quem sabe vai<br />

li<strong>de</strong>rar uma rebelião... ou não. Guardará um silencia esmagador quando encontrar o seu rival...<br />

Ou melhor ainda, vai falar com ele. Cada idéia é rematada pelo servo com alguma observação<br />

bajuladora, e cada idéia oposta com uma observação ainda mais profunda.<br />

Então ele sente <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> amar (“Oh, sim! Não há nada melhor do que isso, senhor, para<br />

espairecer.”), mas logo muda <strong>de</strong> idéia (“Que sabedoria! As mulheres são uma armadilha, uma<br />

faca na garganta.”). Isso! Ele será um filantropo. Mas, por outro lado... (“Certo, senhor; <strong>de</strong> que<br />

adiantaria? Pergunte aos esqueletos no cemitério!”).<br />

Neste espírito ilusório e fútil, idéia após idéia, valor após valor são apanhados, <strong>de</strong>sejados e<br />

abandonados. No final, o cavalheiro brinca com uma questão séria: “O que seria bom?” Sua<br />

própria resposta nos apanha <strong>de</strong> surpresa: “Quebrar o pescoço, o meu e o teu, jogar os dois no rio,<br />

isto seria bom.” É claro que ele muda <strong>de</strong> idéia: ele vai quebrar apenas o pescoço do seu servo e<br />

mandá-lo na frente.<br />

6 Traduzido, por exemplo em ANET, pág 438<br />

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