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A mensagem de Eclesiastes - Derek Kidner.pdf - Webnode

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criador ou manipulá-lo segundo nossos interesses. Somos confrontados com Deus na sua<br />

condição mais temível: como alguém que não se impressiona com a nossa tagarelice, nem com<br />

nossas ofertas rituais ou com nossas promessas vazias. Os primeiros parágrafos co capítulo 5<br />

<strong>de</strong>stacam estes pontos <strong>de</strong> maneira vigorosa: “...Deus está nos céus, e tu na terra; portanto sejam<br />

poucas as tuas palavras... porque não se agrada <strong>de</strong> todos.”<br />

Deus se revela a nós neste livro sob três aspectos principais: como Criador, como<br />

Soberano e como a Sabedoria Inescrutável. Não que estes termos sejam exatamente assim<br />

aplicados a ele, com exceção do primeiro; mas po<strong>de</strong>m servir com um conveniente ponto <strong>de</strong><br />

convergência.<br />

Como Criador, ele arma todo o cenário. Somos lembrados <strong>de</strong> que o seu mundo tem uma<br />

forma própria <strong>de</strong>finida, que não po<strong>de</strong> ser mudada a nosso gosto (e este, convenhamos, tem uma<br />

certa resistência inata que é bastante complacente para conosco, como planejadores e<br />

padronizadores); 3 pois “quem po<strong>de</strong>rá endireitar o que ele torceu?” (7:13). Esse mundo tem<br />

também o seu próprio ritmo inexorável ao qual nos encontramos presos: tempo para isso e<br />

tempo para aquilo, sem nos <strong>de</strong>ixar muita escolha, como o capítulo 3 <strong>de</strong>staca. Mesmo como<br />

procriadores, nada mais fazemos do que ativar o misterioso processo pelo qual Deus cria uma<br />

nova vida. “Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no<br />

ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras <strong>de</strong> Deus, que faz todas as cousas”<br />

(11:5).<br />

No entanto, não po<strong>de</strong>mos nos dar ao luxo <strong>de</strong> acusar o Criador pelas nossas confusões e<br />

nossas malda<strong>de</strong>s, com a Teodicéia Babilônica acusa os <strong>de</strong>uses, 4 pois “Deus fez o homem reto”. A<br />

responsabilida<strong>de</strong> fica on<strong>de</strong> merece, nas conseqüências <strong>de</strong>sta observação: “mas ele [o homem] se<br />

meteu em muitas astúcias” (7:29).<br />

Como Soberano, entretanto, Deus <strong>de</strong>termina as frustrações que encontramos na vida. A<br />

rotina da existência que é apresentada logo no início do livro (a propósito, Coelet teria feito uma<br />

carranca diante do título espetacular: “Parem o mundo, eu quero <strong>de</strong>scer!”) – essa rotina é<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Deus. “... Este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens, para nele os<br />

afligir... e eis que tudo era vaida<strong>de</strong> e correr atrás do vento” (1:13, 14). É verda<strong>de</strong> que existe nas<br />

palavras <strong>de</strong> 7:29, que acabamos <strong>de</strong> ler, uma insinuação <strong>de</strong> que foia queda do homem que <strong>de</strong>u<br />

lugar a esse <strong>de</strong>creto. Também é verda<strong>de</strong> que, em Romanos 8:18-25, Paulo pega essa figura da<br />

“criação... sujeita à vaida<strong>de</strong>” para o forte impulso que esta gera. A ênfase <strong>de</strong> <strong>Eclesiastes</strong>, contudo,<br />

está nas coisas que parecem nunca mudar, e sobre os <strong>de</strong>sapontamentos com os quais temos <strong>de</strong><br />

conviver aqui e agora.<br />

Tudo isto vem <strong>de</strong> Deus: a trama geral da vida e seus mínimos <strong>de</strong>talhes, estejam ou não <strong>de</strong><br />

acordo como nosso gosto e o nosso senso <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>. Algumas vezes eles fazem sentido<br />

para nós, pois via <strong>de</strong> regra o pecador recebe uma dose extra <strong>de</strong> frustração ao ver que Deus cuida<br />

dos seus (2:26); mas o fato é que nada nos pertence e não po<strong>de</strong>mos contar com nada. Se o<br />

pecador é atormentado, ele não é o único. A tragédia po<strong>de</strong> abater-se sobre qualquer um, e Deus<br />

está por trás <strong>de</strong> tudo. O capítulo 6:1-6 é uma das passagens on<strong>de</strong> isto é consi<strong>de</strong>rado: apresenta o<br />

fato <strong>de</strong> que, quanto mais a gente se acha com o direito e quanto mais coisas se tem, mais difícil se<br />

torna quando Deus o retira, o que po<strong>de</strong> acontecer a qualquer momento (6:2ss) e ele certamente<br />

o fará. Pois “não vão todos para o mesmo lugar?” (v. 6b) – isto é, para a sepultura.<br />

Assim somos impulsionados a enfrentar os mistérios dos caminhos <strong>de</strong> Deus nos termos<br />

<strong>de</strong>sses três títulos, ele vem agora ao nosso encontro como Sabedoria Inescrutável, reduzindo os<br />

nossos mais brilhantes pensamentos a pouco mais que conjecturas.<br />

A passagem on<strong>de</strong> isto aparece <strong>de</strong> forma mais promissora e cheia <strong>de</strong> graça é 3:11, um dos<br />

inesperados pontos culminantes do livro. “Tudo fez formoso no seu <strong>de</strong>vido tempo; também pôs a<br />

eternida<strong>de</strong> no coração do homem, sem que este possa <strong>de</strong>scobrir as obras que Deus fez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

princípio até o fim.” Esta simples sentença capta a beleza <strong>de</strong>slumbrante e assustadora <strong>de</strong> um<br />

mundo tão mutante que o seu padrão total fica além do nosso entendimento. Mas é um padrão.<br />

Nós, ao contrário dos animais, po<strong>de</strong>mos captar o suficiente para termos a certeza disso, ainda<br />

que nunca o suficiente para percebermos o todo.<br />

Uma das conseqüências é que não po<strong>de</strong>mos extrapolar o presente. Se as coisas vão bem ou<br />

3 Cf. 11:1-6<br />

4 Veja o comentário sobre 7:29<br />

6

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