SETE-SÓIS E SETE-LUAS: UMA HISTÓRIA DE ... - Unisalesiano
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2.2. Estrutura do texto<br />
A pontuação utilizada por Saramago destacou suas obras destravando-<br />
as das pausas criadas pelo sistema de pontuação. Neste novo sistema, a<br />
vírgula e o ponto final substituem todos os outros sinais de pontuação,<br />
causando o efeito de que o leitor participa com mais intensidade da história,<br />
pois é ele que executa a função de encontrar as exclamações, interrogações e<br />
demais expressões dentro do texto.<br />
32<br />
Ao fim de uma hora levantou-se Scarlatti do cravo, cobriu-o com um<br />
pano de vela, e depois disse para Baltasar e Blimunda, que tinham<br />
interrompido o trabalho, Se a passarola do padre Bartolomeu de<br />
Gusmão chegar a voar um dia, gostaria de ir nela e tocar no céu, e<br />
Blimunda respondeu, Voando a máquina, todo o céu será música, e<br />
Baltasar, lembrando-se da guerra, Se não for inferno todo o céu.<br />
(SARAMAGO, 2010, p. 171)<br />
Outro fator marcante é o uso de parágrafos longos, que, por vezes,<br />
duram por mais de três páginas. Os parágrafos são maiores do que o normal<br />
por que a narrativa apresenta descrições extensas e pormenorizadas,<br />
enriquecendo o texto, no qual tudo que é descrito por palavras pode ser<br />
perfeitamente visualizado pelo autor. Os capítulos não são nomeados ou<br />
numerados. Iniciam-se com um espaço na página, que sinaliza a mudança de<br />
capítulo.<br />
O vocabulário muda constantemente. Dependendo do assunto, pode ser<br />
mais rebuscado ou coloquial. Essa escolha, dependerá, também, do lugar onde<br />
encontra-se o narrador, sendo que este altera sua proximidade<br />
constantemente, durante a narrativa. Uso de expressões em latim é comum<br />
quando o narrador inicia um assunto religioso: “In hoc signo vinces”.<br />
(SARAMAGO, 2010, p. 338)<br />
De pronto, sua escrita não só confirmava o insólito “estilo<br />
saramaguiano” de transmitir a oralidade por meio de longos períodos<br />
sem nenhum ponto final, mas também articulava a linguagem popular<br />
com um barroquismo setecentista de elevada qualidade. (LOPES,<br />
2010, p. 101)