SETE-SÓIS E SETE-LUAS: UMA HISTÓRIA DE ... - Unisalesiano
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As personagens fictícias no MC são uma representação do povo<br />
português da época. Um povo que passou pela pobreza e humilhação para a<br />
construção de um palácio-convento. É possível que Saramago tenha criado<br />
estes personagens por meio de relatos contados pelo povo, relatos históricos e<br />
ainda a visão que ele mesmo teve sobre a pobreza. Por meio desta análise, é<br />
possível determinar o tipo de personagem criada por Saramago no MC:<br />
“Personagens elaboradas com fragmentos de vários modelos vivos, sem<br />
predominância sensível de uns sobre outros, resultando uma personalidade<br />
nova.” (CANDIDO, 1973, p. 73)<br />
Blimunda de Jesus, a Sete-Luas. O nome Blimunda é o gerúndio de<br />
Blenda que significa legar, deslumbrar. Na construção da passarola, Blimunda<br />
é a mão que falta para Baltasar e os olhos que analisam o que é feito. Ela tem<br />
os olhos da percepção, os olhos que veem a verdade que o mundo esconde,<br />
sendo que este é o modo mais difícil de se ver, pois vê-se o que existe e não<br />
apenas o que se quer ver.<br />
34<br />
[...] olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde,<br />
ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e<br />
às vezes tornam-se negros nocturnos ou brancos brilhantes como<br />
lascado carvão de pedra. (SARAMAGO, 2010, p.53)<br />
Os elementos sublime e sagrado são unidos no erotismo do casal, no<br />
qual o amante, através do ato sexual, é transformado na coisa amada. Em<br />
momentos, as relações do casal são apresentadas, no romance, com mais<br />
presença do sagrado do que a própria missa.<br />
Blimunda, também, representa a razão entre eles. Quando olha para o<br />
padre Bartolomeu antes de voarem, reconhece nele o olhar dos perseguidos<br />
pelo Santo Ofício. Quando estão voando na passarola é ela que percebe<br />
primeiro o que irá acontecer, quando o sol se pôr. Blimunda pensa livremente,<br />
pois vê livremente. Razão que nasceu com ela, onde mesmo quando estava na<br />
barriga de sua mãe, permaneceu “de olhos abertos”. (SARAMAGO, 2010, p.<br />
322)<br />
Ao encontrar Baltasar queimando na fogueira, não quer deixa-lo partir.<br />
Depois de nove anos de busca, no momento em que o encontra, ela percebe