ESCOLAS NOCTURNAS NO CEARÁ: Ações de combate ao
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A expansão do sistema escolar não aconteceu como esperado, não conseguindo,<br />
como consequência, atingir seus objetivos políticos. Entretanto, a valorização da instrução<br />
como mecanismo <strong>de</strong> ascensão social fez aflorar uma visão preconceituosa contra o analfabeto,<br />
que passou a ser i<strong>de</strong>ntificado como incapaz <strong>de</strong> pensar, <strong>de</strong>cidir e, portanto, <strong>de</strong> votar.<br />
Nos anos seguintes à Proclamação da República, o analfabetismo tornou-se objeto<br />
<strong>de</strong> preocupação em virtu<strong>de</strong> dos altos índices apresentados 10 . Durante as primeiras décadas do<br />
novo regime, a carência <strong>de</strong> instrução primária entre os brasileiros foi <strong>de</strong>nunciada por diversos<br />
setores da socieda<strong>de</strong>, que passaram a lutar contra o analfabetismo. Surgiu, em 1915, a Liga<br />
Brasileira Contra o Analfabetismo, fundada por intelectuais, médicos e industriais, com<br />
representações em diversos Estados, que tinha como propósito comemorar o centenário da<br />
In<strong>de</strong>pendência política do Brasil, no ano <strong>de</strong> 1922, com o País livre do analfabetismo.<br />
Imbuídos do fervor nacionalista, <strong>de</strong>fendiam a obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino baseado em<br />
patriotismo, moralismo e civismo. Não conseguindo produzir resultados expressivos nos<br />
índices educacionais brasileiros, a gran<strong>de</strong> influência da Liga foi, contudo, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
i<strong>de</strong>ológica, na proliferação <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong>preciativa do analfabetismo (FREIRE, 1982, p:<br />
191)<br />
Tudo isso aconteceu em meio <strong>ao</strong> movimento i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> valorização da educação<br />
como re<strong>de</strong>ntora dos problemas nacionais, conhecido como “entusiasmo pela educação” 11 .<br />
Aqui, o preconceito contra o analfabeto ganhou <strong>de</strong>staque e promoção, sendo <strong>de</strong>nunciado por<br />
um <strong>de</strong> seus principais representantes, o médico Miguel Couto, como sendo “o gran<strong>de</strong> mal” do<br />
País e que, sendo o analfabeto um ser “microcéfalo”, este “não pensa, não enten<strong>de</strong>, não prevê,<br />
não imagina, não cria” (PAIVA, 1987, p: 99).<br />
A socieda<strong>de</strong> brasileira vivia momentos <strong>de</strong> importantes transições sociais e<br />
econômicas, iniciados havia décadas, com o <strong>de</strong>senvolvimento dos centros urbanos e a<br />
expansão gradativa da indústria, exigindo-se cada vez mais o domínio da leitura e da escrita<br />
como instrumentos necessários à integração neste novo contexto.<br />
10 No Censo Demográfico realizado em 1890, 85% da população encontrava-se analfabeta. Nos anos <strong>de</strong> 1900 e<br />
1920 houve uma diminuição da taxa para 75%, não representando, todavia, uma redução no número absoluto <strong>de</strong><br />
analfabetos que passou <strong>de</strong> quase 13 milhões para uma quantida<strong>de</strong> superior a 23 milhões <strong>de</strong> pessoas. (RIBEIRO,<br />
1982, p: 78)<br />
11 Conceito elaborado por Jorge Nagle para <strong>de</strong>finir o movimento surgido na transição do Império à República e<br />
presente até os anos <strong>de</strong> 1920. Seus a<strong>de</strong>ptos viam no <strong>de</strong>senvolvimento quantitativo conseguido através da<br />
disseminação da educação primária para as gran<strong>de</strong>s camadas da população o caminho que levaria o Brasil para<br />
junto das gran<strong>de</strong>s nações do mundo. (NAGLE, 2001)<br />
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