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Amaxônia e doMovimento Sindical. - Centro de Documentação e ...

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.OPINIÃO<br />

.ANÁLISE .<br />

.INFORMAÇÃO<br />

44<br />

Quero ficar vivo para<br />

?9<br />

salvar a Amazônia<br />

Chico Men<strong>de</strong>s<br />

Derrubaram uma<br />

das mais<br />

• Frondosa» árvores<br />

da causa<br />

<strong>Amaxônia</strong> e <strong>doMovimento</strong><br />

<strong>Sindical</strong>.<br />

Chico Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> teu<br />

exemplo outras plantas<br />

teimosas irão nascer, ã<br />

atéEnver<strong>de</strong>cer J<br />

,. . (Posto )^riqúeSeick)í I<br />

O assassinato <strong>de</strong><br />

Chico Men<strong>de</strong>s - -02 a 08<br />

O que <strong>de</strong>vem ser os<br />

Conselhos Populares<br />

A <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />

na revolução<br />

-23 a 26<br />

-28, 29 e 30


O assassinato <strong>de</strong><br />

Chico Men<strong>de</strong>s<br />

Trabalhadores<br />

Durante todo o ano <strong>de</strong> 1988 esteve presente na QUINZENA às <strong>de</strong>núncias aos assassinatos no Campo. Este<br />

primeiro número <strong>de</strong> 1989 começa com o mesmo assunto: O assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s.<br />

Fizemos uma seleção <strong>de</strong> documentos sobre este fato que procurou enfocar os seguintes aspectos: 1. A luta<br />

dos Povos da Floresta. Nos artigos <strong>de</strong> Lucélia Santos, <strong>de</strong> Malgue Guelhs e num relatório elaborado pelo<br />

Instituto <strong>de</strong> Estudos Amazônicos (IEA) mostramos um pouco das lutas que estão sendo travadas nesta<br />

região do país. 2. O assassinato: Publicamos uma nota produzida por várias entida<strong>de</strong>s que se solidarizaram<br />

com as lutas dos Povos da Floresta, on<strong>de</strong> é narrada a forma como se <strong>de</strong>u o crimes um artigo datado <strong>de</strong><br />

03.12.88, no qual o próprio Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nuncia a Policia Fe<strong>de</strong>ral local <strong>de</strong> planejar seu assassinato. Por<br />

fim, publicamos alguns documentos do Comitê Chico Men<strong>de</strong>s, formado logo após o crime,<br />

por várias entida<strong>de</strong>s sindicais, partidárias e da socieda<strong>de</strong> civil, que vem acompanhando os<br />

<strong>de</strong>sdobramentos das investigações.<br />

Esperamos que a repercussão que causou a morte <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s abra uma nova etapa na luta<br />

contra a violência aos trabalhadores do Campo. Uma etapa on<strong>de</strong> possamos <strong>de</strong>ixar a <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong><br />

ficar lamentando os nossos mortos, e partamos para uma ofensiva, que mobilize uma verda<strong>de</strong>ira<br />

Campanha <strong>de</strong> Luta contra a violência no campo.<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo ■ 19.05.88<br />

Especial para a Folha<br />

Valeu a pena viajar milhares <strong>de</strong><br />

quilômetros para visita - Chico Men<strong>de</strong>s.<br />

Esse lí<strong>de</strong>r dos seringueiros que chegou<br />

a Miami sem um tostão no bolso, em<br />

busca <strong>de</strong> aliados para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

floresta, é um marco na luta ecológica<br />

biasileira. Premiado em Nova York,<br />

recebeu sua medalha no Waldorf Asto-<br />

ria.-Os granimos que O aplaudiram<br />

talvez não tenham sequer idéia do que<br />

é Xapuri, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 18 mil habitantes,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s comanda a<br />

resistência.<br />

Filho <strong>de</strong> seringueiros, Chico foi<br />

analfabeto até os nove anos. Por sorte<br />

sua, apareceu na floresta um exilado<br />

político que tinha participado da Colu-<br />

na Prestes, ficou preso em Fernando<br />

<strong>de</strong> Noronha e <strong>de</strong>cidiu nunca mais<br />

voltar para "o mundo civilizado". Seu<br />

nome era Eucli<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s Távora.<br />

Um dia visitou o pai do Chico e <strong>de</strong>cidiu<br />

escolher o menino para transmitir toda<br />

a sua experiência intelectual e política.<br />

O velho exilado tinha um rádio e suas<br />

aulas eram todas baseadas em pro-<br />

gramas <strong>de</strong> rádio. Um dia, ouvia-se a Voz<br />

da América para se fazer uma critica<br />

do ponto <strong>de</strong> vista norte-americano;<br />

outro dia ouviam a Rádio Moscou para<br />

achar criticas ao governo brasileiro.<br />

Depois <strong>de</strong> algum tempo, o exilado<br />

acabou aconselhando-o a ouvir mais a<br />

BBC <strong>de</strong> Londres, pois, das três, era a<br />

que trazia noticiário mais imparcial.<br />

Chico Men<strong>de</strong>s viajava três horas por<br />

Seringueiros, resistência contra a<br />

<strong>de</strong>vastação na floresta<br />

dia para. se alfabetizar. Chegou um<br />

momento em aue o velho exilado disse<br />

para ele: Um dia acabará surgindo um<br />

sindicato dos seringueiros. E você vai<br />

<strong>de</strong>sempenhar um papel. Para isso<br />

estou preparando sua cabeça.<br />

A hora estava <strong>de</strong>morando a chegar.<br />

È que os seringueiros da Amazônia<br />

sempre foram muito explorados. No<br />

princípio tentavam ven<strong>de</strong>r borracha,<br />

escondido do patrão, para os marretei-<br />

ros. Marreteiros são intermediários<br />

que ven<strong>de</strong>m tudo para eles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

roupa até a comida. Quando <strong>de</strong>scober-<br />

tos pelo patrão, alguns eram queima-<br />

dos vivos.<br />

Durante muito tempo, os patrões<br />

contraíam empréstimos no Banco da<br />

Amazônia, investiam o dinheiro nas<br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e obrigavam os serin-<br />

gueiros a trabalhar dobrado, para<br />

honrarem a dívida. Tudo isso aconte-<br />

ceu muito até o tempo da ditadura<br />

quando se entrou na onda do progresso<br />

a todo custo. Ai, com dinheiro do<br />

próprio governo, os fazen<strong>de</strong>iros entra-<br />

ram rijo na área, comprando tudo<br />

<strong>de</strong>struindo tudo e plantando capim<br />

Ninguém vai comer hambúrguer ino<br />

centemente no mundo. Por trás d«<br />

cada carne tenra, há toda a história df<br />

<strong>de</strong>vastação da Amazônia.<br />

Um dia o sindicato chegou. As<br />

reuniões eram nas casas paroquiais, a:<br />

assembléias <strong>de</strong>ntro da igreja. Era a<br />

única maneira <strong>de</strong> escapar á fúria dos<br />

novos donos da terra. Um gjran<strong>de</strong> li<strong>de</strong>i<br />

seringueiro foi morto assim que os<br />

ASSINATURAS<br />

- Para militantes sem condições financeiras: Cz$ 6.080,00 (por seis meses) e Cz$ 12.160,00 (por 12 meses)<br />

- Para CUT, militantes com condições financeiras: Cz$ 8.120,00 eCz$ 16.240,00<br />

- Sindicatos, Pastorais e assinaturas <strong>de</strong> apoio: Cz$ 12.160,00 e Cz$ 24.320,00<br />

- Exterior (via áerea): US$ 30,00 (por seis meses) e US$ 60,00 (por 12 meses).<br />

O pagamento <strong>de</strong>verá ser feito em nome do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Pastoral Vergueiro em cheque nominal, cruzado, ou<br />

vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA - CEP 04299 -<br />

Código da Agência 401901 - Preços válidos até 31/03/89<br />

QUINZENA ■ Pufallcaç6es do CPV - Caixa Postal 42.791 - Sâo Paulo - S.P. - Fones: (011) 273 6533 e 273 9322<br />

sindicatos foram colocados <strong>de</strong> pé:<br />

Wilson Pinheiro.<br />

Hoje o trabalho <strong>de</strong> Chico e seus<br />

companheiros, apesar <strong>de</strong> ameaçadc<br />

pela UDR, ganhou uma dimensão<br />

internacional. O próprio BID, através<br />

do chefe da missão, Carlos Ferdinand,<br />

admitiu que colocará dinheiro nas<br />

reservas extrativlstas.<br />

A solução que Chico apresenta para<br />

essa parte da Amazônia me parece a<br />

mais racional. Eles preten<strong>de</strong>m extrair<br />

a borracha, castanhas, realizar lavou-<br />

ras <strong>de</strong> sobrevivência, e trabalhar com<br />

uma série <strong>de</strong> produtos ainda não<br />

comercializados: copaíba, assai e vá-<br />

rias plantas medicinais.<br />

Com essa proposta, Chico quer <strong>de</strong>-<br />

monstrar aue a Amazônia não precisa<br />

ser <strong>de</strong>struída nem precisa ser trans-<br />

formada num santuário on<strong>de</strong> ninguém<br />

toca em nada.<br />

O gran<strong>de</strong> passo no momento é a<br />

união dos índios com os seringueiros. O<br />

BID não está colocando mais dinheiro<br />

pdrque os índios repelem o tipo <strong>de</strong><br />

trabalho que foi feito. Apesar <strong>de</strong> serem<br />

minoria, 10 mil, em relação aos<br />

seringueiros, 500 mil, os índios têm<br />

uma repercussão internacional maior.<br />

O contato dos seringueiros com a<br />

União das Nações Indígenas está ca-<br />

minhando para um pacto <strong>de</strong> união dos<br />

povos da floresta. Apesar <strong>de</strong> haver um<br />

certo <strong>de</strong>sinteresse no sul, os olhos do<br />

mundo estão cada vez mais voltados<br />

para eles. Não só organismos gover-<br />

namentais como vários grupos ecolóRi-^.<br />

A QUINZENA divulga as questões políticas <strong>de</strong><br />

fundo em <strong>de</strong>bate DO movimento, contudo coloca<br />

algumas condições para tanto. Serão publicados<br />

os textos que contenham teses e argumentações<br />

estritamente políticas, evitando os<br />

ataques pessoais; serão publicadas ás réplicas<br />

que esteiam no mesmo nível <strong>de</strong> linguagem e<br />

companheirismo. Nos reservamos o direito <strong>de</strong><br />

divulgarmos apenas as partes significativas<br />

dos textos, seja por imposição <strong>de</strong> espaço, seja<br />

pva por solução ^uiuyMW <strong>de</strong> uv redação. ivuMyau.<br />

ÍSS


vm<br />

Quinzena<br />

cos internacionais estão procurando<br />

esses novos interlocutores para que<br />

sejam transformados em eixo da resis-<br />

tência planetária contra a <strong>de</strong>vastação.<br />

Consi<strong>de</strong>ro fundamental, que todo<br />

mundo se interesse pelo assunto no<br />

Brasil. Nessas horas entretanto, nfto<br />

consigo ver as coisas a aio ser numa<br />

O Estado do Paraná -17.09.88<br />

mtmmíi<br />

:>;':-:': : ; : : : x : : : >; ; : : ; : : : : : : : >::';::-;::-:-: :<br />

3L<br />

perspectiva planetária. Chico Men<strong>de</strong>s e<br />

ias nações indígenas que n opõem à<br />

maneira como as obras da BR-364<br />

estavam sendo feitas sâo uma nova<br />

esperança nesse universo ver<strong>de</strong>.<br />

O encontro das mulheres em Xapuri,<br />

discutindo temas que iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

imatisfaçâo sexual até a neceerida<strong>de</strong>^<br />

..-.. --v. ;•


Relatório do Instituto d* Estudo» Amazônicos OEA)<br />

RELATÓRIO DOS FATOS OCORRIDOS NO<br />

PERÍODO DE 23 DE MAIO/88 ATÉ DEZEMBRO/88:<br />

CONFLITOS DE SERINGUEIROS E<br />

TRABALHADORES RURAIS DO ESTADO DO ACRE<br />

01. 26 <strong>de</strong> maio/88, dois seringueiros são baleados no<br />

prédio do IBDF/Xapuri, AC, por dois pistoleiros que<br />

fugiram <strong>de</strong> Motocicleta. Foram i<strong>de</strong>ntificados por tes-<br />

temunhas posteriormente, mas o inquérito policial<br />

não teve o registro correto <strong>de</strong> todos os fatos. Os sus-<br />

peitos recairiam nas pessoas <strong>de</strong> DARLI ALVES DA<br />

SILVA e ALVARINO ALVES DA SILVA;<br />

02. dia 17 <strong>de</strong> junho/88, o Dirigente do STR <strong>de</strong> Xapuri,<br />

AC, e candidato a vereador do PT IVAIR HIGINO DE<br />

ALMEIDA, foi brutalmente assassinado. Os suspeitos<br />

foram i<strong>de</strong>ntificados como CÍCERO TENÓRIO CA-<br />

VALCANTI e sobrinhos <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO AL-<br />

VES DA SILVA. O inquérito foi extremamente lento e<br />

não chegou a apurar a autoria do crime;<br />

03. Em setembro/88, outro seringueiro é assassinado no<br />

Município <strong>de</strong> Xapuri, AC, e aparece como suspeito<br />

filhos e parentes préximo <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO. Há<br />

informações extra-oficialmente que o Juiz <strong>de</strong> Direito<br />

da Comarca <strong>de</strong> Xapuri <strong>de</strong>cretou a prisão preventiva<br />

<strong>de</strong> APARECIDO - sobrinho <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO;<br />

04. Ainda no mês <strong>de</strong> setembro, apareceram dois corpos<br />

humanos ao lado da casa da Se<strong>de</strong> da Fazenda <strong>de</strong><br />

Darli e Alvarino. O próprio Darli comunica à polícia da<br />

Delegacia <strong>de</strong> Xapuri. A Polícia local faz o sepulta-<br />

mento dos dois corpos humanos na própria Fazenda<br />

<strong>de</strong> Darli Alves, sem proce<strong>de</strong>r o exame cadavérico, e<br />

ficando assim, sem os laudos para formação do In-<br />

quérito Policial. Posteriormente, a Polícia faz a exu-<br />

mação dos cadáveres e leva equipe médica <strong>de</strong> Rio<br />

Branco para fazer os exames, visto que os médicos<br />

locais <strong>de</strong> Xapuri se recusam a atestar a "causa mor-<br />

tis";<br />

05. Em 26 <strong>de</strong> setembro/88, a Polícia Fe<strong>de</strong>ral/AC recebe<br />

Carta Precatória originária da Comarca <strong>de</strong> Umuara-<br />

ma, PR, com o fim <strong>de</strong> efetivar a prisão preventiva <strong>de</strong><br />

DARLI e ALVARINO ALVES DA SILVA; em 13 <strong>de</strong> ou-<br />

tubro o Dep. Fe<strong>de</strong>ral do Acre remete Carta Precatória<br />

ao Juiz <strong>de</strong> Direito da Comarca <strong>de</strong> Xapuri. Os manda-<br />

dos <strong>de</strong> prisão são executados no dia 19 <strong>de</strong> outu-<br />

bro/88, com a fuga dos acusados na madrugada da<br />

tentativa <strong>de</strong> prisão.<br />

06. A Polícia Militar sem viaturas para efetivar a prisão<br />

dos acusados (a Delegacia Local e o Destacamento<br />

da PM local não dispõem <strong>de</strong> veículo), usou o Toyota<br />

do STR <strong>de</strong> Xapuri e um Engesa da EMATER/Xapuri.<br />

No dia 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro/88, novamente a Delegacia<br />

policial e Polícia Militar não dispunham <strong>de</strong> Viaturas,<br />

na tentativa <strong>de</strong> perseguição aos pistoleiros, foi usado<br />

pela PM o veículo do STR <strong>de</strong> Xapuri;<br />

07. A partir <strong>de</strong> maio/88, a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Xapuri e Sindi-<br />

cato <strong>de</strong>nunciam que um irmão <strong>de</strong> ALVARINO e<br />

DARLI é o Escrivão <strong>de</strong> Polícia local. Pe<strong>de</strong>m o seu<br />

afastamento ao Sectetário <strong>de</strong> Segurança, mas não<br />

são atendidos;<br />

08. No dia 17 <strong>de</strong> novembro/88, CHICO MENDES <strong>de</strong>nun-<br />

cia ao Juiz da Comarca por intermédio <strong>de</strong> Carta, que<br />

os Srs. DARLI e ALVARINO estavam tramando o seu<br />

assassinato. O Juiz mostra interesses em apurar os<br />

fatos e coloca a sua dificulda<strong>de</strong> em colher as provas<br />

para incriminar os mandantes. Inclusive menciona a<br />

ausência do Promotor <strong>de</strong> Justiça na Comarca com<br />

atuação permanente para acompanhar os processos<br />

na Comarca, causando assim, prejuízos na apuração<br />

das provas por faltar um elemento indispensável no<br />

Judiciário;<br />

09. No mês <strong>de</strong> novembro/88, CHICO MENDES <strong>de</strong>nuncia<br />

em Carta enviada ao Secretário <strong>de</strong> Segurança Públi-<br />

ca e governo Estadual, que estavam tramando sua<br />

morte. Não recebe qualquer resposta <strong>de</strong> sua carta;<br />

10. Também remete Carta <strong>de</strong>nunciando <strong>de</strong> sua morte ao<br />

Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre no perío-<br />

do em que já havia comunicado as autorida<strong>de</strong>s Esta-<br />

duais do Acre. Em seguida, a Carta é divulgada pelo<br />

Jornal "Gazeta do Acre", o qual usa "manchete' para<br />

divulgar o fato: "Polícia Fe<strong>de</strong>ral facilita fuga <strong>de</strong> pis-<br />

toleiros" e começa polêmica entre Chico Men<strong>de</strong>s e o<br />

Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral. E, <strong>de</strong>sloca a<br />

questão central para assuntos menores;<br />

11. Outras providências requeridas antes do estúpido as-<br />

sassinato:<br />

TELEX - TELEGRAMAS:<br />

Em 29 <strong>de</strong> novembro/88, o STR <strong>de</strong> Brasiléia, AC, re-<br />

mete Telex, ao Governador Flaviano Melo, ao Diretor<br />

Geral da Polícia Fe<strong>de</strong>ral - ROMEU TUMA e ao Se-<br />

cretário <strong>de</strong> Segurança Pública do Estado do Acre,<br />

<strong>de</strong>nunciando ameaças <strong>de</strong> assassinato <strong>de</strong> trabalhado-<br />

res rurais em Xapuri e Brasiléia e não recebe qual-<br />

quer resposta;<br />

Em 05 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembfo/88, o STR <strong>de</strong> Brasiléia, STR <strong>de</strong><br />

Xapuri, Conselho Nacional <strong>de</strong> Seringueiros e CTA -<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Trabalhadores da Amazônia remetem no-<br />

vamente Telex para as Autorida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais: ao Pre-<br />

si<strong>de</strong>nte da República, Ministro da Justiça - Dr. PAU-<br />

LO BROSSARD e Diretor Geral da Polícia Fe<strong>de</strong>ral -<br />

Dr. ROMEU TUMA Somente o Sr. Romeu Tuma<br />

respon<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>núncia e remeteu outro telex ao Dep-<br />

to. <strong>de</strong> Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre. Não temos <strong>de</strong>talhes<br />

<strong>de</strong>sse telex.<br />

O teor do texto contido nos Telex <strong>de</strong>nunciavam o<br />

<strong>de</strong>scaso das Autorida<strong>de</strong>s do Acre - que não perse-<br />

guiam pistoleiros com mandados <strong>de</strong> prisão soltos e<br />

ameaçando Chico Men<strong>de</strong>s e outras li<strong>de</strong>ranças sindi-<br />

cais da região;<br />

12. No período <strong>de</strong> 12 até 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembfo/88, estariam<br />

circulando em Rio Branco o elemento BENEDITO<br />

ROSA sobrinho <strong>de</strong> Darli e um elemento <strong>de</strong>sconheci-


: : : : : : : : : : ; : : i : : : : : : : : : : : : : ; : ::-;';::-:::o: : ; : : : : : ; : : : : : :<br />

Quinzena<br />

WMmmmMtmmMMfí<br />

do a procura <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s para assassiná-lo, cir-<br />

cularam nesse período em voiage branco e volks.<br />

Quem <strong>de</strong>u essa informação foi membros da própria<br />

Polícia Militar do Acre. (haviam colhido esses fatos<br />

no Setor <strong>de</strong> inteligência da PM/AC). Fonte <strong>de</strong> nossas<br />

informações: CHICO MENDES e RAIMUNDO BAR-<br />

BOS;<br />

13. Os próprios integrantes da PM do Acre que <strong>de</strong>mons-<br />

traram interesse em pren<strong>de</strong>r os acusados DARLI e<br />

ALVARINO afirmaram ao CHICO MENDES na pre-<br />

M<br />

^ ^ ^<br />

Trabalhadores<br />

sença <strong>de</strong> testemunhas-que o Secretário <strong>de</strong> Seg. Pú-<br />

blica do Acre era comprometido com o Esquadrão da<br />

Morte, e com membros da UDR e não tinha interesse<br />

em pren<strong>de</strong>r os foragidos. (Major Jordão afirmou esses<br />

fatos no dia 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro/88, no período da ma-<br />

nhã - aproximadamente às 11:00 hs., afirmou ao pró-<br />

prio CHICO MENDES, em visita feita ao referido<br />

Major, na presença dos 3 (três) seguranças pessoais<br />

<strong>de</strong> CHICO MENDES).<br />

CHICO MENDES E ASSASSINADO POR<br />

O Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais<br />

<strong>de</strong> Xapuri, membro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Seringuei-<br />

ros e da Direção Nacional da Central Única dos Traba-<br />

lhadores, CHICO MENDES (Francisco Alves Men<strong>de</strong>s Fi-<br />

lho), foi assassinado com um tiro no peito às 18:45 hs<br />

(hora local) do dia 22/12/88, quando ele atravessava o<br />

terreno no fundo <strong>de</strong> sua casa em Xapuri, estado do Acre,<br />

para dirigir-se ao banheiro. Fontes locais acusam o pis-<br />

toleiro BENEDITO ROSA, pelo assassinato.<br />

CHICO MENDES tinha 43 anos, era casado e pai <strong>de</strong><br />

dois filhos.<br />

O assassinato consuma ameaças <strong>de</strong> morte que o sin-<br />

dicalista vinha recebendo há longa data e que ele já <strong>de</strong>-<br />

nunciara à imprensa e às autorida<strong>de</strong>s policiais e judiciá-<br />

rias estaduais e fe<strong>de</strong>rais. O lí<strong>de</strong>r seringueiro e ecologista<br />

já fora vítima <strong>de</strong> seis emboscadas, a ultima das quais<br />

ocorreu em 29/04/88 e foi amplamente divulgada pela<br />

imprensa. Há aproximadamente um ano o li<strong>de</strong>r seringuei-<br />

ro vinha sendo escoltado por policiais armados. Em<br />

03/12 ultimo, o jornal "O Estado <strong>de</strong> São Pau Io" publicou<br />

<strong>de</strong>nuncia do sindicalista e ambientalista <strong>de</strong> que o supe-<br />

rinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre, Delegado Mauro<br />

Sposito, faria parte <strong>de</strong> um complô <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros e fun-<br />

cionários da polícia estadual que estariam planejando<br />

sua morte e que a polícia fe<strong>de</strong>ral teria facilitado a fuga<br />

dos irmãos DARLI e ALVARINO ALVES, procurados pela<br />

polícia do Paraná acusados <strong>de</strong> serem mandantes <strong>de</strong><br />

atentados outros contra os trabalhadores.<br />

Este é o quarto assassinato <strong>de</strong> sindicalista <strong>de</strong> Xapuri<br />

neste ano: em 18 <strong>de</strong> junho IVAIR HIGINO DE ALMEIDA,<br />

26 anos, foi morto a tiros numa emboscada; em 12 <strong>de</strong><br />

setembro outros dois sindicalistas foram assassinados.<br />

Chico Men<strong>de</strong>s acusava como responsáveis pelas<br />

ameaças <strong>de</strong> morte que vinha sofrendo um complô <strong>de</strong> fa-<br />

zen<strong>de</strong>iros ligados à UDR (UNIÃO DEMOCRÁTICA RU-<br />

RALISTA), em especial DARLI ALVES, proprietário da<br />

fazenda Paraná localizada no Seringal Cachoeira, que<br />

vinha tentando expulsar os serigueiros <strong>de</strong>sta área e con-<br />

tra o que o Sindicato Rural vinha lutando. Uma das prin-<br />

cipais conquistas do Sindicato Rural <strong>de</strong> Xapuri em 1988,<br />

foi a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> alguns seringais do município,<br />

<strong>de</strong>ntre os quais se inclui o Seringal Cachoeira.<br />

Chico Men<strong>de</strong>s começou a <strong>de</strong>stacar-se a partir da dé-<br />

cada <strong>de</strong> 70 por li<strong>de</strong>rar os seringueiros do Município <strong>de</strong><br />

Xapuri nos "embates", uma forma <strong>de</strong> resistência pacífica<br />

contra a entrada <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong>stinadas ao <strong>de</strong>smata-<br />

mento, essas ações visam a <strong>de</strong>fesa da posse da terra<br />

pelos seringueiros e a preservação da floresta, e foram<br />

PISTOLEIROS NO ACRE<br />

responsáveis pela conservação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> hectares<br />

<strong>de</strong> mata na Amazônia; Transformou-se no principal li<strong>de</strong>r<br />

sindical do Acre após o assassinato <strong>de</strong> WILSON PI-<br />

NHEIRO, li<strong>de</strong>r do Sindicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />

Brasiléia, município vizinho a Xapuri-sua luta pela pre-<br />

servação dos seringais e castanheiras nativas, transfor-<br />

mando-os em resen/as extrativistas, notabilizou-o inter-<br />

nacionalmente. Em 1987recebeu dois prêmios interna-<br />

cionais por sua atuação em <strong>de</strong>fesa do Meio Ambiente: o<br />

"GLOBAL 500", conferido pela ONU em Washington, e a<br />

."Medalha da Socieda<strong>de</strong> para um Mundo Melhor"; seu<br />

<strong>de</strong>poimento na Comissão <strong>de</strong> Verbas do Senado Ameri-<br />

cano foi importante para a incusão <strong>de</strong> cláusulas preser-<br />

vacionistas nos contratos <strong>de</strong> empréstimos do BIRD para<br />

a construção da Rodovia BR-363 (Porto Velho-Rio Bran-<br />

co).<br />

O <strong>Centro</strong> Ecumênico <strong>de</strong> <strong>Documentação</strong> e Informação,<br />

o Instituto <strong>de</strong> Estudos Amazônicos, o Conselho Na-<br />

cional <strong>de</strong> Seringueiros, a União das Nações Indíge-<br />

nas, o Sindicato dos Trabalhadores <strong>de</strong> Xapuri e as<br />

entida<strong>de</strong>s que apoiam a luta dos povos da floresta,<br />

inconformados com o tratamento <strong>de</strong>stinado à luta<br />

<strong>de</strong>stes trabalhadores, pe<strong>de</strong>m às organizações e pes-<br />

soas para telegrafarem às autorida<strong>de</strong>s, exigindo a<br />

imediata punição <strong>de</strong> todos os culpados. (Rio Branco,<br />

Curitiba, Sao Paulo, 23/12/88).


O Estado <strong>de</strong> São Paulo - 03.12.88<br />

RIO BRANCO - O eoologista Chico<br />

Men<strong>de</strong>s, presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos<br />

Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Xapuri, acu-<br />

sou o superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe-<br />

<strong>de</strong>ral do Acre, <strong>de</strong>legado Mauro Sposi-<br />

to, <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> uma complô <strong>de</strong><br />

fazen<strong>de</strong>iros e funcionários da Secreta-<br />

ria <strong>de</strong> Segurança Pública, que esta-<br />

riam planejando sua morte. Ele disse<br />

também que a Polícia Fe<strong>de</strong>ral facili-<br />

tou a fuga dos irmãos Darli e Alvarino<br />

Alves, pistoleiros procurados pela po-<br />

ECOLOGISTA DIZ QUE PF<br />

PLANEJA SEU ASSASSINATO<br />

Senhor Governador<br />

lícia do Paraná.<br />

Chico Men<strong>de</strong>s é seringueiro e se<br />

projetou no País e no Exterior por li-<br />

<strong>de</strong>rar um movimento <strong>de</strong> resistência à<br />

<strong>de</strong>vastação da Amazônia Por seu<br />

trabalho, ele recebeu, neste ano, o<br />

prêmio "GLOBAL 500" da Organiza-<br />

ção das Nações Unidas, e a medalha<br />

da Socieda<strong>de</strong> para um Mundo Melhor,<br />

respectivamente em Washington e<br />

Londres. Depois disso, passou a an-<br />

dar protegido por dois seguranças.<br />

Trabalhadores<br />

Em Rio Branco, o geólogo Orlando<br />

Valver<strong>de</strong>, também ligado ao problema<br />

ambiental e ao processo <strong>de</strong> ocupação<br />

da Amazônia Oci<strong>de</strong>ntal, apoiou o sin-<br />

dicalista e chegou a sugerir que ele<br />

formalizasse <strong>de</strong>núncia ao <strong>de</strong>legado<br />

Romeu Tuma, diretor-geral da Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral.<br />

O <strong>de</strong>legado Mauro Sposito divul-<br />

gou ontem à tar<strong>de</strong> nota em que se<br />

nega as acusações e garante que<br />

Chico Men<strong>de</strong>s será interpelado judi-<br />

cialmente para comprová-las. O Se-<br />

cretário <strong>de</strong> Segurança Pública do<br />

Acre, Carlos Castelo Branco, não foi<br />

encontrado para esclarecer a <strong>de</strong>nún-<br />

cia contrasua pasta.<br />

Rio Branco, 29 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1988.<br />

Exmo. Sr.<br />

Edson Simões Cadaxo<br />

Governador em Exercício do Estado do Acre<br />

A gravida<strong>de</strong> dos fatos envolvendo o assassinato do sindicalista e ambientalista CHICO MENDES leva as<br />

entida<strong>de</strong>s abaixo-relacionadas a solicitar <strong>de</strong> V.Excia. medidas urgentes relacionadas com a condução do inquérito<br />

para que haja transparência nas investigações como quer toda a socieda<strong>de</strong> brasileira. Os fatos abaixo relacionados<br />

levam-nos a requerer o imediato afastamento do Sr. Secretário <strong>de</strong> Segurança do Estado do Acre, José Carlos Cas-<br />

telo Branco.<br />

l.Atos <strong>de</strong>lituosos não são <strong>de</strong>vidamente apurados no Estado. Somente no Município <strong>de</strong> Xapuri, informa o Sr. Dr.<br />

Juiz <strong>de</strong> Comarca, estão parados mais <strong>de</strong> 300 inquéritos por falta <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> diligências e pronunciamento<br />

do Ministério Público. Tomando ciência dos crimes, a Polícia Civil nâo chega sequer a tomar as medidas legais<br />

primitivas e fundamentais a investigação para conhecer as causas, circunstâncias e autores dos Crimes.<br />

NO CASO CHICO MENDES A IMPERÍCIA DA POLÍCIA SEQUER PERMITIU QUE O LOCAL DO CRIME<br />

FOSSE ISOLADO PARA OS EXAMES PERICIAIS CHEGANDO À ABERRAÇÃO DOS PRÓPRIOS MEM-<br />

BROS DA POLÍCIA DESLOCAREM DO LOCAL OBJETOS DA INVESTIGAÇÃO. TODOS OS VESTÍGIOS<br />

DO CRIME JÁ FORAM APAGADOS NO LOCAL.<br />

2.0 Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, Dr. Romeu Tuma, em reunião pública na Igreja da Paróquia <strong>de</strong> Xapuri,<br />

afirmou existirem barreiras em todas as fronteiras para evitar a saída dos criminosos.<br />

NA ESTRADA DO RIO BRANCO - XAPURI A POLÍCIA MILITAR E POLÍCIA CIVIL ESTAVAM FAZEN-<br />

DO BARREIRA E CONFORME AMPLAMENTE DIVULGAÇÃO PELOS JORNAIS OS ELEMENTOS DE-<br />

NOMINADOS DARU ALVES DA SILVA FILHO E APARECIDO ALVES DA SILVA FILHO FURARAM O<br />

CERCO POLICIAL SOMENTE SENDO PERSEGUIDOS E PRESOS POR AGENTES DA POLÍCIA FEDERAL<br />

POR INICIATIVA E DENÚNCIA DE MEMBROS DO COMITÊ.<br />

3.A Polícia do Estado tem <strong>de</strong>monstrado omissão permanente e recorrente em casos anteriormente divulgados pela<br />

imprensa envolvendo os mesmos indivíduos acusados do assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s. Recentemente foram en-<br />

contrados dois cadáveres a 200 metros da Fazenda Paraná <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Darli Alves e os mesmos foram en-<br />

terrados no próprio local.<br />

SENDO PÚBLICOS OS PRECEDENTES CRIMINOSOS DOS SUSPEITOS DE PARTICIPAÇÃO NO ASSAS-<br />

SINATO DE CHICO MENDES INEXISTE CONTRA ESTES ELEMENTOS DE ALTA PERICULOSIDADE<br />

AÇÃO EM ANDAMENTO OU MESMO TRANSITADO EM JULGADO; FORMAÇÃO DE QUADRILHAS,<br />

LESÕES CORPORAIS, SUSPEITOS DE HOMICÍDIOS NUNCA FORAM APURADOS BENEFICIADOS AS-<br />

SIM PELA CONDIÇÃO DE PRIMÁRIOS.<br />

4A impunida<strong>de</strong> tem marcado a atuação da Secretaria <strong>de</strong> Segurança do Estado frente aos inúmeros conflitos envol-


Quinzena m Trabalhadores<br />

vendo trabalhadores rurais e seringueiros. Em 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1988 dois seringueiros foram baleados na Se<strong>de</strong> do<br />

IBDF <strong>de</strong> Xapuri. Os autores dos disparos foram reconhecidos por testemunhas logo em seguida. O Inquérito Po-<br />

licial não in<strong>de</strong>ntificou nem responsabilizou criminalmentc os autores. Em 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1988 o Delegado Sindi-<br />

cal Ivair Higino <strong>de</strong> Almeida foi assassinado em sua própria casa. O Governo do Estado não respon<strong>de</strong>u às solici-<br />

tações <strong>de</strong> apuração do crime.<br />

OS FATOS ARROLADOS NÃO EXPRESSAM O CONJUNTO DA IMPUNIDADE. MAS SÀO SUFICIENTES<br />

PARA QUE DESPERTEM GRAVE PREOCUPAÇÃO POR PARTE DA SOCIEDADE COM RELAÇÃO AO<br />

DESTINO QUE SERÁ DADO ÀS PROVAS E INDÍCIOS PUBLICAMENTE EXISTENTES.<br />

5.FATO AINDA MAIS GRAVE QUE OS ANTERIORES: NO DIA 5 DE DEZEMBRO PRÓXIMO PASSADO A<br />

SECRETARIA DE SEGURANÇA DO ESTADO QUE, CONHECENDO A GRAVIDADE DO ENVOLVI-<br />

MENTO DELITUOSO DA FAMÍLIA DARLI ALVES DA SILVA EXPEDE PORTE DE ARMA A OLOCI<br />

ALVES DA SILVA CONFORME LIVRO DE REGISTRO No. 218762, VÁLIDA ATE 5 DE nF.7F.MRRO DE<br />

1989, TEMPO SUFICIENTE PARA OUTROS ASSASSINATOS..<br />

As entida<strong>de</strong>s que compõem o COMITÊ CHICO MENDES, representando a preocupação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> brasileiros<br />

e cidadãos <strong>de</strong> várias partes do mundo, solicitam imediatamente a <strong>de</strong>missão do Secretário <strong>de</strong> Segurança Pública,<br />

uma vez que os fatos arrolados são suficientemente graves e constemadores. E temos certeza que não expressam<br />

mais do que a superficialida<strong>de</strong> do que efetivamente vem acontecendo com a justiça e a segurança <strong>de</strong>ste Estado. No<br />

prazo <strong>de</strong> vinte e quatro horas o Comitê estará <strong>de</strong> volta para obter a resposta a esta solicitação.<br />

Atenciosamente,<br />

COMITÊ CHICO MENDES<br />

NOTA: Esta carta foi entregue ao governador do Acre, em mãos, no dia 29.12.88.<br />

Comitê Chico Men<strong>de</strong>s - 03.01.$9<br />

NOTA DO COMITÊ CHICO MENDES<br />

O Comitê Chico Men<strong>de</strong>s, representando <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> instituições da socieda<strong>de</strong> civil, cientistas, pesquisado-<br />

res, profissionais liberais, comparece perante V.Excia,<br />

nos termos da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e <strong>de</strong>mais dispositi-<br />

vos legais e éticos para formular.<br />

DENUNCIA<br />

De fatos extremamente graves que <strong>de</strong>verão ser urgente<br />

e rigorosamente apurados pelas autorida<strong>de</strong>s que repre-<br />

sentam os interesses da socieda<strong>de</strong> no Exercício da Fun-<br />

ção Pública.<br />

1.0 Inquérito Policial ainda não colheu os elemen-<br />

tos <strong>de</strong> provas que incriminam os mandantes in-<br />

tectuais do assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s, em ra-<br />

zão do comprometimento <strong>de</strong> certas autorida<strong>de</strong>s<br />

que habitam a sombra do po<strong>de</strong>r e até mesmo uti-<br />

lizam como escudo com o objetivo <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r a<br />

verda<strong>de</strong>.<br />

2.0 Comitê Chico Men<strong>de</strong>s relaciona a seguir fatos<br />

que <strong>de</strong>verão ser objetos <strong>de</strong> rigorosa e séria inves-<br />

tigação:<br />

A) Nos dias 20 e 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, as<br />

vésperas do crime o Sr. Gastão Mota esteve na<br />

Secretaria <strong>de</strong> Segurança Pública e chegou mes-<br />

mo a conversar com o Sr. José Carlos Castelo<br />

Branco Secretário <strong>de</strong> Segurança.<br />

B) Foi remetida a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> pagamento no valor<br />

<strong>de</strong> 10.400.000 (<strong>de</strong>z milhões e quatrocentos mil<br />

cruzados), através da Ag. Matriz do BANACRE<br />

em Rio Branco, para a Ag. BANACRE em Brasi-<br />

leia em favor do Sr. Gastão Mota. Quem remeteu<br />

o valor teria sido a empresa (R.V. FONTINELE)<br />

testemunhas em Brasileia presenciaram o exage-<br />

rado nervozismo do Sr. Gastão Mota, enquanto<br />

esperava a citada or<strong>de</strong>m. Foi exatamente nesta<br />

ocasião que ele foi preso. E portanto indispensa-<br />

velmente a investigação a respeito da origem do<br />

dinheiro remetido.<br />

C) No dia 06 e <strong>de</strong>zembro 1988 o jornal (O Rio<br />

Branco) publicou matéria que registrava o (estou-<br />

ro <strong>de</strong> uma bomba no Acre, com repercussão na-<br />

cional, <strong>de</strong> 200 Megatons) e afirmava que tais no-<br />

tícias provinham <strong>de</strong> fonte fi<strong>de</strong>digna. Na mesma<br />

matéria se faz ref. a Chico Men<strong>de</strong>s numa tentati-<br />

va clara <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoraliza-lo perante a opinião pú-<br />

blica.<br />

D) Três dias após o crime, dia 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1988 por volta <strong>de</strong> 15 a 16 horas, o Sr. Adalberto<br />

Aragão foi visto nas imediações da drogaria po-<br />

vão em companhia <strong>de</strong> 4 elementos, <strong>de</strong>ntre os<br />

quais, 2 que estão diretamente implicados no<br />

crime, conforme se po<strong>de</strong> fazer a in<strong>de</strong>ntificação<br />

dos mesmos entre as fotografias publicadas pelos<br />

jornais.<br />

E) No dia 05 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, foi emitido<br />

porte <strong>de</strong> arma ao Sr. Aparecido Alves da Silva,<br />

filho <strong>de</strong> Darli Alves, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ato, ,


Quinzena<br />

em si mesmo significativo, foi assumida publica-<br />

mente pelo Sr. Secretário <strong>de</strong> Segurança Pública<br />

José Carlos Castelo Branco, em audiência reali-<br />

zada no palácio com o Sr. Governador Edson Ca-<br />

daxo e o Comitê Chico Men<strong>de</strong>s.<br />

Sr. Governador,<br />

Estes fatos concretos merecem imediata apura-<br />

ção e a incriminação dos mandantes do otime.<br />

As investigações <strong>de</strong>vem proseguir em todos os<br />

ângulos, especialmente com os objetivos <strong>de</strong> co-<br />

lher provas contra os mandantes.<br />

É curioso que o Sr. João Branco tenha fugido do<br />

Estado do Acre logo após o crime. Outro fato mui-<br />

to relevante, é a presença <strong>de</strong> repórteres do jornal<br />

O Rio Branco na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Xapuri no local do<br />

Folha Bancária -05.01.89<br />

O sindicalista Wilson Pinheiro<br />

presidiu por duas gestões o Sin-<br />

dicato dos Trabalhadores Rurais<br />

<strong>de</strong> Brasilèia, município próximo<br />

à Xapuri (Acre). Assim como<br />

Chico Men<strong>de</strong>s, em 1982, Wilson<br />

Pinheiro foi assassinado a man-<br />

do dos fazen<strong>de</strong>iros da região. In-<br />

conformados e revoltados, os se-<br />

ringueiros lincharam Nilo Sér-<br />

gio, acusado <strong>de</strong> ser o mandante<br />

do crime.<br />

No domingo, 8 <strong>de</strong> ja-<br />

neircjforam realizadas as eleições<br />

naquele Sindicato, que tem mui-<br />

ta importância na luta dos serin-<br />

gueiros em <strong>de</strong>fesa dos povos da<br />

floresta e para todo movimento<br />

sindical do Acre. Por isso, a<br />

UDR tentará impedir <strong>de</strong> todas as<br />

formas, que os trabalhadores ga-<br />

nhem novamente estas eleições.<br />

Veia-14.12.88<br />

Trabalhadores<br />

crime pouco tempo <strong>de</strong>pois do assassinato, tempo<br />

insuficiente para se fazer o trajeto entre Rio Bran-<br />

co e Xapuri.<br />

Para a perfeita elucidação do crime, torna-se,<br />

pois, imprescindível efetivar interrogatórios do Sr.<br />

João Branco, Presi<strong>de</strong>nte Regional da UDR, do Sr.<br />

Adalberto Aragão e do responsável pela coluna<br />

do jornal do Rio Branco que publicou a matéria<br />

supra mencionada.<br />

Respeitosamente,<br />

Comitê Chico Men<strong>de</strong>s<br />

Por favor retransmitir para as <strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s.<br />

Rio Branco 3 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1989.<br />

Colabore com a luta dos trabalhadores do Acre<br />

Morte anunciada<br />

Deputado ameaçado é<br />

assassinado no Pará<br />

Na tar<strong>de</strong> da última terça-feira, o <strong>de</strong>-<br />

putado estadual João Carlos Batis-<br />

ta, 36 anos, do Partido Socialista Brasi-<br />

leiro, ocupou a tribuna da Assembléia<br />

Legislativa do Pará para repetir uma <strong>de</strong>-<br />

núncia que costumava fazer com freqüên-<br />

cia. "Recentemente, em Paragominas,<br />

fui ameaçado <strong>de</strong> morte", afirmou João<br />

Batista, que citou ainda o nome <strong>de</strong> dois<br />

policiais militares que teriam feito a<br />

ameaça. À noite, quando entrava na ga-<br />

ragem do seu apartamento no centro <strong>de</strong><br />

Belém, o <strong>de</strong>putado foi atingido por um<br />

tiro na cabeça, disparado por um homem<br />

que se colocou ao lado do carro <strong>de</strong> João<br />

Batista. Dentro, além do próprio <strong>de</strong>puta-<br />

do, estavam sua mulher e três filhos —<br />

um <strong>de</strong>les, a menina Dina, <strong>de</strong> 4 anos, foi<br />

ferido com um tiro na pema.<br />

A morte do <strong>de</strong>putado soma-se à longa<br />

para não disputarem a Fe<strong>de</strong>ra-<br />

ção dos Trabalhadores na Agri-<br />

cultura do Acre.<br />

Os sindicalistas fazem um ape-<br />

lo a (o<strong>de</strong>s que pu<strong>de</strong>rem colabo-<br />

rar, que enviem qualquer contri-<br />

buição financeira para a conta<br />

3967/6 — Banco Banorte, em<br />

nome <strong>de</strong> Osmaríno Amãncio Ro-<br />

drigues (Secretário do Conselho<br />

Nacional dos Seringueiros), em<br />

Brasilèia, Acre.<br />

Segundo Osmarino, as dificul-<br />

da<strong>de</strong>s são enormes. Por exem-<br />

plo, pra fazer uma assembléia, a<br />

gente tem que andar <strong>de</strong> Brasilèia<br />

até o seringal São Salvador e gas-<br />

ta 5 dias para ir e 5 dias para vol-<br />

tar. O frete <strong>de</strong> um transporte<br />

custa CzS 250 mil. Isto porque os<br />

donos dos transportes não que-<br />

rem que tenhamos acesso aos<br />

trabalhadores e tudo fazem para<br />

dificultar, já que estão ligados<br />

aos fazen<strong>de</strong>iros. É muito caro.<br />

Os seringueiros não têm recur-<br />

sos, pois a borracha está sendo<br />

paga a CzS 500,00 o quilo, en-<br />

quanto o açúcar chega a custar<br />

CzJ 3 mil cruzados. Precisamos<br />

mudar esta situação.<br />

Nessa campanha muitos já<br />

tombaram, prossegue Osmarino.<br />

Nós mesmos estamos ameaça-<br />

dos. Não sei se vou ficar muito<br />

tempo na direção do Sindicato<br />

em Brasilèia para dar continui-<br />

da<strong>de</strong> à luta <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s,<br />

Wilson Pinheiro, Jesus Matias,<br />

Calado e ivair, companheiros<br />

que tombaram, em <strong>de</strong>fesa dos<br />

trabalhadores.<br />

lista <strong>de</strong> assassinatos causados por conflitos<br />

agrários na Região Norte do país e, ao<br />

mesmo tempo, <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>scaso das<br />

autorida<strong>de</strong>s com o problema. Des<strong>de</strong> que o<br />

ex-<strong>de</strong>putado estadual Paulo Fontelles, do<br />

PC do B, <strong>de</strong>nunciou, em junho <strong>de</strong> 1984, a<br />

existência <strong>de</strong> uma lista com oito nomes ju-<br />

rados <strong>de</strong> morte por fazen<strong>de</strong>iros do Estado,<br />

já tombaram cinco <strong>de</strong>sses nomes, incluindo<br />

o do próprio Fontelles, morto há um ano e<br />

meio. Em outubro, o <strong>de</strong>putado João Batis-<br />

ta, que já havia sofrido três atentados antes<br />

<strong>de</strong> ser assassinado na semana passada, <strong>de</strong>-<br />

nunciou ao presi<strong>de</strong>nte do seu partido, o se-<br />

nador Jamil Haddad, que o fazen<strong>de</strong>iro Wir-<br />

land Freire o estaria ameaçando <strong>de</strong> morte.<br />

O <strong>de</strong>putado era um combativo advogado<br />

<strong>de</strong> posseiros na região — e achava que esta<br />

era a razão das ameaças. Haddad pediu<br />

providências ao ministro da Justiça, Paulo<br />

Brossard, que encaminhou a questão para a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Segurança do Pará.<br />

mas nenhuma providência foi to-<br />

mada. No final da semana, sem<br />

que nenhuma das pessoas citadas<br />

por João Batista nas suas <strong>de</strong>nún-<br />

Para eles ficarem satisfeitos,<br />

on<strong>de</strong> eles estiverem, e para que<br />

os trabalhadores sintam mais co-<br />

ragem precisamos mais do que<br />

nunca ganhar este Sindicato.<br />

A UDR tenta impedir a vitória<br />

nos Sindicatos daqueles que lu-<br />

tam pela reforma agrária. Mas<br />

isso eles não vão conseguir en-<br />

quanto tiver colono querendo vi-<br />

ver, enquanto tiver Índio queren-<br />

do viver eles não conseguirão<br />

acabar com a nossa luta. A mata<br />

é a nossa vida. A Amazônia è o<br />

pulmão do mundo e precisamos<br />

<strong>de</strong>fendê-la. Acabando com a ma-<br />

ta estão acabando com os serin-<br />

gueiros. Queremos ser gente e<br />

sermos respeitados, afirma o sin-<br />

dicalista.<br />

cias tivesse sido ouvida, o gover-<br />

nador do Pará, Hélio Gueiros, ex-<br />

plicou que não tem como dar ga-<br />

rantias <strong>de</strong> vida para ninguém<br />

"Político e jornalista são proljs<br />

soes arriscadas, e o João Batista sa-<br />

bia disso", afirmou o governador<br />

No enterro do <strong>de</strong>putado, acompa-<br />

nhado na última quinta-feira por<br />

cerca <strong>de</strong> 4 000 pessoas, houve<br />

protestos contra a violência e foi<br />

exibida uma faixa, segurada poi<br />

cinco crianças, com uma ameaça;<br />

"O povo quer vingança. Morte à<br />

UDR", dizia. •


^^M^i:-::<br />

Quinzena w Trabalhadores<br />

Cenários - <strong>de</strong>z/BB<br />

"Riocentro" em Volta Redonda<br />

Dirigentes sindicais estão convencidos <strong>de</strong> que o enfren-<br />

tamento <strong>de</strong> tropas militares contra os grevistas da Compa-<br />

nhia Si<strong>de</strong>rúrgica Nacional tinha o objetivo <strong>de</strong> criar uma situa-<br />

ção <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> institucional impedindo a realização das<br />

eleições municipais. De acordo com esta avaliação, o episó-<br />

dio que resultou na morte <strong>de</strong> três operários, longe <strong>de</strong> ter sido<br />

provocado por um excesso localizado do comando da ope-<br />

ração diante da resistência dos trabalhadores, foi uma ofen-<br />

siva <strong>de</strong> setores golpistas no interior das Forças Armadas.<br />

Alguns dos argumentos que fundamentam esta conclusão<br />

po<strong>de</strong>rão ser encontrados na edição especial do boletim na-<br />

cional da CUT ("Volta Redonda, os fatos na voz dos traba-<br />

lhadores") que circulará nas próximas semanas. É uma es-<br />

pécie <strong>de</strong> resposta à versão apresentada recentemente pelo<br />

"Noticiário do Exército", e veiculado na imprensa, on<strong>de</strong> o<br />

Ministério do Exército explica a ação das tropas e sustenta a<br />

tese da utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> guerrilha urbana pelos ope-<br />

rários amotinados no interior da usina da CSN.<br />

Custódia - A análise do movimento sindical sobre a pre-<br />

sença cada vez maior dos militares nas questões trabalhistas<br />

(o eixo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões do governo em relação às greves da<br />

CSN, Light e petroleiros se <strong>de</strong>slocou do Palácio do Planalto<br />

para a Praça dos Três Po<strong>de</strong>res, on<strong>de</strong> fica o QG do Exército)<br />

<strong>de</strong>semboca nas seguintes constatações: -<br />

1 - Há, <strong>de</strong> fato, no nível da ação institucional das Forças<br />

Armadas, especialmente do Exército, o objetivo <strong>de</strong> ocupar o<br />

vácuo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r criado por um governo sem autorida<strong>de</strong> e<br />

ineficiente no enfrentamento dos problemas econômicos.<br />

2 - Este quadro coloca sob custódia das Forças Armadas<br />

o Governo Sarney, que tem nos militares hoje a sua principal<br />

base <strong>de</strong> sustentação, uma vez que carece <strong>de</strong> apoio das ruas,<br />

dcs partidos políticos e é abertamente questionado pelo em-<br />

presariado, preocupado com o <strong>de</strong>sdobramento da cnse<br />

econômica.<br />

3 - A situação facilita a ofensiva da direita golpista no inte-<br />

rior dos quartéis. Este setor é minoritário na disputa <strong>de</strong> in-<br />

fluência no Estado Maior do Exército. Mas é ativo e está bem<br />

situado em postos intermediários (em alguns casos mantendo<br />

sob influência alguns comandos <strong>de</strong> tropa) e vinculado dire-<br />

tamente aos organismos da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações,<br />

como o SNI e o Ciex.<br />

4 - Estes organismos se mantém ativos. O General Ivan <strong>de</strong><br />

Souza Men<strong>de</strong>s, um dos mais importantes articuladores do<br />

Planalto, não mantém controle sobre a Agência Central do<br />

SNI, em Brasília, que tem agora uma estrutura operacional<br />

maior do que no tempo do regime militar. Situação idêntica<br />

experimenta o Ciex, que realiza trabalho <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong><br />

informações e produção <strong>de</strong> análises que chegam direta-<br />

mente à presidência da República. Ao Ciex é atribuído a ela-<br />

boração <strong>de</strong> um dossiê envolvendo a CUT com um plano <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sestabilização do país. A greve da CSN seria parte <strong>de</strong>ste<br />

plano.<br />

Veja-14.12.88<br />

A primeira vez<br />

Massacre <strong>de</strong> Ipatinga<br />

ainda é tabu<br />

Houve pelo menos uma cida<strong>de</strong> que<br />

sentiu com a mesma intensida<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>sespero e o drama dos moradores <strong>de</strong><br />

Volta Redonda durante a invasão do<br />

Exército na Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica Na-<br />

cional, no mês passado, quando foram<br />

mortos três operários. Ipatinga, cida<strong>de</strong><br />

mineira a 300 quilômetros <strong>de</strong> Belo Hori-<br />

zonte, passou por uma situação seme-<br />

lhante há 25 anos. A Polícia Militar ma-<br />

tou um número até hoje não esclarecido<br />

<strong>de</strong> pessoas durante um conflito <strong>de</strong>ntro da<br />

Si<strong>de</strong>rúrgica Usiminas. A versão oficial<br />

diz que foram sete mortos. O sindicato<br />

dos metalúrgicos fala em mais <strong>de</strong> trinta.<br />

"Só eu contei 32 corpos e 117 feridos",<br />

contabiliza o ex-sindicalista Geraldo Ri-<br />

beiro. Os inquéritos abertos <strong>de</strong>pois do<br />

que ficou conhecido como "massacre <strong>de</strong><br />

Ipatinga" não <strong>de</strong>ram nenhum resultado e<br />

alguns dos operários que participaram do<br />

conflito tiveram suas vidas prejudicadas<br />

por bastante tempo. "Sofri muitas humi-<br />

lhações e minha família foi bastante pe-<br />

nalizada", queixa-se o mecânico José<br />

Vilas Novas.<br />

O conflito <strong>de</strong> Ipatinga não começou<br />

com greve ou piquetes, como na CSN.<br />

Tudo aconteceu por causa da truculência<br />

dos vigilantes da usina, que, na saída dos<br />

5 - A tese <strong>de</strong> ocupação do vácuo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r diante da cri-<br />

se <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> do governo é que explica a crescente pre-<br />

sença dos militares nos litígios surgidos com as greves e o<br />

progressivo esvaziamento do ministério do Trabalho - <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que Almir Pazzianoto foi para TST, o ministério está sem titu-<br />

lar. Isto substitui soluções negociadas, por soluções <strong>de</strong> con-<br />

fronto.<br />

Intervenções - Os dados recolhidos pelos sindicalistas,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a explosão grevista que atingiu 17 ministérios entre<br />

setembro e outubro, indicam que a alternativa da intervenção<br />

militar no movimento já tinha sido colocada na mesa. Mas al-<br />

guns pontos foram consi<strong>de</strong>rados para que a alternativa não<br />

fosse acionada, a) a incapacida<strong>de</strong> da tropa militar <strong>de</strong> intervir<br />

em movimento <strong>de</strong> massa sem provocar gran<strong>de</strong>s danos -<br />

mortes, feridos e <strong>de</strong>struição do patrimônio; b) A sensibilida<strong>de</strong><br />

do cenário: uma ação com este tipo <strong>de</strong> resultado em Brasília,<br />

provocaria uma gran<strong>de</strong> repercussão; c) a paralisação não<br />

atingia unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peso para a vida econômica do país; d)<br />

a imprensa, <strong>de</strong> certa maneira, trabalhava pela <strong>de</strong>smoraliza-<br />

ção do movimento e dos trabalhadores, ao registrar no boio<br />

do noticiário, evidência <strong>de</strong> gorduras na máquina admmstrati-<br />

va; e) por fim, os setores duros se contentaram porque as<br />

greves, ao atingirem serviços vinculados diretamente à po-<br />

pulação, contribuíam para passar a imagem <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong> do Governo, num clima <strong>de</strong> anarquia.<br />

Os dirigentes sindicais que realizaram a investigação ouvi-<br />

ram fontes militares, parlamentares e políticos ligados ao Go-<br />

verno. Eles ficaram convencidos <strong>de</strong> que a operação militar<br />

em Volta Redonda pretendia adiar as eleições, diante do<br />

prenuncio do avanço das esquerdas no pleito. Tratava-se,<br />

assim, <strong>de</strong> uma ação com <strong>de</strong>sdobramento imprevisíveis no<br />

caminho da instabilida<strong>de</strong> política. Volta Redonda também se-<br />

ria um palco mais que apropriado para servir <strong>de</strong> exemplo ao<br />

movimento como um todo - inclusive aos grevistas <strong>de</strong> outras<br />

estatais estratégicas, como a Petrobrás e a Light.<br />

Outro ponto ficaria claro: <strong>de</strong>finir os limites a que as Forças<br />

Armadas enten<strong>de</strong>m estarem submetidas na sua ação pela<br />

nova Constituição em vigor. Em <strong>de</strong>fesa do que consi<strong>de</strong>ram a<br />

lei e a or<strong>de</strong>m, as restrições do texto constitucional são <strong>de</strong>ixa-<br />

das <strong>de</strong> lado. Ainda <strong>de</strong> acordo com o exame <strong>de</strong> sindicalistas a<br />

intervenção em Volta Redonda, não conseguindo impedir as<br />

eleições, buscou sinalizar para as correntes políticas que<br />

emergiriam vitoriosas uma posição <strong>de</strong> força do Exército.<br />

No jogo <strong>de</strong> pressões a que está exposto o Planalto a re-<br />

percussão dos inci<strong>de</strong>ntes na CSN, <strong>de</strong> acordo com a avalia-<br />

ção do movimento sindical, estabeleceu um recuo provisório<br />

nas forças da direita militar interessadas no confronto. Um<br />

recuo que acabou sé refletindo na reabertura <strong>de</strong> negocia-<br />

ções e que fez com que o Governo <strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> enviar ao<br />

Congresso as medidas provisórias (que têm o valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

creto lei) para enquadrar os trabalhadores que estavam pa-<br />

ralisando ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas essenciais.<br />

operários, pediam documentos, <strong>de</strong>spiam<br />

alguns para ver se não estavam roubando<br />

algo e chegavam até a agredir os que rea-<br />

giam. No dia 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1963, a ir-<br />

ritação dos operários chegou ao máximo<br />

quando alguns vigilantes confiscaram o<br />

leite que cada um <strong>de</strong>les tem direito na<br />

saída do turno, por trabalhar em local<br />

insalubre. Um dos trabalhadores recusou-<br />

se a entregar seu litro e, agredido, revi-<br />

aou. üm outro foi preso e a Cavalaria da<br />

Polícia Militar foi chamada. Para piorar a<br />

situação, um policial foi baleado não se<br />

sabe por quem. A <strong>de</strong>terminada altura,<br />

uma metralhadora instalada em cima <strong>de</strong><br />

um caminhão começou a funcionar e<br />

atingiu inúmeras pessoas. Uma criança,<br />

atingida quando passava em frente d


^ ^<br />

Quinzena Trabalhadores<br />

usina, no entanto, foi morta por tiro <strong>de</strong><br />

revólver calibre 38. "A maioria dos feri-<br />

dos por tiros <strong>de</strong> metralhadora foi atingida<br />

dos joelhos para baixo", lembra-se Ge-<br />

raldo Ribeiro.<br />

José Vilas Novas, acertado no pé es-<br />

querdo e por vários estilhaços, chegou<br />

a ser incluído na primeira lista <strong>de</strong> mor-<br />

tos. Submetido a quatro cimrgias, aca-<br />

bou sobrevivendo e ainda hoje sofre os<br />

efeitos físicos da tragédia. "Meu mari-<br />

do era um atleta", conta sua mulher,<br />

Maria Auxiliadora. Depois do massacre<br />

Cenários - <strong>de</strong>z/88<br />

Com mais <strong>de</strong> 1,2 mil<br />

sindicatos filiados, abran-<br />

gendo uma representação<br />

superior a 10 milhões <strong>de</strong><br />

trabalhadores, a CUT<br />

controla no momento ca-<br />

tegorias estratégicas no<br />

plano nacional, exercen-<br />

do uma folgada hegemo-<br />

nia nas mais importantes<br />

empresas estatais e em<br />

ramos vitais da iniciativa<br />

privada. Para se ter uma<br />

idéia, 15 dos maiores sin-<br />

dicatos metalúrgicos, 10<br />

são cutistas; nos bancá-<br />

rios e telefônicos, são<br />

quatro entre cinco com<br />

maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo; en-<br />

tre os petroleiros, duas<br />

das cinco maiores enti-<br />

da<strong>de</strong>s são afinadas com<br />

a CUT; e finalmente nos<br />

químicos e petroquímicos,<br />

os três maiores ficam<br />

com a central sindical. O<br />

ponto mais fraco da CUT<br />

resi<strong>de</strong> na categoria dos<br />

comerciários, que englo-<br />

ba 6 milhões <strong>de</strong> pessoas.<br />

Estes números cons-<br />

tam <strong>de</strong> uma minuciosa<br />

radiografia feita por téc-<br />

nicos da CUT, Dieese e a<br />

Fase, uma entida<strong>de</strong> pró-<br />

xima da Igreja e que dá<br />

60 ^êT<br />

50<br />

40<br />

60<br />

50 50 50<br />

sua vida mudou radicalmente. "Eu vi-<br />

via bêbado, mexia com drogas e só<br />

queria vingança", afirma o próprio Vi-<br />

las. Nos anos seguintes, ele conseguiu<br />

tratamento em Belo Horizonte, traba-<br />

lhou como mecânico da Volkswagen,<br />

foi taxista e hoje é dono <strong>de</strong> uma peque-<br />

na oficina mecânica em Coronel Fabri-<br />

ciano, cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Ipatinga. Con-<br />

vertido em fervoroso membro da Igreja<br />

Batista do Calvário, Vilas não fala mais<br />

em vingança e se orgulha <strong>de</strong> seu passa-<br />

do. Em Ipatinga, o massacre <strong>de</strong> 25<br />

CUT avalia seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo<br />

assessoria aos sindicatos<br />

e movimentos comunitá-<br />

rios. Para chegar a esses<br />

números, a pesquisa to-<br />

mou por base 3.947 mil<br />

sindicatos, divididos entre<br />

o setor rural (2.795 mil),<br />

urbano (788) e 364 asso-<br />

ciações <strong>de</strong> funcionários<br />

públicos. Para obter este<br />

perfil, a CUT buscou in-<br />

formações também junto<br />

50 5»<br />

40<br />

X<br />

20<br />

10<br />

0<br />

—<br />

2»<br />

FUNCKMARIOS PúBLICOS<br />

'«<br />

— 36<br />

organizados em 22 sindi-<br />

catos e duas fe<strong>de</strong>rações<br />

<strong>de</strong> âmbito interestadual<br />

(Fenatel e Fittel), a força<br />

da CUT abrange uma fa-<br />

tia <strong>de</strong> 57,7% dos sindica-<br />

tos. Nas regiões Su<strong>de</strong>ste<br />

e Sul, on<strong>de</strong> está concen-<br />

trada quase 80% da ca-<br />

tegoria, a representação<br />

cutista supera os 60%.<br />

Petroleiros - Os da-<br />

— 36 wa<br />

anos atrás ainda é tabu para a popula-<br />

ção. "Até hoje as pessoas têm medo <strong>de</strong><br />

perseguições", acredita Vilas. Os dois<br />

inquéritos abertos acabaram não respon-<br />

sabilizando ninguém. Dos <strong>de</strong>zenove po-<br />

liciais envolvidos, dois <strong>de</strong>les, mais tar-<br />

<strong>de</strong>, foram con<strong>de</strong>corados e hoje estão na<br />

reserva. <strong>Sindical</strong>istas como Geraldo Ri-<br />

beiro foram cassados. Mas, este ano, os<br />

metalúrgicos <strong>de</strong> Ipatinga ganharam um<br />

representante na cida<strong>de</strong>: Chico Ferra-<br />

menta, que se elegeu pelo PT. •<br />

das mais importantes re-<br />

finarias do Pais, a Reduc,<br />

em Caxias. Mas, em<br />

compensação, no estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo, responsá-<br />

vel por mais <strong>de</strong> 40% na<br />

refinação <strong>de</strong> petróleo no<br />

Brasil, dos cinco sindica-<br />

tos, quatro são da CUT,<br />

perfazendo 60% da re-<br />

presentação. Em termos<br />

nacionais, a representa-<br />

FUXCIOHAraOS PÚBIICOS<br />

50<br />

Tn ■ Tsn<br />

«<br />

30<br />

X<br />

'° r-ü~\ — 21<br />

o 1 » i 1<br />

Ef-j- "]~1 \ EfUriMBt d« CUT<br />

ao IBGE e ao Ministério<br />

do Trabalho.<br />

É o seguinte o perfil da<br />

representação da CUT<br />

entre as principais cate-<br />

gorias <strong>de</strong> trabalhadores:<br />

EMPRESAS<br />

ESTATAIS<br />

Telefônicos - Entre os<br />

108.158 mil trabalhadores<br />

PETROLEIROS METALÚRGICOS<br />

30 "ST<br />

20<br />

10<br />

0<br />

21<br />

5S<br />

61<br />

ao B<br />

70<br />

«0<br />

90<br />

40<br />

30<br />

ÍO<br />

1°<br />

0<br />

61<br />

dos indicam que a central<br />

controla 61% dos sindica-<br />

tos. E em todas as re-<br />

giões do País, a fatia os-<br />

cila entre 50 a 66%. Cu-<br />

riosamente, na Su<strong>de</strong>ste, a<br />

representação cai para<br />

21,2%, pesando espe-<br />

cialmente a fragilida<strong>de</strong> no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, estado<br />

on<strong>de</strong> está sediada a Pe-<br />

trobrás e que abriga uma<br />

33 ■JB — — 28<br />

^XEAdadaxl 1 % R«pie». Cutma |%EMIdK)s(taCUT ~] Tt Reprea. Cufela<br />

48<br />

V<br />

31<br />

50<br />

—<br />

ção cutista abrange 30%<br />

da categoria. Essa força<br />

no maior estado dá fe<strong>de</strong>-<br />

ração é tão gran<strong>de</strong>, que o<br />

prefeito eleito <strong>de</strong> Campi-<br />

nas, Jacó Bittar, é a prin-<br />

cipal li<strong>de</strong>rança da catego-<br />

ria.<br />

Processamento <strong>de</strong><br />

Dados - Dos 88.693 mil<br />

trabalhadores organiza-<br />

dos em 13 entida<strong>de</strong>s es-<br />

taduais, sindicais e asso-<br />

ciações, pelo menos<br />

84,6% respon<strong>de</strong>m à orien-<br />

tação da central.<br />

Trabalhadores nas<br />

Indústrias Urbanas - A<br />

CUT tem uma participa-<br />

ção relativamente mo<strong>de</strong>s-<br />

ta nas categorias que<br />

operam com energia el^^


Quinzena<br />

trica, água e esgoto, gás<br />

e energia nuclear. A Cen-<br />

tral tem em torno <strong>de</strong> um<br />

terço tanto em número<br />

<strong>de</strong> sindicatos, como <strong>de</strong><br />

representação da base.<br />

Vale lembrar que o cha-<br />

mado sindicalismo <strong>de</strong> re-<br />

sultados, ligado á CGT,<br />

exerce um controle efeti-<br />

vo <strong>de</strong>ste segmento, em<br />

São Paulo, sob a li<strong>de</strong>ran-<br />

ça <strong>de</strong> Antônio Rogério<br />

Magri.<br />

SERVIÇO PÚBLICO<br />

Responsável por mais<br />

<strong>de</strong> 3,8 milhões <strong>de</strong> empre-<br />

gos, a administração pú-<br />

blica é um setor on<strong>de</strong><br />

pouco a pouco a central<br />

vem ocupando espaços<br />

importantes e a maior<br />

prova disso foi a recente<br />

greve nos 14 ministérios,<br />

em Brasília. A radiografia<br />

aponta que a central con-<br />

trola nada mais nada me-<br />

nos que 35,8% daqueles<br />

trabalhadores, através<br />

.das associações. A pior<br />

representação fica com a<br />

região Norte, com apenas<br />

8%. Já no Su<strong>de</strong>ste, a fa-<br />

tia sobe para 58% e é<br />

precisamente nesta re-<br />

gião que se concentra<br />

uma parte expressiva dos<br />

funcionários públicos.<br />

X<br />

20<br />

0<br />

20<br />

14<br />

3 * E/omoo da CUT<br />

-<br />

BANCÁRIOS<br />

16<br />

31<br />

— 2<br />

INDUSTRIA<br />

Químicos e Petro-<br />

químicos - Segundo a<br />

pesquisa, praticamente<br />

todos os sindicatos mais<br />

estratégicos são contro-<br />

lados pela central. São<br />

eles- São Paulo, ABC<br />

paulista^ Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul-e Bahia.<br />

P^ETALURGICOS<br />

Concentração da Categoria<br />

Outras Regiões (8,0%<br />

Metalúrgicos - Os<br />

trabalhadores nas indús-<br />

trias metalúrgicas, eletro-<br />

eletrõnica, mecânica e<br />

material <strong>de</strong> transporte<br />

somam hoje 1,7 milhão,<br />

distribuídos por mais <strong>de</strong><br />

28 mil empresas, 38%<br />

<strong>de</strong>las na produção mecâ-<br />

nica e <strong>de</strong> material elétri-<br />

co-eletrônico. O braço da<br />

CUT alcança 50,5% dos<br />

—<br />

— -:>>^:-:::o:->:-:-::-:-::>:-:-:<br />

Trabalhadores<br />

trabalhadores e 31,7%<br />

dos sindicatos. A diferen-<br />

ciação dos índices, res-<br />

salvam os autores da<br />

pesquisa, ocorre em ra-<br />

zão da pulverização da<br />

estrutura sindical. É que<br />

são 164 sindicatos, dos<br />

quais 78% são localiza-<br />

dos nas regiões Sul e Su-<br />

<strong>de</strong>ste. Um dado curioso:<br />

a CUT tem uma represen-<br />

tação bem superior em<br />

termos proporcionais no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> os<br />

quatro maiores sindicatos<br />

seguem a sua orientação,<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a 90%<br />

da categoria no estado.<br />

Já em São Paulo, berço<br />

da central, a representa-<br />

ção alcança somente um<br />

terço dos metalúrgicos<br />

em função basicamente<br />

da hegemonia exercida<br />

pela CGT na maior enti-<br />

da<strong>de</strong> do país, situada na<br />

capital.<br />

SERVIÇOS<br />

Transporte e comér-<br />

cio - É um segmento que<br />

emprega mais <strong>de</strong> 850 mil<br />

pessoas e na parte aérea<br />

e marítimo-fluvial. A pre-<br />

sença da CUT é tida co-<br />

mo frágil, embora na área<br />

terrestre controle os qua-<br />

tro sindicatos <strong>de</strong> metro-<br />

BANCAm»<br />

60 , «<br />

50<br />

AO<br />

:c<br />

vl^N ^<br />

^«^<br />

c<br />

16<br />

19<br />

Norte Noroeste<br />

__] % ftepfe». CuinU<br />

23<br />

36<br />

m,<br />

Sindiluta-20/12/88.<br />

ÍSlSiiiiiliíi;^^<br />

viários - São Paulo, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e Pernambuco. A<br />

Central tem, também,<br />

uma presença firme entre<br />

os ferroviários, abrangen-<br />

do a totalida<strong>de</strong> do Rio e<br />

Espírito Santo e um boa<br />

representação em Minas<br />

Gerais. Nestes dois últi-<br />

mos estados, a principal<br />

empresa é a Vale do Rio<br />

Doce.<br />

Comerciários - É a<br />

pior representação cutis-<br />

ta, apesar da categoria<br />

abranger 6 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas. Levando em<br />

conta apenas os 182 sin-<br />

dicatos <strong>de</strong> comerciários -<br />

há entida<strong>de</strong>s representa-<br />

tivas também dos traba-<br />

lhadores em hotelaria, tu-<br />

rismo e estabelecimentos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> -, a força da<br />

central está restrita ape-<br />

nas a 31, correspon<strong>de</strong>ndo<br />

a 130 mil pessoas.<br />

Bancários - Repre-<br />

senta hoje um dos princi-<br />

pais pólos <strong>de</strong> sustenta-<br />

ção da CUT, com <strong>de</strong>sta-<br />

que para São Paulo, Rio e<br />

Porto Alegre. Cerca <strong>de</strong><br />

um quarto ds entida<strong>de</strong>s é<br />

controlada pela central, o<br />

que correspon<strong>de</strong> 52,1%<br />

dos trabalhadores do se-<br />

tor.<br />

SETOR RURAL<br />

Por <strong>de</strong>ficiência dos<br />

dados, representou a par-<br />

te mais falha da radiogra-<br />

fia. Os números apurados,<br />

que, segundo os autores<br />

estariam subestimados,<br />

indicam que a CUT con-<br />

trola 12,7% dos sindica-<br />

tos e 18,9% dos trabalha-<br />

dores.


Quinzena<br />

ISER/UERJ - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

CONJUNTURA ÜA IGREJA<br />

CATÓLICA DO BRASIL/88<br />

Pedro A. Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

ISER/UERJ - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Há três anos, fazendo uma análise<br />

<strong>de</strong> conjuntura eclesiástica (cfr.Tempo<br />

e Presença, 203, nov.85) eu assinala-<br />

va a consolidação do "bloco integris-<br />

ta" e fazia um prognóstico <strong>de</strong> intensi-<br />

ficação do seu combate contra o "blo-<br />

co da libertação", culminando numa<br />

crise <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções. Consta-<br />

ta-se hoje que só em parte aquela<br />

análise era correta. O "bloco integris-<br />

ta" - composto pela burocracia roma-<br />

na, os arcebispos e bispos ditos con-<br />

servadores, os movimentos espiritua-<br />

listas (aos quais hoje se junta o "lu-<br />

men 2.000") e o Papa Woytila - <strong>de</strong> fa-<br />

to consolidou-se e intensificou seu<br />

combate aos que se i<strong>de</strong>ntificam com<br />

o projeto da Igreja dos Pobres. A cri-<br />

se, porém, não aconteceu. Ao invés<br />

da estratégia <strong>de</strong> aniquilamento, que<br />

se <strong>de</strong>scortinava há três anos atrás, o<br />

"bloco" optou por um combate lento,<br />

gradual e seguro, evitando o confronto<br />

direto. É provável que tal estratégia<br />

tenha sido imposta pelo próprio Papa,<br />

que certamente não <strong>de</strong>sejaria passar<br />

para a História como o Papa do cisma<br />

latino-americano. Sua carta aos bis-<br />

pos brasileiros, qualificando a Teolo-<br />

gia da Libertação <strong>de</strong> "útil e necessá-<br />

ria" foi um sinal claro <strong>de</strong>ssa estraté-<br />

gia, que visa <strong>de</strong>smontar o setor po-<br />

pular através da "guerra <strong>de</strong> posições".<br />

Mas o combate ao projeto <strong>de</strong> Liber-<br />

tação não esmoreceu. Ele segue uma<br />

linha nítida como se verifica nas no-<br />

meações <strong>de</strong> arcebispos e car<strong>de</strong>ais: só<br />

homens <strong>de</strong> confiança do "bloco" che-<br />

gam a posições <strong>de</strong> cúpula na hierar-<br />

quia católica. ( A honrosa exceção <strong>de</strong><br />

D.Luciano Men<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> explicar-se<br />

pela conveniência <strong>de</strong> afastá-lo <strong>de</strong> São<br />

Paulo, removendo-o para uma arqui-<br />

diciocese bem isolada). Parte <strong>de</strong>ssa<br />

mesma linha <strong>de</strong> combate é a tentati-<br />

va <strong>de</strong> esvaziamento da CNBB. Além<br />

da <strong>de</strong>slegitimação teológica das con-<br />

ferências episcopais em geral, perce-<br />

be-se interferências diretas da cúria<br />

romana nos assuntos internos da<br />

igreja do Brasil, como para <strong>de</strong>mons-<br />

trar que não faz cerimônia com a<br />

CNBB. Enfim, as intervenções mais<br />

graves <strong>de</strong> 88 - a divisão da Arquidio-<br />

cese <strong>de</strong> São Paulo e a intimação a D.<br />

Pedro Casaldáliga - revelam uma polí-<br />

tica <strong>de</strong> intimidação das figuras mais<br />

eminentes da Igreja <strong>de</strong> Libertação. A<br />

cúria romana vem, assim, intimidando<br />

os bispos alinhados ao projeto da<br />

Igreja dos Pobres. Dentro <strong>de</strong>ssa estra-<br />

tégia, o "bloco" estaria forçando estes<br />

bispos a reprimirem suas próprias ba-<br />

ses, impedindo que elas avançassem<br />

na caminhada libertadora.<br />

Esse conjunto <strong>de</strong> medidas assinala<br />

que o campo <strong>de</strong> combate ao projeto<br />

da Igreja dos Pobres mudou. O terre-<br />

no principal já não é mais a produção<br />

teológica, mas os próprios nódulos do<br />

po<strong>de</strong>r eclesiástico, que são as se<strong>de</strong>s<br />

episcopais. Hoje o alvo principal do<br />

"bloco" são bispos, ou melhor, as figu-<br />

ras mais atuantes nas cúpulas epis-<br />

copais.<br />

Enquanto isso os movimentos espi-<br />

ritualistas vão avançando e conquis-<br />

tando espaço, até mesmo nas CEBs,<br />

com o apoio mais ou menos aberto<br />

do "bloco". Não é por acaso que o<br />

car<strong>de</strong>al Salles começou sua entrevis-<br />

ta exclusiva ao "O Globo" com uma<br />

boa risada...(cfr. O Globo, 2/out.88).<br />

Ele se mostra muito bem-humorado e<br />

seguro <strong>de</strong> si. Diz, por exemplo, que a<br />

Arquidiocese do Rio <strong>de</strong> Janeiro segue<br />

a Teologia da Libertação. Declarações<br />

<strong>de</strong>sse teor <strong>de</strong>ixam entrever que o<br />

"bloco integrista" tem controle da si-<br />

tuação. Terá mesmo?<br />

Para uma avaliação correta da<br />

conjuntura eclesiástica, precisamos<br />

traçar um quadro globalizante da<br />

Igreja Católica e suas relações com<br />

as forças sociais. O esquema seguin-<br />

te po<strong>de</strong> ajudar-nos a visualizar a si-<br />

tuação:<br />

-—-— —<br />

' íííífSíííí<br />

Sínta Sé^<br />

bispos<br />

intearistas ' CNBBXXX.<br />

T ' ' í<br />

,,. | bispos e<br />

X ag. pastorais<br />

clero /><br />

' Libertação<br />

I I<br />

Movimentos %> CEBs e past.<br />

espirituais ^populares T<br />

>;x>6


-.<br />

»<br />

Quinzena |g Trabalhadores<br />

siásticas pararelas. A primeira, mais<br />

antiga (e que dava a impressão <strong>de</strong> es-<br />

tar fraca, mas que hoje <strong>de</strong>monstra<br />

espontosa vitalida<strong>de</strong>) é a estrutura<br />

Paroquial Ela preserva o po<strong>de</strong>r do<br />

clérigo, mas coaduna-se bem com os<br />

movimentos espiritualistas <strong>de</strong> leigos,<br />

e inscreve-se no projeto restaurador,<br />

que visa manter a autorida<strong>de</strong> hierár-<br />

quica e a ortodoxia anterior ao Conci-<br />

lio Vaticano II. Não é difícil notar o<br />

apreço dos movimentos espiritualis-<br />

tas, do "alto clero" (vigários <strong>de</strong> matri-<br />

zes urbanas), das religiosas estabele-<br />

cidas em colégios e obras sociais, e<br />

<strong>de</strong> todo o "blobo integrista", pela es-<br />

trutura paroquial. Nela, uma hierarquia<br />

<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> incontestável assegura<br />

a sã doutrina e a distribuição dos sa-<br />

cramentos, numa perspectiva <strong>de</strong> Sal-<br />

vação individual.<br />

A outra estrutura é a da Igreja <strong>de</strong><br />

CEBs". Tendo por base as CEBs, e<br />

animada pelas diversas Pastorais Po-_<br />

Greves<br />

AÇOMINAS<br />

A assembléia realizada dia 23/11<br />

por 3.500 dos 6.200 metalúrgicos da<br />

usina da Açominas, em Ouro Branco<br />

(MG), aprovou a contra-proposta do<br />

ministro da Indústria e do Comércio,<br />

Roberto Cardoso Alves, <strong>de</strong> um rea-<br />

juste <strong>de</strong> 15%, mais 4% <strong>de</strong> produtivi-<br />

da<strong>de</strong> e 92,98% do úidice <strong>de</strong> preços ao<br />

consumidor integral do período, e ga-<br />

rantia do pagamento da diferença <strong>de</strong><br />

11,06% do resíduo <strong>de</strong> 26,06% do Pla-<br />

no Bresser. (Fonte: Jornal do Brasil).<br />

VITÓRIA NA TABU<br />

Os cmpanheiros da Viação Tabu<br />

<strong>de</strong>ram um belo exemplo para toda a<br />

categoria dos Condutores <strong>de</strong> São<br />

Paulo: fizeram três dias <strong>de</strong> greve e<br />

conquistaram quase todas as suas rei-<br />

vindicações. O pessoal ficou parado 3<br />

dias. Com isso, a empresa ce<strong>de</strong>u e o<br />

acordo foi assinado no dia 02/01/89.<br />

Gran<strong>de</strong> parte das reivindicações con-<br />

quistadas são direitos trabalhistas que<br />

o patrão vinha sonegado como: Paga-<br />

mento do salário <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Paga-<br />

pu lares, essa "Nova forma <strong>de</strong> ser<br />

Igreja", engloba agentes <strong>de</strong> pastoral<br />

leigos e religiosos, religiosas inseridas<br />

na pastoral, sacerdotes e bispos,<br />

promovendo uma forma participativa<br />

e ecumênica da' Igreja. Bem nítida nas<br />

bases, ela vai tomando-se mais flua à<br />

medida em que atinge os níveis mais<br />

elevados da hierarquia eclesiástica;<br />

porém, é o seu projeto que predomina<br />

na CNBB. A importância do Brasil no<br />

mundo católico, e as múltiplas ex-<br />

pressões <strong>de</strong>sse projeto eclesial nou-<br />

tros países, tomam a CNBB o alvo<br />

prioritário das investidas da Santa Sé,<br />

cuja <strong>de</strong>fesa do mo<strong>de</strong>lo paroquial e<br />

monárquico é intransigente. Daí as<br />

tensões que hoje se constata entre a<br />

Santa Sé e a CNBB, os bispos da Li-<br />

bertação e todos os grupos alinhados<br />

ao projeto da' Igreja dos Pobres.<br />

Os conflitos entre as duas estrutu-<br />

ras eclesiásticas são hoje claros. Nas<br />

bases, registram-se embates entre os<br />

movimentos espiritualistas e as CEBs<br />

mento <strong>de</strong> férias antes do gozo das<br />

mesmas, Cumprir o horário <strong>de</strong> refei-<br />

ção <strong>de</strong> 30 minutos mais 5 minutos pa-<br />

ra embarque <strong>de</strong> passageiros etc.<br />

(Fonte: O Veículo, Jan/89).<br />

JOGO DURO<br />

O Grupo Votorantim, do empresá-<br />

rio Antônio Ermírio <strong>de</strong> Moraes, en-<br />

frentou nos últimos meses uma das<br />

greves mais longas já experimentadas<br />

por uma <strong>de</strong> suas empresas. Em Ni-<br />

quelândia (GO), uma greve <strong>de</strong> 39 dias<br />

paralisou as ativida<strong>de</strong>s da Níquel To-<br />

cantins - do Grupo Votorantim - e da<br />

Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento Mi-<br />

neral (Co<strong>de</strong>min) - do Grupo Anglo-<br />

América -, sem que se conseguisse<br />

chegar a um acordo com os 2.500 tra-<br />

balhadores.<br />

A cida<strong>de</strong>, com cerca <strong>de</strong> 30 mil ha-<br />

bitantes, acabou parando junto com os<br />

trabalhadores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia da <strong>de</strong>creta-<br />

ção da greve, em 11 <strong>de</strong> novembro, até<br />

os dias 22 e 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando<br />

foram pagos os salários <strong>de</strong> novembro,<br />

<strong>de</strong>zembro e o 13 2 salário pela Níquel<br />

Tocantins e a Co<strong>de</strong>min.<br />

O Sindicato dos Trabalhadores da<br />

Indústria <strong>de</strong> Extração <strong>de</strong> Níquel rei-<br />

vindicava, em novembro, um reajuste<br />

<strong>de</strong> 119,2% sobre o piso salarial, <strong>de</strong><br />

Cz$ 34 mil. As empresas ofereceram<br />

75% <strong>de</strong> reajuste, dos quais seriam<br />

<strong>de</strong>scontados os 12% <strong>de</strong> antecipação<br />

e pastorais populares. Nos níveis in-<br />

termediários, vemos o "alto clero" e<br />

as religiosas opondo resistência aos<br />

bispos da Libertação. Na cúpula, es-<br />

tão os bispos, arcebispos e car<strong>de</strong>ais<br />

do "bloco" se contrapondo publica-<br />

mente à CNBB. Embora não esteja<br />

no horizonte a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

cisma, é certo que os conflitos se<br />

agravaram este ano. O "bloco" não<br />

está tão forte quanto dá a enten<strong>de</strong>r o<br />

Car<strong>de</strong>al Salles, mas sua posição é<br />

hoje bem favorável.<br />

Nota: Por motivo <strong>de</strong> espaço esta-<br />

mos publicando este texto em duas<br />

partes. No próximo número da QUIN-<br />

ZENA publicaremos a 2? parte que<br />

tem como objetivo formular um prog-<br />

nóstico dos prováveis <strong>de</strong>sdobramen-<br />

tos <strong>de</strong>sses conflitos e um encami-<br />

nhamento para o setor alinhado com<br />

a Igreja dos Pobres.<br />

concedidos anteriormente. Como ne-<br />

nhuma das empresas voltou atrás, a<br />

greve prosseguiu até o dia 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

zembro, quando o Sindicato fechou<br />

acordo verbal aceitando reajuste <strong>de</strong><br />

60% e <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 32 dias parados,<br />

até outubro <strong>de</strong>ste ano. A Co<strong>de</strong>min<br />

aceitou não punir os grevistas, mas a<br />

Níquel Tocantins já <strong>de</strong>mitiu 60 traba-<br />

lhadores que participaram do movi-<br />

mento.<br />

INSALUBRIDADE<br />

E PERICULOSIDADE<br />

Os trabalhadores em água e esgoto<br />

da Bahia, dos setores <strong>de</strong> Operação e<br />

Manutenção, fizeram uma greve em<br />

<strong>de</strong>zembro reivindicando o pagamento<br />

dos adicionais <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> e pe-<br />

riculosida<strong>de</strong> conquistados no acordo<br />

coletivo da categoria em agosto <strong>de</strong><br />

1988. O resultado do processo <strong>de</strong> ne-<br />

gociação, que culminou com o térmi-<br />

no da greve, foi a criação <strong>de</strong> uma co-<br />

missão paritária para fazer a perícia na<br />

empresa, o pagamento dos adicionais<br />

<strong>de</strong> acordo com o tempo em que o tra-<br />

balhador ficar exposto à área <strong>de</strong> risco<br />

na empresa, além <strong>de</strong> serem abonados<br />

os dias em que os trabalhadores esti-<br />

veram em greve. (Fonte: Sindicato dos<br />

Trabalhadores em Água e Esgoto da<br />

Bahia, Gotad'água, <strong>de</strong>z/88). _^


: : ::::::::í::x::í::;-;í:<br />

Quinzena Trabalhadores<br />

CIAS. <strong>de</strong><br />

ELETRICIDADE<br />

Data-base «eposlçío<br />

perdas<br />

ELETRIOTÁRIOS: RESULTADO DAS GREVES<br />

Produtivida<strong>de</strong><br />

(aumento real)<br />

URPdo<br />

databas*<br />

Perda Plano<br />

Bresser<br />

LIGHT-RIO outubro 65,23% 4% - 26,06% 116%<br />

FURNAS novembro 53,74% ■4%<br />

CELESC (Sta<br />

Catarina)<br />

flaajuste<br />

Total<br />

Outras Cooqulstafi<br />

—<br />

Estabilida<strong>de</strong> por 12 meses 2 salários <strong>de</strong><br />

abono pi compensar perdas do ano<br />

(80% URP<br />

<strong>de</strong>zembro) - 93% Não punição grevistas<br />

outubro 65,21% 4% (21,39 URP<br />

NOVEMBRO) - 106% Garantia <strong>de</strong> emprego<br />

COPEL (Paraná) outubro 43,68% 3,11% — - 48%<br />

CELPE<br />

(Pernambuco<br />

CEMIG (Minas<br />

Gerais)<br />

novembro 46,22% 4% (85% URP<br />

novembro) - 80%<br />

outubro 66,08% 4% — 26,06% 118%<br />

ELETRONORTE novembro 66,08% 8,8% — - 80%<br />

ELETROBRÁS novembro 53,75% 4,8% — 15% 86%<br />

COELBA (Bahia) novembro 66,08% 0,8%<br />

CHESP novembro 66,08% 0,8%<br />

ELETROSUL:<br />

UMA GRANDE VITÓRIA<br />

Os companheiros da Eletrosul<br />

acabam <strong>de</strong> encerrar sua Campanha<br />

Salarial após uma greve <strong>de</strong> 37 dias.<br />

Não foi apenas a greve mais longa<br />

do setor energético. A história <strong>de</strong>sse<br />

movimento mostra por um lado que o<br />

objetivo do governo da "Nova Repú-<br />

blica" é ignorar a Constituição apro-<br />

vada e tentar <strong>de</strong>struir a organização<br />

dos trabalhadores. Quando organiza-<br />

dos, os trabalhadores são capazes<br />

<strong>de</strong> resistir e impedir que seus direitos<br />

sejam roubados.<br />

A gran<strong>de</strong> e maior reivindicação<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio da Campanha era a<br />

manutenção da garantia <strong>de</strong> emprego<br />

nos termos do acordo anterior, ou se-<br />

ja, os únicos motivos para <strong>de</strong>missão<br />

era falta grave (justa causa) ou<br />

razões técnico-financeiras <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

comprovado por parte da empresa.<br />

Ao não ver esta e as outras<br />

reivindicações atendidas, a categoria<br />

<strong>de</strong>cidiu ir a greve e após 10 dias <strong>de</strong><br />

paralização a direção da Eletrosul<br />

respon<strong>de</strong>u com um violento processo<br />

repressivo, iniciando <strong>de</strong>missões em<br />

massa. Foram 70 companheiros <strong>de</strong>mi-<br />

tidos, sendo 55 contratados e 15 efeti-<br />

vos (operadores). Além disso foram<br />

aplicadas 44 punições, sendo 2 adver-<br />

tências e 42 suspensões do contrato<br />

<strong>de</strong> trabalho (7 a 20 dias).<br />

Ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>mitia os<br />

trabalhadores, a Eletrosul interviu no<br />

controle da manutenção e operação do<br />

sistema, até então a cargo do Sindica-<br />

to, que cumpria <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> assembléia,<br />

<strong>de</strong> manter o sistema em funcionamen-<br />

to. Para isso a empresa constituiu o<br />

chamado "Coroando Delta", compos-<br />

(95% URP<br />

<strong>de</strong>zembro) - 109%<br />

já havia conquistado antecipaçftes du-<br />

rante ano.<br />

MOCe estuda admissões atuais.<br />

Estabilida<strong>de</strong> por 60 dias. Não punição<br />

grevistas. Inflação atingir 30% dispara<br />

gatilho<br />

Nâo punição grevistas. Pagamento <strong>de</strong> 50%<br />

dos 7 dias parados. Admitir a MOC<br />

Pagamento <strong>de</strong> curva salarial<br />

Pagamento <strong>de</strong> curva salarial (reajuste)<br />

média <strong>de</strong> 31%<br />

Nâo punição 31 dias <strong>de</strong> greve Dissídio<br />

na justiça<br />

(26,05 URP<br />

<strong>de</strong>zembro) - 111% Não punição grevistas. Empresa paqa 15<br />

dias parados.<br />

to por chefias e técnicos chamados<br />

<strong>de</strong> outras empresas como a CELESC<br />

e Itaipu, o que colocou o sistema em<br />

situação <strong>de</strong> alto risco, pois até enge-<br />

nheiro florestal e sanitarista passaram<br />

a operar as usinas.<br />

A escalada repressiva, sem limites,<br />

empregada pela Eletrosul visava cla-<br />

ramente forçar o retorno ao trabalho,<br />

<strong>de</strong>rrotar o movimento e com isso<br />

<strong>de</strong>sgastar o Sindicato junto a catego-<br />

ria.<br />

Os companlieiros, no entanto, não<br />

se ren<strong>de</strong>ram à violência e à repressão<br />

e <strong>de</strong>cidiram manter a greve, <strong>de</strong>finindo<br />

como priorida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> então,<br />

a luta pelas readmissões.<br />

Foram feitas gestões junto aos par-<br />

lamentares, <strong>de</strong>putados e senadores vi-<br />

sando abrir negociações via mediação<br />

do Ministério do Trabalho, Minas<br />

e Energia e a própria Presidência da<br />

República.<br />

Diante da total irresponsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos os setores governamentais,<br />

uma nova. proposta surgiu no movi-<br />

mento, que ilustra bem seu nivel <strong>de</strong><br />

politização: 39 companheiros optaram<br />

voluntariamente pela a<strong>de</strong>são a uma<br />

greve <strong>de</strong> fome, que teve duração <strong>de</strong><br />

8 dias.<br />

Foi preciso por em risco a saú<strong>de</strong><br />

e a vida <strong>de</strong> tantos trabalhadores para<br />

forçar a mudança <strong>de</strong> posição e o recuo<br />

dos "governantes".<br />

Novas gestões feitas com a interme-<br />

diação direta da Central Única dos<br />

Trabalhadores levaram á uma reunião<br />

entre Sindicato. CUT e a presidência<br />

da Eletrosul, <strong>de</strong> onae sairia a proposta<br />

que reverteria a situação.<br />

A luta travada cm 37 dias <strong>de</strong> greve,<br />

foi amplamente compensada pelos<br />

resultados finais: transformação das<br />

70 <strong>de</strong>missões em 64 suspensões do<br />

contrato <strong>de</strong> trabalho por 10 dias e 6<br />

afastamentos do trabalho com aber-<br />

tura <strong>de</strong> inquérito, mantendo venci-<br />

mento; transformação das 42 suspen-<br />

sões em advertências e manutenção<br />

da garantia <strong>de</strong> emprego por 1 ano.<br />

No campo econômico, as conquistas<br />

também foram expressivas: IPC inte-<br />

gral (66,08%), Produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 4»7o e<br />

um ganho real <strong>de</strong> 15%, totalizando<br />

98,63%.<br />

Foi sem duvida uma vitória históri-<br />

ca, sobre a qual nos congratulamos<br />

pela combativida<strong>de</strong> e disposição <strong>de</strong> lu-<br />

ta dos companheiros e por enten-<br />

<strong>de</strong>rmos tratar-se <strong>de</strong> um salto <strong>de</strong> quali-<br />

da<strong>de</strong> no encaminhamento das formas<br />

organizadas <strong>de</strong> luta, que certamente<br />

contribuirá para o acúmulo <strong>de</strong> expe-<br />

riências da classe trabalhadora.<br />

(Fonte: Nós, Boletim da Associação<br />

dos Empregados da CESP, <strong>de</strong>z/88)


Curtas<br />

A TRILHA DA IMPUNIDADE<br />

A CPT (Comissão Pastoral da Ter-<br />

ra) divulgou no dia 03/01/89 uma lista<br />

<strong>de</strong>nunciando que apenas no período<br />

<strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> novembro a 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

do ano passado, 11 pessoas foram as-<br />

sassinadas por conflitos <strong>de</strong> terra: 5 la-<br />

vradores na Bahia, 2 posseiros em<br />

Goiás, 1 advogado no Pará, 1 criança<br />

<strong>de</strong> seis meses, filha <strong>de</strong> lavradores<br />

baianos. Ali 5 vítima foi o ecologista<br />

e sindicalista Chico Men<strong>de</strong>s. (Fonte:<br />

Folha Bancária, 04/01/89).<br />

PREFEITO SOFRE ATENTADO<br />

EM MATO GROSSO<br />

O prefeito <strong>de</strong> Porto Alegre do<br />

Norte, Mato Grosso, Rodolfo Alexan-<br />

dre Inácio, o "Cascão", foi vítima <strong>de</strong><br />

um atentado a bala no ultimo dia 20.<br />

Seu carro recebeu pelo menos 30 ba-<br />

las, disparadas por cinco pistoleiros<br />

da região. No atentado, Cascão sofreu<br />

dois tiros, sendo também ferido seu<br />

segurança. Sua mulher, que também<br />

estava no carro, conseguiu sair ilesa.<br />

Internado no hospital municipal, o<br />

prefeito Cascão revelou que o man-<br />

dante do crime foi o membro da DDR<br />

e candidato <strong>de</strong>rrotado a prefeito Luiz<br />

Machado, conhecido na cida<strong>de</strong> como<br />

"Luiz Bang-bang".<br />

Velho Conflito<br />

Além da <strong>de</strong>rrota que o prefeito Ro-<br />

dolfo Alexandre impôs a Luiz Bang-<br />

bang, nas últimas eleições, fazendo<br />

seu sucessor o ex presi<strong>de</strong>nte do Sindi-<br />

cato <strong>de</strong> trabalhadores Rurais, Pedro<br />

Fernan<strong>de</strong>s, o pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong>ssa<br />

tentativa <strong>de</strong> assasinato é o conflito<br />

entre posseiros e latifundiários. Du-<br />

rante os seis anos <strong>de</strong> mandato, Cascão<br />

<strong>de</strong>senvolveu um programa <strong>de</strong> apoio<br />

aos cerca <strong>de</strong> três mil posseiros do mu-<br />

nicípio. O apoio aos pequenos pro-<br />

dutores fez do prefeito um alvo cons-<br />

tante dos membros da UDR- conforme<br />

constantes <strong>de</strong>núncias feitas por Cas-<br />

cão.<br />

Três dias após o atentado, foram<br />

capturados os pistoleiros "Ferreiri-<br />

nha" e "Mato Grosso", que confessa-<br />

ram sua participação no atentado e<br />

que agiram a mando <strong>de</strong> Luiz Bang-<br />

bang, que não foi encontrado pela po-<br />

lícia.<br />

Espera-se que com a confissão dos<br />

pistoleiros a Polícia possa chegar a<br />

outros crimes praticados por latifun-<br />

diários da região inclusive o massacre<br />

<strong>de</strong> posseiros ocorrido há cerca <strong>de</strong><br />

quatro anos. (Fonte: Aconteceu,<br />

nov./<strong>de</strong>z./88).<br />

FUNDADO O COMnÉ<br />

DO MERCÚRIO<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> discutir a am-<br />

plitu<strong>de</strong> o uso e dos riscos do mercúrio<br />

na indústria e em outras ativida<strong>de</strong>s,<br />

foi fundado, em setembro, pela Fun-<br />

dacentro (órgão técnico do Ministério<br />

do Trabalho), o Comitê <strong>de</strong> Estudos do<br />

Mercúrio. A composição <strong>de</strong>sse Comitê<br />

é tripartite, formada por representan-<br />

tes dos trabalhadores, patrões e go-<br />

verno.<br />

Do lado patronal, a representação<br />

está a cargo <strong>de</strong> um membro do SESI,<br />

um do Sinproquim (Sindicato das In-<br />

dústrias) e outro da Abiclor (Associa-<br />

ção das Indústrias <strong>de</strong> Cloro e Soda).<br />

Pelo lado dos trabalhadores estão o<br />

companheiro Remi, diretor do nosso<br />

Sindicato.o engenheiro Nilton Freitas,<br />

assessor do Diesat no nosso Sindicato<br />

e o companheiro Lorival, do Sindicato<br />

dos Plásticos <strong>de</strong> São Paulo. Pelo go-<br />

verno estão um técnico da Fundacen-<br />

tro, um da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da<br />

USP e um do SUDS. Para a coor<strong>de</strong>-<br />

nação do Comitê foi eleita a Dra Nair<br />

Ciochetti, coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<br />

do trabalho do Ministério Público.<br />

A luta dos trabalhadores da Eletro-<br />

cloro e da categoria como um todo,<br />

contra a contaminação por mercúrio,<br />

foi o ponto <strong>de</strong> partida para a discussão<br />

a nível nacional dos riscos que este<br />

produto oferece á saú<strong>de</strong> e ao meio-<br />

ambiente, e também, para a <strong>de</strong>finição<br />

na previdência social, dos parâmetros<br />

<strong>de</strong> diagnósticos da doença hidrargi-<br />

rismo dos benefícios a que tem direito<br />

o trabalhador contaminado. (Fonte:<br />

Sindicato dos Químicos do ABC, Sin-<br />

diquim n- 243).<br />

Trabalhadores<br />

Não Saiu<br />

Mo Jornal<br />

MANIFESTO DE REPUDIO<br />

E SOLIDARIEDADE<br />

A Igreja no Mato Grosso do Sul,<br />

Brasil - Bispos, Padres, Rehgio-<br />

sos(as), Leigos(as) reunidos na 2- As-<br />

sembléia do Regional Oeste 1 - Cam-<br />

po Gran<strong>de</strong>, tomou conhecimento dos<br />

fatos ocorridos em Concepcion - Pa-<br />

raguai, culminando na prisão domici-<br />

liar e incomunicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dom<br />

Anibal M. Freitas, no dia 22 <strong>de</strong> no-<br />

vembro <strong>de</strong> 1988.<br />

Diante disto a Assembléia envia<br />

este manifesto <strong>de</strong> repúdio ao Governo<br />

Paraguaio, aos Militares e a todos os<br />

que estão diretamente envolvidos<br />

neste ato <strong>de</strong> repressão e <strong>de</strong>srespeito à<br />

Igreja e ao Povo Paraguaio. Este ato é<br />

fruto do regime autoritário e ditatorial<br />

que há mais <strong>de</strong> três décadas vem se<br />

perpetuando no Paraguai.<br />

A Assembléia reconhece que esta<br />

repressão não atinge somente o Bispo<br />

e sua Igreja, mas a todo o Povo Para-<br />

guaio e seus anseios <strong>de</strong> justiça, liber-<br />

da<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, fraternida<strong>de</strong>.<br />

Exigimos a imediata punição dos<br />

responsáveis e a retratação no que fe-<br />

riu a dignida<strong>de</strong> do Bispo Dom Anibal,<br />

da sua Igreja e do seu povo.<br />

Expressamos ao mesmo tempo,<br />

além <strong>de</strong> nossa prece a Cristo Liberta-<br />

dor, nossa solidarieda<strong>de</strong> irrestrita à<br />

Igreja Paraguaia e ao seu povo. Sa-<br />

bemos que este conflito <strong>de</strong> que é víti-<br />

ma a pessoa <strong>de</strong> Dom Anibal, é conse-<br />

qüência do anúncio do Evangelho e<br />

sua prática firme, profética e coerente<br />

assumida pela Igreja Paraguaia.<br />

Compromtemo-nos a divulgar o<br />

fato em todas as nossas Dioceses,<br />

Comunida<strong>de</strong>s e Organizações que<br />

promovem a <strong>de</strong>fesa da vida no Mato<br />

Grosso do Sul e em todo o Brasil.<br />

Campo Gran<strong>de</strong>,<br />

26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1988.


Quinzena Trabalhadores<br />

DDR ASSASSINA LAVRADORES<br />

Nós trabalhadores Rurais da Re-<br />

gião <strong>de</strong> Jacobina,Bonfím e Monte<br />

Santo, Dirigentes Sindicais, do campo<br />

e da cida<strong>de</strong> do Salvador, Agentes<br />

Pastorais da Diocese <strong>de</strong> Sr. do Bon-<br />

fim, Entida<strong>de</strong>s Populares, vimos à pú-<br />

blico <strong>de</strong>nunciar o clima <strong>de</strong> violência e<br />

assassinatos cometidos contra lavrado-<br />

res dos municípios <strong>de</strong> Várzea Nova,<br />

Caem e Monte Santo, etc, por grilei-<br />

ros da UDR, pelo fato <strong>de</strong> estarem <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>ndo a posse da terra.<br />

Nos últimos 90 dias a sanha assas-<br />

sina do comando <strong>de</strong> morte da UDR e<br />

seus comparsas tiraram a vida <strong>de</strong> Ed-<br />

valdo Felix (22.09.88) na Fazenda<br />

Engano, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gildo<br />

Franco; José Augusto (15.10.88) pe-<br />

los pistoleiros: Antônio Cabeludo,<br />

Manoel Galego e Expedito; Moisés<br />

Vitórios dos Santos (21.11.88) Presi-<br />

<strong>de</strong>nte do Sindicato <strong>de</strong> Várzea Nova,<br />

pistoleiros: Jurandi Inácio <strong>de</strong> Souza e<br />

Val<strong>de</strong>ci Inácio <strong>de</strong> Souza (murro) os<br />

dois últimos tendo como mandantes<br />

Luís Lima, José Benigno Filho (Zé<br />

Vaqueiro), Arlindo Caíca, Chico Ro-<br />

cha (Diretor da UDR local). Em<br />

21.10.88 foi encontrado totalmente<br />

carbonizado, na região <strong>de</strong> Paraíso,<br />

mais uma vítima do terror que vem<br />

imperando.<br />

Também em Monte Santo dia<br />

16.11.88 o grileiro Elias Azeredo<br />

Pinto, queimou e <strong>de</strong>struiu roças <strong>de</strong><br />

antigos posseiros, ameaçando <strong>de</strong><br />

morte até crianças. E continuam im-<br />

punes.<br />

Além <strong>de</strong>stas mortes, queima <strong>de</strong> ro-<br />

ças, os lavradores Minaldo, Mirocho e<br />

Edilson em Várzea Nova, foram víti-<br />

mas <strong>de</strong> atentados. Pairando ainda so-<br />

bre eles e a família <strong>de</strong> Liberato, Ma-<br />

noel, Claudionor, Zé Francisco, Luiza<br />

(Secretária do STR <strong>de</strong> Várzea Nova),<br />

Zé Henhenberg (Pe.), Zé Lages ( Pre-<br />

si<strong>de</strong>nte da Associação dos Bancários<br />

<strong>de</strong> Jacobina), Agentes Pastorais, Fun-<br />

cionários do INTERBA, ostensiva<br />

ameaças <strong>de</strong> mortes.<br />

Esse clima <strong>de</strong> banditismo é <strong>de</strong> total<br />

conhecimento dos Srs. Secretários: <strong>de</strong><br />

Segurança Pública, da Reforma Agrá-<br />

ria e da Agricultura, Diretor do DE-<br />

PIN e do Governador que no último<br />

25.10.88 recebeu comissão <strong>de</strong> lavra-<br />

dores e entida<strong>de</strong>s, exigindo apuração<br />

dos crimes e garantia <strong>de</strong> vida para os<br />

ameaçados. Fazia parte da Comissão,<br />

Moisés Vitorio (Presi<strong>de</strong>nte do STR <strong>de</strong><br />

Várzea Nova), que veio ser mais uma<br />

vítima do <strong>de</strong>scaso das autorida<strong>de</strong>s e<br />

da violência da UDR que impera im-<br />

punimente contra os Trabalhadores<br />

Rurais-<br />

Assim estamos em acampamento<br />

permanente até que o Governador to-<br />

me medidas que garantam a vida dos<br />

ameaçados. Desarmando jagunços,<br />

pondo na ca<strong>de</strong>ia os mandantes, grilei-<br />

ros e pistoleiros das regiões da Jaco-<br />

bina e Monte Santo, todos conhecidos<br />

pela prática <strong>de</strong> tais crimes, além da<br />

garantia aos lavradores <strong>de</strong> continua-<br />

rem cultivando a terra <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tiram o<br />

sustento.<br />

ENTIDADES SOLIDÁRIAS<br />

SINTEL<br />

SINDIQUIMICA<br />

PROQUTMICOS<br />

POLO SINDICAL<br />

DE IBOTIRAMA<br />

SINDAE<br />

METALÚRGICOS<br />

SECURITÁRIOS<br />

VIGILANTES<br />

OPOSIÇÃO TÊXTIL<br />

RESID. DOS ESTUDANTES<br />

DE JACOBINA<br />

CPT<br />

AATR<br />

ASPAS<br />

CENPET<br />

SINDIGRÁFICOS<br />

SINDPEC<br />

SINDICATO DOS<br />

MINEIROS-JACOBINA<br />

ASSOC. DOS<br />

TRABALHADORES EM POSTOS<br />

DE GASOLINA-JACOBINA.<br />

DENUNCIA:<br />

A EMPRESA SADIA S/A<br />

MANTÉM ORGANIZAÇÃO<br />

PARTICULAR DE<br />

ESPIONAGEM PARA<br />

PERSEGUIR E REPRIMIR<br />

TRABALHADORES<br />

A empresa FRIGOBRÁS - CIA.<br />

BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS<br />

(A SADIA), uma das maiores do<br />

país no setor da alimentação (produ-<br />

ção e exportação) possui seu esquema<br />

particular <strong>de</strong> SNI.<br />

A <strong>de</strong>núncia veio a público pelo ca-<br />

bo da reserva da PM do Paraná Mil-<br />

ton Gomes Pereira, que <strong>de</strong>scontente<br />

com o salário pelos "serviços" que<br />

prestava se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>u com a empre-<br />

sa e resolveu abrir o jogo.<br />

O cabo Milton foi contratado pela<br />

direção da SADIA <strong>de</strong> Toledo (empre-<br />

sa <strong>de</strong> 4000 funcionário no oeste do<br />

Estado do Paraná) para espionar o<br />

movimento sindical, a igreja e os par-<br />

tidos políticos do município.<br />

Foi através <strong>de</strong>sse esquema que em<br />

junho <strong>de</strong> 1987 a empresa <strong>de</strong>mitiu todos<br />

os funcionários que participavam da<br />

chapa <strong>de</strong> oposição ao sindicato da<br />

alimentação, o sindicato dos trabalha-<br />

dores da alimentação é controlado<br />

pela direção da SADIA, mesmo após<br />

a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> todos os componentes<br />

da chapa formou-se outra e a mesma<br />

foi impedida <strong>de</strong> concorrer e hoje qua-<br />

se todos os membros <strong>de</strong>ssa chapa fo-<br />

ram <strong>de</strong>mitidos.<br />

Esses fatos e ouros são contados<br />

com <strong>de</strong>talhes pelo cabo Milton que<br />

tinha a tarefa <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> reuniões<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, da Pastoral Operária,<br />

do PT e outras e repassar através <strong>de</strong><br />

dois relatórios por escrito semanal-<br />

mente à direção da empresa todos os<br />

assuntos discutidos nas reuniões. O<br />

mesma chegou a se filiar no PT- como<br />

ele mesmo conta - para facilitar seu<br />

trabalho e não levantar <strong>de</strong>sconfianças<br />

ou suspeitas.<br />

A empresa nunca registrou o cabo<br />

Milton, tinha um esquema paralelo <strong>de</strong><br />

pagamento para que ninguém suspei-<br />

tasse do seu trabalho. Pela entrevista<br />

dada por cabo Milton a um jornal da<br />

região ( que até agora não foi publi-<br />

cada) existe mais gente que faz o<br />

mesmo serviço para a SADIA, só que<br />

um não conhece o outro.<br />

Essa <strong>de</strong>núncia não po<strong>de</strong> cair no va-<br />

zio, é necessário que todos se empe-<br />

nhem em divulgá-la para <strong>de</strong>smascarar<br />

a SADIA. Há muito tempo que essa<br />

empresa no país todo possuí uma prá-<br />

tica <strong>de</strong> repressão aos trabalhadores,<br />

são inúmeros os exemplos. E ao mes-<br />

mo tempo que persegue os trabalhado-<br />

res ven<strong>de</strong> para "fora" ( via meios <strong>de</strong><br />

comunicação, patrocinando times <strong>de</strong><br />

vôlei) uma imagem <strong>de</strong> empresa mo-<br />

<strong>de</strong>lo.<br />

Enquanto a constituinte assegura<br />

alguns avanços no que se refere aos<br />

direitos dos trabalhadores, empresas<br />

como a SADIA são as primeiras a^


violá-las.<br />

Estamos sugerindo que se boicotem<br />

os produtos <strong>de</strong>ssa empresa e também<br />

se enviem telegramas <strong>de</strong> repúdio a es-<br />

sa prática que lembra os tristes tempos<br />

da ditadura militar.<br />

ENDEREÇO DA EMPRESA<br />

Frigobrás: Cia Brasileira <strong>de</strong> Frigo-<br />

ríficos ou apenas SADIA S/A.<br />

Rua São João, 1191 -Toledo - PR -<br />

CEP. 85.900<br />

Sugestão <strong>de</strong> telegrama para a SA-<br />

DIA:<br />

Basta <strong>de</strong> perseguição aos trabalha-<br />

dores. Basta <strong>de</strong> espionagem.<br />

Respeite-se a constituição.<br />

Obs:Temos em nosso arquivo a en-<br />

trevista dada pelo cabo Milton para o<br />

jornal o Paraná (jornal da região <strong>de</strong><br />

Toledo). Os interessados em obter<br />

uma cópia escrevam para a QUINZE-<br />

NA. (Fonte: Comissão Pastoral Ope-<br />

rário do PR - Rua Paulo Gomes, 703,<br />

15 andar - Curitiba/PR - 80.510)<br />

O mínimo é Economia<br />

o maxn 11 :•<br />

O Congresso aprovou um novo valor para o salário mínimo e uma tabela <strong>de</strong><br />

aumento reais durante o ano <strong>de</strong> 89. O governo fe<strong>de</strong>ral vetou estas medidas<br />

aprovadas e <strong>de</strong>cretou um valor menor para o salário mínimo. Agora a<br />

medida, em vigor, <strong>de</strong>verá voltar para o congresso para ser<br />

examinada e a questão do salário mínimo resolvida.<br />

Qual será, afinal, o salário mínimo a ser aprovado pelo Congresso?<br />

Enquanto isso não é <strong>de</strong>cidido prevalece o <strong>de</strong>creto do governo. Para<br />

elucidar a problemática do salário mínimo, publicamos a matéria abaixo,<br />

que mostra como é possível a economia brasileira conviver com um salário<br />

<strong>de</strong> acordo com a nova Constituição, sem que seja necessário acontecer<br />

nenhuma revolução no país. Basta a burguesia cumprir a<br />

lei e mudar sua política <strong>de</strong> exploração.<br />

As classes dominantes brasileiras<br />

tem muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocracia. A confusa discussão so-<br />

bre o aumento do salário mínimo na-<br />

cional ilustra muito bem aquela difi-<br />

culda<strong>de</strong>. O problema é o seguinte. Pa-<br />

ra se ter um regime <strong>de</strong>mocrático, a<br />

burguesia necessita pelo menos <strong>de</strong><br />

uma Constituição. Sem um regime ju-<br />

rídico estável não po<strong>de</strong> haver um Es-<br />

tado <strong>de</strong> Direito. A carta constitucional<br />

é o instrumento básico para a or<strong>de</strong>na-<br />

ção jurídica do Estado. Pois bem, as<br />

classes dominantes brasileiras acaba-<br />

ram <strong>de</strong> promulgar a nova Constituição<br />

brasileira. O problema é que uma<br />

Constituição não passa a existir ape-<br />

nas porque ela foi formalmente pro-<br />

mulgada. Para existir, ela precisa ser<br />

implementada, praticada realmente.<br />

Aqui começam as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se<br />

ter uma verda<strong>de</strong>ira Constituição no<br />

Brasil. Esta que acabou <strong>de</strong> ser escrita<br />

é uma Constituição conservadora, é<br />

verda<strong>de</strong>. Mas mesmo assim, já seria<br />

uma gran<strong>de</strong> coisa se ela pu<strong>de</strong>sse ser<br />

aplicada. A simples obediência à<br />

Constituição já seria um gran<strong>de</strong> avan-<br />

ço para o Estado <strong>de</strong> Direito. Mesmo<br />

consi<strong>de</strong>rando que a atual Constituição<br />

é muito mais retrógrada que a dos mi-<br />

litares. Vejam o retrocesso quanto à<br />

questão agrária. Ou quanto ao papel<br />

das próprias forças armadas, do exér-<br />

cito que agora foi transformado em<br />

polícia militar. Pela nova Constituição<br />

o Exército não <strong>de</strong>veria existir apenas<br />

para guerras externas, mas também<br />

para intervir a todo momento conra os<br />

trabalhadores. Isto agora é constitu-<br />

cional, é legal.<br />

O MÁXIMO É MÍNIMO<br />

O problema do salário mínimo, en-<br />

tretanto, é a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para<br />

que esta Constituição seja aplicada.<br />

Acostumados a apenas escrever as leis<br />

e praticar apenas aquelas que lhes são<br />

convenientes, o Congresso consti-<br />

tuinte acabou repetindo no capítulo U,<br />

artigo 1-, uma regra que já existia na<br />

Constituição dos militares: "São di-<br />

reitos dos trabalhadores urbanos e ru-<br />

rais um salário mínimo, fixado em lei,<br />

nacionalmente unificado, capaz <strong>de</strong><br />

aten<strong>de</strong>r a suas necessida<strong>de</strong>s vitais bá-<br />

sicas e às <strong>de</strong> sua família com moradia,<br />

alimentação, educação, lazer, vestuá-<br />

rio, higiene, transporte e previdência<br />

social, com reajustes periódicos "que<br />

lhe preservou o po<strong>de</strong>r aquisitivo, sen-<br />

do vedada a sua vinculação para qual-<br />

quer fim".<br />

Como dissemos anteriormente, isto<br />

tem que ser realizado. Caso contrário<br />

não haverá Estado <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong>mo-<br />

cracia no Brasil. A importância <strong>de</strong>ste<br />

artigo sobre o salário mínimo não <strong>de</strong>-<br />

corre apenas do fato que isto foi es-<br />

crito na Constituição. Os termos <strong>de</strong>ste<br />

artigo refletem, na verda<strong>de</strong>, a condi-<br />

ção básica e para que haja justiça no<br />

país, esta justiça jamais existirá sem<br />

uma remuneração justa para os assala-<br />

riados. Nas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocracias ca-<br />

pitalistas, concentradas principalmente<br />

na Europa e América do Norte, é pra-<br />

ticada uma forma <strong>de</strong> exploração da<br />

força <strong>de</strong> trabalho em que o salário está<br />

mais ou menos próximo do valor da<br />

força <strong>de</strong> trabalho, ou seja, próximo do<br />

custo <strong>de</strong> reprodução da força <strong>de</strong> tra-<br />

balho. Este valor ou custo <strong>de</strong> reprodu-<br />

ção da força <strong>de</strong> trabalho nada mais é<br />

do que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moeda (salá-<br />

rio) capaz <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />

vitais do trabalhador, enumeradas no<br />

artigo 7 da Constituição. Esta forma<br />

<strong>de</strong> exploração caracteriza-se pela ex-<br />

tração <strong>de</strong> mais-valia relativa. A mais-<br />

valia relativa é aquela em que a taxa<br />

<strong>de</strong> exploração aumenta pela redução<br />

do tempo necessário à reprodução da<br />

força <strong>de</strong> trabalho, e não pelo prolon-<br />

gamento da jornada <strong>de</strong> trabalho e o<br />

pagamento <strong>de</strong> um salário abaixo do<br />

correspon<strong>de</strong>nte tempo <strong>de</strong> reprodução<br />

da força <strong>de</strong> trabalho, (ou valor da for-<br />

ça <strong>de</strong> trabalho). Esta última forma é a<br />

mais-valia absoluta. A mais-valia ab-<br />

soluta caracteriza não apenas a explo-<br />

ração da força <strong>de</strong> trabalho, mas tam-<br />

bém um roubo, exatamente porque os<br />

capitalistas somam aos seus lucros<br />

uma parte do valor da força <strong>de</strong> traba-<br />

lho, metem a mão numa parte que <strong>de</strong>-<br />

veria satisfazer às "necessida<strong>de</strong>s vi-<br />

tais" dos trabalhadores. Exatamente<br />

;::':>->x-:::-::í::o:-:-x::;:::::'::;-:: : ^


por caracterizar um roubo, a mais-va-<br />

lia absoluta não é "justa". Enquanto<br />

persistir esta forma <strong>de</strong> extração da<br />

mais-valia, que ocorre nos países do-<br />

minados do sistema capitalista e <strong>de</strong><br />

uma forma claríssima no Brasil, não<br />

po<strong>de</strong>rá existir uma superestrutura jurí-<br />

dica <strong>de</strong>mocrática, um Estado <strong>de</strong> Di-<br />

reito, uma Constituição que funcione.<br />

O MÍNIMO DO DIEESE<br />

É neste quadro que volta a discus-<br />

são sobre o novo valor do salário mí-<br />

nimo no Brasil. O besteirol <strong>de</strong> opi-<br />

niões é geral. Des<strong>de</strong> os <strong>de</strong>putados que<br />

são encarregados <strong>de</strong> regulamentar<br />

aquele preceito constitucional, pas-<br />

sando por empresários, políticos em<br />

geral, até economistas <strong>de</strong> partidos <strong>de</strong><br />

esquerda e lí<strong>de</strong>res sindicais, todos ex-<br />

primem total impotência política para<br />

resolver o assunto. Todos se pren<strong>de</strong>m<br />

a aspectos totalmente superficiais,<br />

monetaristas, do problema. O projeto<br />

mais "audacioso" do Congresso pe<strong>de</strong><br />

um reajuste <strong>de</strong> 100% para <strong>de</strong>zembro,<br />

mais 10% <strong>de</strong> aumento real ao mês, du-<br />

rante 12 meses. Isto quer dizer que em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1989 o salário mínimo<br />

<strong>de</strong> Cz$ 30.800,00 <strong>de</strong> novembro esta-<br />

via valendo em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1989<br />

aproximadamente Cz$ 200.000,00, em<br />

PACS-Políticas Alternativas para o Cone Sul<br />

termos reais <strong>de</strong> hoje. Este é um valor<br />

que se aproxima do salário mínimo do<br />

DIEESE (que em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>ve estar<br />

em tomo <strong>de</strong> Cz$ 228.000,00). O salá-<br />

rio mínimo do DIEESE correspon<strong>de</strong><br />

àquele <strong>de</strong> 1940, quando foi <strong>de</strong>cretado<br />

o l e salário mínimo oficial no Brasil.<br />

O salário <strong>de</strong> Cz$ 200.000,00 eqüi-<br />

vale a aproximadamente 222 dólares.<br />

O salário mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>cre-<br />

tado por Samey na noite <strong>de</strong> ontem, já<br />

que o Congresso não consegue esti-<br />

pular o seu, eqüivale à 45 dólares.<br />

BURGUESIA PREGUIÇOSA<br />

O salário mínimo do Getúlio, que é<br />

o que está sendo proposto pelo Con-<br />

gresso, eqüivale a 1/3 do salário mí-<br />

nimo europeu (600 dólares). Mas<br />

mesmo este nível relativamente baixo<br />

<strong>de</strong> 220 dólares, já seria suficiente para<br />

um certo reor<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>mocrático<br />

no Brasil. Haveria um avanço real nas<br />

condições sociais brasileiras. Mais do<br />

que isto, estaria sendo efetivamente<br />

<strong>de</strong>smontada a estrutura podre <strong>de</strong> sub-<br />

<strong>de</strong>senvolvimento que comanda a eco-<br />

nomia brasileira. De alguma forma, a<br />

burguesia teria que trabalhar, no sen-<br />

tido <strong>de</strong> se substituir a forma prepon<strong>de</strong>-<br />

rante <strong>de</strong> mais-valia absoluta em mais-<br />

valia relativa. O problema é que para<br />

se fazer esta passagem, a burguesia te-<br />

O método na economia política<br />

KARL MARX<br />

Em K. MARX, "El Método en Ia Economia Polftica",<br />

Editoral Grijalbo, México, 1971.<br />

(Nota do Tradutor: este é um trecho da introdução aos<br />

Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Marx sobre Economia Política, escritos en-<br />

tre 1857 e 1859, aos quais foi dado o nome <strong>de</strong> "Funda-<br />

mento da Crítica da Economia Política" [GRUNDRISSE,<br />

como é mais conhecido no mundo, quer dizer "Funda-<br />

mentos" em alemão]. Estão incluídos aqui alguns concei-<br />

tos básicos para a compreensão a proposta metodológi-<br />

ca <strong>de</strong> Marx. Está em negrito as palavras que envolvem<br />

<strong>de</strong>finições, conceitos ou categorias a aprofundar)<br />

Quando se estuda a economia <strong>de</strong> um país se analisa<br />

em primeiro lugar a estrutura <strong>de</strong> sua população: como<br />

está dividida em classes e como está distribuída entre a<br />

cida<strong>de</strong> e o campo; se analisa a hidrografia, os diversos<br />

ramos da produção, a exportação e a importação, a pro-<br />

dução e o consumo anuais,...<br />

Po<strong>de</strong> parecer um bom método começar pela base só-<br />

lida do que é real e concreto; numa palavra, focalizar a<br />

economia através da população, que constitui a raiz e o<br />

■.-.■. -:■:■:■;:: ■; :■:::::.<br />

Economta<br />

ria que poduzir não apenas 60 milhões<br />

<strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> cereais por ano, mas<br />

pelo menos 150 milhões. Para tanto<br />

teria que mexer rapidamente na es-<br />

trutura latifundiária atual.<br />

A burguesia teria também que <strong>de</strong>-<br />

sarmar a estrutura financeira <strong>de</strong> espe-<br />

culadores que atualmente sugam parte<br />

significativa da mais-valia nacional.<br />

A burguesia teria que enfrentar os<br />

banqueiros internacionais e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

pagar anualmente quase 5% do PIB<br />

para o exterior.<br />

A burguesia teria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong>r do governo do qual sugam<br />

subsídios, transferências, etc.<br />

A classe média teria que renunciar<br />

ao elevado consumo <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> luxo<br />

em que ela se acostumou nso últimos<br />

30 anos, pelo menos.<br />

É por estas e outras, que mesmo os<br />

partidos oficiais <strong>de</strong> esquerda, os lí<strong>de</strong>-<br />

res sindicais e os economistas pro-<br />

gressistas ficam embasbacados e fa-<br />

lando besteiras frente a esta polêmica<br />

atual sobre o novo salário mínimo.<br />

Extraído do texto "Análise <strong>de</strong> Conjuntura" -<br />

"Situação Econômica Brasileira", Boletim<br />

Semanal do 13 <strong>de</strong> Maio - Núcleo <strong>de</strong> Edu-<br />

cação Popular.<br />

ASSINATURAS: Rua Dona Avelma, 55<br />

Vila Mariana - CEP 04111<br />

São Paulo - SP<br />

Se, em conseqüência, começasse simplesmente pela<br />

população, teria uma visão caótica do conjunto. Mas se<br />

proce<strong>de</strong>sse através <strong>de</strong> uma análise cada vez mais pene-<br />

trante, chegaria a noções cada vez mais simples: partin-<br />

do do concreto que eu percebesse, passaria a abstração<br />

cada vez mais sutis para <strong>de</strong>sembocar na categorias mais<br />

simples. Neste ponto, seria necessário voltarmos sobre<br />

nossos passos para chegar <strong>de</strong> novo na população. Mas<br />

<strong>de</strong>sta vez não teríamos uma idéia caótica <strong>de</strong> todo, mas<br />

um rico conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações e <strong>de</strong> relações com-<br />

plexas.<br />

Historicamente, este é o primeiro passo da economia<br />

no seu nascimento. Os economistas do século XVII, por<br />

exemplo, começam sempre por um todo vivente: a po-<br />

pulação, a nação, o Estado, vários Estados, etc. mas<br />

terminam sempre por <strong>de</strong>scobrir, mediante a análise, certo<br />

número <strong>de</strong> relações gerais abstratas que são <strong>de</strong>terminan-<br />

tes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor,<br />

etc. A partir do momento em que estas categorias foram<br />

mais ou menos elaboradas e abstraídas, se articulam os<br />

sistemas econômicos que, partindo <strong>de</strong> noções simples -<br />

tais como o trabalho, a divisão do trabalho, a necessida-^^


<strong>de</strong>, o vala <strong>de</strong> troca -, se elevam até o Estado, o comér-<br />

cio entre as nações e o mercado mundial. Evi<strong>de</strong>ntemente<br />

este é o método científico correto.<br />

O concreto é concreto à medida que constitui a sínte-<br />

se <strong>de</strong> numerosas <strong>de</strong>terminações, ou seja, a unida<strong>de</strong> da<br />

diversida<strong>de</strong>. Para o pensamento [o concreto] constitui um<br />

processo <strong>de</strong> síntese e um resultado, não um ponto <strong>de</strong><br />

partida. É para nós o ponto <strong>de</strong> partida da realida<strong>de</strong> e,<br />

portanto, da intuição e da representação. No primeiro ca-<br />

so, a concepção plena se dissolve em noções abstratas;<br />

no segundo, as noções abstratas permitem reproduzir o<br />

concreto pela via do pensamento. Hegel caiu na ilusão<br />

<strong>de</strong> conceber o real como o resultado do pensamento que<br />

se concentra em si mesmo, se aprofunda e se move por<br />

si mesmo; ao passo que o método que consiste em ele-<br />

var-se do abstrato ao concreto é, para o pensamento, a<br />

maneira <strong>de</strong> apropriar-se do concreto isto é, a maneira <strong>de</strong><br />

reproduzi-lo sob a forma <strong>de</strong> concreto pensado.<br />

Mas este não é <strong>de</strong> modo algum o processo da gênese<br />

do concreto mesmo. Com efeito, a categoria econômica<br />

mais simples - por exemplo, o valor <strong>de</strong> troca - supõe uma<br />

população, e esta produz em <strong>de</strong>terminadas condições;<br />

supõe também certo tipo <strong>de</strong> família, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> ou<br />

<strong>de</strong> Estado, etc. Esta categoria econômica só po<strong>de</strong> existir<br />

sob a forma <strong>de</strong> uma relação unilateral e abstrata no seio<br />

<strong>de</strong> um conjunto concreto, vivo e já dada No entanto,<br />

como categoria, o valor <strong>de</strong> troca tem uma existência an-<br />

tiquíssima.<br />

Assim se constitui a consciência filosófica, <strong>de</strong> modo<br />

que o pensamento conceituai é para ela o homem real; o<br />

real se torna assim o mundo concebido: o movimento<br />

das categorias parece a esta consciência como um ver-<br />

da<strong>de</strong>iro ato <strong>de</strong> produção que recebe um simples impulso<br />

do exterior. Deste modo o movimento das categorias tem<br />

por resultado o mundo. Isto é correto - ainda que se trata<br />

<strong>de</strong> uma simples tautologia - na medida em que a totali-<br />

da<strong>de</strong> concreta (posto que é totalida<strong>de</strong> pensada ou re-<br />

presentação intelectual do concreto) é produto do pen-<br />

samento e da representação, mas não é produto em ab-<br />

soluto do conceito que se constituiria a si mesmo, que<br />

pensaria a parte e por cima da percepção e da represen-<br />

tação: é produto da elaboração dos conceitos partindo<br />

da percepção e da intuição. Assim, a totalida<strong>de</strong> que se<br />

manifesta na mente como um todo pensado é produto do<br />

cérebro pensante que se apropria do mundo da única<br />

maneira possível. A apropriação prática e intelectual do<br />

O Estado <strong>de</strong> Sào Paulo-31.12.88<br />

O mundo continua<br />

crescendo<br />

Quando o IBGE confirma que a<br />

economia brasileira não cresceu em<br />

1988, é oportuno ver o que aconteceu<br />

no Exterior. Como anda o mundo in-<br />

tegrado pelos países <strong>de</strong> economia<br />

aberta, os 24 que fazem parte da<br />

(OCDE), Organização Econômica pa-<br />

ra o Desenvolvimento e Cooperação?<br />

O último relatório <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong><br />

mostra que os resultados <strong>de</strong>ssas eco-<br />

nomias é auspicioso. O Porduto Na-<br />

cional Bruto (PNB) cresceu em tomo<br />

<strong>de</strong> 4% em média, e o <strong>de</strong>semprego caiu<br />

5%. Mais ainda: a inflação, que cos-<br />

tuma subir quando há uma elevação<br />

das taxas <strong>de</strong> crescimento, manteve-se<br />

estável. Ela permaneceu aí em tomo<br />

<strong>de</strong> 3,5%, igual a 1987. Esse compor-<br />

tamento é significativo porque tudo<br />

levava a crer que teríamos uma reces-<br />

são em 1988 em <strong>de</strong>corrência do crash<br />

das bolsas, em outubro <strong>de</strong> 1987. Re-<br />

cessão ou pelo menos uma estagnação<br />

no crescimento econômico mundial.<br />

Economia<br />

mundo pela arte e pela religião é inteiramente diferente.<br />

Enquanto a mente possui uma ativida<strong>de</strong> puramente<br />

especulativa e teórica, o sujeito real subsiste <strong>de</strong> maneira<br />

autônoma, separado da mente. Pa isso é que, também<br />

no método teórico, é preciso que o sujeito - a socieda<strong>de</strong> -<br />

atue constantemente sobre a mente como condição pré-<br />

via<br />

Mas, estas categorias simples não têm uma existência<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, histórica ou natural, anterior às categorias<br />

mais conaetas? Isto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>; Hegel, por exemplo, tem<br />

razão ao começar a filosofia do direito pela posse, isto é,<br />

a mais simples das relações jurídicas do sujeito. Com<br />

efeito, não existe proprieda<strong>de</strong> antes da família ou antes<br />

das relações entre senhores e servos, que são relações<br />

muito mais concretas. Há que acrescentar porém que<br />

existem famílias e tribos que só conhecem a posse, não<br />

a proprieda<strong>de</strong> No que se refere à proprieda<strong>de</strong>, a catego-<br />

ria mais simples é a relação <strong>de</strong> simples comunida<strong>de</strong>s<br />

familiares ou tribais. Numa socieda<strong>de</strong> mais avançada,<br />

aparece como a relação mais simples <strong>de</strong> uma organiza-<br />

ção <strong>de</strong>senvolvida. Mas se pressupõe sempre o sujeito<br />

concreto cuja relação é a posse. Po<strong>de</strong>mos imaginar um<br />

selvagem isolado que é possuidor, mas não existe então<br />

relação jurídica. Não é certo historicamente que a posse<br />

evolui para a família; a mesma supõe sempre, pelo con-<br />

trário "esta categoria jurídica mais concreta".<br />

De toda maneira, não é menos certo que as catego-<br />

rias simples exprimem relações nas quais o merxx <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento do concreto não po<strong>de</strong> produzir ainda uma<br />

relação mais complexa, expressa intelectualmente pa<br />

uma categoria mais concreta; estas categorias po<strong>de</strong>m<br />

subsistir como relações subordinadas quando o concreto<br />

está mais <strong>de</strong>senvolvido. O dinheiro po<strong>de</strong> existir histori-<br />

camente, e <strong>de</strong> fato existiu, antes que o capital, dos ban-<br />

cos, do trabalho assalariado, etc. Po<strong>de</strong>mos, portanto, di-<br />

zer que a categoria mais simples po<strong>de</strong> exprimir tanto as<br />

relações essenciais <strong>de</strong> um conjunto ainda pouco <strong>de</strong>sen-<br />

volvido, como as relações secundárias <strong>de</strong> um conjunto<br />

muito <strong>de</strong>senvolvido; estas relações existiam já historica-<br />

mente antes que o conjunto se <strong>de</strong>senvolvesse ao nível<br />

da categoria mais concreta. A transição do pensamento<br />

abstrato, que vai do simples ao concreto, reflete assim o<br />

processo histórico real.<br />

(Traduzido do espanhol por Marcos Arruda)<br />

Nada disso ocorreu. Os países da<br />

OCDE conseguiram pôr em prática<br />

medidas que regularam a liqui<strong>de</strong>z e<br />

permitiram a sustentação do cresci-<br />

mento sem estimular a inflação.<br />

Deve-se assinalar, a propósito, que<br />

foi graças a isso que as economias dos<br />

países em <strong>de</strong>senvolvimento não sofre-<br />

ram ainda mais. O Brasil é um caso<br />

específico. O crescimento or<strong>de</strong>nado<br />

dos países industrializados proporcio-<br />

nou um aumento <strong>de</strong> 9% no comércio<br />

internacional, beneficiando países<br />

como o Brasil que encontraram no<br />

mercado externo um caminho para<br />

colocar suas produções sem mercado.<br />

„____ ■!<br />

OTy-T - —


Isso atenuou os efeitos <strong>de</strong>pressivos da<br />

queda <strong>de</strong> consumo, além <strong>de</strong> haver<br />

aberto canais que, se bem cuidados,<br />

po<strong>de</strong>rão continuar oxigenando as eco-<br />

nomias dos países em <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento.<br />

É verda<strong>de</strong> que essa recuperação das<br />

economias dos países industrializados<br />

foi conseguida as custas <strong>de</strong> elevações<br />

das taxas <strong>de</strong> juros que, indiretamente.<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo-31.12.88<br />

A economia brasileira fecha o ano<br />

na estaca zero: a produção nacional,<br />

politicamente chantageada, não<br />

avançou meio metro. Do que resul-<br />

tou uma nova atrofia do produto por<br />

habitante, que amargou um recuo <strong>de</strong><br />

1,9%. Para uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>fasada,<br />

que se obriga a fazer do emprego a<br />

qualquer custo um fim em si mes-<br />

mo, 88 já vai tar<strong>de</strong>: 1,7 milhão <strong>de</strong><br />

brasileiros quebraram a cara e o<br />

sonho nas portas trancadas do mer-<br />

cado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Mais uma vez, a honra da nave<br />

sem rumo foi salva pela economia<br />

informal. Movida a sinistrose, o PIB<br />

caixa-dois <strong>de</strong>ve ter crescido na<br />

vertical do mercado e na horizontal<br />

do sistema. Em especial, no setor<br />

rural. 0 produto agrícola cresceu<br />

em volume e em preço, no seu<br />

melhor <strong>de</strong>sempenho dos últimos<br />

quinze anos. Mas os sismógrafos do<br />

IBGE registraram no campo uma<br />

expansão ridícula <strong>de</strong> 0,06%.<br />

Explicação: o PIB oficial é me-<br />

ramente fiscal. Portanto, bem me-<br />

nor que o PIB real.<br />

Inflação contábil<br />

Pelo lado da carestia nossa <strong>de</strong><br />

cada dia, a taxa gregoriana <strong>de</strong> 933%<br />

penetra no ano novo com forte<br />

impulso <strong>de</strong> banguela: no alto e em<br />

alta.<br />

Com a ressalva: inflação encapsu-<br />

lada pela correção. Do que resulta<br />

uma inflação meramente contábil,<br />

simples ficção aritmética para con-<br />

Folha Bancária-4,I.89<br />

sacrificam os <strong>de</strong>vedores. Mas os elei-<br />

tos imediatos <strong>de</strong>correntes do aumento<br />

do fluxo <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong>vem com-<br />

pensar essa situação. Não é possível,<br />

por exemplo, imaginar o que teria<br />

ocorrido com a economia brasileira,<br />

neste ano <strong>de</strong> crise, se o mercado mun-<br />

dial não absorvesse os exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

produção, se não tivéssemos podido<br />

exportar mais <strong>de</strong> US$ 35 bilhões.<br />

O PNB dos 24 países da OCDE<br />

cresceu 33% em 1987, a previsão pa-<br />

ra 1988 era <strong>de</strong> que não passaria <strong>de</strong><br />

2,5%. Em junho, já se estimava algo<br />

em tomo <strong>de</strong> 3% e estamos terminando<br />

o ano com um crescimento <strong>de</strong> 4%.<br />

E tudo isso sem inflação, sem <strong>de</strong>sor-<br />

<strong>de</strong>m econômica. Esta é uma lição para<br />

nós.<br />

Salvaram-se todos<br />

tratos e valores monetariamente<br />

corrigidos. Sem essa in<strong>de</strong>xação ple-<br />

na, o Brasil já teria submergido no<br />

Triângulo das Bermudas: <strong>de</strong>pressão<br />

econômica, explosão social e implo-<br />

sãopolítica.<br />

Oojetivo nacional para 89, ano <strong>de</strong><br />

eleição presi<strong>de</strong>ncial: acabar com a<br />

in<strong>de</strong>xação. Ou seja: vamos brincar<br />

<strong>de</strong> hiperinflação, o abandono da<br />

moeda fiduciária, a que nos resta.<br />

Ficou no boato<br />

Atravessamos 88 na canoa furada<br />

do boato: congelamento, <strong>de</strong>sin<strong>de</strong>xa-<br />

ção, queda <strong>de</strong> ministro e golpe<br />

militar. Os boatos neurotizantes e<br />

inflacionistas cresceram a partir <strong>de</strong><br />

maio, encheram as medidas em<br />

outubro e só não viraram o Brasil<br />

pelo avesso em novembro, véspera<br />

<strong>de</strong> eleição, porque o pacto improvi-<br />

sado, mal costurado, <strong>de</strong>sativou a<br />

bomba-relógio da indústria do boato.<br />

0 pacto <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> novembro, que se<br />

esgota nesta terça-feira, dia 3, <strong>de</strong>ve<br />

ser julgado, não pela inflação <strong>de</strong><br />

28,8%, em <strong>de</strong>zembro, mas pela<br />

trégua do boato antes da eleição. Ela<br />

<strong>de</strong>sarmou a inflação <strong>de</strong> 35% em<br />

novembro e <strong>de</strong> 44% em <strong>de</strong>zembro<br />

(projeção do Banco Central em 19 <strong>de</strong><br />

outubro).<br />

Fuga do inferno<br />

Uma espiada nos jornais da última<br />

JOELMIR BETING<br />

passagem <strong>de</strong> ano revela que em<br />

matéria <strong>de</strong> sinistrose até que melho-<br />

ramos. Os vaticínios para 1988 eram<br />

absolutamente apocalípticos: o Bra-<br />

sil não alcançaria 89 sem um<br />

terceiro e <strong>de</strong>cisivo choque corretivo.<br />

No último reveillon, discutiam-se na<br />

classe média as opções <strong>de</strong> vida nova<br />

fora do Brasil: Estados Unidos,<br />

Canadá, Austrália, Portugal, Para-<br />

guai?<br />

Entramos em 88 com as bruxas<br />

todas a bordo: inflação recor<strong>de</strong>,<br />

hiperinflação inevitável, recessão<br />

irreversível, déficit explosivo, mora-<br />

tória externa, ministro provisório,<br />

mata-burros da Constituinte...<br />

Cuidado, hoje, com às cartoman-<br />

tes recheadas <strong>de</strong> álgebra.


Exame-11.01.89<br />

Rompendo uma<br />

nova barreira<br />

Evolução das exportações brasileiras<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980 — em USS bilhões<br />

O bom resultado <strong>de</strong> 1988 também<br />

tem seu lado perverso. O superá-<br />

vit comercial <strong>de</strong> quase 20 bi-<br />

lhões <strong>de</strong> dólares, obtido principalmente<br />

graças à queda do preço internacional do<br />

petróleo e ao baixo volume <strong>de</strong> importa-<br />

ções <strong>de</strong> trigo no ano passado, ajuda em<br />

parte o país a saldar os compromissos da<br />

dívida extema, mas também ajuda a ali-<br />

mentar a inflação quando o governo<br />

transforma os dólares em cruzados. Esse<br />

superávit também provoca um incômodo<br />

político em relação aos principais parcei-<br />

ros comerciais do país. especialmente os<br />

Estados Unidos. No momento em que a<br />

palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m no comércio internacio-<br />

nal é ■"reciprocida<strong>de</strong>", um superávit <strong>de</strong><br />

20 bilhões <strong>de</strong> dólares evi<strong>de</strong>ncia a postura<br />

protecionista do Brasil e o expõe a reta-<br />

liações cujo efeito é inibir o crescimento<br />

das exportações.<br />

Uma década que<br />

foi perdida<br />

A julgar pela estimativa do IBGE <strong>de</strong><br />

que o produto interno bruto. PIB.<br />

cresceu no ano passado apenas 0.04%,<br />

os brasileiros ficaram 2% mais pobres<br />

em relação a 1987, porque a população<br />

continua aumentando a uma taxa <strong>de</strong><br />

2,1% ao ano. Com essa marcha a ré do<br />

PIB per capita — produto das expansões<br />

<strong>de</strong> 0.06% na agricultura e 1.69% nos<br />

serviços e da retração <strong>de</strong> 2.23% na in-<br />

dústria —. o Brasil volta exatamente ao<br />

110<br />

100<br />

No mesmo lugar<br />

90<br />

80-<br />

Um sólido avanço<br />

Evoluçéo das exportações, por grupo <strong>de</strong> produtos — em USS milhões<br />

Evolução real do PIB per capita<br />

brasileiro — base: 1980 = 100<br />

100,0<br />

'<br />

\ 1980 81 82 83 84 85 86 87 88<br />

tu<br />

S<br />

9<br />

to<br />

1 i<br />

ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>sta década {\er gráfi-<br />

co acima j. A torcida para que as coisas<br />

melhorem em 1989 é justa, mas as pers-<br />

pectivas não são animadoras. O país está<br />

na encruzilhada <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> ajus-<br />

tamento recessivo e da hiperinflação. o<br />

que não significa que. optando pelo se-<br />

gundo caminho, volte a crescer. Do ân-<br />

gulo da renda, portanto, a década <strong>de</strong> 80<br />

está perdida.<br />

Café 1 958 2 300 2 300<br />

Soja 2 324 3 100 4 000<br />

Cacau 549 500 400<br />

Fumo 405 500 500<br />

Carnes 647 850 800<br />

Suco <strong>de</strong> laranja 832 1 300 1 300<br />

Calçados 1 169 1 200 1 200<br />

Têxteis 834 1 300 1 300<br />

Minérios <strong>de</strong> ferro 1 563 2 000 2 000<br />

Alumínio em bruto 587 1 200 1 000<br />

Ferro e aço 1 303 2 000 2 000<br />

Celulose e papel 394 1 200 1 200<br />

Material <strong>de</strong> transporte 2 780 3 500 3 000<br />

Máquinas e aparelhos elétricos 888 900 770<br />

Cal<strong>de</strong>iras e máquinas 1 634 2 000 1 800<br />

Produtos químicos 611 1 000 1 000<br />

Outros básicos 1 384 1 600 1 600<br />

Outros industrializados 6 166 7 300 6 600<br />

Operações especiais 185, 250 230<br />

Total geral 26 213 34 000 33 000<br />

Economia<br />

Veia-04.01£9<br />

O pulo dos<br />

gigantes<br />

As multinacionais ampliam<br />

os lucros em 1988 e programam uma<br />

avalanche <strong>de</strong> investimentos<br />

Os principais executivos da Autolatina<br />

— a po<strong>de</strong>rosa montadora <strong>de</strong> automó-<br />

veis que reúne no Brasil a Ford e a Volks-<br />

wagen — tiveram na semana passada o seu<br />

melhor fim <strong>de</strong> ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983. Pela primei-<br />

ra vez nos últimos seis anos o presi<strong>de</strong>nte da<br />

companhia, Wolfgang Sauer, pô<strong>de</strong> ligar pa-<br />

ra seus chefes, na Alemanha e<br />

nos Estados Unidos, e confir-<br />

mar que a empresa sob seu co-<br />

mando registrava resultado po-<br />

sitivo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acumular pre-<br />

juízos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 626 milhões<br />

<strong>de</strong> dólares em cinco balanços no<br />

vermelho. A Autolatina conse-<br />

guiu saltar <strong>de</strong> um prejuízo anual<br />

<strong>de</strong> 218 milhões <strong>de</strong> dólares em<br />

1987 para um lucro estimado<br />

em 300 milhões <strong>de</strong> dólares em<br />

1988 — um valor ainda mo<strong>de</strong>s-<br />

to para o porte da empresa, con-<br />

si<strong>de</strong>rada a maior multinacional<br />

instalada no Brasil, mas festeja-<br />

do. Com essa reviravolta, a Au-<br />

tolatina <strong>de</strong>ixou também <strong>de</strong> ser<br />

uma ovelha negra num seleto<br />

gnipo que costuma bater boa par-<br />

te <strong>de</strong> seus concoircntes não só em<br />

eficiência como em lucros — as<br />

subsidiárias das multinacionais,<br />

que ocupam catorze dos vinte pri-<br />

meiros postos entre as maiores<br />

empresas privadas do Brasil.<br />

Junto com a Autolatina, empresas como<br />

a anglo-holan<strong>de</strong>sa Shell, as americanas Es-<br />

so e Du Pont e a francesa Rhodia, do gru-<br />

po Rhône-Poulenc, que já estavam acostu-<br />

madas a exibir ganhos polpudos, registra-<br />

ram em 1988 os lucros mais espetaculares<br />

dos últimos tempos. "Apesar da crise do<br />

Brasil, os números mostram<br />

que conseguimos ter sucesso",<br />

comemora Jorge Nelson Rosas,<br />

presi<strong>de</strong>nte da Du Pont, que te-<br />

ve em 1988 um lucro <strong>de</strong> 34 mi-<br />

lhões <strong>de</strong> dólares, 20% a mais<br />

do que no ano anterior. O que<br />

impulsionou os lucros das mul-<br />

tinacionais, assim como ocorreu<br />

com gran<strong>de</strong> parte das empresas<br />

<strong>de</strong> capital nacional, foram a re-<br />

lativa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços e o<br />

aumento <strong>de</strong> eficiência -— mas.<br />

no seu caso particular, o suces-<br />

so teve um sabor especial. A<br />

maioria das companhias <strong>de</strong> ca-<br />

pital estrangeiro lutou não ape-<br />

nas contra a inflação e a in-<br />

certeza econômica, mas tam-<br />

bém com um velho problerm^


Quinzena<br />

que ronda suas ativida<strong>de</strong>s no<br />

Brasil — embora reconhecidas como o<br />

grupo que paga os melhores salários aos<br />

seus funcionários, cerca <strong>de</strong> 40% mais<br />

que a média das indústrias nacionais, e<br />

prefira investir seu dinheiro no Brasil<br />

mesmo, elas são um alvo político cons-<br />

tante, que se agravou em 1988 com a dis-<br />

cussão da nova Constituição.<br />

CRUZADA — "A Constituição, por si só,<br />

não favorece a atração <strong>de</strong> novos investido-<br />

res estrangeiros", avalia Robert<br />

Broughton, presi<strong>de</strong>nte da Shell, o maior<br />

distribuidor <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo do<br />

país, que empreen<strong>de</strong>u sem sucesso uma<br />

cruzada para convencer os constituintes a<br />

não incluir na nova Carta uma proibição <strong>de</strong><br />

que as companhias estrangeiras venham a<br />

explorar minérios no país, a<br />

partir <strong>de</strong> 1993. além <strong>de</strong> um item<br />

que dá preferência às indústrias<br />

nacionais na venda <strong>de</strong> serviços e<br />

equipamentos ao governo. Nem<br />

por isso, entretanto, a Shell<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter um lucro <strong>de</strong> 130<br />

milhões <strong>de</strong> dólares em 1988,<br />

mais que o dobro do que tinha<br />

ganho no ano anterior.<br />

Do lado da Autolatina, a di-<br />

ficulda<strong>de</strong> maior foi outra —<br />

enfrentar o rígido controle <strong>de</strong><br />

preços dos automóveis, que le-<br />

vou a empresa a <strong>de</strong>safiar o go-<br />

verno na gestão do ex-ministro<br />

Bresser Pereira ao anunciar um<br />

aumento maior que o permitido<br />

em meados <strong>de</strong> 1987 pelo Con-<br />

selho Interministerial <strong>de</strong> Pre-<br />

ços, o CIP. Bresser caiu, o go-<br />

verno mudou e a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ajustar o valor <strong>de</strong> venda dos<br />

automóveis segundo os pró-<br />

prios cálculos <strong>de</strong> custos da em-<br />

presa fez com que a Autolatina<br />

saísse do vermelho. ""Foi um ano bom, <strong>de</strong><br />

recuperação, porque tivemos uma relativa<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços", diz Wollgang Sauer.<br />

— MOVIMENTO DE BAIRROS<br />

repetição/invenção<br />

Trata-se do resultado <strong>de</strong> uma ampla<br />

pesquisa feita pela entida<strong>de</strong>,* no Recife<br />

e Região Metropolitana,>cotn o<br />

objetivou <strong>de</strong> resgatar as formas <strong>de</strong><br />

estruturação e funcionamento da<br />

Associação/Conselho <strong>de</strong> Moradores,<br />

seu papel e importância, tanto do<br />

ponto <strong>de</strong> vista dos dirigentes, como<br />

dos moradores.<br />

A pesquisa será transformada em<br />

pequenas publicações com temas<br />

específicos que po<strong>de</strong>rão subsidiar<br />

cursos, seminários e <strong>de</strong>bates no<br />

movimento <strong>de</strong> Bairro.<br />

O livro é a con<strong>de</strong>nsação <strong>de</strong> um<br />

longo trabalho <strong>de</strong> pesquisa da Etapas.<br />

Em 1985 foi realizada a primeira par-<br />

te, que se constituiu no mapeamento<br />

<strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s do bairro do Re-<br />

cife e Região Metropolitana. Essa ati-<br />

Emprn<br />

UÈà<br />

Autolatina<br />

Shell<br />

1? RHODIA<br />

XEROX<br />

Automobi-<br />

lístico<br />

Distribuição <strong>de</strong><br />

álcool e <strong>de</strong>riva-<br />

dos <strong>de</strong> petróleo,<br />

mineração<br />

Químico, têxtil,<br />

petroquímico<br />

Material para<br />

escritório<br />

Químico, farma-<br />

cêutico, petro-<br />

químico<br />

Químico, têxtil,<br />

plástico<br />

Em outros setores ainda vigiados <strong>de</strong> perto,<br />

mas sem a asfixia do CIP. o efeito foi se-<br />

melhante. A Esso, rival da Shell no mesmo<br />

ramo <strong>de</strong> negócios, viu-se também benefi-<br />

ciada com a recuperação dos preços da ga-<br />

solina e do álcool autonzada pelo Conselho<br />

Nacional do Petróleo. "Nossos lucros com<br />

as vendas <strong>de</strong> combustíveis foram 68% su-<br />

periores aos <strong>de</strong> 1987". contabiliza William<br />

Jackson, presi<strong>de</strong>nte da empresa.<br />

"SINAL VERDE" — Esse aumento nos<br />

ganhos era a injeção <strong>de</strong> ânimo que faltava<br />

para que os grupos já instalados no merca-<br />

do brasileiro não modifiquem sua disposi-<br />

ção <strong>de</strong> investir no país. A Rhodia. <strong>de</strong> capi-<br />

tal francês, teve resposta imediata para o<br />

crescimento <strong>de</strong> seus lucros <strong>de</strong> 55 milhões<br />

<strong>de</strong> dólares em 1987 para 90 milhões <strong>de</strong> dó-<br />

lares no ano passado. "Recebemos o sinal<br />

ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa matriz para acelerar nosso<br />

vida<strong>de</strong> resultou na publicação do<br />

' 'Catálogo <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s Populares''.<br />

Durante essa pesquisa forameolhidos<br />

alguns dados que permitiram traçar<br />

um perfil das Associações e Conse-<br />

lhos (esses dados foram con<strong>de</strong>nsados<br />

na caiúYhSi"Retratos da Gente".<br />

A partir das informações obtidas no<br />

mapeamento foi percebida a necessi-<br />

da<strong>de</strong> (por parte do movimento, asses-<br />

sores e intelectuais) <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

um pouco mais as formas <strong>de</strong> estrutu-<br />

ração e funcionamento das entida<strong>de</strong>s<br />

populares, e também da representação<br />

que os dirigentes têm <strong>de</strong> uma associa-<br />

ção/conselho e sua relação com o Es-<br />

tado, a Igreja, os partidos políticose<br />

com os próprios moradores.<br />

Essa pesquisa foi realizada com<br />

168 entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bairro e 1.110 famí-<br />

lias, numa amostra escolhida com bas<br />

em critérios científicos.<br />

A metodologia utilizada permiti<br />

que os militantesparticipassem do pro<br />

Um ano <strong>de</strong> ouro<br />

Os lucros das multinacionais cresceram em 1988<br />

A »^: (valores em dólares)<br />

Faturamento<br />

anual<br />

4,0<br />

bilhões<br />

3,7<br />

bilhões<br />

1,05<br />

bilhão<br />

600<br />

milhões<br />

500<br />

milhões<br />

340<br />

milhões<br />

Lacro tm<br />

1987<br />

-218<br />

milhões<br />

51<br />

milhões<br />

55<br />

milhões<br />

50<br />

milhões<br />

63<br />

milhões<br />

27<br />

milhões<br />

Lucre em<br />

19W<br />

300<br />

milhões<br />

130<br />

milhões<br />

90<br />

milhões<br />

50<br />

milhões<br />

75<br />

milhões<br />

34<br />

milhões<br />

Economia<br />

ntmo <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong> 75 milhões para<br />

120 milhões <strong>de</strong> dólares anuais", afirma o<br />

brasileiro Edson Vaz Musa. presi<strong>de</strong>nte da<br />

Rhodia. "Num país que reclama <strong>de</strong> falta<br />

<strong>de</strong> investimentos, esse tipo <strong>de</strong> notícia é<br />

mais do que bem-vindo." No caso da Au-<br />

tolatina, a volta ao lucro animou as matri-<br />

zes em Detroit e Wolfsburg a autorizar a<br />

injeção <strong>de</strong> 1,3 bilhão <strong>de</strong> dólares no Brasil<br />

no período <strong>de</strong> 1988 a 1993 — um plano<br />

que tinha sido <strong>de</strong>scartado nos momentos<br />

mais difíceis da empresa. A Shell, por sua<br />

vez, anunciou que gastará em 1989 cerca<br />

<strong>de</strong> 70 milhões <strong>de</strong> dólares na sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

postos <strong>de</strong> combustíveis e ainda cogita in-<br />

vestir um extra <strong>de</strong> 250 milhões <strong>de</strong> dólares<br />

na sua indústria <strong>de</strong> alumínio no Maranhão,<br />

a Alumar. "A não ser que aconteça uma<br />

catástrofe, preten<strong>de</strong>mos investir 700 mi-<br />

lhões <strong>de</strong> dólares no Brasil até 1997". afir-<br />

ma Rosas, da Du Pont. #<br />

cesso <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, da elabora-<br />

ção do questionário, da reformulação,<br />

do pré-teste e do treinamento. O mé-<br />

todo consistiu numa adaptação do<br />

processo participativo às condições<br />

particulares da pesquisa.<br />

PEDIDOS<br />

PARA: Etapas<br />

Rua dos Medi -<br />

eis, 67, Boa Vis-<br />

ta-Recife/PE,<br />

fone 2310745,ou<br />

CPV


Quinzena<br />

í::ãí: :íS:Í ; :;SÍ;:ÍÍ-<br />

Gazeta <strong>de</strong> Pinheiros-18.12.88 EM DEBATE NO PT:<br />

O que <strong>de</strong>vem ser os<br />

Conselhos Populares<br />

As udnas correnfes <strong>de</strong>ntro do PT opinam sobre o que são<br />

p como <strong>de</strong>vem funcionar os chamados<br />

Conselhos Populares<br />

Uma outra relação com o Estado<br />

Maurício Faria<br />

A idéia dos Conselhos Populares<br />

tomou corpo no PT nas discussões<br />

sobre programas <strong>de</strong> governo para as<br />

eleições <strong>de</strong> 82. Surgiu da elaboração<br />

do partido, como proposta sua, e não<br />

por iniciativa da população. Mas,<br />

apesar da relação com o programa<br />

<strong>de</strong> governo, não ficou <strong>de</strong>finido que a<br />

criação dos Conselhos cabia á admi-<br />

nistração petista. A noção essencial<br />

e mais geral era a da participação<br />

política da população em relação<br />

aos assuntos públicos e ás questões<br />

<strong>de</strong> governo.<br />

Na Capital <strong>de</strong> São Paulo — princi-<br />

pal centro econômico e político do<br />

país — fica mais claro que a partici-<br />

pação popular nas condições <strong>de</strong> um<br />

governo sob direção petista tem que<br />

abarcar duas esferas interligadas.<br />

Uma é a do controle do povo sobre o<br />

governo e sua presença direta nas<br />

tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>sse governo.<br />

A outra é a da luta política geral que<br />

se dá na aplicação do programa go-<br />

vernamental municipal, envolvendo<br />

sua sustentação popular. Os Conse-<br />

lhos neste caso não terão um papel<br />

apenas passivo, <strong>de</strong> controle e formu-<br />

lação das políticas públicas, mas<br />

agirão também como órgãos <strong>de</strong> mo-<br />

bilização e ação política.<br />

Os Conselhos Populares <strong>de</strong>vem<br />

ser organismos <strong>de</strong> tino inteiramente<br />

novo, diferenciados e autônomos em<br />

relação aos partidos, ao Estado, à<br />

Administração, às entida<strong>de</strong>s da so-<br />

cieda<strong>de</strong> e aos movimentos sindical e<br />

popular. Uma Administração <strong>de</strong>mo-<br />

crática instaura condições políticas<br />

e práticas muito mais favoráveis ao<br />

nascimento dos Conselhos, mas não<br />

é ela quem <strong>de</strong>ve criá-los, e sim o pró-<br />

prio povo, quando convencido da sua<br />

necessida<strong>de</strong>.<br />

No processo, é necessário consti-<br />

tuir um sistema, formado por Conse-<br />

lhos específicos (<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educa-<br />

ção, transporte, orçamento etc.) e<br />

Conselhos gerais (<strong>de</strong> vila, bairro, se-<br />

tor etc). A Prefeitura reconhecerá<br />

os Conselhos, se relacionará com<br />

eles e levará na <strong>de</strong>vida conta suas<br />

posições. Não sendo eles organismos<br />

do Estado e da Administração, não<br />

possuem formalmente a condição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>liberar sobre os assuntos <strong>de</strong> go-<br />

verno. Mas, na medida em que te-<br />

nham peso político, representativi-<br />

da<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mobilização, seus<br />

posicionamentos influenciarão <strong>de</strong>ci-<br />

sivamente as <strong>de</strong>cisões da Prefeitu-<br />

ra, que governará com eles.<br />

A efetiva participação política po-<br />

pular só se dá quando o povo está<br />

bem informado. Assim, para o <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento dos Conselhos há ne-<br />

cessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma multilateral <strong>de</strong> co-<br />

municação, combinando a ação in-<br />

formativa <strong>de</strong> massa do governo mu-<br />

nicipal, as ativida<strong>de</strong>s partidárias <strong>de</strong><br />

imprensa e divulgação e o papel <strong>de</strong><br />

órgãos <strong>de</strong> comunicação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />

tes e <strong>de</strong>mocráticos.<br />

As Plenárias Populares que têm<br />

sido feitas nas gran<strong>de</strong>s áreas da ci-<br />

da<strong>de</strong> com a participação da prefeita<br />

eleita, on<strong>de</strong> se informa e discute os<br />

<strong>de</strong>safios políticos e administrativos<br />

do inicio <strong>de</strong> governo e se levanta as<br />

principais reivindicações dos bair-<br />

ros e movimentos locais, constituem<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo embriões importantes<br />

dos Conselhos. A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s-<br />

sas Plenárias, esten<strong>de</strong>ndo-as a mui-<br />

tos lugares da cida<strong>de</strong>, dando a suas<br />

reuniões um sentido <strong>de</strong> continuida-<br />

<strong>de</strong>, organizando o encaminhamento<br />

das propostas feitas, ampliando<br />

sempre mais a sua representativida-<br />

<strong>de</strong> etc, são passos rumo aos Conse-<br />

lhos Populares. Da mesma forma<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas as expe-<br />

riências dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da<br />

Zona Leste.<br />

Ganhar as eleições para a Prefei-<br />

tura significa administrar apenas<br />

um ramo do Estado atual, ramo este<br />

sujeito aos condicionamentos legais,<br />

políticos, administrativos, econõmi-<br />

co-financeiros e <strong>de</strong> força policial-mi-<br />

litar do restante da máquina estatal,<br />

incluindo o Legislativo e O Judiciá-<br />

rio municipais. Os Conselhos Popu-<br />

lares <strong>de</strong>vem ser órgãos <strong>de</strong> interven-<br />

ção do povo nas disputas entre a Ad-'<br />

ministração e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Estado glo-<br />

bal. Seu duplo caráter — participa-<br />

ção nos assuntos públicos e luta polí-<br />

tica geral popular — aponta para o<br />

autogoverno da população trabalha-<br />

dora e è gèrmen <strong>de</strong> uma nova rela-<br />

ção entre a socieda<strong>de</strong> civil e o Esta-<br />

do, que só po<strong>de</strong>rá se realizar plena-<br />

mente com o socialismo.<br />

Vereador eleito da capital e membro da<br />

corrente li<strong>de</strong>rada pelo <strong>de</strong>putado José Ge-<br />

nomo<br />

" ^^^ ^^"<br />

Política Nacional<br />

Novos canais <strong>de</strong><br />

participação<br />

Valeska Peres Pinto<br />

O "Conselho Popular" tem sido<br />

uma idéia-força <strong>de</strong>fendida pelo PT<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação, quase sempre<br />

associada ao exercício direto do po-<br />

<strong>de</strong>r pela população, mantida a in<strong>de</strong>-<br />

pendência em relação ao Governo e<br />

aos Partidos Políticos. São raras as<br />

i<strong>de</strong>ntificações <strong>de</strong> experiências con-<br />

cretas e quando elas ocorrem, não<br />

suficientemente aprofundadas.<br />

O nome Conselho Popular po<strong>de</strong> ser<br />

secundário no <strong>de</strong>bate, mas não o<br />

conteúdo que ten<strong>de</strong> a expressar,<br />

qual seja a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se atingir<br />

formas mais avançadas <strong>de</strong> organi-<br />

zação popular, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e au-<br />

tônomas do Governo e dos Partidos<br />

Políticos. Porém estas formas mais<br />

avançadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma mu-<br />

dança <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na luta social —<br />

superação dó seu caráter reivindica-<br />

tório e a introdução no seu interior<br />

da disputa pelo po<strong>de</strong>r na socieda<strong>de</strong>.<br />

Para que isto ocorra será necessário<br />

associar ao caráter das lutas que ho-<br />

je ocorrem o combate permanente<br />

do monopólio do po<strong>de</strong>r exercido pe-<br />

los setores dominantes da nossa so-<br />

cieda<strong>de</strong> que se faz tanto no plano cul-<br />

tural/i<strong>de</strong>ológico como através <strong>de</strong><br />

instituições, entre as quais as <strong>de</strong> Go-<br />

verno.<br />

Isto nos leva a crer que o PT terá<br />

<strong>de</strong> aprofundar e aplicar uma política<br />

voltada à implementação da partici-<br />

pação popular, que <strong>de</strong>verá ter ex-<br />

pressão no plano da socieda<strong>de</strong> civil<br />

— organização comunitária, sindi-<br />

catos e Partido, como no plano da<br />

ação das instituições <strong>de</strong> Governo —<br />

seja através <strong>de</strong> mecanismos como<br />

plebiscito e iniciativas populares <strong>de</strong><br />

lei, seja através <strong>de</strong> canais institu-<br />

cionais junto a Prefeitura e Câma-<br />

ras, <strong>de</strong>stinados a influir no processo<br />

<strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão nas políticas<br />

<strong>de</strong> Governo.<br />

Dai se conclui que as Administra-<br />

ções do PT terão importante papel a<br />

cumprir. A <strong>de</strong>mocratização das Ad-<br />

ministrações implicarão em medi-<br />

das <strong>de</strong> duas or<strong>de</strong>ns: administrativa ;<br />

realização <strong>de</strong> uma reforma adminis-<br />

trativa que a torne transparente —<br />

<strong>de</strong>mocratização do acesso às infor-<br />

mações, reorganização da estrutura<br />

funcional e sua <strong>de</strong>scentralização,<br />

valorização do serviço público e do<br />

servidor; política: criação <strong>de</strong> canais<br />

institucionais através dos quais a po-<br />

pulação po<strong>de</strong>rá exercer controle so-<br />

bre o Governo e participar nas suas<br />

<strong>de</strong>cisões.<br />

Os setores populares organizados<br />

conseguem diferenciar claramente<br />

os seus próprios espaços daqueles ca-<br />

nais que po<strong>de</strong>m vir a ser criados jun-<br />

to á Administração. E neste momen-<br />

to, o que reivindicam são estes ca-<br />

nais, como forma <strong>de</strong> garantir a im-<br />

plementação das propostas que cor-<br />

respondam às suas reivindicações.<br />

Vale lembrar que estes canais se<br />

aplicam tanto ao Executivo como o<br />

Legislativo, em particular no próxi-<br />

mo período em que as Câmaras Mu-<br />

nicipais e o Legislativo em geral se


Quinzena<br />

verão fortalecidos.<br />

Devemos estar abertos a diferen-<br />

tes formas <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>stes ca-<br />

nais Institucionais — setoriais ou re-<br />

gionais. Quanto a isto não existem<br />

fórmulas acabadas. As <strong>de</strong>cisões re<br />

latívas à saú<strong>de</strong>, educação ou aos<br />

problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m regional po<strong>de</strong>m<br />

ser tomadas <strong>de</strong> diversas maneiras,<br />

buscando-se fóruns para comnatibi-<br />

lização.<br />

Se cabe à Administração abrir ca-<br />

nais <strong>de</strong> participação, não cabe a ela<br />

escolher quem participa neles. En-<br />

fim não se está criando canais só pa-<br />

■x-Xv^y:-:-:-:-:<br />

ra os amigos. É certo que estes ca-<br />

nais terão <strong>de</strong> ter algum nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>li-<br />

beração, mas até on<strong>de</strong> vai seu podpr<br />

correrá por conta da abrangência<br />

dos problemas que tratar, das Umi<br />

tações <strong>de</strong> competência <strong>de</strong>signadas<br />

as esferas <strong>de</strong> governo aos quais se<br />

vincule ao estágio <strong>de</strong> organizaçãn<br />

dos segmentos populares cujas rei-<br />

vindicações e propostas busquem<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r.<br />

O PT tem estado presente nas lu-<br />

tas sociais e populares contruibuin-<br />

do no fortalecimento <strong>de</strong> suas organi-<br />

zações próprias e continuará presen-<br />

Quem tem medo dos CPs?<br />

José Dirceu<br />

O que mais temos presenciado<br />

nestes últimos anos são os reclamos<br />

da direita e dos liberais sobre o <strong>de</strong>s-<br />

perdício dos recursos públicos, o<br />

clientellsmo e os gastos com pessoal<br />

na administração pública.<br />

Na verda<strong>de</strong> há nisso tudo muito <strong>de</strong><br />

hipocrisia e farisaísmo, já que os<br />

responsáveis pela corrupção, em-<br />

preguismo e fisiologismo na máqui-<br />

na administrativa dos governos fo-<br />

ram, ontem a Arena e o PDS, e hoje<br />

o PMDB e o PFL e a sua Nova Repú-<br />

blica.<br />

A apropriação pelos interesses<br />

privados da parte da riqueza social<br />

que através dos impostos, a socieda-<br />

<strong>de</strong> coloca nas mãos do Estado para<br />

promover o bem-estar <strong>de</strong> todos, foi<br />

promovida pelos que hoje recla-<br />

mam.<br />

O Estado, sua máquina adminis-<br />

trativa, o orçamento público, as <strong>de</strong>s-<br />

pesas com pessoal e consumo, os in-<br />

vestimentos, foram e são geridos ex-<br />

clusivamente pelo Executivo e. por-<br />

tanto, pelos grupos <strong>de</strong> pressão dos<br />

setores dominantes na socieda<strong>de</strong>.<br />

Os trabalhadores e o povo paulis-<br />

tano só através da pressão e da mo-<br />

bilização social, ou da eleição <strong>de</strong> ve-<br />

readores e prefeitos populares, con-<br />

seguem disputar parte <strong>de</strong>ste exce-<br />

<strong>de</strong>nte e socializar os recursos que-<br />

eles mesmos — já que a estrutura<br />

tributária brasileira é regressiva —<br />

colocam nas mãos do Estado e dos<br />

governos. A Câmara Municipal até a<br />

nova Constituição não <strong>de</strong>tinha ne-<br />

nhum po<strong>de</strong>r com relação ao orça-<br />

mento da cida<strong>de</strong>.<br />

É esta disputa pelo exce<strong>de</strong>nte da<br />

riqueza social, pelos fundos sociais,<br />

pelo controle do Estado, do governo<br />

e pela fiscalização da máquina ad-<br />

ministrativa que anima os movi-<br />

mentos sociais e a ação dos partidos<br />

e dos cidadãos.<br />

Os Conselhos Populares, tão discu-<br />

tidos hoje, são uma das formas que o<br />

movimento social encontrou para<br />

fiscalizar, controlar e participar do<br />

Governo. Trata-se, sim, <strong>de</strong> <strong>de</strong>mo-<br />

cracia direta, aliás, garantida pela<br />

nova Constituição, no parágrafo úni-<br />

co do seu artigo primeiro, on<strong>de</strong> se lé:<br />

"Todo o po<strong>de</strong>r emana do povo, que o<br />

exerce por meio <strong>de</strong> representantes<br />

eleitos um diretamente, nos termos<br />

<strong>de</strong>sta Constituição", e também nos<br />

artigos 198, item III e 206, item VI,<br />

que garantem esta participação na<br />

saú<strong>de</strong> e na educação pública, res-<br />

pectivamente.<br />

O PT, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação, inscre-<br />

veu entre seus princípios programá-<br />

ticos a participação popular na Ad-<br />

ministração Pública e estimulou a<br />

criação <strong>de</strong> Conselhos Populares <strong>de</strong><br />

controle e fiscalização, seja na Zona<br />

Leste da Capital, seja na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Dia<strong>de</strong>ma, para citar apenas dois<br />

exemplos. Estes Conselhos são uma<br />

criação dos movimentos sociais, ca-<br />

bendo às prefeituras abrir espaços e<br />

informações para sua atuação e aos<br />

partidos políticos dar apoio, estimu-<br />

lar e disputar propostas nas suas<br />

instâncias <strong>de</strong>mocráticas.<br />

Eles po<strong>de</strong>m ser "oficializados"<br />

por lei, como os <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Zona<br />

Leste, que já são reconhecidos pelo<br />

governo <strong>de</strong> São Paylp,-ou como o.<br />

Conselho Administrativo da-Empre*<br />

sa <strong>de</strong> Transportes Coletivos" <strong>de</strong> Dida-<br />

<strong>de</strong>ma, que é eleito nos bairros da-<br />

quela cida<strong>de</strong>.<br />

O limite evi<strong>de</strong>nte dos Conselhos<br />

Populares é a legislação vigente e a<br />

instltuclonallda<strong>de</strong> do pais. Para ter<br />

força <strong>de</strong> lei e ser obrigatória uma <strong>de</strong>-<br />

cisão <strong>de</strong> conselho ou este é legalmen-<br />

te Investido <strong>de</strong>ste po<strong>de</strong>r, ou o Execu-<br />

tivo e mesmo um vereador ou um<br />

partudo transforma sua <strong>de</strong>liberação<br />

em projeto <strong>de</strong> lei. Fora disto, as <strong>de</strong>li-<br />

berações dos Conselhos têm força <strong>de</strong><br />

pressão social e <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda políti-<br />

ca, como acontece, aliás, com todas<br />

as propostas que as entida<strong>de</strong>s da so-<br />

cieda<strong>de</strong> civil fazem ao Executivo e<br />

ao Legislativo.<br />

Os Conselhos Populares significam<br />

evi<strong>de</strong>ntemente a organização popu-<br />

lar, a politização do povo, a <strong>de</strong>mo-<br />

cratização do aparelho admlnistrati-,<br />

vo, já que muitos conselhos na área<br />

<strong>de</strong> transporte, educação e saú<strong>de</strong>, já<br />

controlam e fiscalizam estes servi-<br />

ços públicos.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma revolução políti-<br />

ca e cultural, daí o medo das elites<br />

dominantes, dos aproveitadores da<br />

máquina administrativa e do clien-<br />

tellsmo político. Para o PT é uma<br />

condição indispensável para as<br />

transformações sociais e políticas<br />

em nosso país, da mesma forma que<br />

o é a organização e construção do<br />

partido e <strong>de</strong> seu programa político.<br />

Vamos ver agora quem é realmen-<br />

te a favor da <strong>de</strong>mocracia e do con-<br />

trole do Estado. Quem tem medo dos<br />

Conselhos Populares?<br />

Deputado Estadual, secretario geral nacio-<br />

nal do PT e membro da corrente Articula-<br />

ção<br />

Política Nacional<br />

te nas mesmas. O que muda com a<br />

conquista <strong>de</strong> Prefeituras e a amplia-<br />

ção da sua participação nas Câma-<br />

ras Municipais, é que terá também<br />

<strong>de</strong> atuar nestas instituições, <strong>de</strong>mo-<br />

cratizando-as. Desta forma o.nai ;i<br />

eliminando alguns, senão todos, os<br />

obstáculos que se erguem contra o<br />

exercício da cidadania em nosso<br />

país.<br />

Membro do Diretório Estadual do PT e da<br />

corrente "PT Vivo<br />

Plenárias<br />

Populares<br />

José Correia<br />

A vitória <strong>de</strong> Lulza Erundina impõe<br />

o PT o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> governar a maior<br />

cida<strong>de</strong> do continente. Mas nosso ob-<br />

jetivo é muito maior: queremos mu-<br />

dar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> o Brasil, e a conquis-<br />

ta da Prefeitura <strong>de</strong> São Paulo é uma<br />

alavanca importante para este obje-<br />

tivo.<br />

Isto, porém, não acontecerá sem<br />

que o povo se organize, participe di-<br />

retamente da política e tome em<br />

suas mãos as ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino e<br />

da nação.<br />

E neste marco que surge a propos-<br />

ta do PT <strong>de</strong> governar com os conse-<br />

lhos populares. A discussão que acu-<br />

mulamos no partido sobre este tema<br />

já permite formularmos com clare-<br />

za diferentes aspeptos <strong>de</strong> nossa pro-<br />

posta:<br />

1) Tratam-se <strong>de</strong> organismosHa so-<br />

cieda<strong>de</strong> civil, do movimento, e não<br />

do Estado. Não se confun<strong>de</strong>m, por-<br />

tanto, com as propostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocra-<br />

tização da administração municipal<br />

que o PT está propondo, através da<br />

criação <strong>de</strong> canais institucionais <strong>de</strong><br />

participação e controle popular so-<br />

bre a administração (como, por<br />

exemplo, os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> exis-<br />

tentes na zona leste ou os mecanis-<br />

mos <strong>de</strong> participação dos funcionalis-<br />

mo público na gestão <strong>de</strong> órgãos do<br />

governo).<br />

2) São não apenas órgãos In<strong>de</strong>pen-<br />

<strong>de</strong>ntes do Estado e da administração<br />

mas também unitários, compostos<br />

pela população <strong>de</strong> uma dada áreas<br />

que se disponha a participar in<strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua filiação parti-<br />

dária, credo religioso, etc.<br />

3) O esforço fundamental <strong>de</strong> im-<br />

pulsionar sua constituição cabe ao<br />

PT e aos <strong>de</strong>mais partidos que <strong>de</strong>fen-<br />

<strong>de</strong>m sua criação, às entida<strong>de</strong>s da so-<br />

cieda<strong>de</strong> civil e á população Interes-<br />

sada. A administração do PT <strong>de</strong>ve<br />

apoiar ativamente estas iniciativas<br />

mas não po<strong>de</strong> substituí-las.<br />

4) Os conselhos populares não po-<br />

<strong>de</strong>m ser criados por <strong>de</strong>creto. Sua<br />

formação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um acúmulo<br />

<strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> participação, mo-<br />

bilização e consciência da população<br />

envolvida, hoje inexistente na maio-<br />

ria das regiões da cida<strong>de</strong>. |A


5) Os conselhos populares <strong>de</strong>vem<br />

Incorporar as li<strong>de</strong>ranças e setores<br />

mobilizados da população que hoje<br />

participam das SABs e associações<br />

<strong>de</strong> moradores combativas, das co-<br />

munida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base da Igreja, das<br />

entida<strong>de</strong>s associativas do campo <strong>de</strong><br />

mocrático e popular (tipo subse<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> sindicatos, associações esporti-<br />

vas e culturais! e, principalmente,<br />

dos movimentos existentes.<br />

Os conselhos populares po<strong>de</strong>m e<br />

<strong>de</strong>vem exercer diferentes funções:<br />

organização popular para a condu-<br />

ção das lutas e a representação polí-<br />

tica; constituição <strong>de</strong> novas referen-<br />

cias políticas, fora dos esquemas<br />

tradicionais; fiscalização e controle<br />

da administração- colaboração e<br />

pressão com uma administração<br />

municipal popular (ou pressão e<br />

confronto com uma encabeçada por<br />

forças conservadoras); participa-<br />

immmmm<br />

■- ■■:■■■ :. .<br />

ção em <strong>de</strong>cisões, resguardada sua<br />

completa in<strong>de</strong>pendência, caso se<br />

trata <strong>de</strong>jjma administração popu-<br />

^iar; fôrma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r popular. Natu-<br />

ralmente, o exercício <strong>de</strong>stas diferen-<br />

tes funções <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu estágio<br />

<strong>de</strong> constituição e da situação política<br />

mais geral, do grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratiza-<br />

ção da socieda<strong>de</strong>, É ai que existem,<br />

<strong>de</strong>ntro do PT, diferentes sensibilida-<br />

<strong>de</strong>s sobre os conselhos populares,<br />

Para termos uma visão embrioná-<br />

ria do que po<strong>de</strong>m vir a ser os conse-<br />

lhos populares, a melhor aproxima-<br />

ção não é, como tem sido noticiado<br />

pelos jornais, os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

mas as plenárias populares que o PT<br />

está realizando com a prefeita Lulza<br />

Erundlna e li<strong>de</strong>ranças populares nas<br />

diferentes regiões.<br />

O PT sempre consi<strong>de</strong>rou as for-<br />

mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracias representati-<br />

vas (eleição <strong>de</strong> parlamentares ou<br />

Órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia direta<br />

Roberto Gouveia<br />

A vitória eleitoral do PT aprofun-<br />

da a crise do Governo Sarney, abre<br />

espaços para a politizaçào da socie-<br />

da<strong>de</strong>, bem como para conqustas so-<br />

ciais com implicações na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da população. Ela acontece<br />

em uma situação peculiar on<strong>de</strong> pre-<br />

dominam dois fatores: revolta con-<br />

tra o governo e baixo nível <strong>de</strong> orga-<br />

nização da base da socieda<strong>de</strong>.<br />

Este pequeno grau <strong>de</strong> organização<br />

nos movimentos populares, no movi-<br />

mento sindical, nas entida<strong>de</strong>s da so-<br />

cieda<strong>de</strong> civil e nas instâncias do<br />

Partido é um dos principais pontos<br />

<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> na sustentação da Ad-<br />

ministração Petista em São Paulo.<br />

A eleição <strong>de</strong> Luiza Erundlna, com<br />

uma proposta clara <strong>de</strong> participação<br />

popular e <strong>de</strong> inversão das priorida-<br />

<strong>de</strong>s sociais, abre melhores perspec-<br />

tivas para a implantação dos Conse-<br />

lhos Populares.<br />

Inverter as priorida<strong>de</strong>s nas ações<br />

da Prefeitura significa impedir que<br />

os interesses do capital se sobrepo-<br />

nham aos interesses da coletivida<strong>de</strong>.<br />

Assim, os túneis, gran<strong>de</strong>s viadutos,<br />

e obras faraônicas não po<strong>de</strong>riam vir<br />

em prejuízo da construção <strong>de</strong> mora-<br />

dia popular, <strong>de</strong> escolas, <strong>de</strong> postos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, creches etc. Cada passo nes-<br />

te sentido, cada conquista, significa-<br />

rá uma luta e a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

processo educativo.<br />

O principal canal centralizador<br />

<strong>de</strong>sta luta serão os Conselhos Popu-<br />

lares. Deles <strong>de</strong>vem fazer parte os<br />

mais diferentes movimentos, asso-<br />

ciações e representantes populares<br />

eleitos. São organismos <strong>de</strong> frente<br />

única, autônomos, on<strong>de</strong> as priorida-<br />

<strong>de</strong>s sociais serão discutidas e vota-<br />

das.<br />

Os Conselhos Populares nào se<br />

constituirão <strong>de</strong> uma só vez mas<br />

avançarão conforme a luta. De acor-<br />

do com o nível <strong>de</strong> participação é pos-<br />

sível que em um <strong>de</strong>terminado bairro<br />

ou região o Conselho como um<br />

organismo, inicialmente, consultivo.<br />

Outros mais avançados, serão capa-<br />

zes <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberar sobre certos temas<br />

municipais e interferir na adminis-<br />

tração.<br />

A nossa meta principal é que os<br />

Conselhos Populares sejam <strong>de</strong>libe-<br />

rativos, autônomos e órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

mocracia direta. Falar em <strong>de</strong>mo-<br />

cracia direta eqüivale a falar em po-<br />

<strong>de</strong>r e autonomia. Porisso, sonhos<br />

. contra a idéia dos Conselhos Popula-<br />

res como sendo "institucionais",<br />

"órgãos auxiliares da Administra-<br />

ção" ou "criados pelo Po<strong>de</strong>r Públi-<br />

co", Isso não se choca, evi<strong>de</strong>ntemen-<br />

te, com outro projeto que é o da <strong>de</strong>-<br />

mocratização dos diversos órgãos<br />

que compõem a Prefeitura, para tor-<br />

ná-la transparente e aberta à popu-<br />

lação.<br />

A <strong>de</strong>mocratização da instituição e<br />

a formação dos Conselhos Populares<br />

vem no sentido <strong>de</strong> melhorar as con-<br />

Política Nacional<br />

governantes a cada quatro anos) in-<br />

suficientes para assegurar uma <strong>de</strong>-<br />

mocratização e mo<strong>de</strong>rnização do<br />

país. Defen<strong>de</strong>mos as necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se instaurar mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mo-<br />

cracia participativa, através dos<br />

quais o povo possa exercer direta-<br />

mente o po<strong>de</strong>r. Isto Inclusive é o que<br />

permite o artigo 1?, parágrafo único,<br />

da nova Constituição que as forças<br />

conservadoras procuraram alterar.<br />

Isso remete para a perspectiva <strong>de</strong><br />

uma certa Institucionalização do<br />

conselhos populares com a elabora-<br />

ção da nova Lei Orgânica do Municí-<br />

pio, a constituinte municipal, que<br />

teoricamente po<strong>de</strong> reconhecer-lhes<br />

os papéis que <strong>de</strong>stacamos acima<br />

(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que resguar<strong>de</strong> sua autono-<br />

mia).<br />

Membro da Executiva Municipal do PT e d?<br />

corrente ligada ao jornal Em Tempo ■<br />

dições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> vida da popu-<br />

lação, integrando na luta funcioná-<br />

rios, usuários e população em geral,<br />

ao mesmo tempo em que contri-<br />

buem para uma transformação so-<br />

cial mais profunda. Neste sentido, os<br />

Conselhos Populares po<strong>de</strong>m ser en-<br />

tendidos como embriões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

popular,<br />

O PT <strong>de</strong>ve estimular a formação<br />

dos Conselhos Populares á partir<br />

das contradições existentes em nos-<br />

sa socieda<strong>de</strong> e das <strong>de</strong>mandas so-<br />

ciais. Os Conselhos Populares <strong>de</strong>-<br />

vem comportar a participação <strong>de</strong> di-<br />

ferentes segmentos da socieda<strong>de</strong>,<br />

com caráter amplo, unitário e <strong>de</strong>mo-<br />

crático; e neles, os petistas procura-<br />

ram disputar a hegemonia para os<br />

setores populares.<br />

Deputado estadual do PT e membro da cor-<br />

rente PPS — Po<strong>de</strong>r Popular e Socialismo<br />

Queremos é mais <strong>de</strong>mocracia<br />

José Álvaro Moisés<br />

A proposta <strong>de</strong> organizar Conse-<br />

lhos Populares está diretamente li-<br />

gada ao <strong>de</strong>bate socialista contempo-<br />

râneo em tomo das relações entre<br />

<strong>de</strong>mocracia representativa e <strong>de</strong>mo-<br />

cracia direta. Os Conselhos Popula-<br />

res pertencem à família da <strong>de</strong>mo-<br />

cracia direta, mas como toda forma<br />

política que supõe algum nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, não é difícil encon-<br />

trar, também, eles elementos <strong>de</strong><br />

consangüinida<strong>de</strong> próprios á família<br />

da <strong>de</strong>mocracia representativa,<br />

Quem propõe Conselhos Popula-<br />

res, pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia, e quem<br />

pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia — ao menos<br />

no campo da esquerda — <strong>de</strong>seja,<br />

certamente, conquistar mais igual-<br />

da<strong>de</strong> e mais liberda<strong>de</strong>. No limite, co-<br />

mo todos sabemos, essa reivindica-<br />

ção coloca em questão a própria na-<br />

tureza do capitalismo, ou seja, a<br />

apropriação privada dos resultados<br />

e dos meios <strong>de</strong> produção coletiva.<br />

Quem pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia, par-<br />

te <strong>de</strong> uma constatação: o mo<strong>de</strong>lo re-<br />

presentativo apoiado no sufrágio<br />

universal, no voto direto e secreto, e<br />

na escolha <strong>de</strong> representantes, é um<br />

primeiro passo, mas insuficiente. A<br />

, crítica clássica ao sistema represen-<br />

tativo é bem conhecida: uma vez<br />

eleitos, os representantes do povo<br />

não têm quase mais contato com os<br />

seus representantes que, <strong>de</strong>ssa for-<br />

ma, são alienados quase completa-<br />

mente dos seus direitos políticos. Só<br />

não são totalmente alienados por-<br />

que, periodicamente, po<strong>de</strong>m votar,<br />

confirmar ou negar legitimida<strong>de</strong> aos<br />

seus representantes.<br />

É neste contexto que a proposta <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocracia direta aparece como<br />

uma nova solução.<br />

Ocorre que esta <strong>de</strong>mocracia dire-<br />

ta não po<strong>de</strong> mais se realizar no mun-<br />

do contemporâneo: a dimensão e a<br />

complexida<strong>de</strong> das socieda<strong>de</strong>s que se<br />

formaram <strong>de</strong>pois das revoluções<br />

burguesa e industrial toma imprati-<br />

cável colocar milhões e milhões <strong>de</strong><br />

pessoas na praça pública para, jun-<br />

tas, <strong>de</strong>cidirem os rumos da econo-<br />

mia e da política.<br />

Portanto, ao invés-<strong>de</strong> se substituir<br />

completament a <strong>de</strong>mocracia repre-<br />

sentativa, a <strong>de</strong>mocracia direta po<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong>ve corrigi-la, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que articu-<br />

lando-se com ela. Em outras pala-<br />

vras, é preciso (1) aperfeiçoar os<br />

mecanismos <strong>de</strong> representação, co-<br />

mo os parlamentos; (2) articulá-los<br />

com os mecanismos <strong>de</strong> participação)


liiiiiiiii<br />

Quinzena<br />

direta, como o referendo e a Iniciati-<br />

va legislativa; e (3) integrá-los com<br />

novos mecanismos como os Conse-<br />

lhos Populares, criando referências<br />

<strong>de</strong> nova qualida<strong>de</strong> para o próprio<br />

funcionamento dos parlamentos tra-<br />

dicionais.<br />

Nesse sentido, penso que os Conse-<br />

lhos Populares <strong>de</strong>verão ser forma-<br />

dos por <strong>de</strong>legados eleitos diretamen-<br />

te pela população, em ampla disputa<br />

CONFIANÇA NO PROCESSO<br />

História das Tendências no Brasil,<br />

<strong>de</strong> Antônio Ozai da Silva - 238pp.<br />

CzS 2000,00 (À VENDA NO CPV)<br />

Maurício Tragtenberg<br />

O autor náo é intelectual acadêmi-<br />

co, o que diz muito a seu favor. Nas-<br />

cido em Santa Maria (PB) a<br />

7/11/1962. Em São Paulo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1974, aos 13 anos começa a trabalhar<br />

como operário. A partir <strong>de</strong> 1978/9<br />

Torna-se militante político, tendo par-<br />

ticipado ativamente da greve dos me-<br />

talúrgicos em 1980, época em que<br />

trabalhava na Saab Scania do Brasil,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>mitido em 1982. Fez<br />

parte da equipe responsável pelo tra-<br />

balho sindical em Dia<strong>de</strong>ma do Sindi-<br />

cato dos Metalúgicos <strong>de</strong> São Bernar-<br />

do e Dia<strong>de</strong>ma, optando pelo retomo à<br />

fábrica. É filiado e militante do PT.<br />

Sua obra traça um panorama da<br />

história do movimento operário brasi-<br />

leiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cisão do movimento<br />

anarquista no Brasil que originou a<br />

formação do PC e sua vinculação à<br />

3 § Internacional até a formação do<br />

Bloco Operário Camponês em 1928 e<br />

da Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalha-<br />

dores do Brasil em 1929. Os <strong>de</strong>sdo-<br />

bramentos da Revolução Russa no<br />

Brasil levarão à cisão trotskista <strong>de</strong><br />

NOTA<br />

<strong>de</strong>bate I<br />

^O<br />

i com<br />

maseff<br />

i<strong>de</strong> espaç0 a<br />

_ . oT i<br />

•Que pT<br />

inuação<br />

éesse e>' volta"<br />

e r ' -<br />

prtixima<br />

■ na<br />

105<br />

ÍÜINZENA^<br />

político-partidária, para funciona-<br />

rem em certas áreas da administra-<br />

ção pública e, mesmo, em nível glo-<br />

bal.<br />

Não vejo, portanto, os Conselhos<br />

Populares como expressão <strong>de</strong> um<br />

po<strong>de</strong>r paralelo que, como se sabe, só<br />

se constitui em circunstâncias histó-<br />

ricas bem <strong>de</strong>terminadas (nos<br />

momentos revolucionários). Por is-<br />

so, se é verda<strong>de</strong> que não cabe aos KO-<br />

1929 e ao início da política <strong>de</strong> "frente<br />

popular", do PCB (1930). Entre 1941 o<br />

PCB <strong>de</strong>senvolve a política <strong>de</strong> "união<br />

nacional" que dura até 1958, o início<br />

da guerra fria.<br />

Como resultado da política <strong>de</strong> mo-<br />

bilização popular durante o período <strong>de</strong><br />

Jango Goulart, surge em 1961 a Po-<br />

lop (Organização Revolucionária Mar-<br />

xista Política Operária), formada por<br />

elementos que <strong>de</strong>ixaram o PCB, o<br />

Partido Socialista Brasileiro, e por<br />

marxistas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. A Polop<br />

contesta a versão do PCB da "revolu-<br />

ção por etapas" e apresenta um "Pro-<br />

grama Socialista para o. Brasil". Mos-<br />

tra o autor que, paralelamente surgia<br />

a Ação Popular, formada por militan-<br />

tes da JOC e da JEC, com influência<br />

LtAs^r<br />

da Vermelha<br />

PC<br />

«iw^<br />

j-tÚ-** 0 "*"<br />

'"■:<br />

A " U "" < 'O-iUaSUv. íí<br />

Poltttca Nacional<br />

vemos petistas vinculá-los orgânica-<br />

mente à administração pública, isso<br />

não exclui que eles <strong>de</strong>vam institucio-<br />

nalizar-se. Se queremos que eles te-<br />

nham vida longa, para permitir um<br />

novo patamar <strong>de</strong> luta social e politi<br />

ca no pais, eles precisam fazer parte<br />

efetiva da estrutura política dos rru-<br />

nicípios.<br />

Sociólogo, professor üa USP. militapt» üc<br />

PT R membro da correnle Articulação<br />

no movimento estudantil. O golpe <strong>de</strong><br />

1964 leva à formação <strong>de</strong> muitas ten-<br />

dências que apelam à luta armada.<br />

Rachas<br />

Assim, o autor estuda os rachas do<br />

PCB com a formação da ALN (Alian-<br />

ça Libertadora Nacional), PCBR (Par-<br />

tido Comunista Brasileiro Revolucio-<br />

nário), Movimento Revolucionário 8<br />

<strong>de</strong> Outubro (MR-8). Estuda os rachas<br />

da Polop, com o Colina (Comando <strong>de</strong><br />

Libertação Nacional), VPR (Vanguar-<br />

da Popular Revolucionária) a Var-<br />

Palmares, o Partido Operário Comu-<br />

nista (POC), o MEP (Movimento <strong>de</strong><br />

Emancipação do Proletariado). Estuda<br />

os rachas da AP com o Partido Re-<br />

volucionário dos Trabalhadores, a<br />

APML, a Ala Vermelha do PC do B e<br />

os rachas do trotskismo. O livro é far-<br />

tamente documentado e esclarece ao<br />

leitor ou ao estudioso os movimentos<br />

sociais no Brasil. Deve ser lido, pois<br />

documenta a trajetória aos militantes<br />

que se filiaram a uma visão etapista<br />

do processo brasileiro (PCB, PC doB,<br />

MR-8) e os militantes do PT, cujo par-<br />

tido enuncia os seus objetivos socia-<br />

listas, confiando no processo para<br />

melhor <strong>de</strong>fini-los.<br />

Maurício Tragtenberg é o professor <strong>de</strong><br />

Ciência Política na Fundação Getúlio<br />

Vargas e na Pontifica Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>de</strong> São Paulo.<br />

WS KTAMOS UHW £ ESTAMOS<br />

A00RAAIDO'


li l<br />

Quinzena<br />

Boletim do DIBESE - Out/88<br />

O Movimento <strong>Sindical</strong> c a Social<br />

Tanto a industrialização quanto o movimento operário<br />

chegaram relativamente tar<strong>de</strong> na Suécia. Mas, quando<br />

a industrialização e as idéias socialistas a alcançaram,<br />

conquistaram um significado mais radical que em<br />

muitos países. A Suécia se transformou, em relação<br />

ao seu tamanho e número <strong>de</strong> habitantes,<br />

em um dos principais países industrializados. Com<br />

gran<strong>de</strong> expressão, a União Geral dos<br />

Trabalhadores (LO) congrega atualmente cerca <strong>de</strong> 2<br />

milhões <strong>de</strong> trabalhadores e mantém estreita<br />

relação com o Partido Social Democrata do país.<br />

As idéias socialistas chegaram à Suécia, efetivamen-<br />

te, nos anos 1880, impulsionadas principalmente pelo<br />

movimento operário <strong>de</strong>senvolvido na Alemanha e Dina-<br />

marca. Pela iniciativa <strong>de</strong> militantes viajantes, fundaram-<br />

se sindicatos e organizações social-<strong>de</strong>mocratas em todo<br />

o pais, apesar da forte oposição das autorida<strong>de</strong>s, setores<br />

burgueses e empregadores. As reuniões e assembléias<br />

eram proibidas. Os trabalhadores que se organizavam<br />

eram <strong>de</strong>spedidos e os familiares dos trabalhadores com-<br />

prometidos com os sindicatos eram <strong>de</strong>salojados nas mo-<br />

radias, proprieda<strong>de</strong> das companhias.<br />

Apesar da oposição e das perseguições, o movimento<br />

dos trabalhadores cresceu. Em 1889 fundou-se o Partido<br />

Operário Social Democrata da Suécia, como um partido<br />

nacional do movimento dos trabalhadores suecos. No en-<br />

tanto, as organizações sindicais careciam <strong>de</strong> uma dire-<br />

ção nacional central. Em 1898 criou-se a União Geral<br />

dos Trabalhadores (LO) e em 1906 os empregadores or-<br />

ganizaram a Associação Patronal Sueca e reconheceram<br />

o direito dos trabalhadores a organizar-se em sindicatos.<br />

Entre os trabalhadores não organizados, no entanto,<br />

ocorreram violações ao direito <strong>de</strong> associação, que se<br />

prolongaram posteriormente.<br />

A partir <strong>de</strong> 1909, o movimento sindical sueco cresceu<br />

em número <strong>de</strong> participantes e em força. Nesse ano, a<br />

exigência <strong>de</strong> redução salarial proposta pelos empresários<br />

provocou um gran<strong>de</strong> conflito trabalhista, comprometendo<br />

a maior parte do mercado <strong>de</strong> trabalho. O conflito signifi-<br />

cou <strong>de</strong>rrota para os trabalhadores, que foram obrigados a<br />

ven<strong>de</strong>r seu trabalho mais ou menos nas condições im-<br />

postas pelos patrões, o que <strong>de</strong>libitou seriamente o mo-<br />

vimento sindical.<br />

Des<strong>de</strong> essa época, o movimento sindical na Suécia<br />

tem crescido <strong>de</strong> forma contínua em número <strong>de</strong> membros,<br />

grau <strong>de</strong> organização e força. Atualmente, cerca <strong>de</strong> 2 mi-<br />

lhões <strong>de</strong> trabalhadores estão filiados à LO, ou seja, 90%<br />

dos trabalhadores estão organizados sindicalmente, em<br />

alguma das "uniões" <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong>.<br />

Trabalhando lado a lado com o Partido Sociai-Demo-<br />

crata, os sindicatos na colaboração <strong>de</strong> classes três pon-<br />

tos fundamentais: a empresa privada é o instrumento es-<br />

Democracia na Suécia<br />

Internacional<br />

sencial <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>ve obter lucros, a fim <strong>de</strong> asse-<br />

gurar os reinvestimentos; o papel do Estado consiste em<br />

ser o regulador das ativida<strong>de</strong>s econômicas; os comitês<br />

<strong>de</strong> empresa têm como objetivo "facilitar uma colaboração<br />

sem choques entre entida<strong>de</strong> patronal e trabalhadores<br />

com vistas a uma produção ótima".<br />

O PRINCÍPIO INDUSTRIAL DE ORGANIZAÇÃO<br />

A maioria das uniões que formam a União Geral dos<br />

Trabalhadores aplica o chamado princípio industrial <strong>de</strong><br />

organização, ou seja, todos os trabalhadores que traba-<br />

lham em um mesmo local pertencem à mesma União<br />

Nacional, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do ofício que tenham. Por<br />

exemplo, uma gran<strong>de</strong> empresa metalúrgica que emprega<br />

uma série <strong>de</strong> profissionais diferentes (torneiro, fresador,<br />

eletricista, mantenedores, mecânicos e reparadores) tem<br />

seus empregados representados pela União <strong>de</strong> Traba-<br />

lhadores Metalúrgicos.<br />

Certas uniões <strong>de</strong>ntro do ramo da construção - a União<br />

dos Trabalhadores <strong>de</strong> Funilaria, a União dos Eletricistas<br />

e a União dos Pintores - aplicam o princípio profissional<br />

<strong>de</strong> organização. Assim, os funileiros, eletricistas e pinto-<br />

res pertencem a uniões próprias, enquanto outros grupos<br />

profissionais <strong>de</strong>ntro do ramo da construção, como por<br />

exemplo os carpinteiros e pedreiros, pertemcem à União<br />

Sueca <strong>de</strong> Trabalhadores na Construção.<br />

A maioria das uniões que compõem a LO têm entre<br />

80% e 90% <strong>de</strong> grau <strong>de</strong> organização. Em certos setores,<br />

como na indústria metalúrgica e na indústria papeleira, a<br />

filiação sindical é <strong>de</strong> quase 100%. O grau <strong>de</strong> filiação é<br />

mais baixo nos setores que possuem muitos locais <strong>de</strong><br />

trabalho pequenos, especialmente <strong>de</strong>ntro do setor <strong>de</strong><br />

serviços e no comércio.<br />

O chamado closed shops - modo <strong>de</strong> produção por ta-<br />

refa - não existe em princípio. Porém, o BPA, uma das<br />

maiores empresas <strong>de</strong> construção do país, que pertence<br />

ao Sindicato dos Trabalhadores, adota esse princípio,<br />

com a concordância da União Sueca <strong>de</strong> Trabalhadores<br />

na Construção.<br />

Recentes pesquisas, mostram que a ativida<strong>de</strong> sindical<br />

é reaitivamente alta entre os trabalhadores suecos. Na<br />

LO, 17% dos filiados se consi<strong>de</strong>ram sindicalistas ativos,<br />

sendo que a maioria tem cargo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> sin-<br />

dical. Durante o último ano, 45% dos filiados à LO ha-<br />

viam estado em alguma reunião sindical, 83% afirmam<br />

conhecer algum representante sindical e 30% haviam<br />

procurado, alguma vez, contato com seus representantes,<br />

a fim <strong>de</strong> influir nas <strong>de</strong>cisões. Existe uma diferença consi-<br />

<strong>de</strong>rável no grau <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> sindical, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do se-<br />

xo e data <strong>de</strong> ingresso na União. Os <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong> são<br />

mais ativos que os mais jovens, os homens mais que as<br />

mulheres e, <strong>de</strong>ntro dos setores, os que são melhores re-<br />

munerados são mais atuantes que os <strong>de</strong> menor remune-<br />

ração.<br />

As pesquisas mostram, também, que a maioria dos


trabalhadores está bastante satisfeita com sua organiza-<br />

ção sindical. Assim, 75% dos filiados consi<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>-<br />

sempenho dos <strong>de</strong>legados sindicais bom e muito bom.<br />

ORGANIZAÇÃO DAS UNIÕES<br />

A estrutura orgânica das uniões varia ligeiramente en-<br />

tre uma e outra, conservando, no entanto, as linhas es-<br />

sências. Cada união possui na base um clube sindical,<br />

uma subsencional e um <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> contato.<br />

Acima <strong>de</strong>ssas organizações estão as sencionais, que<br />

nos últimos anos, através <strong>de</strong> fusões, têm se transforma-<br />

do em uniões, constituindo unida<strong>de</strong>s relativamente gran-<br />

<strong>de</strong>s.<br />

Com isso, a criação <strong>de</strong> uma boa base econômica tem<br />

Em Tempo - Jan/89<br />

Internacional<br />

permitido a contratação <strong>de</strong> pessoal técnico especializa-<br />

do, liberando os <strong>de</strong>legados sindicais <strong>de</strong> tarefas rotineiras,<br />

a fim <strong>de</strong> que possam se concentrar no trabalho sindical<br />

básico e proporcionar assistência aos sindicalistas nas<br />

negociações. A criação <strong>de</strong> sencionais gran<strong>de</strong>s tem facili-<br />

tado também a transferência <strong>de</strong> tarefas essências das<br />

uniões nacionais às sencionais.<br />

A nível nacional, a união é dirigida por um comitê exe-<br />

cutivo e um conselho (equivalente à assembléia <strong>de</strong> re-<br />

presentantes da LO). O órgão supremo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é o<br />

congresso e a maioria das uniões o realizam a cada qua-<br />

tro anos. Geralmente, as uniões nacionais têm conselhos<br />

<strong>de</strong> convênios, compostos por representantes eleitos em<br />

todo o país, assessorando em questões relacionadas às<br />

negociações.<br />

A <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />

na revolução<br />

,— ■ ^ÚT^Carlos<br />

í ' onseCfl I Lo ^Democracia<br />

obtido pelo W 0 Américas'\<br />

{ y Revolución eni<br />

Orlando mnez ^^<br />

americano Roge ir uma<br />

entrevista com ^ dinisía e<br />

40 anos, *"%%0?do <strong>Centro</strong><br />

atualmente ^tor ^<br />

analisa a expe<strong>de</strong> <strong>de</strong> questões<br />

^ r0p0e nT<strong>de</strong>Ze entre os<br />

para<br />

revolucwnarw^<br />

o «^ . Iflí «o-<br />

^ erÍcan0 d S a <strong>de</strong>mocracia e do<br />

vee r n %ifmo%* àrio - no<br />

— ■<br />

,,,:.-:...■ : : .>. V.<br />

Qual é o tema centrai do que você<br />

se ocupa no livro "Democracia<br />

y Revoiución en Ias Américas"?<br />

Nunez — Abor<strong>de</strong>i no livro o <strong>de</strong>bate<br />

que me parece mais significativo: entre<br />

os que colocam como estratégia a toma-<br />

da do po<strong>de</strong>r (que eu chamo revolução<br />

política) e os que afirmam que a estraté-<br />

gia tem <strong>de</strong> ser a busca <strong>de</strong> transformações<br />

sociais e econômicas.<br />

O marxismo tradicional quando pensa<br />

na revolução, tem em vista as transfor-<br />

mações sòcio-econômicas e a estratégia<br />

<strong>de</strong>stas transformações. Pelo contrário,<br />

pensa pouco em termos <strong>de</strong> luta concreta<br />

para a tomada do po<strong>de</strong>r. É claro que<br />

existe uma articulação entre os dois ex-<br />

tremos, mas uma ênfase muito gran<strong>de</strong><br />

nas transformações sòcio-econômicas<br />

tornou muito difícil assumir as tarefas<br />

das transformações políticas.<br />

— Você propõe a idéia <strong>de</strong> um bloco<br />

do proletariado com diferentes setores<br />

camponeses e com o que você chama a<br />

terceira força social, não sendo este um<br />

conceito que busca reintroduzir a bur-<br />

guesia na aliança.<br />

Nunez — A noção <strong>de</strong> terceira força é<br />

uma maneira <strong>de</strong> provocar a discussão.<br />

Existe uma primeira força, o proletaria-<br />

do; existe uma segunda força, o campe-<br />

sinato. Não tenho a pretensão <strong>de</strong> formu-<br />

lar um conceito acabado. O que busco é<br />

fazer com que os revolucionários com-<br />

preendam que, se pensam em fazer a re-<br />

volução política, é necessário dirigir a<br />

maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças sociais pos-<br />

sível. Não se <strong>de</strong>ve ser purista. Jamais os<br />

burgueses disseram: "aqueles que não<br />

são burgueses não po<strong>de</strong>m lutar a favor<br />

<strong>de</strong> nosso projeto". Em contrapartida,<br />

passamos anos discutindo sobre a pure-<br />

za das forças sociais que po<strong>de</strong>m partici-<br />

par na luta pela tomada do po<strong>de</strong>r.<br />

Outra coisa é <strong>de</strong>terminar quais são as<br />

forças que vão participar das transfor-<br />

mações históricas após a tomada do po-<br />

<strong>de</strong>r. E aí correspon<strong>de</strong> ao proletariado<br />

um papel <strong>de</strong> vanguarda mais <strong>de</strong>stacado.<br />

Dai busco "provocar" o <strong>de</strong>bate ao<br />

conferir toda a importância a numerosos<br />

movimentos como o <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> es-


^ ^ „^<br />

Quinzena Internacional<br />

tudantes, <strong>de</strong> indigenas, <strong>de</strong> bairros po-<br />

bres.<br />

— O conceito <strong>de</strong> terceira força me pa-<br />

rece importante para compren<strong>de</strong>r a «s-<br />

tratégia atual que está sendo colocada<br />

em prática em El Salvador pelos revolu-<br />

cionários. A Union Nacional <strong>de</strong> Traba-<br />

jadores Salvadorenos (UNTS), por<br />

exemplo, procura aliar-se ao setor do pe-<br />

queno-comércío urbano aos artesãos.<br />

Nunez — Exatamente. Lembro a você<br />

uma das minhas "provocações" que ex-<br />

pus no livro, parafraseando uma citação<br />

<strong>de</strong> Marx, contida no Manifesto Comu-<br />

nista: "Em nossa luta todo mundo po<strong>de</strong><br />

tomar parte, até os burgueses, indivi-<br />

dualmente, que compreen<strong>de</strong>m o sentido<br />

da história, que se sentem arrastados por<br />

ela e que se comprometem acompanhá-<br />

la".<br />

Isto é o que ocorreu na Nicarágua. Se-<br />

tores importantes da burguesia eram<br />

i<strong>de</strong>ologicamente contra o somozismo,<br />

contra o imperialismo, não apenas por-<br />

que existiam importantes contradições<br />

objetivas entre a burguesia e o somozis-<br />

mo, mas também pela atração exercida<br />

pelos valores revolucionários junto a se-<br />

tores da burguesia que sabem ser o seu<br />

projeto frágil e em <strong>de</strong>clínio.<br />

— A aliança com um setor da burgue-<br />

sia foi, então, útil. Mas, se tomamos o<br />

exemplo <strong>de</strong> El Salvador, não se percebe<br />

bem que setor da burguesia po<strong>de</strong>ria<br />

participar da luta revolucionária ...<br />

Nnnez — É possível que não se perce-<br />

ba, mas isto não exclui esta eventualida-<br />

<strong>de</strong>. Se existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal alian-<br />

ça, é necessário explorá-la.<br />

— Sim, mas esta é uma questão muito<br />

concreta ...<br />

Nnnez — Certamente. E não se <strong>de</strong>ve,<br />

por principio, aceitar ou recusar esta<br />

possibilida<strong>de</strong> ...<br />

— Seria muito perigoso que os sandi-<br />

nistas dissessem a outros revolucioná-<br />

rios: a aliança com a burguesia é neces-<br />

sária por principio ...<br />

Uso o conceito <strong>de</strong> "terceira<br />

força" para afirmar a<br />

importância do movimento<br />

<strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> estudantes,<br />

<strong>de</strong> indígenas, <strong>de</strong> bairros, na<br />

luta pelo po<strong>de</strong>r.<br />

Nnnez — Fui muito pru<strong>de</strong>nte ao falar<br />

dá experiência nicaraguense para evitar<br />

justamente este risco. Se se fala <strong>de</strong> alian-<br />

ça com a burguesia, isto implica que ela<br />

se dê sob a hegemonia dos revolucioná-<br />

rios. Em nosso caso, a aliança foi reali-<br />

zada sob a hegemonia da FSLN.<br />

— Gostaria <strong>de</strong> abordar agora a segun-<br />

da parte do livro, <strong>de</strong>dicada ao <strong>de</strong>bate da<br />

transição ao socialismo.<br />

Nnnez — Até hoje, a ban<strong>de</strong>ira da <strong>de</strong>-<br />

mocracia foi levantada pela burguesia.<br />

A este respeito, os revolucionários têm<br />

sido muito reticentes.<br />

Creio que é fundamental assumir a <strong>de</strong>-<br />

fesa da <strong>de</strong>mocracia. Creio que o próprio<br />

^ínarxismo, na sua origem, é <strong>de</strong>mocráti-<br />

co. O pluralismo político é parte essen-<br />

cial da <strong>de</strong>mocracia. A existência do par-<br />

tido único não é uma condição indispen-<br />

sável para manter, alimentar e <strong>de</strong>senvol-<br />

ver a hegemonia revolucionária, a qual<br />

po<strong>de</strong> ser mantida perfeitamente com o<br />

pluralismo partidário. Naturalmente es-<br />

tamos supondo que o pluralismo se dê<br />

em uma socieda<strong>de</strong> que tem um projeto<br />

revolucionário e no seio da qual as mas-<br />

sas são revolucionárias. Nestas condi-<br />

ções, nem <strong>de</strong> longe um partido <strong>de</strong> direita<br />

po<strong>de</strong> causar preocupações, pois a bur-<br />

guesia è uma classe minoritária e tira a<br />

sua força da manipulação das massas.<br />

Com mais forte razão, a existência <strong>de</strong><br />

numerosos partidos <strong>de</strong> esquerda não <strong>de</strong>-<br />

ve ser fonte <strong>de</strong> preocupações. O pluralis-<br />

mo político é parte do projeto revolucio-<br />

nário. A própria esquerda <strong>de</strong>ve ser plu-<br />

ralista.<br />

No processo <strong>de</strong> transição, as diferen-<br />

ças <strong>de</strong> classe subsistem. Mesmo a classe<br />

operária não é homogênea. Por exem-<br />

plo, não é certo que os interesses dos tra-<br />

balhadores <strong>de</strong> uma mesma fábrica cor-<br />

respondam aos interesses estratégicos da<br />

revolução. E o mesmo ocorre com seto-<br />

res camponeses, estudantis etc. Não há,<br />

portanto, concordância automática en-<br />

tre os interesses setoriais e os interesses<br />

estratégicos.<br />

Manter o pluralismo no seio da es-<br />

querda é necessário, mesmo quando as<br />

condições são difíceis. Não só não esta-<br />

mos habituados ao pluralismo, como te-<br />

mos nos negado a praticá-lo. O mesmo<br />

po<strong>de</strong> se dizer da direção coletiva. O plu-<br />

ralismo ao qual me refiro implica tam-<br />

bém no direito a ter divergências. É atra-<br />

vés dos <strong>de</strong>bates e da discussão que se<br />

forja uma síntese, uma <strong>de</strong>cisão. A dire-<br />

ção coletiva é parte do pluralismo. Ela<br />

permite sintetizar diferentes apreciações,<br />

o que uma pessoa só não po<strong>de</strong> fazer.<br />

Faz parte da história negativa do so-<br />

cialismo a não permissão do pluralismo.<br />

Isto implicou em um divórcio entre a crí-<br />

tica e a hegemonia, entre a ciência e a<br />

política, entre o <strong>de</strong>bate critico e a <strong>de</strong>fesa<br />

da revolução. E terminou mal, como em<br />

Granada, com o assassinato <strong>de</strong> Maurice<br />

Bishop ou com numerosos revolucioná-<br />

rios que "<strong>de</strong>sapareceram", com uma<br />

bala na cabeça, ou como ocorreu com o<br />

próprio Trotsky.<br />

Esta confusão entre hegemonia e dita-<br />

dura é profundamente negativa. Temos<br />

uma rica experiência na Nicarágua. Em<br />

plena guerra e apesar dos limites da<br />

consciência popular — com efeito, as<br />

maisas nicaraguenses não têm ainda<br />

uma consciência plenamente socialista<br />

— conseguimos <strong>de</strong>senvolver um proces-<br />

so pluralista que tem o gran<strong>de</strong> mento ae<br />

existir.<br />

— De acordo com o Partido Socialista<br />

da Nicarágua (PSN) e o Partido Comu-<br />

nista da Nicarágua (PCM, o pluralismo<br />

é necessário porque não se está ainda em<br />

um Estado em transição para o socialis-<br />

mo. Para eles, em um verda<strong>de</strong>iro Estado<br />

revolucionário não po<strong>de</strong>ria existir o plu-<br />

ralismo. Este tipo <strong>de</strong> posição continua<br />

causando prejuízos e provêm <strong>de</strong> uma<br />

aceitação <strong>de</strong> certos princípios estalinis-<br />

tas...<br />

Nunez — Com toda certeza è uma tese<br />

estalinista porque pane do postulado <strong>de</strong><br />

que a socieda<strong>de</strong> é monolítica. Segundo<br />

eles, na "verda<strong>de</strong>ira" transição ao so-<br />

cialismo, todo mundo será operário e<br />

concluem que como não há mais <strong>de</strong> uma<br />

classe operária, não <strong>de</strong>ve haver mais que<br />

um partido. O problema é que a classe<br />

operária não é monolítica. No seio da<br />

classe operária há numerosos compo-<br />

nentes que têm todo o direito <strong>de</strong> ter vi-


Quinzena<br />

soes diferentes e <strong>de</strong> expressá-las.<br />

Nas socieda<strong>de</strong>s socialistas, fora da<br />

classe operária nó sentido estrito do ter-<br />

mo, existem estudantes, professores, in-<br />

telectuais... Há nações ou grupos étnicos<br />

diferentes, como os Miskitos na Nicará-<br />

gua ou os armênios na URSS. Nâo está<br />

em jogo apenas a diferença entre os que<br />

são operários e os que não são: existem<br />

também as discriminações raciais, se-<br />

xuais etc. Na Nicarágua atual ou futura,<br />

o direito à discrepância <strong>de</strong>verá existir e,<br />

portanto, o direito ao pluralismo. Os re-<br />

volucionários não <strong>de</strong>vem ter medo. Não<br />

há por que eliminar os que não estão <strong>de</strong><br />

acordo conosco. Devemos convencê-los.<br />

Ser vanguarda das massas é algo que <strong>de</strong>-<br />

ve ser conquistado a cada dia.<br />

Se nâo é <strong>de</strong>mocrático, pluralista, ter-<br />

mina-se por se separar das massas. Co-<br />

A existência do partido<br />

único não è uma condição<br />

indispensável para manter e<br />

<strong>de</strong>senvolver a hegemonia<br />

revolucionária.<br />

meça-so por fuzilar os burgueses, <strong>de</strong>pois<br />

os revolucionários "com <strong>de</strong>svio" e ter-<br />

mina por se dizer que as massas nâo sa-<br />

bem nada e que só um tem a razão.<br />

— No que concerne às instituições do<br />

po<strong>de</strong>r revolucionário, você caracteriza o<br />

regime nicaraguense como "participati-<br />

vo, consultivo e representativo". E afir-<br />

ma que po<strong>de</strong>ria ser útil criar uma As-<br />

sembléia Popular áo lado da Assembléia<br />

Nacional, eleita por sufrágio secreto.<br />

Até o momento, esta Assembléia Po-<br />

pular não existe. A representação das or-<br />

ganizações <strong>de</strong> massas passa por alguns<br />

<strong>de</strong> seus dirigentes eleitos no parlamento<br />

da Assembléia Nacional.<br />

Nunez — Aspiramos realmente a uma<br />

<strong>de</strong>mocracia participativa representativa<br />

e consultiva.<br />

A Assembléia Nacional é um instru-<br />

mento da <strong>de</strong>mocracia representativa.<br />

Para a <strong>de</strong>mocracia consultiva e partici-<br />

pativa, temos <strong>de</strong> criar distintos órgãos<br />

ou aparatos, como seria uma Assem-<br />

bléia Popular. Mas não excluo a possibi-<br />

lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a Assembléia Nacional<br />

possa permitir a representação das mas-<br />

sas. Quando me refiro à Assembléia Po-<br />

pular, penso sobre tudo na prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

bates em função dos interesses das mas-<br />

sas. No que diz respeito à <strong>de</strong>mocracia<br />

consultiva, ela po<strong>de</strong> passar pelos comitês<br />

<strong>de</strong> bairro, <strong>de</strong> fábrica, pela autogestão<br />

nas empresas, nas cooperativas, na uni-<br />

versida<strong>de</strong>. Não há mo<strong>de</strong>lo que possa ser<br />

copiado. Temos que estar abertos à pos-<br />

sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar instrumentos que ga-<br />

rantam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer o po-<br />

<strong>de</strong>r.<br />

Quando estivermos livres da agressão<br />

imperialista e avançarmos na transição,<br />

po<strong>de</strong> ser que a Assembléia Popular te-<br />

nha mais sentido que a Assembléia Na-<br />

cional, na qual estão representados inte-<br />

resses <strong>de</strong> classes contraditórias. Nesse<br />

caso, o tipo <strong>de</strong> Assembléia Popular exis-<br />

tente em Cuba nos será possivelmente<br />

^^^^^^^^^^^^^^^^^^<br />

w « W W ^<br />

•■•'■•í«i2v->»<br />

30<br />

útil, sem excluir outras experiências.<br />

Em Cuba há uma<br />

experiência <strong>de</strong> Assembléia<br />

Popular. Há também um<br />

certo burocratismo que<br />

<strong>de</strong>vemos discutir<br />

fraternalmente como<br />

revolucionários.<br />

— A Assembléia Nacional atual está<br />

composta <strong>de</strong> partidos <strong>de</strong> esquerda e <strong>de</strong><br />

direita, representando estes últimos à<br />

burguesia expulsa do po<strong>de</strong>r. Se ao lado<br />

da Assembléia Nacional, se constitue<br />

uma Assembléia Popular que. represen-<br />

tará mais fielmente os interesses das<br />

massas e suas organizações <strong>de</strong> bairro,<br />

sindicatos, feministas...<br />

Nunez ... e grupos étnicos, religiosos,<br />

estudantes... dando por certo que esta<br />

Assembléia Popular não <strong>de</strong>va substituir<br />

aos comitês <strong>de</strong> base, senão seria um pou-<br />

co burocrática. Mas as minhas propos-<br />

tas ten<strong>de</strong>m sobretudo, a provocar o <strong>de</strong>-<br />

bate, não são uma fórmula acabada. Em<br />

Cuba há uma experiência <strong>de</strong> Assembléia<br />

Popular. Há também um certo burocra-<br />

tismo, que <strong>de</strong>vemos discutir fraternal-<br />

mente como revolucionários. Na Nicará-<br />

gua nâo existiu uma experiência <strong>de</strong>ste ti-<br />

po, excetuando o período do Conselho<br />

<strong>de</strong> Estado (até as eleições <strong>de</strong> 1984).<br />

— Quais são as iclações da FSLN com<br />

o Estado? Como fazem vocês para evitar<br />

o perigo <strong>de</strong> fusão entre o partido e o Es-<br />

tado?<br />

Nunez — Por que e um perigo?<br />

— Refiro-me à e? eriência soviética.<br />

Já nos primeiros an s da revolução rus-<br />

sa havia um <strong>de</strong>bate a respeito. Debate no<br />

qual participaram não somente Stalin e<br />

Trotsky, senão o próprio Lenin. Uma<br />

das questões <strong>de</strong>batidas era a <strong>de</strong> como<br />

evitar que o Estado soviético, em condi-<br />

ções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s econômicas<br />

e <strong>de</strong> carência <strong>de</strong> quadros, pô<strong>de</strong> conhecer<br />

um rápido processo <strong>de</strong> burocratização.<br />

Se não se é <strong>de</strong>mocrático,<br />

termina-se por se separar<br />

das massas. Começa-se por<br />

fuzilar os burgueses, <strong>de</strong>pois<br />

os revolucionários "com<br />

<strong>de</strong>svio" e termina por se<br />

dizer que as massas não<br />

sabem nada.<br />

Nunez — Sim, existe um risco <strong>de</strong> bu-<br />

rocratização no caso <strong>de</strong> fusão entre o<br />

aparato do Estado e o do partido. Este<br />

perigo existe na Nicarágua e nâo foi con-<br />

jurado. É sempre possível que setores do<br />

aparato <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong>fendam seus inte-<br />

resses em contradição com os interesses<br />

da revolução.<br />

Ò fato <strong>de</strong> que existem comandantes da<br />

revolução fora do aparato <strong>de</strong> Estado<br />

tem contribuído para evitar o perigo<br />

Internacional<br />

mais ameaçador. A existência <strong>de</strong> uma di-<br />

reção coletiva da FSLN è um segundo<br />

escuda protetor. Cada sexta-feira ela<br />

discute tudo, a partir das responsabilida-<br />

<strong>de</strong>s respectivas <strong>de</strong> seus membros ... Isto<br />

evita que uma só pessoa tome as <strong>de</strong>ci-<br />

sões.<br />

Hoje estamos realizando uma redução<br />

do aparato do Estado. É provavelmente<br />

a redução mais radical que houve na Ni-<br />

carágua e na América Latina. Passou-se<br />

<strong>de</strong> trnta ministros e secretários <strong>de</strong> Esta-<br />

do a v.nze ministérios. Centenas <strong>de</strong> vice-<br />

ministios e diretores gerais foram obri-<br />

gados a <strong>de</strong>ixar a sua função e ligar-se a<br />

tarefas produtivas e isto não provocou<br />

atritos nem resistências burocráticas. E<br />

isto porque gran<strong>de</strong> parte dos quadros da<br />

Fomos maoístas,<br />

anarquistas,<br />

social<strong>de</strong>mocratas, radicais,<br />

castristas, guevaristas,<br />

trotskistas. Há <strong>de</strong> tudo na<br />

FSLN. Somos a geração da<br />

década <strong>de</strong> setenta que<br />

formulou muitas críticas<br />

aos regimes socialistas.<br />

FSLN estão ligados às Organizações <strong>de</strong><br />

massa e não ao aparato <strong>de</strong> Estado.<br />

Outra razão: nós, sandinistas, somos<br />

originários <strong>de</strong> muitos grupos, maoitas,<br />

anarquistas, social<strong>de</strong>mocratas, radicais,<br />

castristas, guevaristas, trotskistas. Há <strong>de</strong><br />

tudo na FSLN. Somos a geração da dé-<br />

cada <strong>de</strong> setenta que formulou muitas cri-<br />

ticas aos regimes socialistas. Muitos<br />

quadros estiveram em Cuba, no Viet-<br />

nam, na Coréia, no Chile, na França. Is-<br />

to explica que tenhamos uma gran<strong>de</strong> cul-<br />

tura antiburocrática. Existe uma gran<strong>de</strong><br />

consciência do perigo burocrático.<br />

A direção coletiva, o direito à crítica e<br />

ao pluralismo são ferramentas antiburo-<br />

cráticas importantes. O pluralismo fun-<br />

damentalmente permite a critica da fu-<br />

são partido-Estado. Os sindicatos <strong>de</strong><br />

jornalistas, embora sejam sandinistas,<br />

são muito críticos ao Estado.<br />

Enfim, as massas armadas são muitos<br />

importantes. Enfrentar a burocracia<br />

com 300 mil pessoas armadas é muito fá-<br />

cil. A massa <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r, elas têm o<br />

fuzil, elas po<strong>de</strong>m ter um sindicato, um<br />

comitê <strong>de</strong> autogestão, tudo isto é muito<br />

eficaz na luta contra a burocracia que<br />

mil discursos.<br />

Queremos um projeto socialista que se<br />

enriqueça culturalmente com a ativida<strong>de</strong><br />

e a vida cotidiana das massas. É necessá-<br />

rio ter em conta que as massas se cansam<br />

<strong>de</strong> um socialismo estatal, <strong>de</strong> um socialis-<br />

mo economicista. Para dar coragem à<br />

ativida<strong>de</strong> das massas, é preciso que o<br />

projeto socialista se realize com alegria,<br />

com efervescência popular. Se o socialis-<br />

mo é cinzento, triste, as massas não se<br />

i<strong>de</strong>ntificam com ele.

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