Amaxônia e doMovimento Sindical. - Centro de Documentação e ...
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.OPINIÃO<br />
.ANÁLISE .<br />
.INFORMAÇÃO<br />
44<br />
Quero ficar vivo para<br />
?9<br />
salvar a Amazônia<br />
Chico Men<strong>de</strong>s<br />
Derrubaram uma<br />
das mais<br />
• Frondosa» árvores<br />
da causa<br />
<strong>Amaxônia</strong> e <strong>doMovimento</strong><br />
<strong>Sindical</strong>.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> teu<br />
exemplo outras plantas<br />
teimosas irão nascer, ã<br />
atéEnver<strong>de</strong>cer J<br />
,. . (Posto )^riqúeSeick)í I<br />
O assassinato <strong>de</strong><br />
Chico Men<strong>de</strong>s - -02 a 08<br />
O que <strong>de</strong>vem ser os<br />
Conselhos Populares<br />
A <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />
na revolução<br />
-23 a 26<br />
-28, 29 e 30
O assassinato <strong>de</strong><br />
Chico Men<strong>de</strong>s<br />
Trabalhadores<br />
Durante todo o ano <strong>de</strong> 1988 esteve presente na QUINZENA às <strong>de</strong>núncias aos assassinatos no Campo. Este<br />
primeiro número <strong>de</strong> 1989 começa com o mesmo assunto: O assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Fizemos uma seleção <strong>de</strong> documentos sobre este fato que procurou enfocar os seguintes aspectos: 1. A luta<br />
dos Povos da Floresta. Nos artigos <strong>de</strong> Lucélia Santos, <strong>de</strong> Malgue Guelhs e num relatório elaborado pelo<br />
Instituto <strong>de</strong> Estudos Amazônicos (IEA) mostramos um pouco das lutas que estão sendo travadas nesta<br />
região do país. 2. O assassinato: Publicamos uma nota produzida por várias entida<strong>de</strong>s que se solidarizaram<br />
com as lutas dos Povos da Floresta, on<strong>de</strong> é narrada a forma como se <strong>de</strong>u o crimes um artigo datado <strong>de</strong><br />
03.12.88, no qual o próprio Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nuncia a Policia Fe<strong>de</strong>ral local <strong>de</strong> planejar seu assassinato. Por<br />
fim, publicamos alguns documentos do Comitê Chico Men<strong>de</strong>s, formado logo após o crime,<br />
por várias entida<strong>de</strong>s sindicais, partidárias e da socieda<strong>de</strong> civil, que vem acompanhando os<br />
<strong>de</strong>sdobramentos das investigações.<br />
Esperamos que a repercussão que causou a morte <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s abra uma nova etapa na luta<br />
contra a violência aos trabalhadores do Campo. Uma etapa on<strong>de</strong> possamos <strong>de</strong>ixar a <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong><br />
ficar lamentando os nossos mortos, e partamos para uma ofensiva, que mobilize uma verda<strong>de</strong>ira<br />
Campanha <strong>de</strong> Luta contra a violência no campo.<br />
Folha <strong>de</strong> São Paulo ■ 19.05.88<br />
Especial para a Folha<br />
Valeu a pena viajar milhares <strong>de</strong><br />
quilômetros para visita - Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Esse lí<strong>de</strong>r dos seringueiros que chegou<br />
a Miami sem um tostão no bolso, em<br />
busca <strong>de</strong> aliados para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
floresta, é um marco na luta ecológica<br />
biasileira. Premiado em Nova York,<br />
recebeu sua medalha no Waldorf Asto-<br />
ria.-Os granimos que O aplaudiram<br />
talvez não tenham sequer idéia do que<br />
é Xapuri, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 18 mil habitantes,<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s comanda a<br />
resistência.<br />
Filho <strong>de</strong> seringueiros, Chico foi<br />
analfabeto até os nove anos. Por sorte<br />
sua, apareceu na floresta um exilado<br />
político que tinha participado da Colu-<br />
na Prestes, ficou preso em Fernando<br />
<strong>de</strong> Noronha e <strong>de</strong>cidiu nunca mais<br />
voltar para "o mundo civilizado". Seu<br />
nome era Eucli<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s Távora.<br />
Um dia visitou o pai do Chico e <strong>de</strong>cidiu<br />
escolher o menino para transmitir toda<br />
a sua experiência intelectual e política.<br />
O velho exilado tinha um rádio e suas<br />
aulas eram todas baseadas em pro-<br />
gramas <strong>de</strong> rádio. Um dia, ouvia-se a Voz<br />
da América para se fazer uma critica<br />
do ponto <strong>de</strong> vista norte-americano;<br />
outro dia ouviam a Rádio Moscou para<br />
achar criticas ao governo brasileiro.<br />
Depois <strong>de</strong> algum tempo, o exilado<br />
acabou aconselhando-o a ouvir mais a<br />
BBC <strong>de</strong> Londres, pois, das três, era a<br />
que trazia noticiário mais imparcial.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s viajava três horas por<br />
Seringueiros, resistência contra a<br />
<strong>de</strong>vastação na floresta<br />
dia para. se alfabetizar. Chegou um<br />
momento em aue o velho exilado disse<br />
para ele: Um dia acabará surgindo um<br />
sindicato dos seringueiros. E você vai<br />
<strong>de</strong>sempenhar um papel. Para isso<br />
estou preparando sua cabeça.<br />
A hora estava <strong>de</strong>morando a chegar.<br />
È que os seringueiros da Amazônia<br />
sempre foram muito explorados. No<br />
princípio tentavam ven<strong>de</strong>r borracha,<br />
escondido do patrão, para os marretei-<br />
ros. Marreteiros são intermediários<br />
que ven<strong>de</strong>m tudo para eles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
roupa até a comida. Quando <strong>de</strong>scober-<br />
tos pelo patrão, alguns eram queima-<br />
dos vivos.<br />
Durante muito tempo, os patrões<br />
contraíam empréstimos no Banco da<br />
Amazônia, investiam o dinheiro nas<br />
gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e obrigavam os serin-<br />
gueiros a trabalhar dobrado, para<br />
honrarem a dívida. Tudo isso aconte-<br />
ceu muito até o tempo da ditadura<br />
quando se entrou na onda do progresso<br />
a todo custo. Ai, com dinheiro do<br />
próprio governo, os fazen<strong>de</strong>iros entra-<br />
ram rijo na área, comprando tudo<br />
<strong>de</strong>struindo tudo e plantando capim<br />
Ninguém vai comer hambúrguer ino<br />
centemente no mundo. Por trás d«<br />
cada carne tenra, há toda a história df<br />
<strong>de</strong>vastação da Amazônia.<br />
Um dia o sindicato chegou. As<br />
reuniões eram nas casas paroquiais, a:<br />
assembléias <strong>de</strong>ntro da igreja. Era a<br />
única maneira <strong>de</strong> escapar á fúria dos<br />
novos donos da terra. Um gjran<strong>de</strong> li<strong>de</strong>i<br />
seringueiro foi morto assim que os<br />
ASSINATURAS<br />
- Para militantes sem condições financeiras: Cz$ 6.080,00 (por seis meses) e Cz$ 12.160,00 (por 12 meses)<br />
- Para CUT, militantes com condições financeiras: Cz$ 8.120,00 eCz$ 16.240,00<br />
- Sindicatos, Pastorais e assinaturas <strong>de</strong> apoio: Cz$ 12.160,00 e Cz$ 24.320,00<br />
- Exterior (via áerea): US$ 30,00 (por seis meses) e US$ 60,00 (por 12 meses).<br />
O pagamento <strong>de</strong>verá ser feito em nome do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Pastoral Vergueiro em cheque nominal, cruzado, ou<br />
vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA - CEP 04299 -<br />
Código da Agência 401901 - Preços válidos até 31/03/89<br />
QUINZENA ■ Pufallcaç6es do CPV - Caixa Postal 42.791 - Sâo Paulo - S.P. - Fones: (011) 273 6533 e 273 9322<br />
sindicatos foram colocados <strong>de</strong> pé:<br />
Wilson Pinheiro.<br />
Hoje o trabalho <strong>de</strong> Chico e seus<br />
companheiros, apesar <strong>de</strong> ameaçadc<br />
pela UDR, ganhou uma dimensão<br />
internacional. O próprio BID, através<br />
do chefe da missão, Carlos Ferdinand,<br />
admitiu que colocará dinheiro nas<br />
reservas extrativlstas.<br />
A solução que Chico apresenta para<br />
essa parte da Amazônia me parece a<br />
mais racional. Eles preten<strong>de</strong>m extrair<br />
a borracha, castanhas, realizar lavou-<br />
ras <strong>de</strong> sobrevivência, e trabalhar com<br />
uma série <strong>de</strong> produtos ainda não<br />
comercializados: copaíba, assai e vá-<br />
rias plantas medicinais.<br />
Com essa proposta, Chico quer <strong>de</strong>-<br />
monstrar aue a Amazônia não precisa<br />
ser <strong>de</strong>struída nem precisa ser trans-<br />
formada num santuário on<strong>de</strong> ninguém<br />
toca em nada.<br />
O gran<strong>de</strong> passo no momento é a<br />
união dos índios com os seringueiros. O<br />
BID não está colocando mais dinheiro<br />
pdrque os índios repelem o tipo <strong>de</strong><br />
trabalho que foi feito. Apesar <strong>de</strong> serem<br />
minoria, 10 mil, em relação aos<br />
seringueiros, 500 mil, os índios têm<br />
uma repercussão internacional maior.<br />
O contato dos seringueiros com a<br />
União das Nações Indígenas está ca-<br />
minhando para um pacto <strong>de</strong> união dos<br />
povos da floresta. Apesar <strong>de</strong> haver um<br />
certo <strong>de</strong>sinteresse no sul, os olhos do<br />
mundo estão cada vez mais voltados<br />
para eles. Não só organismos gover-<br />
namentais como vários grupos ecolóRi-^.<br />
A QUINZENA divulga as questões políticas <strong>de</strong><br />
fundo em <strong>de</strong>bate DO movimento, contudo coloca<br />
algumas condições para tanto. Serão publicados<br />
os textos que contenham teses e argumentações<br />
estritamente políticas, evitando os<br />
ataques pessoais; serão publicadas ás réplicas<br />
que esteiam no mesmo nível <strong>de</strong> linguagem e<br />
companheirismo. Nos reservamos o direito <strong>de</strong><br />
divulgarmos apenas as partes significativas<br />
dos textos, seja por imposição <strong>de</strong> espaço, seja<br />
pva por solução ^uiuyMW <strong>de</strong> uv redação. ivuMyau.<br />
ÍSS
vm<br />
Quinzena<br />
cos internacionais estão procurando<br />
esses novos interlocutores para que<br />
sejam transformados em eixo da resis-<br />
tência planetária contra a <strong>de</strong>vastação.<br />
Consi<strong>de</strong>ro fundamental, que todo<br />
mundo se interesse pelo assunto no<br />
Brasil. Nessas horas entretanto, nfto<br />
consigo ver as coisas a aio ser numa<br />
O Estado do Paraná -17.09.88<br />
mtmmíi<br />
:>;':-:': : ; : : : x : : : >; ; : : ; : : : : : : : >::';::-;::-:-: :<br />
3L<br />
perspectiva planetária. Chico Men<strong>de</strong>s e<br />
ias nações indígenas que n opõem à<br />
maneira como as obras da BR-364<br />
estavam sendo feitas sâo uma nova<br />
esperança nesse universo ver<strong>de</strong>.<br />
O encontro das mulheres em Xapuri,<br />
discutindo temas que iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
imatisfaçâo sexual até a neceerida<strong>de</strong>^<br />
..-.. --v. ;•
Relatório do Instituto d* Estudo» Amazônicos OEA)<br />
RELATÓRIO DOS FATOS OCORRIDOS NO<br />
PERÍODO DE 23 DE MAIO/88 ATÉ DEZEMBRO/88:<br />
CONFLITOS DE SERINGUEIROS E<br />
TRABALHADORES RURAIS DO ESTADO DO ACRE<br />
01. 26 <strong>de</strong> maio/88, dois seringueiros são baleados no<br />
prédio do IBDF/Xapuri, AC, por dois pistoleiros que<br />
fugiram <strong>de</strong> Motocicleta. Foram i<strong>de</strong>ntificados por tes-<br />
temunhas posteriormente, mas o inquérito policial<br />
não teve o registro correto <strong>de</strong> todos os fatos. Os sus-<br />
peitos recairiam nas pessoas <strong>de</strong> DARLI ALVES DA<br />
SILVA e ALVARINO ALVES DA SILVA;<br />
02. dia 17 <strong>de</strong> junho/88, o Dirigente do STR <strong>de</strong> Xapuri,<br />
AC, e candidato a vereador do PT IVAIR HIGINO DE<br />
ALMEIDA, foi brutalmente assassinado. Os suspeitos<br />
foram i<strong>de</strong>ntificados como CÍCERO TENÓRIO CA-<br />
VALCANTI e sobrinhos <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO AL-<br />
VES DA SILVA. O inquérito foi extremamente lento e<br />
não chegou a apurar a autoria do crime;<br />
03. Em setembro/88, outro seringueiro é assassinado no<br />
Município <strong>de</strong> Xapuri, AC, e aparece como suspeito<br />
filhos e parentes préximo <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO. Há<br />
informações extra-oficialmente que o Juiz <strong>de</strong> Direito<br />
da Comarca <strong>de</strong> Xapuri <strong>de</strong>cretou a prisão preventiva<br />
<strong>de</strong> APARECIDO - sobrinho <strong>de</strong> DARLI e ALVARINO;<br />
04. Ainda no mês <strong>de</strong> setembro, apareceram dois corpos<br />
humanos ao lado da casa da Se<strong>de</strong> da Fazenda <strong>de</strong><br />
Darli e Alvarino. O próprio Darli comunica à polícia da<br />
Delegacia <strong>de</strong> Xapuri. A Polícia local faz o sepulta-<br />
mento dos dois corpos humanos na própria Fazenda<br />
<strong>de</strong> Darli Alves, sem proce<strong>de</strong>r o exame cadavérico, e<br />
ficando assim, sem os laudos para formação do In-<br />
quérito Policial. Posteriormente, a Polícia faz a exu-<br />
mação dos cadáveres e leva equipe médica <strong>de</strong> Rio<br />
Branco para fazer os exames, visto que os médicos<br />
locais <strong>de</strong> Xapuri se recusam a atestar a "causa mor-<br />
tis";<br />
05. Em 26 <strong>de</strong> setembro/88, a Polícia Fe<strong>de</strong>ral/AC recebe<br />
Carta Precatória originária da Comarca <strong>de</strong> Umuara-<br />
ma, PR, com o fim <strong>de</strong> efetivar a prisão preventiva <strong>de</strong><br />
DARLI e ALVARINO ALVES DA SILVA; em 13 <strong>de</strong> ou-<br />
tubro o Dep. Fe<strong>de</strong>ral do Acre remete Carta Precatória<br />
ao Juiz <strong>de</strong> Direito da Comarca <strong>de</strong> Xapuri. Os manda-<br />
dos <strong>de</strong> prisão são executados no dia 19 <strong>de</strong> outu-<br />
bro/88, com a fuga dos acusados na madrugada da<br />
tentativa <strong>de</strong> prisão.<br />
06. A Polícia Militar sem viaturas para efetivar a prisão<br />
dos acusados (a Delegacia Local e o Destacamento<br />
da PM local não dispõem <strong>de</strong> veículo), usou o Toyota<br />
do STR <strong>de</strong> Xapuri e um Engesa da EMATER/Xapuri.<br />
No dia 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro/88, novamente a Delegacia<br />
policial e Polícia Militar não dispunham <strong>de</strong> Viaturas,<br />
na tentativa <strong>de</strong> perseguição aos pistoleiros, foi usado<br />
pela PM o veículo do STR <strong>de</strong> Xapuri;<br />
07. A partir <strong>de</strong> maio/88, a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Xapuri e Sindi-<br />
cato <strong>de</strong>nunciam que um irmão <strong>de</strong> ALVARINO e<br />
DARLI é o Escrivão <strong>de</strong> Polícia local. Pe<strong>de</strong>m o seu<br />
afastamento ao Sectetário <strong>de</strong> Segurança, mas não<br />
são atendidos;<br />
08. No dia 17 <strong>de</strong> novembro/88, CHICO MENDES <strong>de</strong>nun-<br />
cia ao Juiz da Comarca por intermédio <strong>de</strong> Carta, que<br />
os Srs. DARLI e ALVARINO estavam tramando o seu<br />
assassinato. O Juiz mostra interesses em apurar os<br />
fatos e coloca a sua dificulda<strong>de</strong> em colher as provas<br />
para incriminar os mandantes. Inclusive menciona a<br />
ausência do Promotor <strong>de</strong> Justiça na Comarca com<br />
atuação permanente para acompanhar os processos<br />
na Comarca, causando assim, prejuízos na apuração<br />
das provas por faltar um elemento indispensável no<br />
Judiciário;<br />
09. No mês <strong>de</strong> novembro/88, CHICO MENDES <strong>de</strong>nuncia<br />
em Carta enviada ao Secretário <strong>de</strong> Segurança Públi-<br />
ca e governo Estadual, que estavam tramando sua<br />
morte. Não recebe qualquer resposta <strong>de</strong> sua carta;<br />
10. Também remete Carta <strong>de</strong>nunciando <strong>de</strong> sua morte ao<br />
Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre no perío-<br />
do em que já havia comunicado as autorida<strong>de</strong>s Esta-<br />
duais do Acre. Em seguida, a Carta é divulgada pelo<br />
Jornal "Gazeta do Acre", o qual usa "manchete' para<br />
divulgar o fato: "Polícia Fe<strong>de</strong>ral facilita fuga <strong>de</strong> pis-<br />
toleiros" e começa polêmica entre Chico Men<strong>de</strong>s e o<br />
Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral. E, <strong>de</strong>sloca a<br />
questão central para assuntos menores;<br />
11. Outras providências requeridas antes do estúpido as-<br />
sassinato:<br />
TELEX - TELEGRAMAS:<br />
Em 29 <strong>de</strong> novembro/88, o STR <strong>de</strong> Brasiléia, AC, re-<br />
mete Telex, ao Governador Flaviano Melo, ao Diretor<br />
Geral da Polícia Fe<strong>de</strong>ral - ROMEU TUMA e ao Se-<br />
cretário <strong>de</strong> Segurança Pública do Estado do Acre,<br />
<strong>de</strong>nunciando ameaças <strong>de</strong> assassinato <strong>de</strong> trabalhado-<br />
res rurais em Xapuri e Brasiléia e não recebe qual-<br />
quer resposta;<br />
Em 05 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembfo/88, o STR <strong>de</strong> Brasiléia, STR <strong>de</strong><br />
Xapuri, Conselho Nacional <strong>de</strong> Seringueiros e CTA -<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Trabalhadores da Amazônia remetem no-<br />
vamente Telex para as Autorida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais: ao Pre-<br />
si<strong>de</strong>nte da República, Ministro da Justiça - Dr. PAU-<br />
LO BROSSARD e Diretor Geral da Polícia Fe<strong>de</strong>ral -<br />
Dr. ROMEU TUMA Somente o Sr. Romeu Tuma<br />
respon<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>núncia e remeteu outro telex ao Dep-<br />
to. <strong>de</strong> Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre. Não temos <strong>de</strong>talhes<br />
<strong>de</strong>sse telex.<br />
O teor do texto contido nos Telex <strong>de</strong>nunciavam o<br />
<strong>de</strong>scaso das Autorida<strong>de</strong>s do Acre - que não perse-<br />
guiam pistoleiros com mandados <strong>de</strong> prisão soltos e<br />
ameaçando Chico Men<strong>de</strong>s e outras li<strong>de</strong>ranças sindi-<br />
cais da região;<br />
12. No período <strong>de</strong> 12 até 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembfo/88, estariam<br />
circulando em Rio Branco o elemento BENEDITO<br />
ROSA sobrinho <strong>de</strong> Darli e um elemento <strong>de</strong>sconheci-
: : : : : : : : : : ; : : i : : : : : : : : : : : : : ; : ::-;';::-:::o: : ; : : : : : ; : : : : : :<br />
Quinzena<br />
WMmmmMtmmMMfí<br />
do a procura <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s para assassiná-lo, cir-<br />
cularam nesse período em voiage branco e volks.<br />
Quem <strong>de</strong>u essa informação foi membros da própria<br />
Polícia Militar do Acre. (haviam colhido esses fatos<br />
no Setor <strong>de</strong> inteligência da PM/AC). Fonte <strong>de</strong> nossas<br />
informações: CHICO MENDES e RAIMUNDO BAR-<br />
BOS;<br />
13. Os próprios integrantes da PM do Acre que <strong>de</strong>mons-<br />
traram interesse em pren<strong>de</strong>r os acusados DARLI e<br />
ALVARINO afirmaram ao CHICO MENDES na pre-<br />
M<br />
^ ^ ^<br />
Trabalhadores<br />
sença <strong>de</strong> testemunhas-que o Secretário <strong>de</strong> Seg. Pú-<br />
blica do Acre era comprometido com o Esquadrão da<br />
Morte, e com membros da UDR e não tinha interesse<br />
em pren<strong>de</strong>r os foragidos. (Major Jordão afirmou esses<br />
fatos no dia 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro/88, no período da ma-<br />
nhã - aproximadamente às 11:00 hs., afirmou ao pró-<br />
prio CHICO MENDES, em visita feita ao referido<br />
Major, na presença dos 3 (três) seguranças pessoais<br />
<strong>de</strong> CHICO MENDES).<br />
CHICO MENDES E ASSASSINADO POR<br />
O Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais<br />
<strong>de</strong> Xapuri, membro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Seringuei-<br />
ros e da Direção Nacional da Central Única dos Traba-<br />
lhadores, CHICO MENDES (Francisco Alves Men<strong>de</strong>s Fi-<br />
lho), foi assassinado com um tiro no peito às 18:45 hs<br />
(hora local) do dia 22/12/88, quando ele atravessava o<br />
terreno no fundo <strong>de</strong> sua casa em Xapuri, estado do Acre,<br />
para dirigir-se ao banheiro. Fontes locais acusam o pis-<br />
toleiro BENEDITO ROSA, pelo assassinato.<br />
CHICO MENDES tinha 43 anos, era casado e pai <strong>de</strong><br />
dois filhos.<br />
O assassinato consuma ameaças <strong>de</strong> morte que o sin-<br />
dicalista vinha recebendo há longa data e que ele já <strong>de</strong>-<br />
nunciara à imprensa e às autorida<strong>de</strong>s policiais e judiciá-<br />
rias estaduais e fe<strong>de</strong>rais. O lí<strong>de</strong>r seringueiro e ecologista<br />
já fora vítima <strong>de</strong> seis emboscadas, a ultima das quais<br />
ocorreu em 29/04/88 e foi amplamente divulgada pela<br />
imprensa. Há aproximadamente um ano o li<strong>de</strong>r seringuei-<br />
ro vinha sendo escoltado por policiais armados. Em<br />
03/12 ultimo, o jornal "O Estado <strong>de</strong> São Pau Io" publicou<br />
<strong>de</strong>nuncia do sindicalista e ambientalista <strong>de</strong> que o supe-<br />
rinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral do Acre, Delegado Mauro<br />
Sposito, faria parte <strong>de</strong> um complô <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros e fun-<br />
cionários da polícia estadual que estariam planejando<br />
sua morte e que a polícia fe<strong>de</strong>ral teria facilitado a fuga<br />
dos irmãos DARLI e ALVARINO ALVES, procurados pela<br />
polícia do Paraná acusados <strong>de</strong> serem mandantes <strong>de</strong><br />
atentados outros contra os trabalhadores.<br />
Este é o quarto assassinato <strong>de</strong> sindicalista <strong>de</strong> Xapuri<br />
neste ano: em 18 <strong>de</strong> junho IVAIR HIGINO DE ALMEIDA,<br />
26 anos, foi morto a tiros numa emboscada; em 12 <strong>de</strong><br />
setembro outros dois sindicalistas foram assassinados.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s acusava como responsáveis pelas<br />
ameaças <strong>de</strong> morte que vinha sofrendo um complô <strong>de</strong> fa-<br />
zen<strong>de</strong>iros ligados à UDR (UNIÃO DEMOCRÁTICA RU-<br />
RALISTA), em especial DARLI ALVES, proprietário da<br />
fazenda Paraná localizada no Seringal Cachoeira, que<br />
vinha tentando expulsar os serigueiros <strong>de</strong>sta área e con-<br />
tra o que o Sindicato Rural vinha lutando. Uma das prin-<br />
cipais conquistas do Sindicato Rural <strong>de</strong> Xapuri em 1988,<br />
foi a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> alguns seringais do município,<br />
<strong>de</strong>ntre os quais se inclui o Seringal Cachoeira.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s começou a <strong>de</strong>stacar-se a partir da dé-<br />
cada <strong>de</strong> 70 por li<strong>de</strong>rar os seringueiros do Município <strong>de</strong><br />
Xapuri nos "embates", uma forma <strong>de</strong> resistência pacífica<br />
contra a entrada <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong>stinadas ao <strong>de</strong>smata-<br />
mento, essas ações visam a <strong>de</strong>fesa da posse da terra<br />
pelos seringueiros e a preservação da floresta, e foram<br />
PISTOLEIROS NO ACRE<br />
responsáveis pela conservação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> hectares<br />
<strong>de</strong> mata na Amazônia; Transformou-se no principal li<strong>de</strong>r<br />
sindical do Acre após o assassinato <strong>de</strong> WILSON PI-<br />
NHEIRO, li<strong>de</strong>r do Sindicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />
Brasiléia, município vizinho a Xapuri-sua luta pela pre-<br />
servação dos seringais e castanheiras nativas, transfor-<br />
mando-os em resen/as extrativistas, notabilizou-o inter-<br />
nacionalmente. Em 1987recebeu dois prêmios interna-<br />
cionais por sua atuação em <strong>de</strong>fesa do Meio Ambiente: o<br />
"GLOBAL 500", conferido pela ONU em Washington, e a<br />
."Medalha da Socieda<strong>de</strong> para um Mundo Melhor"; seu<br />
<strong>de</strong>poimento na Comissão <strong>de</strong> Verbas do Senado Ameri-<br />
cano foi importante para a incusão <strong>de</strong> cláusulas preser-<br />
vacionistas nos contratos <strong>de</strong> empréstimos do BIRD para<br />
a construção da Rodovia BR-363 (Porto Velho-Rio Bran-<br />
co).<br />
O <strong>Centro</strong> Ecumênico <strong>de</strong> <strong>Documentação</strong> e Informação,<br />
o Instituto <strong>de</strong> Estudos Amazônicos, o Conselho Na-<br />
cional <strong>de</strong> Seringueiros, a União das Nações Indíge-<br />
nas, o Sindicato dos Trabalhadores <strong>de</strong> Xapuri e as<br />
entida<strong>de</strong>s que apoiam a luta dos povos da floresta,<br />
inconformados com o tratamento <strong>de</strong>stinado à luta<br />
<strong>de</strong>stes trabalhadores, pe<strong>de</strong>m às organizações e pes-<br />
soas para telegrafarem às autorida<strong>de</strong>s, exigindo a<br />
imediata punição <strong>de</strong> todos os culpados. (Rio Branco,<br />
Curitiba, Sao Paulo, 23/12/88).
O Estado <strong>de</strong> São Paulo - 03.12.88<br />
RIO BRANCO - O eoologista Chico<br />
Men<strong>de</strong>s, presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos<br />
Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Xapuri, acu-<br />
sou o superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe-<br />
<strong>de</strong>ral do Acre, <strong>de</strong>legado Mauro Sposi-<br />
to, <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> uma complô <strong>de</strong><br />
fazen<strong>de</strong>iros e funcionários da Secreta-<br />
ria <strong>de</strong> Segurança Pública, que esta-<br />
riam planejando sua morte. Ele disse<br />
também que a Polícia Fe<strong>de</strong>ral facili-<br />
tou a fuga dos irmãos Darli e Alvarino<br />
Alves, pistoleiros procurados pela po-<br />
ECOLOGISTA DIZ QUE PF<br />
PLANEJA SEU ASSASSINATO<br />
Senhor Governador<br />
lícia do Paraná.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s é seringueiro e se<br />
projetou no País e no Exterior por li-<br />
<strong>de</strong>rar um movimento <strong>de</strong> resistência à<br />
<strong>de</strong>vastação da Amazônia Por seu<br />
trabalho, ele recebeu, neste ano, o<br />
prêmio "GLOBAL 500" da Organiza-<br />
ção das Nações Unidas, e a medalha<br />
da Socieda<strong>de</strong> para um Mundo Melhor,<br />
respectivamente em Washington e<br />
Londres. Depois disso, passou a an-<br />
dar protegido por dois seguranças.<br />
Trabalhadores<br />
Em Rio Branco, o geólogo Orlando<br />
Valver<strong>de</strong>, também ligado ao problema<br />
ambiental e ao processo <strong>de</strong> ocupação<br />
da Amazônia Oci<strong>de</strong>ntal, apoiou o sin-<br />
dicalista e chegou a sugerir que ele<br />
formalizasse <strong>de</strong>núncia ao <strong>de</strong>legado<br />
Romeu Tuma, diretor-geral da Polícia<br />
Fe<strong>de</strong>ral.<br />
O <strong>de</strong>legado Mauro Sposito divul-<br />
gou ontem à tar<strong>de</strong> nota em que se<br />
nega as acusações e garante que<br />
Chico Men<strong>de</strong>s será interpelado judi-<br />
cialmente para comprová-las. O Se-<br />
cretário <strong>de</strong> Segurança Pública do<br />
Acre, Carlos Castelo Branco, não foi<br />
encontrado para esclarecer a <strong>de</strong>nún-<br />
cia contrasua pasta.<br />
Rio Branco, 29 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1988.<br />
Exmo. Sr.<br />
Edson Simões Cadaxo<br />
Governador em Exercício do Estado do Acre<br />
A gravida<strong>de</strong> dos fatos envolvendo o assassinato do sindicalista e ambientalista CHICO MENDES leva as<br />
entida<strong>de</strong>s abaixo-relacionadas a solicitar <strong>de</strong> V.Excia. medidas urgentes relacionadas com a condução do inquérito<br />
para que haja transparência nas investigações como quer toda a socieda<strong>de</strong> brasileira. Os fatos abaixo relacionados<br />
levam-nos a requerer o imediato afastamento do Sr. Secretário <strong>de</strong> Segurança do Estado do Acre, José Carlos Cas-<br />
telo Branco.<br />
l.Atos <strong>de</strong>lituosos não são <strong>de</strong>vidamente apurados no Estado. Somente no Município <strong>de</strong> Xapuri, informa o Sr. Dr.<br />
Juiz <strong>de</strong> Comarca, estão parados mais <strong>de</strong> 300 inquéritos por falta <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> diligências e pronunciamento<br />
do Ministério Público. Tomando ciência dos crimes, a Polícia Civil nâo chega sequer a tomar as medidas legais<br />
primitivas e fundamentais a investigação para conhecer as causas, circunstâncias e autores dos Crimes.<br />
NO CASO CHICO MENDES A IMPERÍCIA DA POLÍCIA SEQUER PERMITIU QUE O LOCAL DO CRIME<br />
FOSSE ISOLADO PARA OS EXAMES PERICIAIS CHEGANDO À ABERRAÇÃO DOS PRÓPRIOS MEM-<br />
BROS DA POLÍCIA DESLOCAREM DO LOCAL OBJETOS DA INVESTIGAÇÃO. TODOS OS VESTÍGIOS<br />
DO CRIME JÁ FORAM APAGADOS NO LOCAL.<br />
2.0 Superinten<strong>de</strong>nte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, Dr. Romeu Tuma, em reunião pública na Igreja da Paróquia <strong>de</strong> Xapuri,<br />
afirmou existirem barreiras em todas as fronteiras para evitar a saída dos criminosos.<br />
NA ESTRADA DO RIO BRANCO - XAPURI A POLÍCIA MILITAR E POLÍCIA CIVIL ESTAVAM FAZEN-<br />
DO BARREIRA E CONFORME AMPLAMENTE DIVULGAÇÃO PELOS JORNAIS OS ELEMENTOS DE-<br />
NOMINADOS DARU ALVES DA SILVA FILHO E APARECIDO ALVES DA SILVA FILHO FURARAM O<br />
CERCO POLICIAL SOMENTE SENDO PERSEGUIDOS E PRESOS POR AGENTES DA POLÍCIA FEDERAL<br />
POR INICIATIVA E DENÚNCIA DE MEMBROS DO COMITÊ.<br />
3.A Polícia do Estado tem <strong>de</strong>monstrado omissão permanente e recorrente em casos anteriormente divulgados pela<br />
imprensa envolvendo os mesmos indivíduos acusados do assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s. Recentemente foram en-<br />
contrados dois cadáveres a 200 metros da Fazenda Paraná <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Darli Alves e os mesmos foram en-<br />
terrados no próprio local.<br />
SENDO PÚBLICOS OS PRECEDENTES CRIMINOSOS DOS SUSPEITOS DE PARTICIPAÇÃO NO ASSAS-<br />
SINATO DE CHICO MENDES INEXISTE CONTRA ESTES ELEMENTOS DE ALTA PERICULOSIDADE<br />
AÇÃO EM ANDAMENTO OU MESMO TRANSITADO EM JULGADO; FORMAÇÃO DE QUADRILHAS,<br />
LESÕES CORPORAIS, SUSPEITOS DE HOMICÍDIOS NUNCA FORAM APURADOS BENEFICIADOS AS-<br />
SIM PELA CONDIÇÃO DE PRIMÁRIOS.<br />
4A impunida<strong>de</strong> tem marcado a atuação da Secretaria <strong>de</strong> Segurança do Estado frente aos inúmeros conflitos envol-
Quinzena m Trabalhadores<br />
vendo trabalhadores rurais e seringueiros. Em 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1988 dois seringueiros foram baleados na Se<strong>de</strong> do<br />
IBDF <strong>de</strong> Xapuri. Os autores dos disparos foram reconhecidos por testemunhas logo em seguida. O Inquérito Po-<br />
licial não in<strong>de</strong>ntificou nem responsabilizou criminalmentc os autores. Em 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1988 o Delegado Sindi-<br />
cal Ivair Higino <strong>de</strong> Almeida foi assassinado em sua própria casa. O Governo do Estado não respon<strong>de</strong>u às solici-<br />
tações <strong>de</strong> apuração do crime.<br />
OS FATOS ARROLADOS NÃO EXPRESSAM O CONJUNTO DA IMPUNIDADE. MAS SÀO SUFICIENTES<br />
PARA QUE DESPERTEM GRAVE PREOCUPAÇÃO POR PARTE DA SOCIEDADE COM RELAÇÃO AO<br />
DESTINO QUE SERÁ DADO ÀS PROVAS E INDÍCIOS PUBLICAMENTE EXISTENTES.<br />
5.FATO AINDA MAIS GRAVE QUE OS ANTERIORES: NO DIA 5 DE DEZEMBRO PRÓXIMO PASSADO A<br />
SECRETARIA DE SEGURANÇA DO ESTADO QUE, CONHECENDO A GRAVIDADE DO ENVOLVI-<br />
MENTO DELITUOSO DA FAMÍLIA DARLI ALVES DA SILVA EXPEDE PORTE DE ARMA A OLOCI<br />
ALVES DA SILVA CONFORME LIVRO DE REGISTRO No. 218762, VÁLIDA ATE 5 DE nF.7F.MRRO DE<br />
1989, TEMPO SUFICIENTE PARA OUTROS ASSASSINATOS..<br />
As entida<strong>de</strong>s que compõem o COMITÊ CHICO MENDES, representando a preocupação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> brasileiros<br />
e cidadãos <strong>de</strong> várias partes do mundo, solicitam imediatamente a <strong>de</strong>missão do Secretário <strong>de</strong> Segurança Pública,<br />
uma vez que os fatos arrolados são suficientemente graves e constemadores. E temos certeza que não expressam<br />
mais do que a superficialida<strong>de</strong> do que efetivamente vem acontecendo com a justiça e a segurança <strong>de</strong>ste Estado. No<br />
prazo <strong>de</strong> vinte e quatro horas o Comitê estará <strong>de</strong> volta para obter a resposta a esta solicitação.<br />
Atenciosamente,<br />
COMITÊ CHICO MENDES<br />
NOTA: Esta carta foi entregue ao governador do Acre, em mãos, no dia 29.12.88.<br />
Comitê Chico Men<strong>de</strong>s - 03.01.$9<br />
NOTA DO COMITÊ CHICO MENDES<br />
O Comitê Chico Men<strong>de</strong>s, representando <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> instituições da socieda<strong>de</strong> civil, cientistas, pesquisado-<br />
res, profissionais liberais, comparece perante V.Excia,<br />
nos termos da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e <strong>de</strong>mais dispositi-<br />
vos legais e éticos para formular.<br />
DENUNCIA<br />
De fatos extremamente graves que <strong>de</strong>verão ser urgente<br />
e rigorosamente apurados pelas autorida<strong>de</strong>s que repre-<br />
sentam os interesses da socieda<strong>de</strong> no Exercício da Fun-<br />
ção Pública.<br />
1.0 Inquérito Policial ainda não colheu os elemen-<br />
tos <strong>de</strong> provas que incriminam os mandantes in-<br />
tectuais do assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s, em ra-<br />
zão do comprometimento <strong>de</strong> certas autorida<strong>de</strong>s<br />
que habitam a sombra do po<strong>de</strong>r e até mesmo uti-<br />
lizam como escudo com o objetivo <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r a<br />
verda<strong>de</strong>.<br />
2.0 Comitê Chico Men<strong>de</strong>s relaciona a seguir fatos<br />
que <strong>de</strong>verão ser objetos <strong>de</strong> rigorosa e séria inves-<br />
tigação:<br />
A) Nos dias 20 e 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, as<br />
vésperas do crime o Sr. Gastão Mota esteve na<br />
Secretaria <strong>de</strong> Segurança Pública e chegou mes-<br />
mo a conversar com o Sr. José Carlos Castelo<br />
Branco Secretário <strong>de</strong> Segurança.<br />
B) Foi remetida a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> pagamento no valor<br />
<strong>de</strong> 10.400.000 (<strong>de</strong>z milhões e quatrocentos mil<br />
cruzados), através da Ag. Matriz do BANACRE<br />
em Rio Branco, para a Ag. BANACRE em Brasi-<br />
leia em favor do Sr. Gastão Mota. Quem remeteu<br />
o valor teria sido a empresa (R.V. FONTINELE)<br />
testemunhas em Brasileia presenciaram o exage-<br />
rado nervozismo do Sr. Gastão Mota, enquanto<br />
esperava a citada or<strong>de</strong>m. Foi exatamente nesta<br />
ocasião que ele foi preso. E portanto indispensa-<br />
velmente a investigação a respeito da origem do<br />
dinheiro remetido.<br />
C) No dia 06 e <strong>de</strong>zembro 1988 o jornal (O Rio<br />
Branco) publicou matéria que registrava o (estou-<br />
ro <strong>de</strong> uma bomba no Acre, com repercussão na-<br />
cional, <strong>de</strong> 200 Megatons) e afirmava que tais no-<br />
tícias provinham <strong>de</strong> fonte fi<strong>de</strong>digna. Na mesma<br />
matéria se faz ref. a Chico Men<strong>de</strong>s numa tentati-<br />
va clara <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoraliza-lo perante a opinião pú-<br />
blica.<br />
D) Três dias após o crime, dia 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1988 por volta <strong>de</strong> 15 a 16 horas, o Sr. Adalberto<br />
Aragão foi visto nas imediações da drogaria po-<br />
vão em companhia <strong>de</strong> 4 elementos, <strong>de</strong>ntre os<br />
quais, 2 que estão diretamente implicados no<br />
crime, conforme se po<strong>de</strong> fazer a in<strong>de</strong>ntificação<br />
dos mesmos entre as fotografias publicadas pelos<br />
jornais.<br />
E) No dia 05 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, foi emitido<br />
porte <strong>de</strong> arma ao Sr. Aparecido Alves da Silva,<br />
filho <strong>de</strong> Darli Alves, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ato, ,
Quinzena<br />
em si mesmo significativo, foi assumida publica-<br />
mente pelo Sr. Secretário <strong>de</strong> Segurança Pública<br />
José Carlos Castelo Branco, em audiência reali-<br />
zada no palácio com o Sr. Governador Edson Ca-<br />
daxo e o Comitê Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Sr. Governador,<br />
Estes fatos concretos merecem imediata apura-<br />
ção e a incriminação dos mandantes do otime.<br />
As investigações <strong>de</strong>vem proseguir em todos os<br />
ângulos, especialmente com os objetivos <strong>de</strong> co-<br />
lher provas contra os mandantes.<br />
É curioso que o Sr. João Branco tenha fugido do<br />
Estado do Acre logo após o crime. Outro fato mui-<br />
to relevante, é a presença <strong>de</strong> repórteres do jornal<br />
O Rio Branco na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Xapuri no local do<br />
Folha Bancária -05.01.89<br />
O sindicalista Wilson Pinheiro<br />
presidiu por duas gestões o Sin-<br />
dicato dos Trabalhadores Rurais<br />
<strong>de</strong> Brasilèia, município próximo<br />
à Xapuri (Acre). Assim como<br />
Chico Men<strong>de</strong>s, em 1982, Wilson<br />
Pinheiro foi assassinado a man-<br />
do dos fazen<strong>de</strong>iros da região. In-<br />
conformados e revoltados, os se-<br />
ringueiros lincharam Nilo Sér-<br />
gio, acusado <strong>de</strong> ser o mandante<br />
do crime.<br />
No domingo, 8 <strong>de</strong> ja-<br />
neircjforam realizadas as eleições<br />
naquele Sindicato, que tem mui-<br />
ta importância na luta dos serin-<br />
gueiros em <strong>de</strong>fesa dos povos da<br />
floresta e para todo movimento<br />
sindical do Acre. Por isso, a<br />
UDR tentará impedir <strong>de</strong> todas as<br />
formas, que os trabalhadores ga-<br />
nhem novamente estas eleições.<br />
Veia-14.12.88<br />
Trabalhadores<br />
crime pouco tempo <strong>de</strong>pois do assassinato, tempo<br />
insuficiente para se fazer o trajeto entre Rio Bran-<br />
co e Xapuri.<br />
Para a perfeita elucidação do crime, torna-se,<br />
pois, imprescindível efetivar interrogatórios do Sr.<br />
João Branco, Presi<strong>de</strong>nte Regional da UDR, do Sr.<br />
Adalberto Aragão e do responsável pela coluna<br />
do jornal do Rio Branco que publicou a matéria<br />
supra mencionada.<br />
Respeitosamente,<br />
Comitê Chico Men<strong>de</strong>s<br />
Por favor retransmitir para as <strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s.<br />
Rio Branco 3 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1989.<br />
Colabore com a luta dos trabalhadores do Acre<br />
Morte anunciada<br />
Deputado ameaçado é<br />
assassinado no Pará<br />
Na tar<strong>de</strong> da última terça-feira, o <strong>de</strong>-<br />
putado estadual João Carlos Batis-<br />
ta, 36 anos, do Partido Socialista Brasi-<br />
leiro, ocupou a tribuna da Assembléia<br />
Legislativa do Pará para repetir uma <strong>de</strong>-<br />
núncia que costumava fazer com freqüên-<br />
cia. "Recentemente, em Paragominas,<br />
fui ameaçado <strong>de</strong> morte", afirmou João<br />
Batista, que citou ainda o nome <strong>de</strong> dois<br />
policiais militares que teriam feito a<br />
ameaça. À noite, quando entrava na ga-<br />
ragem do seu apartamento no centro <strong>de</strong><br />
Belém, o <strong>de</strong>putado foi atingido por um<br />
tiro na cabeça, disparado por um homem<br />
que se colocou ao lado do carro <strong>de</strong> João<br />
Batista. Dentro, além do próprio <strong>de</strong>puta-<br />
do, estavam sua mulher e três filhos —<br />
um <strong>de</strong>les, a menina Dina, <strong>de</strong> 4 anos, foi<br />
ferido com um tiro na pema.<br />
A morte do <strong>de</strong>putado soma-se à longa<br />
para não disputarem a Fe<strong>de</strong>ra-<br />
ção dos Trabalhadores na Agri-<br />
cultura do Acre.<br />
Os sindicalistas fazem um ape-<br />
lo a (o<strong>de</strong>s que pu<strong>de</strong>rem colabo-<br />
rar, que enviem qualquer contri-<br />
buição financeira para a conta<br />
3967/6 — Banco Banorte, em<br />
nome <strong>de</strong> Osmaríno Amãncio Ro-<br />
drigues (Secretário do Conselho<br />
Nacional dos Seringueiros), em<br />
Brasilèia, Acre.<br />
Segundo Osmarino, as dificul-<br />
da<strong>de</strong>s são enormes. Por exem-<br />
plo, pra fazer uma assembléia, a<br />
gente tem que andar <strong>de</strong> Brasilèia<br />
até o seringal São Salvador e gas-<br />
ta 5 dias para ir e 5 dias para vol-<br />
tar. O frete <strong>de</strong> um transporte<br />
custa CzS 250 mil. Isto porque os<br />
donos dos transportes não que-<br />
rem que tenhamos acesso aos<br />
trabalhadores e tudo fazem para<br />
dificultar, já que estão ligados<br />
aos fazen<strong>de</strong>iros. É muito caro.<br />
Os seringueiros não têm recur-<br />
sos, pois a borracha está sendo<br />
paga a CzS 500,00 o quilo, en-<br />
quanto o açúcar chega a custar<br />
CzJ 3 mil cruzados. Precisamos<br />
mudar esta situação.<br />
Nessa campanha muitos já<br />
tombaram, prossegue Osmarino.<br />
Nós mesmos estamos ameaça-<br />
dos. Não sei se vou ficar muito<br />
tempo na direção do Sindicato<br />
em Brasilèia para dar continui-<br />
da<strong>de</strong> à luta <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s,<br />
Wilson Pinheiro, Jesus Matias,<br />
Calado e ivair, companheiros<br />
que tombaram, em <strong>de</strong>fesa dos<br />
trabalhadores.<br />
lista <strong>de</strong> assassinatos causados por conflitos<br />
agrários na Região Norte do país e, ao<br />
mesmo tempo, <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>scaso das<br />
autorida<strong>de</strong>s com o problema. Des<strong>de</strong> que o<br />
ex-<strong>de</strong>putado estadual Paulo Fontelles, do<br />
PC do B, <strong>de</strong>nunciou, em junho <strong>de</strong> 1984, a<br />
existência <strong>de</strong> uma lista com oito nomes ju-<br />
rados <strong>de</strong> morte por fazen<strong>de</strong>iros do Estado,<br />
já tombaram cinco <strong>de</strong>sses nomes, incluindo<br />
o do próprio Fontelles, morto há um ano e<br />
meio. Em outubro, o <strong>de</strong>putado João Batis-<br />
ta, que já havia sofrido três atentados antes<br />
<strong>de</strong> ser assassinado na semana passada, <strong>de</strong>-<br />
nunciou ao presi<strong>de</strong>nte do seu partido, o se-<br />
nador Jamil Haddad, que o fazen<strong>de</strong>iro Wir-<br />
land Freire o estaria ameaçando <strong>de</strong> morte.<br />
O <strong>de</strong>putado era um combativo advogado<br />
<strong>de</strong> posseiros na região — e achava que esta<br />
era a razão das ameaças. Haddad pediu<br />
providências ao ministro da Justiça, Paulo<br />
Brossard, que encaminhou a questão para a<br />
Secretaria <strong>de</strong> Segurança do Pará.<br />
mas nenhuma providência foi to-<br />
mada. No final da semana, sem<br />
que nenhuma das pessoas citadas<br />
por João Batista nas suas <strong>de</strong>nún-<br />
Para eles ficarem satisfeitos,<br />
on<strong>de</strong> eles estiverem, e para que<br />
os trabalhadores sintam mais co-<br />
ragem precisamos mais do que<br />
nunca ganhar este Sindicato.<br />
A UDR tenta impedir a vitória<br />
nos Sindicatos daqueles que lu-<br />
tam pela reforma agrária. Mas<br />
isso eles não vão conseguir en-<br />
quanto tiver colono querendo vi-<br />
ver, enquanto tiver Índio queren-<br />
do viver eles não conseguirão<br />
acabar com a nossa luta. A mata<br />
é a nossa vida. A Amazônia è o<br />
pulmão do mundo e precisamos<br />
<strong>de</strong>fendê-la. Acabando com a ma-<br />
ta estão acabando com os serin-<br />
gueiros. Queremos ser gente e<br />
sermos respeitados, afirma o sin-<br />
dicalista.<br />
cias tivesse sido ouvida, o gover-<br />
nador do Pará, Hélio Gueiros, ex-<br />
plicou que não tem como dar ga-<br />
rantias <strong>de</strong> vida para ninguém<br />
"Político e jornalista são proljs<br />
soes arriscadas, e o João Batista sa-<br />
bia disso", afirmou o governador<br />
No enterro do <strong>de</strong>putado, acompa-<br />
nhado na última quinta-feira por<br />
cerca <strong>de</strong> 4 000 pessoas, houve<br />
protestos contra a violência e foi<br />
exibida uma faixa, segurada poi<br />
cinco crianças, com uma ameaça;<br />
"O povo quer vingança. Morte à<br />
UDR", dizia. •
^^M^i:-::<br />
Quinzena w Trabalhadores<br />
Cenários - <strong>de</strong>z/BB<br />
"Riocentro" em Volta Redonda<br />
Dirigentes sindicais estão convencidos <strong>de</strong> que o enfren-<br />
tamento <strong>de</strong> tropas militares contra os grevistas da Compa-<br />
nhia Si<strong>de</strong>rúrgica Nacional tinha o objetivo <strong>de</strong> criar uma situa-<br />
ção <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> institucional impedindo a realização das<br />
eleições municipais. De acordo com esta avaliação, o episó-<br />
dio que resultou na morte <strong>de</strong> três operários, longe <strong>de</strong> ter sido<br />
provocado por um excesso localizado do comando da ope-<br />
ração diante da resistência dos trabalhadores, foi uma ofen-<br />
siva <strong>de</strong> setores golpistas no interior das Forças Armadas.<br />
Alguns dos argumentos que fundamentam esta conclusão<br />
po<strong>de</strong>rão ser encontrados na edição especial do boletim na-<br />
cional da CUT ("Volta Redonda, os fatos na voz dos traba-<br />
lhadores") que circulará nas próximas semanas. É uma es-<br />
pécie <strong>de</strong> resposta à versão apresentada recentemente pelo<br />
"Noticiário do Exército", e veiculado na imprensa, on<strong>de</strong> o<br />
Ministério do Exército explica a ação das tropas e sustenta a<br />
tese da utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> guerrilha urbana pelos ope-<br />
rários amotinados no interior da usina da CSN.<br />
Custódia - A análise do movimento sindical sobre a pre-<br />
sença cada vez maior dos militares nas questões trabalhistas<br />
(o eixo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões do governo em relação às greves da<br />
CSN, Light e petroleiros se <strong>de</strong>slocou do Palácio do Planalto<br />
para a Praça dos Três Po<strong>de</strong>res, on<strong>de</strong> fica o QG do Exército)<br />
<strong>de</strong>semboca nas seguintes constatações: -<br />
1 - Há, <strong>de</strong> fato, no nível da ação institucional das Forças<br />
Armadas, especialmente do Exército, o objetivo <strong>de</strong> ocupar o<br />
vácuo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r criado por um governo sem autorida<strong>de</strong> e<br />
ineficiente no enfrentamento dos problemas econômicos.<br />
2 - Este quadro coloca sob custódia das Forças Armadas<br />
o Governo Sarney, que tem nos militares hoje a sua principal<br />
base <strong>de</strong> sustentação, uma vez que carece <strong>de</strong> apoio das ruas,<br />
dcs partidos políticos e é abertamente questionado pelo em-<br />
presariado, preocupado com o <strong>de</strong>sdobramento da cnse<br />
econômica.<br />
3 - A situação facilita a ofensiva da direita golpista no inte-<br />
rior dos quartéis. Este setor é minoritário na disputa <strong>de</strong> in-<br />
fluência no Estado Maior do Exército. Mas é ativo e está bem<br />
situado em postos intermediários (em alguns casos mantendo<br />
sob influência alguns comandos <strong>de</strong> tropa) e vinculado dire-<br />
tamente aos organismos da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações,<br />
como o SNI e o Ciex.<br />
4 - Estes organismos se mantém ativos. O General Ivan <strong>de</strong><br />
Souza Men<strong>de</strong>s, um dos mais importantes articuladores do<br />
Planalto, não mantém controle sobre a Agência Central do<br />
SNI, em Brasília, que tem agora uma estrutura operacional<br />
maior do que no tempo do regime militar. Situação idêntica<br />
experimenta o Ciex, que realiza trabalho <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong><br />
informações e produção <strong>de</strong> análises que chegam direta-<br />
mente à presidência da República. Ao Ciex é atribuído a ela-<br />
boração <strong>de</strong> um dossiê envolvendo a CUT com um plano <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sestabilização do país. A greve da CSN seria parte <strong>de</strong>ste<br />
plano.<br />
Veja-14.12.88<br />
A primeira vez<br />
Massacre <strong>de</strong> Ipatinga<br />
ainda é tabu<br />
Houve pelo menos uma cida<strong>de</strong> que<br />
sentiu com a mesma intensida<strong>de</strong> o<br />
<strong>de</strong>sespero e o drama dos moradores <strong>de</strong><br />
Volta Redonda durante a invasão do<br />
Exército na Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica Na-<br />
cional, no mês passado, quando foram<br />
mortos três operários. Ipatinga, cida<strong>de</strong><br />
mineira a 300 quilômetros <strong>de</strong> Belo Hori-<br />
zonte, passou por uma situação seme-<br />
lhante há 25 anos. A Polícia Militar ma-<br />
tou um número até hoje não esclarecido<br />
<strong>de</strong> pessoas durante um conflito <strong>de</strong>ntro da<br />
Si<strong>de</strong>rúrgica Usiminas. A versão oficial<br />
diz que foram sete mortos. O sindicato<br />
dos metalúrgicos fala em mais <strong>de</strong> trinta.<br />
"Só eu contei 32 corpos e 117 feridos",<br />
contabiliza o ex-sindicalista Geraldo Ri-<br />
beiro. Os inquéritos abertos <strong>de</strong>pois do<br />
que ficou conhecido como "massacre <strong>de</strong><br />
Ipatinga" não <strong>de</strong>ram nenhum resultado e<br />
alguns dos operários que participaram do<br />
conflito tiveram suas vidas prejudicadas<br />
por bastante tempo. "Sofri muitas humi-<br />
lhações e minha família foi bastante pe-<br />
nalizada", queixa-se o mecânico José<br />
Vilas Novas.<br />
O conflito <strong>de</strong> Ipatinga não começou<br />
com greve ou piquetes, como na CSN.<br />
Tudo aconteceu por causa da truculência<br />
dos vigilantes da usina, que, na saída dos<br />
5 - A tese <strong>de</strong> ocupação do vácuo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r diante da cri-<br />
se <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> do governo é que explica a crescente pre-<br />
sença dos militares nos litígios surgidos com as greves e o<br />
progressivo esvaziamento do ministério do Trabalho - <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que Almir Pazzianoto foi para TST, o ministério está sem titu-<br />
lar. Isto substitui soluções negociadas, por soluções <strong>de</strong> con-<br />
fronto.<br />
Intervenções - Os dados recolhidos pelos sindicalistas,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a explosão grevista que atingiu 17 ministérios entre<br />
setembro e outubro, indicam que a alternativa da intervenção<br />
militar no movimento já tinha sido colocada na mesa. Mas al-<br />
guns pontos foram consi<strong>de</strong>rados para que a alternativa não<br />
fosse acionada, a) a incapacida<strong>de</strong> da tropa militar <strong>de</strong> intervir<br />
em movimento <strong>de</strong> massa sem provocar gran<strong>de</strong>s danos -<br />
mortes, feridos e <strong>de</strong>struição do patrimônio; b) A sensibilida<strong>de</strong><br />
do cenário: uma ação com este tipo <strong>de</strong> resultado em Brasília,<br />
provocaria uma gran<strong>de</strong> repercussão; c) a paralisação não<br />
atingia unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peso para a vida econômica do país; d)<br />
a imprensa, <strong>de</strong> certa maneira, trabalhava pela <strong>de</strong>smoraliza-<br />
ção do movimento e dos trabalhadores, ao registrar no boio<br />
do noticiário, evidência <strong>de</strong> gorduras na máquina admmstrati-<br />
va; e) por fim, os setores duros se contentaram porque as<br />
greves, ao atingirem serviços vinculados diretamente à po-<br />
pulação, contribuíam para passar a imagem <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />
autorida<strong>de</strong> do Governo, num clima <strong>de</strong> anarquia.<br />
Os dirigentes sindicais que realizaram a investigação ouvi-<br />
ram fontes militares, parlamentares e políticos ligados ao Go-<br />
verno. Eles ficaram convencidos <strong>de</strong> que a operação militar<br />
em Volta Redonda pretendia adiar as eleições, diante do<br />
prenuncio do avanço das esquerdas no pleito. Tratava-se,<br />
assim, <strong>de</strong> uma ação com <strong>de</strong>sdobramento imprevisíveis no<br />
caminho da instabilida<strong>de</strong> política. Volta Redonda também se-<br />
ria um palco mais que apropriado para servir <strong>de</strong> exemplo ao<br />
movimento como um todo - inclusive aos grevistas <strong>de</strong> outras<br />
estatais estratégicas, como a Petrobrás e a Light.<br />
Outro ponto ficaria claro: <strong>de</strong>finir os limites a que as Forças<br />
Armadas enten<strong>de</strong>m estarem submetidas na sua ação pela<br />
nova Constituição em vigor. Em <strong>de</strong>fesa do que consi<strong>de</strong>ram a<br />
lei e a or<strong>de</strong>m, as restrições do texto constitucional são <strong>de</strong>ixa-<br />
das <strong>de</strong> lado. Ainda <strong>de</strong> acordo com o exame <strong>de</strong> sindicalistas a<br />
intervenção em Volta Redonda, não conseguindo impedir as<br />
eleições, buscou sinalizar para as correntes políticas que<br />
emergiriam vitoriosas uma posição <strong>de</strong> força do Exército.<br />
No jogo <strong>de</strong> pressões a que está exposto o Planalto a re-<br />
percussão dos inci<strong>de</strong>ntes na CSN, <strong>de</strong> acordo com a avalia-<br />
ção do movimento sindical, estabeleceu um recuo provisório<br />
nas forças da direita militar interessadas no confronto. Um<br />
recuo que acabou sé refletindo na reabertura <strong>de</strong> negocia-<br />
ções e que fez com que o Governo <strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> enviar ao<br />
Congresso as medidas provisórias (que têm o valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
creto lei) para enquadrar os trabalhadores que estavam pa-<br />
ralisando ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas essenciais.<br />
operários, pediam documentos, <strong>de</strong>spiam<br />
alguns para ver se não estavam roubando<br />
algo e chegavam até a agredir os que rea-<br />
giam. No dia 6 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1963, a ir-<br />
ritação dos operários chegou ao máximo<br />
quando alguns vigilantes confiscaram o<br />
leite que cada um <strong>de</strong>les tem direito na<br />
saída do turno, por trabalhar em local<br />
insalubre. Um dos trabalhadores recusou-<br />
se a entregar seu litro e, agredido, revi-<br />
aou. üm outro foi preso e a Cavalaria da<br />
Polícia Militar foi chamada. Para piorar a<br />
situação, um policial foi baleado não se<br />
sabe por quem. A <strong>de</strong>terminada altura,<br />
uma metralhadora instalada em cima <strong>de</strong><br />
um caminhão começou a funcionar e<br />
atingiu inúmeras pessoas. Uma criança,<br />
atingida quando passava em frente d
^ ^<br />
Quinzena Trabalhadores<br />
usina, no entanto, foi morta por tiro <strong>de</strong><br />
revólver calibre 38. "A maioria dos feri-<br />
dos por tiros <strong>de</strong> metralhadora foi atingida<br />
dos joelhos para baixo", lembra-se Ge-<br />
raldo Ribeiro.<br />
José Vilas Novas, acertado no pé es-<br />
querdo e por vários estilhaços, chegou<br />
a ser incluído na primeira lista <strong>de</strong> mor-<br />
tos. Submetido a quatro cimrgias, aca-<br />
bou sobrevivendo e ainda hoje sofre os<br />
efeitos físicos da tragédia. "Meu mari-<br />
do era um atleta", conta sua mulher,<br />
Maria Auxiliadora. Depois do massacre<br />
Cenários - <strong>de</strong>z/88<br />
Com mais <strong>de</strong> 1,2 mil<br />
sindicatos filiados, abran-<br />
gendo uma representação<br />
superior a 10 milhões <strong>de</strong><br />
trabalhadores, a CUT<br />
controla no momento ca-<br />
tegorias estratégicas no<br />
plano nacional, exercen-<br />
do uma folgada hegemo-<br />
nia nas mais importantes<br />
empresas estatais e em<br />
ramos vitais da iniciativa<br />
privada. Para se ter uma<br />
idéia, 15 dos maiores sin-<br />
dicatos metalúrgicos, 10<br />
são cutistas; nos bancá-<br />
rios e telefônicos, são<br />
quatro entre cinco com<br />
maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo; en-<br />
tre os petroleiros, duas<br />
das cinco maiores enti-<br />
da<strong>de</strong>s são afinadas com<br />
a CUT; e finalmente nos<br />
químicos e petroquímicos,<br />
os três maiores ficam<br />
com a central sindical. O<br />
ponto mais fraco da CUT<br />
resi<strong>de</strong> na categoria dos<br />
comerciários, que englo-<br />
ba 6 milhões <strong>de</strong> pessoas.<br />
Estes números cons-<br />
tam <strong>de</strong> uma minuciosa<br />
radiografia feita por téc-<br />
nicos da CUT, Dieese e a<br />
Fase, uma entida<strong>de</strong> pró-<br />
xima da Igreja e que dá<br />
60 ^êT<br />
50<br />
40<br />
60<br />
50 50 50<br />
sua vida mudou radicalmente. "Eu vi-<br />
via bêbado, mexia com drogas e só<br />
queria vingança", afirma o próprio Vi-<br />
las. Nos anos seguintes, ele conseguiu<br />
tratamento em Belo Horizonte, traba-<br />
lhou como mecânico da Volkswagen,<br />
foi taxista e hoje é dono <strong>de</strong> uma peque-<br />
na oficina mecânica em Coronel Fabri-<br />
ciano, cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Ipatinga. Con-<br />
vertido em fervoroso membro da Igreja<br />
Batista do Calvário, Vilas não fala mais<br />
em vingança e se orgulha <strong>de</strong> seu passa-<br />
do. Em Ipatinga, o massacre <strong>de</strong> 25<br />
CUT avalia seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo<br />
assessoria aos sindicatos<br />
e movimentos comunitá-<br />
rios. Para chegar a esses<br />
números, a pesquisa to-<br />
mou por base 3.947 mil<br />
sindicatos, divididos entre<br />
o setor rural (2.795 mil),<br />
urbano (788) e 364 asso-<br />
ciações <strong>de</strong> funcionários<br />
públicos. Para obter este<br />
perfil, a CUT buscou in-<br />
formações também junto<br />
50 5»<br />
40<br />
X<br />
20<br />
10<br />
0<br />
—<br />
2»<br />
FUNCKMARIOS PúBLICOS<br />
'«<br />
— 36<br />
organizados em 22 sindi-<br />
catos e duas fe<strong>de</strong>rações<br />
<strong>de</strong> âmbito interestadual<br />
(Fenatel e Fittel), a força<br />
da CUT abrange uma fa-<br />
tia <strong>de</strong> 57,7% dos sindica-<br />
tos. Nas regiões Su<strong>de</strong>ste<br />
e Sul, on<strong>de</strong> está concen-<br />
trada quase 80% da ca-<br />
tegoria, a representação<br />
cutista supera os 60%.<br />
Petroleiros - Os da-<br />
— 36 wa<br />
anos atrás ainda é tabu para a popula-<br />
ção. "Até hoje as pessoas têm medo <strong>de</strong><br />
perseguições", acredita Vilas. Os dois<br />
inquéritos abertos acabaram não respon-<br />
sabilizando ninguém. Dos <strong>de</strong>zenove po-<br />
liciais envolvidos, dois <strong>de</strong>les, mais tar-<br />
<strong>de</strong>, foram con<strong>de</strong>corados e hoje estão na<br />
reserva. <strong>Sindical</strong>istas como Geraldo Ri-<br />
beiro foram cassados. Mas, este ano, os<br />
metalúrgicos <strong>de</strong> Ipatinga ganharam um<br />
representante na cida<strong>de</strong>: Chico Ferra-<br />
menta, que se elegeu pelo PT. •<br />
das mais importantes re-<br />
finarias do Pais, a Reduc,<br />
em Caxias. Mas, em<br />
compensação, no estado<br />
<strong>de</strong> São Paulo, responsá-<br />
vel por mais <strong>de</strong> 40% na<br />
refinação <strong>de</strong> petróleo no<br />
Brasil, dos cinco sindica-<br />
tos, quatro são da CUT,<br />
perfazendo 60% da re-<br />
presentação. Em termos<br />
nacionais, a representa-<br />
FUXCIOHAraOS PÚBIICOS<br />
50<br />
Tn ■ Tsn<br />
«<br />
30<br />
X<br />
'° r-ü~\ — 21<br />
o 1 » i 1<br />
Ef-j- "]~1 \ EfUriMBt d« CUT<br />
ao IBGE e ao Ministério<br />
do Trabalho.<br />
É o seguinte o perfil da<br />
representação da CUT<br />
entre as principais cate-<br />
gorias <strong>de</strong> trabalhadores:<br />
EMPRESAS<br />
ESTATAIS<br />
Telefônicos - Entre os<br />
108.158 mil trabalhadores<br />
PETROLEIROS METALÚRGICOS<br />
30 "ST<br />
20<br />
10<br />
0<br />
21<br />
5S<br />
61<br />
ao B<br />
70<br />
«0<br />
90<br />
40<br />
30<br />
ÍO<br />
1°<br />
0<br />
61<br />
dos indicam que a central<br />
controla 61% dos sindica-<br />
tos. E em todas as re-<br />
giões do País, a fatia os-<br />
cila entre 50 a 66%. Cu-<br />
riosamente, na Su<strong>de</strong>ste, a<br />
representação cai para<br />
21,2%, pesando espe-<br />
cialmente a fragilida<strong>de</strong> no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, estado<br />
on<strong>de</strong> está sediada a Pe-<br />
trobrás e que abriga uma<br />
33 ■JB — — 28<br />
^XEAdadaxl 1 % R«pie». Cutma |%EMIdK)s(taCUT ~] Tt Reprea. Cufela<br />
48<br />
V<br />
31<br />
50<br />
—<br />
ção cutista abrange 30%<br />
da categoria. Essa força<br />
no maior estado dá fe<strong>de</strong>-<br />
ração é tão gran<strong>de</strong>, que o<br />
prefeito eleito <strong>de</strong> Campi-<br />
nas, Jacó Bittar, é a prin-<br />
cipal li<strong>de</strong>rança da catego-<br />
ria.<br />
Processamento <strong>de</strong><br />
Dados - Dos 88.693 mil<br />
trabalhadores organiza-<br />
dos em 13 entida<strong>de</strong>s es-<br />
taduais, sindicais e asso-<br />
ciações, pelo menos<br />
84,6% respon<strong>de</strong>m à orien-<br />
tação da central.<br />
Trabalhadores nas<br />
Indústrias Urbanas - A<br />
CUT tem uma participa-<br />
ção relativamente mo<strong>de</strong>s-<br />
ta nas categorias que<br />
operam com energia el^^
Quinzena<br />
trica, água e esgoto, gás<br />
e energia nuclear. A Cen-<br />
tral tem em torno <strong>de</strong> um<br />
terço tanto em número<br />
<strong>de</strong> sindicatos, como <strong>de</strong><br />
representação da base.<br />
Vale lembrar que o cha-<br />
mado sindicalismo <strong>de</strong> re-<br />
sultados, ligado á CGT,<br />
exerce um controle efeti-<br />
vo <strong>de</strong>ste segmento, em<br />
São Paulo, sob a li<strong>de</strong>ran-<br />
ça <strong>de</strong> Antônio Rogério<br />
Magri.<br />
SERVIÇO PÚBLICO<br />
Responsável por mais<br />
<strong>de</strong> 3,8 milhões <strong>de</strong> empre-<br />
gos, a administração pú-<br />
blica é um setor on<strong>de</strong><br />
pouco a pouco a central<br />
vem ocupando espaços<br />
importantes e a maior<br />
prova disso foi a recente<br />
greve nos 14 ministérios,<br />
em Brasília. A radiografia<br />
aponta que a central con-<br />
trola nada mais nada me-<br />
nos que 35,8% daqueles<br />
trabalhadores, através<br />
.das associações. A pior<br />
representação fica com a<br />
região Norte, com apenas<br />
8%. Já no Su<strong>de</strong>ste, a fa-<br />
tia sobe para 58% e é<br />
precisamente nesta re-<br />
gião que se concentra<br />
uma parte expressiva dos<br />
funcionários públicos.<br />
X<br />
20<br />
0<br />
20<br />
14<br />
3 * E/omoo da CUT<br />
-<br />
BANCÁRIOS<br />
16<br />
31<br />
— 2<br />
INDUSTRIA<br />
Químicos e Petro-<br />
químicos - Segundo a<br />
pesquisa, praticamente<br />
todos os sindicatos mais<br />
estratégicos são contro-<br />
lados pela central. São<br />
eles- São Paulo, ABC<br />
paulista^ Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul-e Bahia.<br />
P^ETALURGICOS<br />
Concentração da Categoria<br />
Outras Regiões (8,0%<br />
Metalúrgicos - Os<br />
trabalhadores nas indús-<br />
trias metalúrgicas, eletro-<br />
eletrõnica, mecânica e<br />
material <strong>de</strong> transporte<br />
somam hoje 1,7 milhão,<br />
distribuídos por mais <strong>de</strong><br />
28 mil empresas, 38%<br />
<strong>de</strong>las na produção mecâ-<br />
nica e <strong>de</strong> material elétri-<br />
co-eletrônico. O braço da<br />
CUT alcança 50,5% dos<br />
—<br />
— -:>>^:-:::o:->:-:-::-:-::>:-:-:<br />
Trabalhadores<br />
trabalhadores e 31,7%<br />
dos sindicatos. A diferen-<br />
ciação dos índices, res-<br />
salvam os autores da<br />
pesquisa, ocorre em ra-<br />
zão da pulverização da<br />
estrutura sindical. É que<br />
são 164 sindicatos, dos<br />
quais 78% são localiza-<br />
dos nas regiões Sul e Su-<br />
<strong>de</strong>ste. Um dado curioso:<br />
a CUT tem uma represen-<br />
tação bem superior em<br />
termos proporcionais no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> os<br />
quatro maiores sindicatos<br />
seguem a sua orientação,<br />
correspon<strong>de</strong>ndo a 90%<br />
da categoria no estado.<br />
Já em São Paulo, berço<br />
da central, a representa-<br />
ção alcança somente um<br />
terço dos metalúrgicos<br />
em função basicamente<br />
da hegemonia exercida<br />
pela CGT na maior enti-<br />
da<strong>de</strong> do país, situada na<br />
capital.<br />
SERVIÇOS<br />
Transporte e comér-<br />
cio - É um segmento que<br />
emprega mais <strong>de</strong> 850 mil<br />
pessoas e na parte aérea<br />
e marítimo-fluvial. A pre-<br />
sença da CUT é tida co-<br />
mo frágil, embora na área<br />
terrestre controle os qua-<br />
tro sindicatos <strong>de</strong> metro-<br />
BANCAm»<br />
60 , «<br />
50<br />
AO<br />
:c<br />
vl^N ^<br />
^«^<br />
c<br />
16<br />
19<br />
Norte Noroeste<br />
__] % ftepfe». CuinU<br />
23<br />
36<br />
m,<br />
Sindiluta-20/12/88.<br />
ÍSlSiiiiiliíi;^^<br />
viários - São Paulo, Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Sul, Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e Pernambuco. A<br />
Central tem, também,<br />
uma presença firme entre<br />
os ferroviários, abrangen-<br />
do a totalida<strong>de</strong> do Rio e<br />
Espírito Santo e um boa<br />
representação em Minas<br />
Gerais. Nestes dois últi-<br />
mos estados, a principal<br />
empresa é a Vale do Rio<br />
Doce.<br />
Comerciários - É a<br />
pior representação cutis-<br />
ta, apesar da categoria<br />
abranger 6 milhões <strong>de</strong><br />
pessoas. Levando em<br />
conta apenas os 182 sin-<br />
dicatos <strong>de</strong> comerciários -<br />
há entida<strong>de</strong>s representa-<br />
tivas também dos traba-<br />
lhadores em hotelaria, tu-<br />
rismo e estabelecimentos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> -, a força da<br />
central está restrita ape-<br />
nas a 31, correspon<strong>de</strong>ndo<br />
a 130 mil pessoas.<br />
Bancários - Repre-<br />
senta hoje um dos princi-<br />
pais pólos <strong>de</strong> sustenta-<br />
ção da CUT, com <strong>de</strong>sta-<br />
que para São Paulo, Rio e<br />
Porto Alegre. Cerca <strong>de</strong><br />
um quarto ds entida<strong>de</strong>s é<br />
controlada pela central, o<br />
que correspon<strong>de</strong> 52,1%<br />
dos trabalhadores do se-<br />
tor.<br />
SETOR RURAL<br />
Por <strong>de</strong>ficiência dos<br />
dados, representou a par-<br />
te mais falha da radiogra-<br />
fia. Os números apurados,<br />
que, segundo os autores<br />
estariam subestimados,<br />
indicam que a CUT con-<br />
trola 12,7% dos sindica-<br />
tos e 18,9% dos trabalha-<br />
dores.
Quinzena<br />
ISER/UERJ - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
CONJUNTURA ÜA IGREJA<br />
CATÓLICA DO BRASIL/88<br />
Pedro A. Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />
ISER/UERJ - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Há três anos, fazendo uma análise<br />
<strong>de</strong> conjuntura eclesiástica (cfr.Tempo<br />
e Presença, 203, nov.85) eu assinala-<br />
va a consolidação do "bloco integris-<br />
ta" e fazia um prognóstico <strong>de</strong> intensi-<br />
ficação do seu combate contra o "blo-<br />
co da libertação", culminando numa<br />
crise <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções. Consta-<br />
ta-se hoje que só em parte aquela<br />
análise era correta. O "bloco integris-<br />
ta" - composto pela burocracia roma-<br />
na, os arcebispos e bispos ditos con-<br />
servadores, os movimentos espiritua-<br />
listas (aos quais hoje se junta o "lu-<br />
men 2.000") e o Papa Woytila - <strong>de</strong> fa-<br />
to consolidou-se e intensificou seu<br />
combate aos que se i<strong>de</strong>ntificam com<br />
o projeto da Igreja dos Pobres. A cri-<br />
se, porém, não aconteceu. Ao invés<br />
da estratégia <strong>de</strong> aniquilamento, que<br />
se <strong>de</strong>scortinava há três anos atrás, o<br />
"bloco" optou por um combate lento,<br />
gradual e seguro, evitando o confronto<br />
direto. É provável que tal estratégia<br />
tenha sido imposta pelo próprio Papa,<br />
que certamente não <strong>de</strong>sejaria passar<br />
para a História como o Papa do cisma<br />
latino-americano. Sua carta aos bis-<br />
pos brasileiros, qualificando a Teolo-<br />
gia da Libertação <strong>de</strong> "útil e necessá-<br />
ria" foi um sinal claro <strong>de</strong>ssa estraté-<br />
gia, que visa <strong>de</strong>smontar o setor po-<br />
pular através da "guerra <strong>de</strong> posições".<br />
Mas o combate ao projeto <strong>de</strong> Liber-<br />
tação não esmoreceu. Ele segue uma<br />
linha nítida como se verifica nas no-<br />
meações <strong>de</strong> arcebispos e car<strong>de</strong>ais: só<br />
homens <strong>de</strong> confiança do "bloco" che-<br />
gam a posições <strong>de</strong> cúpula na hierar-<br />
quia católica. ( A honrosa exceção <strong>de</strong><br />
D.Luciano Men<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> explicar-se<br />
pela conveniência <strong>de</strong> afastá-lo <strong>de</strong> São<br />
Paulo, removendo-o para uma arqui-<br />
diciocese bem isolada). Parte <strong>de</strong>ssa<br />
mesma linha <strong>de</strong> combate é a tentati-<br />
va <strong>de</strong> esvaziamento da CNBB. Além<br />
da <strong>de</strong>slegitimação teológica das con-<br />
ferências episcopais em geral, perce-<br />
be-se interferências diretas da cúria<br />
romana nos assuntos internos da<br />
igreja do Brasil, como para <strong>de</strong>mons-<br />
trar que não faz cerimônia com a<br />
CNBB. Enfim, as intervenções mais<br />
graves <strong>de</strong> 88 - a divisão da Arquidio-<br />
cese <strong>de</strong> São Paulo e a intimação a D.<br />
Pedro Casaldáliga - revelam uma polí-<br />
tica <strong>de</strong> intimidação das figuras mais<br />
eminentes da Igreja <strong>de</strong> Libertação. A<br />
cúria romana vem, assim, intimidando<br />
os bispos alinhados ao projeto da<br />
Igreja dos Pobres. Dentro <strong>de</strong>ssa estra-<br />
tégia, o "bloco" estaria forçando estes<br />
bispos a reprimirem suas próprias ba-<br />
ses, impedindo que elas avançassem<br />
na caminhada libertadora.<br />
Esse conjunto <strong>de</strong> medidas assinala<br />
que o campo <strong>de</strong> combate ao projeto<br />
da Igreja dos Pobres mudou. O terre-<br />
no principal já não é mais a produção<br />
teológica, mas os próprios nódulos do<br />
po<strong>de</strong>r eclesiástico, que são as se<strong>de</strong>s<br />
episcopais. Hoje o alvo principal do<br />
"bloco" são bispos, ou melhor, as figu-<br />
ras mais atuantes nas cúpulas epis-<br />
copais.<br />
Enquanto isso os movimentos espi-<br />
ritualistas vão avançando e conquis-<br />
tando espaço, até mesmo nas CEBs,<br />
com o apoio mais ou menos aberto<br />
do "bloco". Não é por acaso que o<br />
car<strong>de</strong>al Salles começou sua entrevis-<br />
ta exclusiva ao "O Globo" com uma<br />
boa risada...(cfr. O Globo, 2/out.88).<br />
Ele se mostra muito bem-humorado e<br />
seguro <strong>de</strong> si. Diz, por exemplo, que a<br />
Arquidiocese do Rio <strong>de</strong> Janeiro segue<br />
a Teologia da Libertação. Declarações<br />
<strong>de</strong>sse teor <strong>de</strong>ixam entrever que o<br />
"bloco integrista" tem controle da si-<br />
tuação. Terá mesmo?<br />
Para uma avaliação correta da<br />
conjuntura eclesiástica, precisamos<br />
traçar um quadro globalizante da<br />
Igreja Católica e suas relações com<br />
as forças sociais. O esquema seguin-<br />
te po<strong>de</strong> ajudar-nos a visualizar a si-<br />
tuação:<br />
-—-— —<br />
' íííífSíííí<br />
Sínta Sé^<br />
bispos<br />
intearistas ' CNBBXXX.<br />
T ' ' í<br />
,,. | bispos e<br />
X ag. pastorais<br />
clero /><br />
' Libertação<br />
I I<br />
Movimentos %> CEBs e past.<br />
espirituais ^populares T<br />
>;x>6
-.<br />
»<br />
Quinzena |g Trabalhadores<br />
siásticas pararelas. A primeira, mais<br />
antiga (e que dava a impressão <strong>de</strong> es-<br />
tar fraca, mas que hoje <strong>de</strong>monstra<br />
espontosa vitalida<strong>de</strong>) é a estrutura<br />
Paroquial Ela preserva o po<strong>de</strong>r do<br />
clérigo, mas coaduna-se bem com os<br />
movimentos espiritualistas <strong>de</strong> leigos,<br />
e inscreve-se no projeto restaurador,<br />
que visa manter a autorida<strong>de</strong> hierár-<br />
quica e a ortodoxia anterior ao Conci-<br />
lio Vaticano II. Não é difícil notar o<br />
apreço dos movimentos espiritualis-<br />
tas, do "alto clero" (vigários <strong>de</strong> matri-<br />
zes urbanas), das religiosas estabele-<br />
cidas em colégios e obras sociais, e<br />
<strong>de</strong> todo o "blobo integrista", pela es-<br />
trutura paroquial. Nela, uma hierarquia<br />
<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> incontestável assegura<br />
a sã doutrina e a distribuição dos sa-<br />
cramentos, numa perspectiva <strong>de</strong> Sal-<br />
vação individual.<br />
A outra estrutura é a da Igreja <strong>de</strong><br />
CEBs". Tendo por base as CEBs, e<br />
animada pelas diversas Pastorais Po-_<br />
Greves<br />
AÇOMINAS<br />
A assembléia realizada dia 23/11<br />
por 3.500 dos 6.200 metalúrgicos da<br />
usina da Açominas, em Ouro Branco<br />
(MG), aprovou a contra-proposta do<br />
ministro da Indústria e do Comércio,<br />
Roberto Cardoso Alves, <strong>de</strong> um rea-<br />
juste <strong>de</strong> 15%, mais 4% <strong>de</strong> produtivi-<br />
da<strong>de</strong> e 92,98% do úidice <strong>de</strong> preços ao<br />
consumidor integral do período, e ga-<br />
rantia do pagamento da diferença <strong>de</strong><br />
11,06% do resíduo <strong>de</strong> 26,06% do Pla-<br />
no Bresser. (Fonte: Jornal do Brasil).<br />
VITÓRIA NA TABU<br />
Os cmpanheiros da Viação Tabu<br />
<strong>de</strong>ram um belo exemplo para toda a<br />
categoria dos Condutores <strong>de</strong> São<br />
Paulo: fizeram três dias <strong>de</strong> greve e<br />
conquistaram quase todas as suas rei-<br />
vindicações. O pessoal ficou parado 3<br />
dias. Com isso, a empresa ce<strong>de</strong>u e o<br />
acordo foi assinado no dia 02/01/89.<br />
Gran<strong>de</strong> parte das reivindicações con-<br />
quistadas são direitos trabalhistas que<br />
o patrão vinha sonegado como: Paga-<br />
mento do salário <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Paga-<br />
pu lares, essa "Nova forma <strong>de</strong> ser<br />
Igreja", engloba agentes <strong>de</strong> pastoral<br />
leigos e religiosos, religiosas inseridas<br />
na pastoral, sacerdotes e bispos,<br />
promovendo uma forma participativa<br />
e ecumênica da' Igreja. Bem nítida nas<br />
bases, ela vai tomando-se mais flua à<br />
medida em que atinge os níveis mais<br />
elevados da hierarquia eclesiástica;<br />
porém, é o seu projeto que predomina<br />
na CNBB. A importância do Brasil no<br />
mundo católico, e as múltiplas ex-<br />
pressões <strong>de</strong>sse projeto eclesial nou-<br />
tros países, tomam a CNBB o alvo<br />
prioritário das investidas da Santa Sé,<br />
cuja <strong>de</strong>fesa do mo<strong>de</strong>lo paroquial e<br />
monárquico é intransigente. Daí as<br />
tensões que hoje se constata entre a<br />
Santa Sé e a CNBB, os bispos da Li-<br />
bertação e todos os grupos alinhados<br />
ao projeto da' Igreja dos Pobres.<br />
Os conflitos entre as duas estrutu-<br />
ras eclesiásticas são hoje claros. Nas<br />
bases, registram-se embates entre os<br />
movimentos espiritualistas e as CEBs<br />
mento <strong>de</strong> férias antes do gozo das<br />
mesmas, Cumprir o horário <strong>de</strong> refei-<br />
ção <strong>de</strong> 30 minutos mais 5 minutos pa-<br />
ra embarque <strong>de</strong> passageiros etc.<br />
(Fonte: O Veículo, Jan/89).<br />
JOGO DURO<br />
O Grupo Votorantim, do empresá-<br />
rio Antônio Ermírio <strong>de</strong> Moraes, en-<br />
frentou nos últimos meses uma das<br />
greves mais longas já experimentadas<br />
por uma <strong>de</strong> suas empresas. Em Ni-<br />
quelândia (GO), uma greve <strong>de</strong> 39 dias<br />
paralisou as ativida<strong>de</strong>s da Níquel To-<br />
cantins - do Grupo Votorantim - e da<br />
Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento Mi-<br />
neral (Co<strong>de</strong>min) - do Grupo Anglo-<br />
América -, sem que se conseguisse<br />
chegar a um acordo com os 2.500 tra-<br />
balhadores.<br />
A cida<strong>de</strong>, com cerca <strong>de</strong> 30 mil ha-<br />
bitantes, acabou parando junto com os<br />
trabalhadores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia da <strong>de</strong>creta-<br />
ção da greve, em 11 <strong>de</strong> novembro, até<br />
os dias 22 e 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando<br />
foram pagos os salários <strong>de</strong> novembro,<br />
<strong>de</strong>zembro e o 13 2 salário pela Níquel<br />
Tocantins e a Co<strong>de</strong>min.<br />
O Sindicato dos Trabalhadores da<br />
Indústria <strong>de</strong> Extração <strong>de</strong> Níquel rei-<br />
vindicava, em novembro, um reajuste<br />
<strong>de</strong> 119,2% sobre o piso salarial, <strong>de</strong><br />
Cz$ 34 mil. As empresas ofereceram<br />
75% <strong>de</strong> reajuste, dos quais seriam<br />
<strong>de</strong>scontados os 12% <strong>de</strong> antecipação<br />
e pastorais populares. Nos níveis in-<br />
termediários, vemos o "alto clero" e<br />
as religiosas opondo resistência aos<br />
bispos da Libertação. Na cúpula, es-<br />
tão os bispos, arcebispos e car<strong>de</strong>ais<br />
do "bloco" se contrapondo publica-<br />
mente à CNBB. Embora não esteja<br />
no horizonte a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />
cisma, é certo que os conflitos se<br />
agravaram este ano. O "bloco" não<br />
está tão forte quanto dá a enten<strong>de</strong>r o<br />
Car<strong>de</strong>al Salles, mas sua posição é<br />
hoje bem favorável.<br />
Nota: Por motivo <strong>de</strong> espaço esta-<br />
mos publicando este texto em duas<br />
partes. No próximo número da QUIN-<br />
ZENA publicaremos a 2? parte que<br />
tem como objetivo formular um prog-<br />
nóstico dos prováveis <strong>de</strong>sdobramen-<br />
tos <strong>de</strong>sses conflitos e um encami-<br />
nhamento para o setor alinhado com<br />
a Igreja dos Pobres.<br />
concedidos anteriormente. Como ne-<br />
nhuma das empresas voltou atrás, a<br />
greve prosseguiu até o dia 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
zembro, quando o Sindicato fechou<br />
acordo verbal aceitando reajuste <strong>de</strong><br />
60% e <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 32 dias parados,<br />
até outubro <strong>de</strong>ste ano. A Co<strong>de</strong>min<br />
aceitou não punir os grevistas, mas a<br />
Níquel Tocantins já <strong>de</strong>mitiu 60 traba-<br />
lhadores que participaram do movi-<br />
mento.<br />
INSALUBRIDADE<br />
E PERICULOSIDADE<br />
Os trabalhadores em água e esgoto<br />
da Bahia, dos setores <strong>de</strong> Operação e<br />
Manutenção, fizeram uma greve em<br />
<strong>de</strong>zembro reivindicando o pagamento<br />
dos adicionais <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> e pe-<br />
riculosida<strong>de</strong> conquistados no acordo<br />
coletivo da categoria em agosto <strong>de</strong><br />
1988. O resultado do processo <strong>de</strong> ne-<br />
gociação, que culminou com o térmi-<br />
no da greve, foi a criação <strong>de</strong> uma co-<br />
missão paritária para fazer a perícia na<br />
empresa, o pagamento dos adicionais<br />
<strong>de</strong> acordo com o tempo em que o tra-<br />
balhador ficar exposto à área <strong>de</strong> risco<br />
na empresa, além <strong>de</strong> serem abonados<br />
os dias em que os trabalhadores esti-<br />
veram em greve. (Fonte: Sindicato dos<br />
Trabalhadores em Água e Esgoto da<br />
Bahia, Gotad'água, <strong>de</strong>z/88). _^
: : ::::::::í::x::í::;-;í:<br />
Quinzena Trabalhadores<br />
CIAS. <strong>de</strong><br />
ELETRICIDADE<br />
Data-base «eposlçío<br />
perdas<br />
ELETRIOTÁRIOS: RESULTADO DAS GREVES<br />
Produtivida<strong>de</strong><br />
(aumento real)<br />
URPdo<br />
databas*<br />
Perda Plano<br />
Bresser<br />
LIGHT-RIO outubro 65,23% 4% - 26,06% 116%<br />
FURNAS novembro 53,74% ■4%<br />
CELESC (Sta<br />
Catarina)<br />
flaajuste<br />
Total<br />
Outras Cooqulstafi<br />
—<br />
Estabilida<strong>de</strong> por 12 meses 2 salários <strong>de</strong><br />
abono pi compensar perdas do ano<br />
(80% URP<br />
<strong>de</strong>zembro) - 93% Não punição grevistas<br />
outubro 65,21% 4% (21,39 URP<br />
NOVEMBRO) - 106% Garantia <strong>de</strong> emprego<br />
COPEL (Paraná) outubro 43,68% 3,11% — - 48%<br />
CELPE<br />
(Pernambuco<br />
CEMIG (Minas<br />
Gerais)<br />
novembro 46,22% 4% (85% URP<br />
novembro) - 80%<br />
outubro 66,08% 4% — 26,06% 118%<br />
ELETRONORTE novembro 66,08% 8,8% — - 80%<br />
ELETROBRÁS novembro 53,75% 4,8% — 15% 86%<br />
COELBA (Bahia) novembro 66,08% 0,8%<br />
CHESP novembro 66,08% 0,8%<br />
ELETROSUL:<br />
UMA GRANDE VITÓRIA<br />
Os companheiros da Eletrosul<br />
acabam <strong>de</strong> encerrar sua Campanha<br />
Salarial após uma greve <strong>de</strong> 37 dias.<br />
Não foi apenas a greve mais longa<br />
do setor energético. A história <strong>de</strong>sse<br />
movimento mostra por um lado que o<br />
objetivo do governo da "Nova Repú-<br />
blica" é ignorar a Constituição apro-<br />
vada e tentar <strong>de</strong>struir a organização<br />
dos trabalhadores. Quando organiza-<br />
dos, os trabalhadores são capazes<br />
<strong>de</strong> resistir e impedir que seus direitos<br />
sejam roubados.<br />
A gran<strong>de</strong> e maior reivindicação<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio da Campanha era a<br />
manutenção da garantia <strong>de</strong> emprego<br />
nos termos do acordo anterior, ou se-<br />
ja, os únicos motivos para <strong>de</strong>missão<br />
era falta grave (justa causa) ou<br />
razões técnico-financeiras <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
comprovado por parte da empresa.<br />
Ao não ver esta e as outras<br />
reivindicações atendidas, a categoria<br />
<strong>de</strong>cidiu ir a greve e após 10 dias <strong>de</strong><br />
paralização a direção da Eletrosul<br />
respon<strong>de</strong>u com um violento processo<br />
repressivo, iniciando <strong>de</strong>missões em<br />
massa. Foram 70 companheiros <strong>de</strong>mi-<br />
tidos, sendo 55 contratados e 15 efeti-<br />
vos (operadores). Além disso foram<br />
aplicadas 44 punições, sendo 2 adver-<br />
tências e 42 suspensões do contrato<br />
<strong>de</strong> trabalho (7 a 20 dias).<br />
Ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>mitia os<br />
trabalhadores, a Eletrosul interviu no<br />
controle da manutenção e operação do<br />
sistema, até então a cargo do Sindica-<br />
to, que cumpria <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> assembléia,<br />
<strong>de</strong> manter o sistema em funcionamen-<br />
to. Para isso a empresa constituiu o<br />
chamado "Coroando Delta", compos-<br />
(95% URP<br />
<strong>de</strong>zembro) - 109%<br />
já havia conquistado antecipaçftes du-<br />
rante ano.<br />
MOCe estuda admissões atuais.<br />
Estabilida<strong>de</strong> por 60 dias. Não punição<br />
grevistas. Inflação atingir 30% dispara<br />
gatilho<br />
Nâo punição grevistas. Pagamento <strong>de</strong> 50%<br />
dos 7 dias parados. Admitir a MOC<br />
Pagamento <strong>de</strong> curva salarial<br />
Pagamento <strong>de</strong> curva salarial (reajuste)<br />
média <strong>de</strong> 31%<br />
Nâo punição 31 dias <strong>de</strong> greve Dissídio<br />
na justiça<br />
(26,05 URP<br />
<strong>de</strong>zembro) - 111% Não punição grevistas. Empresa paqa 15<br />
dias parados.<br />
to por chefias e técnicos chamados<br />
<strong>de</strong> outras empresas como a CELESC<br />
e Itaipu, o que colocou o sistema em<br />
situação <strong>de</strong> alto risco, pois até enge-<br />
nheiro florestal e sanitarista passaram<br />
a operar as usinas.<br />
A escalada repressiva, sem limites,<br />
empregada pela Eletrosul visava cla-<br />
ramente forçar o retorno ao trabalho,<br />
<strong>de</strong>rrotar o movimento e com isso<br />
<strong>de</strong>sgastar o Sindicato junto a catego-<br />
ria.<br />
Os companlieiros, no entanto, não<br />
se ren<strong>de</strong>ram à violência e à repressão<br />
e <strong>de</strong>cidiram manter a greve, <strong>de</strong>finindo<br />
como priorida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> então,<br />
a luta pelas readmissões.<br />
Foram feitas gestões junto aos par-<br />
lamentares, <strong>de</strong>putados e senadores vi-<br />
sando abrir negociações via mediação<br />
do Ministério do Trabalho, Minas<br />
e Energia e a própria Presidência da<br />
República.<br />
Diante da total irresponsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos os setores governamentais,<br />
uma nova. proposta surgiu no movi-<br />
mento, que ilustra bem seu nivel <strong>de</strong><br />
politização: 39 companheiros optaram<br />
voluntariamente pela a<strong>de</strong>são a uma<br />
greve <strong>de</strong> fome, que teve duração <strong>de</strong><br />
8 dias.<br />
Foi preciso por em risco a saú<strong>de</strong><br />
e a vida <strong>de</strong> tantos trabalhadores para<br />
forçar a mudança <strong>de</strong> posição e o recuo<br />
dos "governantes".<br />
Novas gestões feitas com a interme-<br />
diação direta da Central Única dos<br />
Trabalhadores levaram á uma reunião<br />
entre Sindicato. CUT e a presidência<br />
da Eletrosul, <strong>de</strong> onae sairia a proposta<br />
que reverteria a situação.<br />
A luta travada cm 37 dias <strong>de</strong> greve,<br />
foi amplamente compensada pelos<br />
resultados finais: transformação das<br />
70 <strong>de</strong>missões em 64 suspensões do<br />
contrato <strong>de</strong> trabalho por 10 dias e 6<br />
afastamentos do trabalho com aber-<br />
tura <strong>de</strong> inquérito, mantendo venci-<br />
mento; transformação das 42 suspen-<br />
sões em advertências e manutenção<br />
da garantia <strong>de</strong> emprego por 1 ano.<br />
No campo econômico, as conquistas<br />
também foram expressivas: IPC inte-<br />
gral (66,08%), Produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 4»7o e<br />
um ganho real <strong>de</strong> 15%, totalizando<br />
98,63%.<br />
Foi sem duvida uma vitória históri-<br />
ca, sobre a qual nos congratulamos<br />
pela combativida<strong>de</strong> e disposição <strong>de</strong> lu-<br />
ta dos companheiros e por enten-<br />
<strong>de</strong>rmos tratar-se <strong>de</strong> um salto <strong>de</strong> quali-<br />
da<strong>de</strong> no encaminhamento das formas<br />
organizadas <strong>de</strong> luta, que certamente<br />
contribuirá para o acúmulo <strong>de</strong> expe-<br />
riências da classe trabalhadora.<br />
(Fonte: Nós, Boletim da Associação<br />
dos Empregados da CESP, <strong>de</strong>z/88)
Curtas<br />
A TRILHA DA IMPUNIDADE<br />
A CPT (Comissão Pastoral da Ter-<br />
ra) divulgou no dia 03/01/89 uma lista<br />
<strong>de</strong>nunciando que apenas no período<br />
<strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> novembro a 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
do ano passado, 11 pessoas foram as-<br />
sassinadas por conflitos <strong>de</strong> terra: 5 la-<br />
vradores na Bahia, 2 posseiros em<br />
Goiás, 1 advogado no Pará, 1 criança<br />
<strong>de</strong> seis meses, filha <strong>de</strong> lavradores<br />
baianos. Ali 5 vítima foi o ecologista<br />
e sindicalista Chico Men<strong>de</strong>s. (Fonte:<br />
Folha Bancária, 04/01/89).<br />
PREFEITO SOFRE ATENTADO<br />
EM MATO GROSSO<br />
O prefeito <strong>de</strong> Porto Alegre do<br />
Norte, Mato Grosso, Rodolfo Alexan-<br />
dre Inácio, o "Cascão", foi vítima <strong>de</strong><br />
um atentado a bala no ultimo dia 20.<br />
Seu carro recebeu pelo menos 30 ba-<br />
las, disparadas por cinco pistoleiros<br />
da região. No atentado, Cascão sofreu<br />
dois tiros, sendo também ferido seu<br />
segurança. Sua mulher, que também<br />
estava no carro, conseguiu sair ilesa.<br />
Internado no hospital municipal, o<br />
prefeito Cascão revelou que o man-<br />
dante do crime foi o membro da DDR<br />
e candidato <strong>de</strong>rrotado a prefeito Luiz<br />
Machado, conhecido na cida<strong>de</strong> como<br />
"Luiz Bang-bang".<br />
Velho Conflito<br />
Além da <strong>de</strong>rrota que o prefeito Ro-<br />
dolfo Alexandre impôs a Luiz Bang-<br />
bang, nas últimas eleições, fazendo<br />
seu sucessor o ex presi<strong>de</strong>nte do Sindi-<br />
cato <strong>de</strong> trabalhadores Rurais, Pedro<br />
Fernan<strong>de</strong>s, o pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong>ssa<br />
tentativa <strong>de</strong> assasinato é o conflito<br />
entre posseiros e latifundiários. Du-<br />
rante os seis anos <strong>de</strong> mandato, Cascão<br />
<strong>de</strong>senvolveu um programa <strong>de</strong> apoio<br />
aos cerca <strong>de</strong> três mil posseiros do mu-<br />
nicípio. O apoio aos pequenos pro-<br />
dutores fez do prefeito um alvo cons-<br />
tante dos membros da UDR- conforme<br />
constantes <strong>de</strong>núncias feitas por Cas-<br />
cão.<br />
Três dias após o atentado, foram<br />
capturados os pistoleiros "Ferreiri-<br />
nha" e "Mato Grosso", que confessa-<br />
ram sua participação no atentado e<br />
que agiram a mando <strong>de</strong> Luiz Bang-<br />
bang, que não foi encontrado pela po-<br />
lícia.<br />
Espera-se que com a confissão dos<br />
pistoleiros a Polícia possa chegar a<br />
outros crimes praticados por latifun-<br />
diários da região inclusive o massacre<br />
<strong>de</strong> posseiros ocorrido há cerca <strong>de</strong><br />
quatro anos. (Fonte: Aconteceu,<br />
nov./<strong>de</strong>z./88).<br />
FUNDADO O COMnÉ<br />
DO MERCÚRIO<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> discutir a am-<br />
plitu<strong>de</strong> o uso e dos riscos do mercúrio<br />
na indústria e em outras ativida<strong>de</strong>s,<br />
foi fundado, em setembro, pela Fun-<br />
dacentro (órgão técnico do Ministério<br />
do Trabalho), o Comitê <strong>de</strong> Estudos do<br />
Mercúrio. A composição <strong>de</strong>sse Comitê<br />
é tripartite, formada por representan-<br />
tes dos trabalhadores, patrões e go-<br />
verno.<br />
Do lado patronal, a representação<br />
está a cargo <strong>de</strong> um membro do SESI,<br />
um do Sinproquim (Sindicato das In-<br />
dústrias) e outro da Abiclor (Associa-<br />
ção das Indústrias <strong>de</strong> Cloro e Soda).<br />
Pelo lado dos trabalhadores estão o<br />
companheiro Remi, diretor do nosso<br />
Sindicato.o engenheiro Nilton Freitas,<br />
assessor do Diesat no nosso Sindicato<br />
e o companheiro Lorival, do Sindicato<br />
dos Plásticos <strong>de</strong> São Paulo. Pelo go-<br />
verno estão um técnico da Fundacen-<br />
tro, um da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da<br />
USP e um do SUDS. Para a coor<strong>de</strong>-<br />
nação do Comitê foi eleita a Dra Nair<br />
Ciochetti, coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<br />
do trabalho do Ministério Público.<br />
A luta dos trabalhadores da Eletro-<br />
cloro e da categoria como um todo,<br />
contra a contaminação por mercúrio,<br />
foi o ponto <strong>de</strong> partida para a discussão<br />
a nível nacional dos riscos que este<br />
produto oferece á saú<strong>de</strong> e ao meio-<br />
ambiente, e também, para a <strong>de</strong>finição<br />
na previdência social, dos parâmetros<br />
<strong>de</strong> diagnósticos da doença hidrargi-<br />
rismo dos benefícios a que tem direito<br />
o trabalhador contaminado. (Fonte:<br />
Sindicato dos Químicos do ABC, Sin-<br />
diquim n- 243).<br />
Trabalhadores<br />
Não Saiu<br />
Mo Jornal<br />
MANIFESTO DE REPUDIO<br />
E SOLIDARIEDADE<br />
A Igreja no Mato Grosso do Sul,<br />
Brasil - Bispos, Padres, Rehgio-<br />
sos(as), Leigos(as) reunidos na 2- As-<br />
sembléia do Regional Oeste 1 - Cam-<br />
po Gran<strong>de</strong>, tomou conhecimento dos<br />
fatos ocorridos em Concepcion - Pa-<br />
raguai, culminando na prisão domici-<br />
liar e incomunicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dom<br />
Anibal M. Freitas, no dia 22 <strong>de</strong> no-<br />
vembro <strong>de</strong> 1988.<br />
Diante disto a Assembléia envia<br />
este manifesto <strong>de</strong> repúdio ao Governo<br />
Paraguaio, aos Militares e a todos os<br />
que estão diretamente envolvidos<br />
neste ato <strong>de</strong> repressão e <strong>de</strong>srespeito à<br />
Igreja e ao Povo Paraguaio. Este ato é<br />
fruto do regime autoritário e ditatorial<br />
que há mais <strong>de</strong> três décadas vem se<br />
perpetuando no Paraguai.<br />
A Assembléia reconhece que esta<br />
repressão não atinge somente o Bispo<br />
e sua Igreja, mas a todo o Povo Para-<br />
guaio e seus anseios <strong>de</strong> justiça, liber-<br />
da<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong>, fraternida<strong>de</strong>.<br />
Exigimos a imediata punição dos<br />
responsáveis e a retratação no que fe-<br />
riu a dignida<strong>de</strong> do Bispo Dom Anibal,<br />
da sua Igreja e do seu povo.<br />
Expressamos ao mesmo tempo,<br />
além <strong>de</strong> nossa prece a Cristo Liberta-<br />
dor, nossa solidarieda<strong>de</strong> irrestrita à<br />
Igreja Paraguaia e ao seu povo. Sa-<br />
bemos que este conflito <strong>de</strong> que é víti-<br />
ma a pessoa <strong>de</strong> Dom Anibal, é conse-<br />
qüência do anúncio do Evangelho e<br />
sua prática firme, profética e coerente<br />
assumida pela Igreja Paraguaia.<br />
Compromtemo-nos a divulgar o<br />
fato em todas as nossas Dioceses,<br />
Comunida<strong>de</strong>s e Organizações que<br />
promovem a <strong>de</strong>fesa da vida no Mato<br />
Grosso do Sul e em todo o Brasil.<br />
Campo Gran<strong>de</strong>,<br />
26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1988.
Quinzena Trabalhadores<br />
DDR ASSASSINA LAVRADORES<br />
Nós trabalhadores Rurais da Re-<br />
gião <strong>de</strong> Jacobina,Bonfím e Monte<br />
Santo, Dirigentes Sindicais, do campo<br />
e da cida<strong>de</strong> do Salvador, Agentes<br />
Pastorais da Diocese <strong>de</strong> Sr. do Bon-<br />
fim, Entida<strong>de</strong>s Populares, vimos à pú-<br />
blico <strong>de</strong>nunciar o clima <strong>de</strong> violência e<br />
assassinatos cometidos contra lavrado-<br />
res dos municípios <strong>de</strong> Várzea Nova,<br />
Caem e Monte Santo, etc, por grilei-<br />
ros da UDR, pelo fato <strong>de</strong> estarem <strong>de</strong>-<br />
fen<strong>de</strong>ndo a posse da terra.<br />
Nos últimos 90 dias a sanha assas-<br />
sina do comando <strong>de</strong> morte da UDR e<br />
seus comparsas tiraram a vida <strong>de</strong> Ed-<br />
valdo Felix (22.09.88) na Fazenda<br />
Engano, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gildo<br />
Franco; José Augusto (15.10.88) pe-<br />
los pistoleiros: Antônio Cabeludo,<br />
Manoel Galego e Expedito; Moisés<br />
Vitórios dos Santos (21.11.88) Presi-<br />
<strong>de</strong>nte do Sindicato <strong>de</strong> Várzea Nova,<br />
pistoleiros: Jurandi Inácio <strong>de</strong> Souza e<br />
Val<strong>de</strong>ci Inácio <strong>de</strong> Souza (murro) os<br />
dois últimos tendo como mandantes<br />
Luís Lima, José Benigno Filho (Zé<br />
Vaqueiro), Arlindo Caíca, Chico Ro-<br />
cha (Diretor da UDR local). Em<br />
21.10.88 foi encontrado totalmente<br />
carbonizado, na região <strong>de</strong> Paraíso,<br />
mais uma vítima do terror que vem<br />
imperando.<br />
Também em Monte Santo dia<br />
16.11.88 o grileiro Elias Azeredo<br />
Pinto, queimou e <strong>de</strong>struiu roças <strong>de</strong><br />
antigos posseiros, ameaçando <strong>de</strong><br />
morte até crianças. E continuam im-<br />
punes.<br />
Além <strong>de</strong>stas mortes, queima <strong>de</strong> ro-<br />
ças, os lavradores Minaldo, Mirocho e<br />
Edilson em Várzea Nova, foram víti-<br />
mas <strong>de</strong> atentados. Pairando ainda so-<br />
bre eles e a família <strong>de</strong> Liberato, Ma-<br />
noel, Claudionor, Zé Francisco, Luiza<br />
(Secretária do STR <strong>de</strong> Várzea Nova),<br />
Zé Henhenberg (Pe.), Zé Lages ( Pre-<br />
si<strong>de</strong>nte da Associação dos Bancários<br />
<strong>de</strong> Jacobina), Agentes Pastorais, Fun-<br />
cionários do INTERBA, ostensiva<br />
ameaças <strong>de</strong> mortes.<br />
Esse clima <strong>de</strong> banditismo é <strong>de</strong> total<br />
conhecimento dos Srs. Secretários: <strong>de</strong><br />
Segurança Pública, da Reforma Agrá-<br />
ria e da Agricultura, Diretor do DE-<br />
PIN e do Governador que no último<br />
25.10.88 recebeu comissão <strong>de</strong> lavra-<br />
dores e entida<strong>de</strong>s, exigindo apuração<br />
dos crimes e garantia <strong>de</strong> vida para os<br />
ameaçados. Fazia parte da Comissão,<br />
Moisés Vitorio (Presi<strong>de</strong>nte do STR <strong>de</strong><br />
Várzea Nova), que veio ser mais uma<br />
vítima do <strong>de</strong>scaso das autorida<strong>de</strong>s e<br />
da violência da UDR que impera im-<br />
punimente contra os Trabalhadores<br />
Rurais-<br />
Assim estamos em acampamento<br />
permanente até que o Governador to-<br />
me medidas que garantam a vida dos<br />
ameaçados. Desarmando jagunços,<br />
pondo na ca<strong>de</strong>ia os mandantes, grilei-<br />
ros e pistoleiros das regiões da Jaco-<br />
bina e Monte Santo, todos conhecidos<br />
pela prática <strong>de</strong> tais crimes, além da<br />
garantia aos lavradores <strong>de</strong> continua-<br />
rem cultivando a terra <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tiram o<br />
sustento.<br />
ENTIDADES SOLIDÁRIAS<br />
SINTEL<br />
SINDIQUIMICA<br />
PROQUTMICOS<br />
POLO SINDICAL<br />
DE IBOTIRAMA<br />
SINDAE<br />
METALÚRGICOS<br />
SECURITÁRIOS<br />
VIGILANTES<br />
OPOSIÇÃO TÊXTIL<br />
RESID. DOS ESTUDANTES<br />
DE JACOBINA<br />
CPT<br />
AATR<br />
ASPAS<br />
CENPET<br />
SINDIGRÁFICOS<br />
SINDPEC<br />
SINDICATO DOS<br />
MINEIROS-JACOBINA<br />
ASSOC. DOS<br />
TRABALHADORES EM POSTOS<br />
DE GASOLINA-JACOBINA.<br />
DENUNCIA:<br />
A EMPRESA SADIA S/A<br />
MANTÉM ORGANIZAÇÃO<br />
PARTICULAR DE<br />
ESPIONAGEM PARA<br />
PERSEGUIR E REPRIMIR<br />
TRABALHADORES<br />
A empresa FRIGOBRÁS - CIA.<br />
BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS<br />
(A SADIA), uma das maiores do<br />
país no setor da alimentação (produ-<br />
ção e exportação) possui seu esquema<br />
particular <strong>de</strong> SNI.<br />
A <strong>de</strong>núncia veio a público pelo ca-<br />
bo da reserva da PM do Paraná Mil-<br />
ton Gomes Pereira, que <strong>de</strong>scontente<br />
com o salário pelos "serviços" que<br />
prestava se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>u com a empre-<br />
sa e resolveu abrir o jogo.<br />
O cabo Milton foi contratado pela<br />
direção da SADIA <strong>de</strong> Toledo (empre-<br />
sa <strong>de</strong> 4000 funcionário no oeste do<br />
Estado do Paraná) para espionar o<br />
movimento sindical, a igreja e os par-<br />
tidos políticos do município.<br />
Foi através <strong>de</strong>sse esquema que em<br />
junho <strong>de</strong> 1987 a empresa <strong>de</strong>mitiu todos<br />
os funcionários que participavam da<br />
chapa <strong>de</strong> oposição ao sindicato da<br />
alimentação, o sindicato dos trabalha-<br />
dores da alimentação é controlado<br />
pela direção da SADIA, mesmo após<br />
a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> todos os componentes<br />
da chapa formou-se outra e a mesma<br />
foi impedida <strong>de</strong> concorrer e hoje qua-<br />
se todos os membros <strong>de</strong>ssa chapa fo-<br />
ram <strong>de</strong>mitidos.<br />
Esses fatos e ouros são contados<br />
com <strong>de</strong>talhes pelo cabo Milton que<br />
tinha a tarefa <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> reuniões<br />
<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, da Pastoral Operária,<br />
do PT e outras e repassar através <strong>de</strong><br />
dois relatórios por escrito semanal-<br />
mente à direção da empresa todos os<br />
assuntos discutidos nas reuniões. O<br />
mesma chegou a se filiar no PT- como<br />
ele mesmo conta - para facilitar seu<br />
trabalho e não levantar <strong>de</strong>sconfianças<br />
ou suspeitas.<br />
A empresa nunca registrou o cabo<br />
Milton, tinha um esquema paralelo <strong>de</strong><br />
pagamento para que ninguém suspei-<br />
tasse do seu trabalho. Pela entrevista<br />
dada por cabo Milton a um jornal da<br />
região ( que até agora não foi publi-<br />
cada) existe mais gente que faz o<br />
mesmo serviço para a SADIA, só que<br />
um não conhece o outro.<br />
Essa <strong>de</strong>núncia não po<strong>de</strong> cair no va-<br />
zio, é necessário que todos se empe-<br />
nhem em divulgá-la para <strong>de</strong>smascarar<br />
a SADIA. Há muito tempo que essa<br />
empresa no país todo possuí uma prá-<br />
tica <strong>de</strong> repressão aos trabalhadores,<br />
são inúmeros os exemplos. E ao mes-<br />
mo tempo que persegue os trabalhado-<br />
res ven<strong>de</strong> para "fora" ( via meios <strong>de</strong><br />
comunicação, patrocinando times <strong>de</strong><br />
vôlei) uma imagem <strong>de</strong> empresa mo-<br />
<strong>de</strong>lo.<br />
Enquanto a constituinte assegura<br />
alguns avanços no que se refere aos<br />
direitos dos trabalhadores, empresas<br />
como a SADIA são as primeiras a^
violá-las.<br />
Estamos sugerindo que se boicotem<br />
os produtos <strong>de</strong>ssa empresa e também<br />
se enviem telegramas <strong>de</strong> repúdio a es-<br />
sa prática que lembra os tristes tempos<br />
da ditadura militar.<br />
ENDEREÇO DA EMPRESA<br />
Frigobrás: Cia Brasileira <strong>de</strong> Frigo-<br />
ríficos ou apenas SADIA S/A.<br />
Rua São João, 1191 -Toledo - PR -<br />
CEP. 85.900<br />
Sugestão <strong>de</strong> telegrama para a SA-<br />
DIA:<br />
Basta <strong>de</strong> perseguição aos trabalha-<br />
dores. Basta <strong>de</strong> espionagem.<br />
Respeite-se a constituição.<br />
Obs:Temos em nosso arquivo a en-<br />
trevista dada pelo cabo Milton para o<br />
jornal o Paraná (jornal da região <strong>de</strong><br />
Toledo). Os interessados em obter<br />
uma cópia escrevam para a QUINZE-<br />
NA. (Fonte: Comissão Pastoral Ope-<br />
rário do PR - Rua Paulo Gomes, 703,<br />
15 andar - Curitiba/PR - 80.510)<br />
O mínimo é Economia<br />
o maxn 11 :•<br />
O Congresso aprovou um novo valor para o salário mínimo e uma tabela <strong>de</strong><br />
aumento reais durante o ano <strong>de</strong> 89. O governo fe<strong>de</strong>ral vetou estas medidas<br />
aprovadas e <strong>de</strong>cretou um valor menor para o salário mínimo. Agora a<br />
medida, em vigor, <strong>de</strong>verá voltar para o congresso para ser<br />
examinada e a questão do salário mínimo resolvida.<br />
Qual será, afinal, o salário mínimo a ser aprovado pelo Congresso?<br />
Enquanto isso não é <strong>de</strong>cidido prevalece o <strong>de</strong>creto do governo. Para<br />
elucidar a problemática do salário mínimo, publicamos a matéria abaixo,<br />
que mostra como é possível a economia brasileira conviver com um salário<br />
<strong>de</strong> acordo com a nova Constituição, sem que seja necessário acontecer<br />
nenhuma revolução no país. Basta a burguesia cumprir a<br />
lei e mudar sua política <strong>de</strong> exploração.<br />
As classes dominantes brasileiras<br />
tem muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mocracia. A confusa discussão so-<br />
bre o aumento do salário mínimo na-<br />
cional ilustra muito bem aquela difi-<br />
culda<strong>de</strong>. O problema é o seguinte. Pa-<br />
ra se ter um regime <strong>de</strong>mocrático, a<br />
burguesia necessita pelo menos <strong>de</strong><br />
uma Constituição. Sem um regime ju-<br />
rídico estável não po<strong>de</strong> haver um Es-<br />
tado <strong>de</strong> Direito. A carta constitucional<br />
é o instrumento básico para a or<strong>de</strong>na-<br />
ção jurídica do Estado. Pois bem, as<br />
classes dominantes brasileiras acaba-<br />
ram <strong>de</strong> promulgar a nova Constituição<br />
brasileira. O problema é que uma<br />
Constituição não passa a existir ape-<br />
nas porque ela foi formalmente pro-<br />
mulgada. Para existir, ela precisa ser<br />
implementada, praticada realmente.<br />
Aqui começam as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se<br />
ter uma verda<strong>de</strong>ira Constituição no<br />
Brasil. Esta que acabou <strong>de</strong> ser escrita<br />
é uma Constituição conservadora, é<br />
verda<strong>de</strong>. Mas mesmo assim, já seria<br />
uma gran<strong>de</strong> coisa se ela pu<strong>de</strong>sse ser<br />
aplicada. A simples obediência à<br />
Constituição já seria um gran<strong>de</strong> avan-<br />
ço para o Estado <strong>de</strong> Direito. Mesmo<br />
consi<strong>de</strong>rando que a atual Constituição<br />
é muito mais retrógrada que a dos mi-<br />
litares. Vejam o retrocesso quanto à<br />
questão agrária. Ou quanto ao papel<br />
das próprias forças armadas, do exér-<br />
cito que agora foi transformado em<br />
polícia militar. Pela nova Constituição<br />
o Exército não <strong>de</strong>veria existir apenas<br />
para guerras externas, mas também<br />
para intervir a todo momento conra os<br />
trabalhadores. Isto agora é constitu-<br />
cional, é legal.<br />
O MÁXIMO É MÍNIMO<br />
O problema do salário mínimo, en-<br />
tretanto, é a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para<br />
que esta Constituição seja aplicada.<br />
Acostumados a apenas escrever as leis<br />
e praticar apenas aquelas que lhes são<br />
convenientes, o Congresso consti-<br />
tuinte acabou repetindo no capítulo U,<br />
artigo 1-, uma regra que já existia na<br />
Constituição dos militares: "São di-<br />
reitos dos trabalhadores urbanos e ru-<br />
rais um salário mínimo, fixado em lei,<br />
nacionalmente unificado, capaz <strong>de</strong><br />
aten<strong>de</strong>r a suas necessida<strong>de</strong>s vitais bá-<br />
sicas e às <strong>de</strong> sua família com moradia,<br />
alimentação, educação, lazer, vestuá-<br />
rio, higiene, transporte e previdência<br />
social, com reajustes periódicos "que<br />
lhe preservou o po<strong>de</strong>r aquisitivo, sen-<br />
do vedada a sua vinculação para qual-<br />
quer fim".<br />
Como dissemos anteriormente, isto<br />
tem que ser realizado. Caso contrário<br />
não haverá Estado <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong>mo-<br />
cracia no Brasil. A importância <strong>de</strong>ste<br />
artigo sobre o salário mínimo não <strong>de</strong>-<br />
corre apenas do fato que isto foi es-<br />
crito na Constituição. Os termos <strong>de</strong>ste<br />
artigo refletem, na verda<strong>de</strong>, a condi-<br />
ção básica e para que haja justiça no<br />
país, esta justiça jamais existirá sem<br />
uma remuneração justa para os assala-<br />
riados. Nas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocracias ca-<br />
pitalistas, concentradas principalmente<br />
na Europa e América do Norte, é pra-<br />
ticada uma forma <strong>de</strong> exploração da<br />
força <strong>de</strong> trabalho em que o salário está<br />
mais ou menos próximo do valor da<br />
força <strong>de</strong> trabalho, ou seja, próximo do<br />
custo <strong>de</strong> reprodução da força <strong>de</strong> tra-<br />
balho. Este valor ou custo <strong>de</strong> reprodu-<br />
ção da força <strong>de</strong> trabalho nada mais é<br />
do que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moeda (salá-<br />
rio) capaz <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />
vitais do trabalhador, enumeradas no<br />
artigo 7 da Constituição. Esta forma<br />
<strong>de</strong> exploração caracteriza-se pela ex-<br />
tração <strong>de</strong> mais-valia relativa. A mais-<br />
valia relativa é aquela em que a taxa<br />
<strong>de</strong> exploração aumenta pela redução<br />
do tempo necessário à reprodução da<br />
força <strong>de</strong> trabalho, e não pelo prolon-<br />
gamento da jornada <strong>de</strong> trabalho e o<br />
pagamento <strong>de</strong> um salário abaixo do<br />
correspon<strong>de</strong>nte tempo <strong>de</strong> reprodução<br />
da força <strong>de</strong> trabalho, (ou valor da for-<br />
ça <strong>de</strong> trabalho). Esta última forma é a<br />
mais-valia absoluta. A mais-valia ab-<br />
soluta caracteriza não apenas a explo-<br />
ração da força <strong>de</strong> trabalho, mas tam-<br />
bém um roubo, exatamente porque os<br />
capitalistas somam aos seus lucros<br />
uma parte do valor da força <strong>de</strong> traba-<br />
lho, metem a mão numa parte que <strong>de</strong>-<br />
veria satisfazer às "necessida<strong>de</strong>s vi-<br />
tais" dos trabalhadores. Exatamente<br />
;::':>->x-:::-::í::o:-:-x::;:::::'::;-:: : ^
por caracterizar um roubo, a mais-va-<br />
lia absoluta não é "justa". Enquanto<br />
persistir esta forma <strong>de</strong> extração da<br />
mais-valia, que ocorre nos países do-<br />
minados do sistema capitalista e <strong>de</strong><br />
uma forma claríssima no Brasil, não<br />
po<strong>de</strong>rá existir uma superestrutura jurí-<br />
dica <strong>de</strong>mocrática, um Estado <strong>de</strong> Di-<br />
reito, uma Constituição que funcione.<br />
O MÍNIMO DO DIEESE<br />
É neste quadro que volta a discus-<br />
são sobre o novo valor do salário mí-<br />
nimo no Brasil. O besteirol <strong>de</strong> opi-<br />
niões é geral. Des<strong>de</strong> os <strong>de</strong>putados que<br />
são encarregados <strong>de</strong> regulamentar<br />
aquele preceito constitucional, pas-<br />
sando por empresários, políticos em<br />
geral, até economistas <strong>de</strong> partidos <strong>de</strong><br />
esquerda e lí<strong>de</strong>res sindicais, todos ex-<br />
primem total impotência política para<br />
resolver o assunto. Todos se pren<strong>de</strong>m<br />
a aspectos totalmente superficiais,<br />
monetaristas, do problema. O projeto<br />
mais "audacioso" do Congresso pe<strong>de</strong><br />
um reajuste <strong>de</strong> 100% para <strong>de</strong>zembro,<br />
mais 10% <strong>de</strong> aumento real ao mês, du-<br />
rante 12 meses. Isto quer dizer que em<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1989 o salário mínimo<br />
<strong>de</strong> Cz$ 30.800,00 <strong>de</strong> novembro esta-<br />
via valendo em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1989<br />
aproximadamente Cz$ 200.000,00, em<br />
PACS-Políticas Alternativas para o Cone Sul<br />
termos reais <strong>de</strong> hoje. Este é um valor<br />
que se aproxima do salário mínimo do<br />
DIEESE (que em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>ve estar<br />
em tomo <strong>de</strong> Cz$ 228.000,00). O salá-<br />
rio mínimo do DIEESE correspon<strong>de</strong><br />
àquele <strong>de</strong> 1940, quando foi <strong>de</strong>cretado<br />
o l e salário mínimo oficial no Brasil.<br />
O salário <strong>de</strong> Cz$ 200.000,00 eqüi-<br />
vale a aproximadamente 222 dólares.<br />
O salário mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>cre-<br />
tado por Samey na noite <strong>de</strong> ontem, já<br />
que o Congresso não consegue esti-<br />
pular o seu, eqüivale à 45 dólares.<br />
BURGUESIA PREGUIÇOSA<br />
O salário mínimo do Getúlio, que é<br />
o que está sendo proposto pelo Con-<br />
gresso, eqüivale a 1/3 do salário mí-<br />
nimo europeu (600 dólares). Mas<br />
mesmo este nível relativamente baixo<br />
<strong>de</strong> 220 dólares, já seria suficiente para<br />
um certo reor<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>mocrático<br />
no Brasil. Haveria um avanço real nas<br />
condições sociais brasileiras. Mais do<br />
que isto, estaria sendo efetivamente<br />
<strong>de</strong>smontada a estrutura podre <strong>de</strong> sub-<br />
<strong>de</strong>senvolvimento que comanda a eco-<br />
nomia brasileira. De alguma forma, a<br />
burguesia teria que trabalhar, no sen-<br />
tido <strong>de</strong> se substituir a forma prepon<strong>de</strong>-<br />
rante <strong>de</strong> mais-valia absoluta em mais-<br />
valia relativa. O problema é que para<br />
se fazer esta passagem, a burguesia te-<br />
O método na economia política<br />
KARL MARX<br />
Em K. MARX, "El Método en Ia Economia Polftica",<br />
Editoral Grijalbo, México, 1971.<br />
(Nota do Tradutor: este é um trecho da introdução aos<br />
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Marx sobre Economia Política, escritos en-<br />
tre 1857 e 1859, aos quais foi dado o nome <strong>de</strong> "Funda-<br />
mento da Crítica da Economia Política" [GRUNDRISSE,<br />
como é mais conhecido no mundo, quer dizer "Funda-<br />
mentos" em alemão]. Estão incluídos aqui alguns concei-<br />
tos básicos para a compreensão a proposta metodológi-<br />
ca <strong>de</strong> Marx. Está em negrito as palavras que envolvem<br />
<strong>de</strong>finições, conceitos ou categorias a aprofundar)<br />
Quando se estuda a economia <strong>de</strong> um país se analisa<br />
em primeiro lugar a estrutura <strong>de</strong> sua população: como<br />
está dividida em classes e como está distribuída entre a<br />
cida<strong>de</strong> e o campo; se analisa a hidrografia, os diversos<br />
ramos da produção, a exportação e a importação, a pro-<br />
dução e o consumo anuais,...<br />
Po<strong>de</strong> parecer um bom método começar pela base só-<br />
lida do que é real e concreto; numa palavra, focalizar a<br />
economia através da população, que constitui a raiz e o<br />
■.-.■. -:■:■:■;:: ■; :■:::::.<br />
Economta<br />
ria que poduzir não apenas 60 milhões<br />
<strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> cereais por ano, mas<br />
pelo menos 150 milhões. Para tanto<br />
teria que mexer rapidamente na es-<br />
trutura latifundiária atual.<br />
A burguesia teria também que <strong>de</strong>-<br />
sarmar a estrutura financeira <strong>de</strong> espe-<br />
culadores que atualmente sugam parte<br />
significativa da mais-valia nacional.<br />
A burguesia teria que enfrentar os<br />
banqueiros internacionais e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
pagar anualmente quase 5% do PIB<br />
para o exterior.<br />
A burguesia teria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
pen<strong>de</strong>r do governo do qual sugam<br />
subsídios, transferências, etc.<br />
A classe média teria que renunciar<br />
ao elevado consumo <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> luxo<br />
em que ela se acostumou nso últimos<br />
30 anos, pelo menos.<br />
É por estas e outras, que mesmo os<br />
partidos oficiais <strong>de</strong> esquerda, os lí<strong>de</strong>-<br />
res sindicais e os economistas pro-<br />
gressistas ficam embasbacados e fa-<br />
lando besteiras frente a esta polêmica<br />
atual sobre o novo salário mínimo.<br />
Extraído do texto "Análise <strong>de</strong> Conjuntura" -<br />
"Situação Econômica Brasileira", Boletim<br />
Semanal do 13 <strong>de</strong> Maio - Núcleo <strong>de</strong> Edu-<br />
cação Popular.<br />
ASSINATURAS: Rua Dona Avelma, 55<br />
Vila Mariana - CEP 04111<br />
São Paulo - SP<br />
Se, em conseqüência, começasse simplesmente pela<br />
população, teria uma visão caótica do conjunto. Mas se<br />
proce<strong>de</strong>sse através <strong>de</strong> uma análise cada vez mais pene-<br />
trante, chegaria a noções cada vez mais simples: partin-<br />
do do concreto que eu percebesse, passaria a abstração<br />
cada vez mais sutis para <strong>de</strong>sembocar na categorias mais<br />
simples. Neste ponto, seria necessário voltarmos sobre<br />
nossos passos para chegar <strong>de</strong> novo na população. Mas<br />
<strong>de</strong>sta vez não teríamos uma idéia caótica <strong>de</strong> todo, mas<br />
um rico conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações e <strong>de</strong> relações com-<br />
plexas.<br />
Historicamente, este é o primeiro passo da economia<br />
no seu nascimento. Os economistas do século XVII, por<br />
exemplo, começam sempre por um todo vivente: a po-<br />
pulação, a nação, o Estado, vários Estados, etc. mas<br />
terminam sempre por <strong>de</strong>scobrir, mediante a análise, certo<br />
número <strong>de</strong> relações gerais abstratas que são <strong>de</strong>terminan-<br />
tes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor,<br />
etc. A partir do momento em que estas categorias foram<br />
mais ou menos elaboradas e abstraídas, se articulam os<br />
sistemas econômicos que, partindo <strong>de</strong> noções simples -<br />
tais como o trabalho, a divisão do trabalho, a necessida-^^
<strong>de</strong>, o vala <strong>de</strong> troca -, se elevam até o Estado, o comér-<br />
cio entre as nações e o mercado mundial. Evi<strong>de</strong>ntemente<br />
este é o método científico correto.<br />
O concreto é concreto à medida que constitui a sínte-<br />
se <strong>de</strong> numerosas <strong>de</strong>terminações, ou seja, a unida<strong>de</strong> da<br />
diversida<strong>de</strong>. Para o pensamento [o concreto] constitui um<br />
processo <strong>de</strong> síntese e um resultado, não um ponto <strong>de</strong><br />
partida. É para nós o ponto <strong>de</strong> partida da realida<strong>de</strong> e,<br />
portanto, da intuição e da representação. No primeiro ca-<br />
so, a concepção plena se dissolve em noções abstratas;<br />
no segundo, as noções abstratas permitem reproduzir o<br />
concreto pela via do pensamento. Hegel caiu na ilusão<br />
<strong>de</strong> conceber o real como o resultado do pensamento que<br />
se concentra em si mesmo, se aprofunda e se move por<br />
si mesmo; ao passo que o método que consiste em ele-<br />
var-se do abstrato ao concreto é, para o pensamento, a<br />
maneira <strong>de</strong> apropriar-se do concreto isto é, a maneira <strong>de</strong><br />
reproduzi-lo sob a forma <strong>de</strong> concreto pensado.<br />
Mas este não é <strong>de</strong> modo algum o processo da gênese<br />
do concreto mesmo. Com efeito, a categoria econômica<br />
mais simples - por exemplo, o valor <strong>de</strong> troca - supõe uma<br />
população, e esta produz em <strong>de</strong>terminadas condições;<br />
supõe também certo tipo <strong>de</strong> família, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> ou<br />
<strong>de</strong> Estado, etc. Esta categoria econômica só po<strong>de</strong> existir<br />
sob a forma <strong>de</strong> uma relação unilateral e abstrata no seio<br />
<strong>de</strong> um conjunto concreto, vivo e já dada No entanto,<br />
como categoria, o valor <strong>de</strong> troca tem uma existência an-<br />
tiquíssima.<br />
Assim se constitui a consciência filosófica, <strong>de</strong> modo<br />
que o pensamento conceituai é para ela o homem real; o<br />
real se torna assim o mundo concebido: o movimento<br />
das categorias parece a esta consciência como um ver-<br />
da<strong>de</strong>iro ato <strong>de</strong> produção que recebe um simples impulso<br />
do exterior. Deste modo o movimento das categorias tem<br />
por resultado o mundo. Isto é correto - ainda que se trata<br />
<strong>de</strong> uma simples tautologia - na medida em que a totali-<br />
da<strong>de</strong> concreta (posto que é totalida<strong>de</strong> pensada ou re-<br />
presentação intelectual do concreto) é produto do pen-<br />
samento e da representação, mas não é produto em ab-<br />
soluto do conceito que se constituiria a si mesmo, que<br />
pensaria a parte e por cima da percepção e da represen-<br />
tação: é produto da elaboração dos conceitos partindo<br />
da percepção e da intuição. Assim, a totalida<strong>de</strong> que se<br />
manifesta na mente como um todo pensado é produto do<br />
cérebro pensante que se apropria do mundo da única<br />
maneira possível. A apropriação prática e intelectual do<br />
O Estado <strong>de</strong> Sào Paulo-31.12.88<br />
O mundo continua<br />
crescendo<br />
Quando o IBGE confirma que a<br />
economia brasileira não cresceu em<br />
1988, é oportuno ver o que aconteceu<br />
no Exterior. Como anda o mundo in-<br />
tegrado pelos países <strong>de</strong> economia<br />
aberta, os 24 que fazem parte da<br />
(OCDE), Organização Econômica pa-<br />
ra o Desenvolvimento e Cooperação?<br />
O último relatório <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong><br />
mostra que os resultados <strong>de</strong>ssas eco-<br />
nomias é auspicioso. O Porduto Na-<br />
cional Bruto (PNB) cresceu em tomo<br />
<strong>de</strong> 4% em média, e o <strong>de</strong>semprego caiu<br />
5%. Mais ainda: a inflação, que cos-<br />
tuma subir quando há uma elevação<br />
das taxas <strong>de</strong> crescimento, manteve-se<br />
estável. Ela permaneceu aí em tomo<br />
<strong>de</strong> 3,5%, igual a 1987. Esse compor-<br />
tamento é significativo porque tudo<br />
levava a crer que teríamos uma reces-<br />
são em 1988 em <strong>de</strong>corrência do crash<br />
das bolsas, em outubro <strong>de</strong> 1987. Re-<br />
cessão ou pelo menos uma estagnação<br />
no crescimento econômico mundial.<br />
Economia<br />
mundo pela arte e pela religião é inteiramente diferente.<br />
Enquanto a mente possui uma ativida<strong>de</strong> puramente<br />
especulativa e teórica, o sujeito real subsiste <strong>de</strong> maneira<br />
autônoma, separado da mente. Pa isso é que, também<br />
no método teórico, é preciso que o sujeito - a socieda<strong>de</strong> -<br />
atue constantemente sobre a mente como condição pré-<br />
via<br />
Mas, estas categorias simples não têm uma existência<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, histórica ou natural, anterior às categorias<br />
mais conaetas? Isto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>; Hegel, por exemplo, tem<br />
razão ao começar a filosofia do direito pela posse, isto é,<br />
a mais simples das relações jurídicas do sujeito. Com<br />
efeito, não existe proprieda<strong>de</strong> antes da família ou antes<br />
das relações entre senhores e servos, que são relações<br />
muito mais concretas. Há que acrescentar porém que<br />
existem famílias e tribos que só conhecem a posse, não<br />
a proprieda<strong>de</strong> No que se refere à proprieda<strong>de</strong>, a catego-<br />
ria mais simples é a relação <strong>de</strong> simples comunida<strong>de</strong>s<br />
familiares ou tribais. Numa socieda<strong>de</strong> mais avançada,<br />
aparece como a relação mais simples <strong>de</strong> uma organiza-<br />
ção <strong>de</strong>senvolvida. Mas se pressupõe sempre o sujeito<br />
concreto cuja relação é a posse. Po<strong>de</strong>mos imaginar um<br />
selvagem isolado que é possuidor, mas não existe então<br />
relação jurídica. Não é certo historicamente que a posse<br />
evolui para a família; a mesma supõe sempre, pelo con-<br />
trário "esta categoria jurídica mais concreta".<br />
De toda maneira, não é menos certo que as catego-<br />
rias simples exprimem relações nas quais o merxx <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento do concreto não po<strong>de</strong> produzir ainda uma<br />
relação mais complexa, expressa intelectualmente pa<br />
uma categoria mais concreta; estas categorias po<strong>de</strong>m<br />
subsistir como relações subordinadas quando o concreto<br />
está mais <strong>de</strong>senvolvido. O dinheiro po<strong>de</strong> existir histori-<br />
camente, e <strong>de</strong> fato existiu, antes que o capital, dos ban-<br />
cos, do trabalho assalariado, etc. Po<strong>de</strong>mos, portanto, di-<br />
zer que a categoria mais simples po<strong>de</strong> exprimir tanto as<br />
relações essenciais <strong>de</strong> um conjunto ainda pouco <strong>de</strong>sen-<br />
volvido, como as relações secundárias <strong>de</strong> um conjunto<br />
muito <strong>de</strong>senvolvido; estas relações existiam já historica-<br />
mente antes que o conjunto se <strong>de</strong>senvolvesse ao nível<br />
da categoria mais concreta. A transição do pensamento<br />
abstrato, que vai do simples ao concreto, reflete assim o<br />
processo histórico real.<br />
(Traduzido do espanhol por Marcos Arruda)<br />
Nada disso ocorreu. Os países da<br />
OCDE conseguiram pôr em prática<br />
medidas que regularam a liqui<strong>de</strong>z e<br />
permitiram a sustentação do cresci-<br />
mento sem estimular a inflação.<br />
Deve-se assinalar, a propósito, que<br />
foi graças a isso que as economias dos<br />
países em <strong>de</strong>senvolvimento não sofre-<br />
ram ainda mais. O Brasil é um caso<br />
específico. O crescimento or<strong>de</strong>nado<br />
dos países industrializados proporcio-<br />
nou um aumento <strong>de</strong> 9% no comércio<br />
internacional, beneficiando países<br />
como o Brasil que encontraram no<br />
mercado externo um caminho para<br />
colocar suas produções sem mercado.<br />
„____ ■!<br />
OTy-T - —
Isso atenuou os efeitos <strong>de</strong>pressivos da<br />
queda <strong>de</strong> consumo, além <strong>de</strong> haver<br />
aberto canais que, se bem cuidados,<br />
po<strong>de</strong>rão continuar oxigenando as eco-<br />
nomias dos países em <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento.<br />
É verda<strong>de</strong> que essa recuperação das<br />
economias dos países industrializados<br />
foi conseguida as custas <strong>de</strong> elevações<br />
das taxas <strong>de</strong> juros que, indiretamente.<br />
Folha <strong>de</strong> São Paulo-31.12.88<br />
A economia brasileira fecha o ano<br />
na estaca zero: a produção nacional,<br />
politicamente chantageada, não<br />
avançou meio metro. Do que resul-<br />
tou uma nova atrofia do produto por<br />
habitante, que amargou um recuo <strong>de</strong><br />
1,9%. Para uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>fasada,<br />
que se obriga a fazer do emprego a<br />
qualquer custo um fim em si mes-<br />
mo, 88 já vai tar<strong>de</strong>: 1,7 milhão <strong>de</strong><br />
brasileiros quebraram a cara e o<br />
sonho nas portas trancadas do mer-<br />
cado <strong>de</strong> trabalho.<br />
Mais uma vez, a honra da nave<br />
sem rumo foi salva pela economia<br />
informal. Movida a sinistrose, o PIB<br />
caixa-dois <strong>de</strong>ve ter crescido na<br />
vertical do mercado e na horizontal<br />
do sistema. Em especial, no setor<br />
rural. 0 produto agrícola cresceu<br />
em volume e em preço, no seu<br />
melhor <strong>de</strong>sempenho dos últimos<br />
quinze anos. Mas os sismógrafos do<br />
IBGE registraram no campo uma<br />
expansão ridícula <strong>de</strong> 0,06%.<br />
Explicação: o PIB oficial é me-<br />
ramente fiscal. Portanto, bem me-<br />
nor que o PIB real.<br />
Inflação contábil<br />
Pelo lado da carestia nossa <strong>de</strong><br />
cada dia, a taxa gregoriana <strong>de</strong> 933%<br />
penetra no ano novo com forte<br />
impulso <strong>de</strong> banguela: no alto e em<br />
alta.<br />
Com a ressalva: inflação encapsu-<br />
lada pela correção. Do que resulta<br />
uma inflação meramente contábil,<br />
simples ficção aritmética para con-<br />
Folha Bancária-4,I.89<br />
sacrificam os <strong>de</strong>vedores. Mas os elei-<br />
tos imediatos <strong>de</strong>correntes do aumento<br />
do fluxo <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong>vem com-<br />
pensar essa situação. Não é possível,<br />
por exemplo, imaginar o que teria<br />
ocorrido com a economia brasileira,<br />
neste ano <strong>de</strong> crise, se o mercado mun-<br />
dial não absorvesse os exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
produção, se não tivéssemos podido<br />
exportar mais <strong>de</strong> US$ 35 bilhões.<br />
O PNB dos 24 países da OCDE<br />
cresceu 33% em 1987, a previsão pa-<br />
ra 1988 era <strong>de</strong> que não passaria <strong>de</strong><br />
2,5%. Em junho, já se estimava algo<br />
em tomo <strong>de</strong> 3% e estamos terminando<br />
o ano com um crescimento <strong>de</strong> 4%.<br />
E tudo isso sem inflação, sem <strong>de</strong>sor-<br />
<strong>de</strong>m econômica. Esta é uma lição para<br />
nós.<br />
Salvaram-se todos<br />
tratos e valores monetariamente<br />
corrigidos. Sem essa in<strong>de</strong>xação ple-<br />
na, o Brasil já teria submergido no<br />
Triângulo das Bermudas: <strong>de</strong>pressão<br />
econômica, explosão social e implo-<br />
sãopolítica.<br />
Oojetivo nacional para 89, ano <strong>de</strong><br />
eleição presi<strong>de</strong>ncial: acabar com a<br />
in<strong>de</strong>xação. Ou seja: vamos brincar<br />
<strong>de</strong> hiperinflação, o abandono da<br />
moeda fiduciária, a que nos resta.<br />
Ficou no boato<br />
Atravessamos 88 na canoa furada<br />
do boato: congelamento, <strong>de</strong>sin<strong>de</strong>xa-<br />
ção, queda <strong>de</strong> ministro e golpe<br />
militar. Os boatos neurotizantes e<br />
inflacionistas cresceram a partir <strong>de</strong><br />
maio, encheram as medidas em<br />
outubro e só não viraram o Brasil<br />
pelo avesso em novembro, véspera<br />
<strong>de</strong> eleição, porque o pacto improvi-<br />
sado, mal costurado, <strong>de</strong>sativou a<br />
bomba-relógio da indústria do boato.<br />
0 pacto <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> novembro, que se<br />
esgota nesta terça-feira, dia 3, <strong>de</strong>ve<br />
ser julgado, não pela inflação <strong>de</strong><br />
28,8%, em <strong>de</strong>zembro, mas pela<br />
trégua do boato antes da eleição. Ela<br />
<strong>de</strong>sarmou a inflação <strong>de</strong> 35% em<br />
novembro e <strong>de</strong> 44% em <strong>de</strong>zembro<br />
(projeção do Banco Central em 19 <strong>de</strong><br />
outubro).<br />
Fuga do inferno<br />
Uma espiada nos jornais da última<br />
JOELMIR BETING<br />
passagem <strong>de</strong> ano revela que em<br />
matéria <strong>de</strong> sinistrose até que melho-<br />
ramos. Os vaticínios para 1988 eram<br />
absolutamente apocalípticos: o Bra-<br />
sil não alcançaria 89 sem um<br />
terceiro e <strong>de</strong>cisivo choque corretivo.<br />
No último reveillon, discutiam-se na<br />
classe média as opções <strong>de</strong> vida nova<br />
fora do Brasil: Estados Unidos,<br />
Canadá, Austrália, Portugal, Para-<br />
guai?<br />
Entramos em 88 com as bruxas<br />
todas a bordo: inflação recor<strong>de</strong>,<br />
hiperinflação inevitável, recessão<br />
irreversível, déficit explosivo, mora-<br />
tória externa, ministro provisório,<br />
mata-burros da Constituinte...<br />
Cuidado, hoje, com às cartoman-<br />
tes recheadas <strong>de</strong> álgebra.
Exame-11.01.89<br />
Rompendo uma<br />
nova barreira<br />
Evolução das exportações brasileiras<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980 — em USS bilhões<br />
O bom resultado <strong>de</strong> 1988 também<br />
tem seu lado perverso. O superá-<br />
vit comercial <strong>de</strong> quase 20 bi-<br />
lhões <strong>de</strong> dólares, obtido principalmente<br />
graças à queda do preço internacional do<br />
petróleo e ao baixo volume <strong>de</strong> importa-<br />
ções <strong>de</strong> trigo no ano passado, ajuda em<br />
parte o país a saldar os compromissos da<br />
dívida extema, mas também ajuda a ali-<br />
mentar a inflação quando o governo<br />
transforma os dólares em cruzados. Esse<br />
superávit também provoca um incômodo<br />
político em relação aos principais parcei-<br />
ros comerciais do país. especialmente os<br />
Estados Unidos. No momento em que a<br />
palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m no comércio internacio-<br />
nal é ■"reciprocida<strong>de</strong>", um superávit <strong>de</strong><br />
20 bilhões <strong>de</strong> dólares evi<strong>de</strong>ncia a postura<br />
protecionista do Brasil e o expõe a reta-<br />
liações cujo efeito é inibir o crescimento<br />
das exportações.<br />
Uma década que<br />
foi perdida<br />
A julgar pela estimativa do IBGE <strong>de</strong><br />
que o produto interno bruto. PIB.<br />
cresceu no ano passado apenas 0.04%,<br />
os brasileiros ficaram 2% mais pobres<br />
em relação a 1987, porque a população<br />
continua aumentando a uma taxa <strong>de</strong><br />
2,1% ao ano. Com essa marcha a ré do<br />
PIB per capita — produto das expansões<br />
<strong>de</strong> 0.06% na agricultura e 1.69% nos<br />
serviços e da retração <strong>de</strong> 2.23% na in-<br />
dústria —. o Brasil volta exatamente ao<br />
110<br />
100<br />
No mesmo lugar<br />
90<br />
80-<br />
Um sólido avanço<br />
Evoluçéo das exportações, por grupo <strong>de</strong> produtos — em USS milhões<br />
Evolução real do PIB per capita<br />
brasileiro — base: 1980 = 100<br />
100,0<br />
'<br />
\ 1980 81 82 83 84 85 86 87 88<br />
tu<br />
S<br />
9<br />
to<br />
1 i<br />
ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>sta década {\er gráfi-<br />
co acima j. A torcida para que as coisas<br />
melhorem em 1989 é justa, mas as pers-<br />
pectivas não são animadoras. O país está<br />
na encruzilhada <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> ajus-<br />
tamento recessivo e da hiperinflação. o<br />
que não significa que. optando pelo se-<br />
gundo caminho, volte a crescer. Do ân-<br />
gulo da renda, portanto, a década <strong>de</strong> 80<br />
está perdida.<br />
Café 1 958 2 300 2 300<br />
Soja 2 324 3 100 4 000<br />
Cacau 549 500 400<br />
Fumo 405 500 500<br />
Carnes 647 850 800<br />
Suco <strong>de</strong> laranja 832 1 300 1 300<br />
Calçados 1 169 1 200 1 200<br />
Têxteis 834 1 300 1 300<br />
Minérios <strong>de</strong> ferro 1 563 2 000 2 000<br />
Alumínio em bruto 587 1 200 1 000<br />
Ferro e aço 1 303 2 000 2 000<br />
Celulose e papel 394 1 200 1 200<br />
Material <strong>de</strong> transporte 2 780 3 500 3 000<br />
Máquinas e aparelhos elétricos 888 900 770<br />
Cal<strong>de</strong>iras e máquinas 1 634 2 000 1 800<br />
Produtos químicos 611 1 000 1 000<br />
Outros básicos 1 384 1 600 1 600<br />
Outros industrializados 6 166 7 300 6 600<br />
Operações especiais 185, 250 230<br />
Total geral 26 213 34 000 33 000<br />
Economia<br />
Veia-04.01£9<br />
O pulo dos<br />
gigantes<br />
As multinacionais ampliam<br />
os lucros em 1988 e programam uma<br />
avalanche <strong>de</strong> investimentos<br />
Os principais executivos da Autolatina<br />
— a po<strong>de</strong>rosa montadora <strong>de</strong> automó-<br />
veis que reúne no Brasil a Ford e a Volks-<br />
wagen — tiveram na semana passada o seu<br />
melhor fim <strong>de</strong> ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983. Pela primei-<br />
ra vez nos últimos seis anos o presi<strong>de</strong>nte da<br />
companhia, Wolfgang Sauer, pô<strong>de</strong> ligar pa-<br />
ra seus chefes, na Alemanha e<br />
nos Estados Unidos, e confir-<br />
mar que a empresa sob seu co-<br />
mando registrava resultado po-<br />
sitivo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acumular pre-<br />
juízos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 626 milhões<br />
<strong>de</strong> dólares em cinco balanços no<br />
vermelho. A Autolatina conse-<br />
guiu saltar <strong>de</strong> um prejuízo anual<br />
<strong>de</strong> 218 milhões <strong>de</strong> dólares em<br />
1987 para um lucro estimado<br />
em 300 milhões <strong>de</strong> dólares em<br />
1988 — um valor ainda mo<strong>de</strong>s-<br />
to para o porte da empresa, con-<br />
si<strong>de</strong>rada a maior multinacional<br />
instalada no Brasil, mas festeja-<br />
do. Com essa reviravolta, a Au-<br />
tolatina <strong>de</strong>ixou também <strong>de</strong> ser<br />
uma ovelha negra num seleto<br />
gnipo que costuma bater boa par-<br />
te <strong>de</strong> seus concoircntes não só em<br />
eficiência como em lucros — as<br />
subsidiárias das multinacionais,<br />
que ocupam catorze dos vinte pri-<br />
meiros postos entre as maiores<br />
empresas privadas do Brasil.<br />
Junto com a Autolatina, empresas como<br />
a anglo-holan<strong>de</strong>sa Shell, as americanas Es-<br />
so e Du Pont e a francesa Rhodia, do gru-<br />
po Rhône-Poulenc, que já estavam acostu-<br />
madas a exibir ganhos polpudos, registra-<br />
ram em 1988 os lucros mais espetaculares<br />
dos últimos tempos. "Apesar da crise do<br />
Brasil, os números mostram<br />
que conseguimos ter sucesso",<br />
comemora Jorge Nelson Rosas,<br />
presi<strong>de</strong>nte da Du Pont, que te-<br />
ve em 1988 um lucro <strong>de</strong> 34 mi-<br />
lhões <strong>de</strong> dólares, 20% a mais<br />
do que no ano anterior. O que<br />
impulsionou os lucros das mul-<br />
tinacionais, assim como ocorreu<br />
com gran<strong>de</strong> parte das empresas<br />
<strong>de</strong> capital nacional, foram a re-<br />
lativa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços e o<br />
aumento <strong>de</strong> eficiência -— mas.<br />
no seu caso particular, o suces-<br />
so teve um sabor especial. A<br />
maioria das companhias <strong>de</strong> ca-<br />
pital estrangeiro lutou não ape-<br />
nas contra a inflação e a in-<br />
certeza econômica, mas tam-<br />
bém com um velho problerm^
Quinzena<br />
que ronda suas ativida<strong>de</strong>s no<br />
Brasil — embora reconhecidas como o<br />
grupo que paga os melhores salários aos<br />
seus funcionários, cerca <strong>de</strong> 40% mais<br />
que a média das indústrias nacionais, e<br />
prefira investir seu dinheiro no Brasil<br />
mesmo, elas são um alvo político cons-<br />
tante, que se agravou em 1988 com a dis-<br />
cussão da nova Constituição.<br />
CRUZADA — "A Constituição, por si só,<br />
não favorece a atração <strong>de</strong> novos investido-<br />
res estrangeiros", avalia Robert<br />
Broughton, presi<strong>de</strong>nte da Shell, o maior<br />
distribuidor <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo do<br />
país, que empreen<strong>de</strong>u sem sucesso uma<br />
cruzada para convencer os constituintes a<br />
não incluir na nova Carta uma proibição <strong>de</strong><br />
que as companhias estrangeiras venham a<br />
explorar minérios no país, a<br />
partir <strong>de</strong> 1993. além <strong>de</strong> um item<br />
que dá preferência às indústrias<br />
nacionais na venda <strong>de</strong> serviços e<br />
equipamentos ao governo. Nem<br />
por isso, entretanto, a Shell<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter um lucro <strong>de</strong> 130<br />
milhões <strong>de</strong> dólares em 1988,<br />
mais que o dobro do que tinha<br />
ganho no ano anterior.<br />
Do lado da Autolatina, a di-<br />
ficulda<strong>de</strong> maior foi outra —<br />
enfrentar o rígido controle <strong>de</strong><br />
preços dos automóveis, que le-<br />
vou a empresa a <strong>de</strong>safiar o go-<br />
verno na gestão do ex-ministro<br />
Bresser Pereira ao anunciar um<br />
aumento maior que o permitido<br />
em meados <strong>de</strong> 1987 pelo Con-<br />
selho Interministerial <strong>de</strong> Pre-<br />
ços, o CIP. Bresser caiu, o go-<br />
verno mudou e a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ajustar o valor <strong>de</strong> venda dos<br />
automóveis segundo os pró-<br />
prios cálculos <strong>de</strong> custos da em-<br />
presa fez com que a Autolatina<br />
saísse do vermelho. ""Foi um ano bom, <strong>de</strong><br />
recuperação, porque tivemos uma relativa<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços", diz Wollgang Sauer.<br />
— MOVIMENTO DE BAIRROS<br />
repetição/invenção<br />
Trata-se do resultado <strong>de</strong> uma ampla<br />
pesquisa feita pela entida<strong>de</strong>,* no Recife<br />
e Região Metropolitana,>cotn o<br />
objetivou <strong>de</strong> resgatar as formas <strong>de</strong><br />
estruturação e funcionamento da<br />
Associação/Conselho <strong>de</strong> Moradores,<br />
seu papel e importância, tanto do<br />
ponto <strong>de</strong> vista dos dirigentes, como<br />
dos moradores.<br />
A pesquisa será transformada em<br />
pequenas publicações com temas<br />
específicos que po<strong>de</strong>rão subsidiar<br />
cursos, seminários e <strong>de</strong>bates no<br />
movimento <strong>de</strong> Bairro.<br />
O livro é a con<strong>de</strong>nsação <strong>de</strong> um<br />
longo trabalho <strong>de</strong> pesquisa da Etapas.<br />
Em 1985 foi realizada a primeira par-<br />
te, que se constituiu no mapeamento<br />
<strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s do bairro do Re-<br />
cife e Região Metropolitana. Essa ati-<br />
Emprn<br />
UÈà<br />
Autolatina<br />
Shell<br />
1? RHODIA<br />
XEROX<br />
Automobi-<br />
lístico<br />
Distribuição <strong>de</strong><br />
álcool e <strong>de</strong>riva-<br />
dos <strong>de</strong> petróleo,<br />
mineração<br />
Químico, têxtil,<br />
petroquímico<br />
Material para<br />
escritório<br />
Químico, farma-<br />
cêutico, petro-<br />
químico<br />
Químico, têxtil,<br />
plástico<br />
Em outros setores ainda vigiados <strong>de</strong> perto,<br />
mas sem a asfixia do CIP. o efeito foi se-<br />
melhante. A Esso, rival da Shell no mesmo<br />
ramo <strong>de</strong> negócios, viu-se também benefi-<br />
ciada com a recuperação dos preços da ga-<br />
solina e do álcool autonzada pelo Conselho<br />
Nacional do Petróleo. "Nossos lucros com<br />
as vendas <strong>de</strong> combustíveis foram 68% su-<br />
periores aos <strong>de</strong> 1987". contabiliza William<br />
Jackson, presi<strong>de</strong>nte da empresa.<br />
"SINAL VERDE" — Esse aumento nos<br />
ganhos era a injeção <strong>de</strong> ânimo que faltava<br />
para que os grupos já instalados no merca-<br />
do brasileiro não modifiquem sua disposi-<br />
ção <strong>de</strong> investir no país. A Rhodia. <strong>de</strong> capi-<br />
tal francês, teve resposta imediata para o<br />
crescimento <strong>de</strong> seus lucros <strong>de</strong> 55 milhões<br />
<strong>de</strong> dólares em 1987 para 90 milhões <strong>de</strong> dó-<br />
lares no ano passado. "Recebemos o sinal<br />
ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa matriz para acelerar nosso<br />
vida<strong>de</strong> resultou na publicação do<br />
' 'Catálogo <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s Populares''.<br />
Durante essa pesquisa forameolhidos<br />
alguns dados que permitiram traçar<br />
um perfil das Associações e Conse-<br />
lhos (esses dados foram con<strong>de</strong>nsados<br />
na caiúYhSi"Retratos da Gente".<br />
A partir das informações obtidas no<br />
mapeamento foi percebida a necessi-<br />
da<strong>de</strong> (por parte do movimento, asses-<br />
sores e intelectuais) <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />
um pouco mais as formas <strong>de</strong> estrutu-<br />
ração e funcionamento das entida<strong>de</strong>s<br />
populares, e também da representação<br />
que os dirigentes têm <strong>de</strong> uma associa-<br />
ção/conselho e sua relação com o Es-<br />
tado, a Igreja, os partidos políticose<br />
com os próprios moradores.<br />
Essa pesquisa foi realizada com<br />
168 entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bairro e 1.110 famí-<br />
lias, numa amostra escolhida com bas<br />
em critérios científicos.<br />
A metodologia utilizada permiti<br />
que os militantesparticipassem do pro<br />
Um ano <strong>de</strong> ouro<br />
Os lucros das multinacionais cresceram em 1988<br />
A »^: (valores em dólares)<br />
Faturamento<br />
anual<br />
4,0<br />
bilhões<br />
3,7<br />
bilhões<br />
1,05<br />
bilhão<br />
600<br />
milhões<br />
500<br />
milhões<br />
340<br />
milhões<br />
Lacro tm<br />
1987<br />
-218<br />
milhões<br />
51<br />
milhões<br />
55<br />
milhões<br />
50<br />
milhões<br />
63<br />
milhões<br />
27<br />
milhões<br />
Lucre em<br />
19W<br />
300<br />
milhões<br />
130<br />
milhões<br />
90<br />
milhões<br />
50<br />
milhões<br />
75<br />
milhões<br />
34<br />
milhões<br />
Economia<br />
ntmo <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong> 75 milhões para<br />
120 milhões <strong>de</strong> dólares anuais", afirma o<br />
brasileiro Edson Vaz Musa. presi<strong>de</strong>nte da<br />
Rhodia. "Num país que reclama <strong>de</strong> falta<br />
<strong>de</strong> investimentos, esse tipo <strong>de</strong> notícia é<br />
mais do que bem-vindo." No caso da Au-<br />
tolatina, a volta ao lucro animou as matri-<br />
zes em Detroit e Wolfsburg a autorizar a<br />
injeção <strong>de</strong> 1,3 bilhão <strong>de</strong> dólares no Brasil<br />
no período <strong>de</strong> 1988 a 1993 — um plano<br />
que tinha sido <strong>de</strong>scartado nos momentos<br />
mais difíceis da empresa. A Shell, por sua<br />
vez, anunciou que gastará em 1989 cerca<br />
<strong>de</strong> 70 milhões <strong>de</strong> dólares na sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
postos <strong>de</strong> combustíveis e ainda cogita in-<br />
vestir um extra <strong>de</strong> 250 milhões <strong>de</strong> dólares<br />
na sua indústria <strong>de</strong> alumínio no Maranhão,<br />
a Alumar. "A não ser que aconteça uma<br />
catástrofe, preten<strong>de</strong>mos investir 700 mi-<br />
lhões <strong>de</strong> dólares no Brasil até 1997". afir-<br />
ma Rosas, da Du Pont. #<br />
cesso <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, da elabora-<br />
ção do questionário, da reformulação,<br />
do pré-teste e do treinamento. O mé-<br />
todo consistiu numa adaptação do<br />
processo participativo às condições<br />
particulares da pesquisa.<br />
PEDIDOS<br />
PARA: Etapas<br />
Rua dos Medi -<br />
eis, 67, Boa Vis-<br />
ta-Recife/PE,<br />
fone 2310745,ou<br />
CPV
Quinzena<br />
í::ãí: :íS:Í ; :;SÍ;:ÍÍ-<br />
Gazeta <strong>de</strong> Pinheiros-18.12.88 EM DEBATE NO PT:<br />
O que <strong>de</strong>vem ser os<br />
Conselhos Populares<br />
As udnas correnfes <strong>de</strong>ntro do PT opinam sobre o que são<br />
p como <strong>de</strong>vem funcionar os chamados<br />
Conselhos Populares<br />
Uma outra relação com o Estado<br />
Maurício Faria<br />
A idéia dos Conselhos Populares<br />
tomou corpo no PT nas discussões<br />
sobre programas <strong>de</strong> governo para as<br />
eleições <strong>de</strong> 82. Surgiu da elaboração<br />
do partido, como proposta sua, e não<br />
por iniciativa da população. Mas,<br />
apesar da relação com o programa<br />
<strong>de</strong> governo, não ficou <strong>de</strong>finido que a<br />
criação dos Conselhos cabia á admi-<br />
nistração petista. A noção essencial<br />
e mais geral era a da participação<br />
política da população em relação<br />
aos assuntos públicos e ás questões<br />
<strong>de</strong> governo.<br />
Na Capital <strong>de</strong> São Paulo — princi-<br />
pal centro econômico e político do<br />
país — fica mais claro que a partici-<br />
pação popular nas condições <strong>de</strong> um<br />
governo sob direção petista tem que<br />
abarcar duas esferas interligadas.<br />
Uma é a do controle do povo sobre o<br />
governo e sua presença direta nas<br />
tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>sse governo.<br />
A outra é a da luta política geral que<br />
se dá na aplicação do programa go-<br />
vernamental municipal, envolvendo<br />
sua sustentação popular. Os Conse-<br />
lhos neste caso não terão um papel<br />
apenas passivo, <strong>de</strong> controle e formu-<br />
lação das políticas públicas, mas<br />
agirão também como órgãos <strong>de</strong> mo-<br />
bilização e ação política.<br />
Os Conselhos Populares <strong>de</strong>vem<br />
ser organismos <strong>de</strong> tino inteiramente<br />
novo, diferenciados e autônomos em<br />
relação aos partidos, ao Estado, à<br />
Administração, às entida<strong>de</strong>s da so-<br />
cieda<strong>de</strong> e aos movimentos sindical e<br />
popular. Uma Administração <strong>de</strong>mo-<br />
crática instaura condições políticas<br />
e práticas muito mais favoráveis ao<br />
nascimento dos Conselhos, mas não<br />
é ela quem <strong>de</strong>ve criá-los, e sim o pró-<br />
prio povo, quando convencido da sua<br />
necessida<strong>de</strong>.<br />
No processo, é necessário consti-<br />
tuir um sistema, formado por Conse-<br />
lhos específicos (<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educa-<br />
ção, transporte, orçamento etc.) e<br />
Conselhos gerais (<strong>de</strong> vila, bairro, se-<br />
tor etc). A Prefeitura reconhecerá<br />
os Conselhos, se relacionará com<br />
eles e levará na <strong>de</strong>vida conta suas<br />
posições. Não sendo eles organismos<br />
do Estado e da Administração, não<br />
possuem formalmente a condição <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>liberar sobre os assuntos <strong>de</strong> go-<br />
verno. Mas, na medida em que te-<br />
nham peso político, representativi-<br />
da<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mobilização, seus<br />
posicionamentos influenciarão <strong>de</strong>ci-<br />
sivamente as <strong>de</strong>cisões da Prefeitu-<br />
ra, que governará com eles.<br />
A efetiva participação política po-<br />
pular só se dá quando o povo está<br />
bem informado. Assim, para o <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento dos Conselhos há ne-<br />
cessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma multilateral <strong>de</strong> co-<br />
municação, combinando a ação in-<br />
formativa <strong>de</strong> massa do governo mu-<br />
nicipal, as ativida<strong>de</strong>s partidárias <strong>de</strong><br />
imprensa e divulgação e o papel <strong>de</strong><br />
órgãos <strong>de</strong> comunicação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />
tes e <strong>de</strong>mocráticos.<br />
As Plenárias Populares que têm<br />
sido feitas nas gran<strong>de</strong>s áreas da ci-<br />
da<strong>de</strong> com a participação da prefeita<br />
eleita, on<strong>de</strong> se informa e discute os<br />
<strong>de</strong>safios políticos e administrativos<br />
do inicio <strong>de</strong> governo e se levanta as<br />
principais reivindicações dos bair-<br />
ros e movimentos locais, constituem<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo embriões importantes<br />
dos Conselhos. A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s-<br />
sas Plenárias, esten<strong>de</strong>ndo-as a mui-<br />
tos lugares da cida<strong>de</strong>, dando a suas<br />
reuniões um sentido <strong>de</strong> continuida-<br />
<strong>de</strong>, organizando o encaminhamento<br />
das propostas feitas, ampliando<br />
sempre mais a sua representativida-<br />
<strong>de</strong> etc, são passos rumo aos Conse-<br />
lhos Populares. Da mesma forma<br />
<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas as expe-<br />
riências dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da<br />
Zona Leste.<br />
Ganhar as eleições para a Prefei-<br />
tura significa administrar apenas<br />
um ramo do Estado atual, ramo este<br />
sujeito aos condicionamentos legais,<br />
políticos, administrativos, econõmi-<br />
co-financeiros e <strong>de</strong> força policial-mi-<br />
litar do restante da máquina estatal,<br />
incluindo o Legislativo e O Judiciá-<br />
rio municipais. Os Conselhos Popu-<br />
lares <strong>de</strong>vem ser órgãos <strong>de</strong> interven-<br />
ção do povo nas disputas entre a Ad-'<br />
ministração e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Estado glo-<br />
bal. Seu duplo caráter — participa-<br />
ção nos assuntos públicos e luta polí-<br />
tica geral popular — aponta para o<br />
autogoverno da população trabalha-<br />
dora e è gèrmen <strong>de</strong> uma nova rela-<br />
ção entre a socieda<strong>de</strong> civil e o Esta-<br />
do, que só po<strong>de</strong>rá se realizar plena-<br />
mente com o socialismo.<br />
Vereador eleito da capital e membro da<br />
corrente li<strong>de</strong>rada pelo <strong>de</strong>putado José Ge-<br />
nomo<br />
" ^^^ ^^"<br />
Política Nacional<br />
Novos canais <strong>de</strong><br />
participação<br />
Valeska Peres Pinto<br />
O "Conselho Popular" tem sido<br />
uma idéia-força <strong>de</strong>fendida pelo PT<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação, quase sempre<br />
associada ao exercício direto do po-<br />
<strong>de</strong>r pela população, mantida a in<strong>de</strong>-<br />
pendência em relação ao Governo e<br />
aos Partidos Políticos. São raras as<br />
i<strong>de</strong>ntificações <strong>de</strong> experiências con-<br />
cretas e quando elas ocorrem, não<br />
suficientemente aprofundadas.<br />
O nome Conselho Popular po<strong>de</strong> ser<br />
secundário no <strong>de</strong>bate, mas não o<br />
conteúdo que ten<strong>de</strong> a expressar,<br />
qual seja a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se atingir<br />
formas mais avançadas <strong>de</strong> organi-<br />
zação popular, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e au-<br />
tônomas do Governo e dos Partidos<br />
Políticos. Porém estas formas mais<br />
avançadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma mu-<br />
dança <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na luta social —<br />
superação dó seu caráter reivindica-<br />
tório e a introdução no seu interior<br />
da disputa pelo po<strong>de</strong>r na socieda<strong>de</strong>.<br />
Para que isto ocorra será necessário<br />
associar ao caráter das lutas que ho-<br />
je ocorrem o combate permanente<br />
do monopólio do po<strong>de</strong>r exercido pe-<br />
los setores dominantes da nossa so-<br />
cieda<strong>de</strong> que se faz tanto no plano cul-<br />
tural/i<strong>de</strong>ológico como através <strong>de</strong><br />
instituições, entre as quais as <strong>de</strong> Go-<br />
verno.<br />
Isto nos leva a crer que o PT terá<br />
<strong>de</strong> aprofundar e aplicar uma política<br />
voltada à implementação da partici-<br />
pação popular, que <strong>de</strong>verá ter ex-<br />
pressão no plano da socieda<strong>de</strong> civil<br />
— organização comunitária, sindi-<br />
catos e Partido, como no plano da<br />
ação das instituições <strong>de</strong> Governo —<br />
seja através <strong>de</strong> mecanismos como<br />
plebiscito e iniciativas populares <strong>de</strong><br />
lei, seja através <strong>de</strong> canais institu-<br />
cionais junto a Prefeitura e Câma-<br />
ras, <strong>de</strong>stinados a influir no processo<br />
<strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão nas políticas<br />
<strong>de</strong> Governo.<br />
Dai se conclui que as Administra-<br />
ções do PT terão importante papel a<br />
cumprir. A <strong>de</strong>mocratização das Ad-<br />
ministrações implicarão em medi-<br />
das <strong>de</strong> duas or<strong>de</strong>ns: administrativa ;<br />
realização <strong>de</strong> uma reforma adminis-<br />
trativa que a torne transparente —<br />
<strong>de</strong>mocratização do acesso às infor-<br />
mações, reorganização da estrutura<br />
funcional e sua <strong>de</strong>scentralização,<br />
valorização do serviço público e do<br />
servidor; política: criação <strong>de</strong> canais<br />
institucionais através dos quais a po-<br />
pulação po<strong>de</strong>rá exercer controle so-<br />
bre o Governo e participar nas suas<br />
<strong>de</strong>cisões.<br />
Os setores populares organizados<br />
conseguem diferenciar claramente<br />
os seus próprios espaços daqueles ca-<br />
nais que po<strong>de</strong>m vir a ser criados jun-<br />
to á Administração. E neste momen-<br />
to, o que reivindicam são estes ca-<br />
nais, como forma <strong>de</strong> garantir a im-<br />
plementação das propostas que cor-<br />
respondam às suas reivindicações.<br />
Vale lembrar que estes canais se<br />
aplicam tanto ao Executivo como o<br />
Legislativo, em particular no próxi-<br />
mo período em que as Câmaras Mu-<br />
nicipais e o Legislativo em geral se
Quinzena<br />
verão fortalecidos.<br />
Devemos estar abertos a diferen-<br />
tes formas <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>stes ca-<br />
nais Institucionais — setoriais ou re-<br />
gionais. Quanto a isto não existem<br />
fórmulas acabadas. As <strong>de</strong>cisões re<br />
latívas à saú<strong>de</strong>, educação ou aos<br />
problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m regional po<strong>de</strong>m<br />
ser tomadas <strong>de</strong> diversas maneiras,<br />
buscando-se fóruns para comnatibi-<br />
lização.<br />
Se cabe à Administração abrir ca-<br />
nais <strong>de</strong> participação, não cabe a ela<br />
escolher quem participa neles. En-<br />
fim não se está criando canais só pa-<br />
■x-Xv^y:-:-:-:-:<br />
ra os amigos. É certo que estes ca-<br />
nais terão <strong>de</strong> ter algum nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>li-<br />
beração, mas até on<strong>de</strong> vai seu podpr<br />
correrá por conta da abrangência<br />
dos problemas que tratar, das Umi<br />
tações <strong>de</strong> competência <strong>de</strong>signadas<br />
as esferas <strong>de</strong> governo aos quais se<br />
vincule ao estágio <strong>de</strong> organizaçãn<br />
dos segmentos populares cujas rei-<br />
vindicações e propostas busquem<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r.<br />
O PT tem estado presente nas lu-<br />
tas sociais e populares contruibuin-<br />
do no fortalecimento <strong>de</strong> suas organi-<br />
zações próprias e continuará presen-<br />
Quem tem medo dos CPs?<br />
José Dirceu<br />
O que mais temos presenciado<br />
nestes últimos anos são os reclamos<br />
da direita e dos liberais sobre o <strong>de</strong>s-<br />
perdício dos recursos públicos, o<br />
clientellsmo e os gastos com pessoal<br />
na administração pública.<br />
Na verda<strong>de</strong> há nisso tudo muito <strong>de</strong><br />
hipocrisia e farisaísmo, já que os<br />
responsáveis pela corrupção, em-<br />
preguismo e fisiologismo na máqui-<br />
na administrativa dos governos fo-<br />
ram, ontem a Arena e o PDS, e hoje<br />
o PMDB e o PFL e a sua Nova Repú-<br />
blica.<br />
A apropriação pelos interesses<br />
privados da parte da riqueza social<br />
que através dos impostos, a socieda-<br />
<strong>de</strong> coloca nas mãos do Estado para<br />
promover o bem-estar <strong>de</strong> todos, foi<br />
promovida pelos que hoje recla-<br />
mam.<br />
O Estado, sua máquina adminis-<br />
trativa, o orçamento público, as <strong>de</strong>s-<br />
pesas com pessoal e consumo, os in-<br />
vestimentos, foram e são geridos ex-<br />
clusivamente pelo Executivo e. por-<br />
tanto, pelos grupos <strong>de</strong> pressão dos<br />
setores dominantes na socieda<strong>de</strong>.<br />
Os trabalhadores e o povo paulis-<br />
tano só através da pressão e da mo-<br />
bilização social, ou da eleição <strong>de</strong> ve-<br />
readores e prefeitos populares, con-<br />
seguem disputar parte <strong>de</strong>ste exce-<br />
<strong>de</strong>nte e socializar os recursos que-<br />
eles mesmos — já que a estrutura<br />
tributária brasileira é regressiva —<br />
colocam nas mãos do Estado e dos<br />
governos. A Câmara Municipal até a<br />
nova Constituição não <strong>de</strong>tinha ne-<br />
nhum po<strong>de</strong>r com relação ao orça-<br />
mento da cida<strong>de</strong>.<br />
É esta disputa pelo exce<strong>de</strong>nte da<br />
riqueza social, pelos fundos sociais,<br />
pelo controle do Estado, do governo<br />
e pela fiscalização da máquina ad-<br />
ministrativa que anima os movi-<br />
mentos sociais e a ação dos partidos<br />
e dos cidadãos.<br />
Os Conselhos Populares, tão discu-<br />
tidos hoje, são uma das formas que o<br />
movimento social encontrou para<br />
fiscalizar, controlar e participar do<br />
Governo. Trata-se, sim, <strong>de</strong> <strong>de</strong>mo-<br />
cracia direta, aliás, garantida pela<br />
nova Constituição, no parágrafo úni-<br />
co do seu artigo primeiro, on<strong>de</strong> se lé:<br />
"Todo o po<strong>de</strong>r emana do povo, que o<br />
exerce por meio <strong>de</strong> representantes<br />
eleitos um diretamente, nos termos<br />
<strong>de</strong>sta Constituição", e também nos<br />
artigos 198, item III e 206, item VI,<br />
que garantem esta participação na<br />
saú<strong>de</strong> e na educação pública, res-<br />
pectivamente.<br />
O PT, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação, inscre-<br />
veu entre seus princípios programá-<br />
ticos a participação popular na Ad-<br />
ministração Pública e estimulou a<br />
criação <strong>de</strong> Conselhos Populares <strong>de</strong><br />
controle e fiscalização, seja na Zona<br />
Leste da Capital, seja na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Dia<strong>de</strong>ma, para citar apenas dois<br />
exemplos. Estes Conselhos são uma<br />
criação dos movimentos sociais, ca-<br />
bendo às prefeituras abrir espaços e<br />
informações para sua atuação e aos<br />
partidos políticos dar apoio, estimu-<br />
lar e disputar propostas nas suas<br />
instâncias <strong>de</strong>mocráticas.<br />
Eles po<strong>de</strong>m ser "oficializados"<br />
por lei, como os <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Zona<br />
Leste, que já são reconhecidos pelo<br />
governo <strong>de</strong> São Paylp,-ou como o.<br />
Conselho Administrativo da-Empre*<br />
sa <strong>de</strong> Transportes Coletivos" <strong>de</strong> Dida-<br />
<strong>de</strong>ma, que é eleito nos bairros da-<br />
quela cida<strong>de</strong>.<br />
O limite evi<strong>de</strong>nte dos Conselhos<br />
Populares é a legislação vigente e a<br />
instltuclonallda<strong>de</strong> do pais. Para ter<br />
força <strong>de</strong> lei e ser obrigatória uma <strong>de</strong>-<br />
cisão <strong>de</strong> conselho ou este é legalmen-<br />
te Investido <strong>de</strong>ste po<strong>de</strong>r, ou o Execu-<br />
tivo e mesmo um vereador ou um<br />
partudo transforma sua <strong>de</strong>liberação<br />
em projeto <strong>de</strong> lei. Fora disto, as <strong>de</strong>li-<br />
berações dos Conselhos têm força <strong>de</strong><br />
pressão social e <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda políti-<br />
ca, como acontece, aliás, com todas<br />
as propostas que as entida<strong>de</strong>s da so-<br />
cieda<strong>de</strong> civil fazem ao Executivo e<br />
ao Legislativo.<br />
Os Conselhos Populares significam<br />
evi<strong>de</strong>ntemente a organização popu-<br />
lar, a politização do povo, a <strong>de</strong>mo-<br />
cratização do aparelho admlnistrati-,<br />
vo, já que muitos conselhos na área<br />
<strong>de</strong> transporte, educação e saú<strong>de</strong>, já<br />
controlam e fiscalizam estes servi-<br />
ços públicos.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma revolução políti-<br />
ca e cultural, daí o medo das elites<br />
dominantes, dos aproveitadores da<br />
máquina administrativa e do clien-<br />
tellsmo político. Para o PT é uma<br />
condição indispensável para as<br />
transformações sociais e políticas<br />
em nosso país, da mesma forma que<br />
o é a organização e construção do<br />
partido e <strong>de</strong> seu programa político.<br />
Vamos ver agora quem é realmen-<br />
te a favor da <strong>de</strong>mocracia e do con-<br />
trole do Estado. Quem tem medo dos<br />
Conselhos Populares?<br />
Deputado Estadual, secretario geral nacio-<br />
nal do PT e membro da corrente Articula-<br />
ção<br />
Política Nacional<br />
te nas mesmas. O que muda com a<br />
conquista <strong>de</strong> Prefeituras e a amplia-<br />
ção da sua participação nas Câma-<br />
ras Municipais, é que terá também<br />
<strong>de</strong> atuar nestas instituições, <strong>de</strong>mo-<br />
cratizando-as. Desta forma o.nai ;i<br />
eliminando alguns, senão todos, os<br />
obstáculos que se erguem contra o<br />
exercício da cidadania em nosso<br />
país.<br />
Membro do Diretório Estadual do PT e da<br />
corrente "PT Vivo<br />
Plenárias<br />
Populares<br />
José Correia<br />
A vitória <strong>de</strong> Lulza Erundina impõe<br />
o PT o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> governar a maior<br />
cida<strong>de</strong> do continente. Mas nosso ob-<br />
jetivo é muito maior: queremos mu-<br />
dar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> o Brasil, e a conquis-<br />
ta da Prefeitura <strong>de</strong> São Paulo é uma<br />
alavanca importante para este obje-<br />
tivo.<br />
Isto, porém, não acontecerá sem<br />
que o povo se organize, participe di-<br />
retamente da política e tome em<br />
suas mãos as ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino e<br />
da nação.<br />
E neste marco que surge a propos-<br />
ta do PT <strong>de</strong> governar com os conse-<br />
lhos populares. A discussão que acu-<br />
mulamos no partido sobre este tema<br />
já permite formularmos com clare-<br />
za diferentes aspeptos <strong>de</strong> nossa pro-<br />
posta:<br />
1) Tratam-se <strong>de</strong> organismosHa so-<br />
cieda<strong>de</strong> civil, do movimento, e não<br />
do Estado. Não se confun<strong>de</strong>m, por-<br />
tanto, com as propostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocra-<br />
tização da administração municipal<br />
que o PT está propondo, através da<br />
criação <strong>de</strong> canais institucionais <strong>de</strong><br />
participação e controle popular so-<br />
bre a administração (como, por<br />
exemplo, os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> exis-<br />
tentes na zona leste ou os mecanis-<br />
mos <strong>de</strong> participação dos funcionalis-<br />
mo público na gestão <strong>de</strong> órgãos do<br />
governo).<br />
2) São não apenas órgãos In<strong>de</strong>pen-<br />
<strong>de</strong>ntes do Estado e da administração<br />
mas também unitários, compostos<br />
pela população <strong>de</strong> uma dada áreas<br />
que se disponha a participar in<strong>de</strong>-<br />
pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua filiação parti-<br />
dária, credo religioso, etc.<br />
3) O esforço fundamental <strong>de</strong> im-<br />
pulsionar sua constituição cabe ao<br />
PT e aos <strong>de</strong>mais partidos que <strong>de</strong>fen-<br />
<strong>de</strong>m sua criação, às entida<strong>de</strong>s da so-<br />
cieda<strong>de</strong> civil e á população Interes-<br />
sada. A administração do PT <strong>de</strong>ve<br />
apoiar ativamente estas iniciativas<br />
mas não po<strong>de</strong> substituí-las.<br />
4) Os conselhos populares não po-<br />
<strong>de</strong>m ser criados por <strong>de</strong>creto. Sua<br />
formação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um acúmulo<br />
<strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> participação, mo-<br />
bilização e consciência da população<br />
envolvida, hoje inexistente na maio-<br />
ria das regiões da cida<strong>de</strong>. |A
5) Os conselhos populares <strong>de</strong>vem<br />
Incorporar as li<strong>de</strong>ranças e setores<br />
mobilizados da população que hoje<br />
participam das SABs e associações<br />
<strong>de</strong> moradores combativas, das co-<br />
munida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base da Igreja, das<br />
entida<strong>de</strong>s associativas do campo <strong>de</strong><br />
mocrático e popular (tipo subse<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> sindicatos, associações esporti-<br />
vas e culturais! e, principalmente,<br />
dos movimentos existentes.<br />
Os conselhos populares po<strong>de</strong>m e<br />
<strong>de</strong>vem exercer diferentes funções:<br />
organização popular para a condu-<br />
ção das lutas e a representação polí-<br />
tica; constituição <strong>de</strong> novas referen-<br />
cias políticas, fora dos esquemas<br />
tradicionais; fiscalização e controle<br />
da administração- colaboração e<br />
pressão com uma administração<br />
municipal popular (ou pressão e<br />
confronto com uma encabeçada por<br />
forças conservadoras); participa-<br />
immmmm<br />
■- ■■:■■■ :. .<br />
ção em <strong>de</strong>cisões, resguardada sua<br />
completa in<strong>de</strong>pendência, caso se<br />
trata <strong>de</strong>jjma administração popu-<br />
^iar; fôrma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r popular. Natu-<br />
ralmente, o exercício <strong>de</strong>stas diferen-<br />
tes funções <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu estágio<br />
<strong>de</strong> constituição e da situação política<br />
mais geral, do grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratiza-<br />
ção da socieda<strong>de</strong>, É ai que existem,<br />
<strong>de</strong>ntro do PT, diferentes sensibilida-<br />
<strong>de</strong>s sobre os conselhos populares,<br />
Para termos uma visão embrioná-<br />
ria do que po<strong>de</strong>m vir a ser os conse-<br />
lhos populares, a melhor aproxima-<br />
ção não é, como tem sido noticiado<br />
pelos jornais, os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
mas as plenárias populares que o PT<br />
está realizando com a prefeita Lulza<br />
Erundlna e li<strong>de</strong>ranças populares nas<br />
diferentes regiões.<br />
O PT sempre consi<strong>de</strong>rou as for-<br />
mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracias representati-<br />
vas (eleição <strong>de</strong> parlamentares ou<br />
Órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia direta<br />
Roberto Gouveia<br />
A vitória eleitoral do PT aprofun-<br />
da a crise do Governo Sarney, abre<br />
espaços para a politizaçào da socie-<br />
da<strong>de</strong>, bem como para conqustas so-<br />
ciais com implicações na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida da população. Ela acontece<br />
em uma situação peculiar on<strong>de</strong> pre-<br />
dominam dois fatores: revolta con-<br />
tra o governo e baixo nível <strong>de</strong> orga-<br />
nização da base da socieda<strong>de</strong>.<br />
Este pequeno grau <strong>de</strong> organização<br />
nos movimentos populares, no movi-<br />
mento sindical, nas entida<strong>de</strong>s da so-<br />
cieda<strong>de</strong> civil e nas instâncias do<br />
Partido é um dos principais pontos<br />
<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> na sustentação da Ad-<br />
ministração Petista em São Paulo.<br />
A eleição <strong>de</strong> Luiza Erundlna, com<br />
uma proposta clara <strong>de</strong> participação<br />
popular e <strong>de</strong> inversão das priorida-<br />
<strong>de</strong>s sociais, abre melhores perspec-<br />
tivas para a implantação dos Conse-<br />
lhos Populares.<br />
Inverter as priorida<strong>de</strong>s nas ações<br />
da Prefeitura significa impedir que<br />
os interesses do capital se sobrepo-<br />
nham aos interesses da coletivida<strong>de</strong>.<br />
Assim, os túneis, gran<strong>de</strong>s viadutos,<br />
e obras faraônicas não po<strong>de</strong>riam vir<br />
em prejuízo da construção <strong>de</strong> mora-<br />
dia popular, <strong>de</strong> escolas, <strong>de</strong> postos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, creches etc. Cada passo nes-<br />
te sentido, cada conquista, significa-<br />
rá uma luta e a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />
processo educativo.<br />
O principal canal centralizador<br />
<strong>de</strong>sta luta serão os Conselhos Popu-<br />
lares. Deles <strong>de</strong>vem fazer parte os<br />
mais diferentes movimentos, asso-<br />
ciações e representantes populares<br />
eleitos. São organismos <strong>de</strong> frente<br />
única, autônomos, on<strong>de</strong> as priorida-<br />
<strong>de</strong>s sociais serão discutidas e vota-<br />
das.<br />
Os Conselhos Populares nào se<br />
constituirão <strong>de</strong> uma só vez mas<br />
avançarão conforme a luta. De acor-<br />
do com o nível <strong>de</strong> participação é pos-<br />
sível que em um <strong>de</strong>terminado bairro<br />
ou região o Conselho como um<br />
organismo, inicialmente, consultivo.<br />
Outros mais avançados, serão capa-<br />
zes <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberar sobre certos temas<br />
municipais e interferir na adminis-<br />
tração.<br />
A nossa meta principal é que os<br />
Conselhos Populares sejam <strong>de</strong>libe-<br />
rativos, autônomos e órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
mocracia direta. Falar em <strong>de</strong>mo-<br />
cracia direta eqüivale a falar em po-<br />
<strong>de</strong>r e autonomia. Porisso, sonhos<br />
. contra a idéia dos Conselhos Popula-<br />
res como sendo "institucionais",<br />
"órgãos auxiliares da Administra-<br />
ção" ou "criados pelo Po<strong>de</strong>r Públi-<br />
co", Isso não se choca, evi<strong>de</strong>ntemen-<br />
te, com outro projeto que é o da <strong>de</strong>-<br />
mocratização dos diversos órgãos<br />
que compõem a Prefeitura, para tor-<br />
ná-la transparente e aberta à popu-<br />
lação.<br />
A <strong>de</strong>mocratização da instituição e<br />
a formação dos Conselhos Populares<br />
vem no sentido <strong>de</strong> melhorar as con-<br />
Política Nacional<br />
governantes a cada quatro anos) in-<br />
suficientes para assegurar uma <strong>de</strong>-<br />
mocratização e mo<strong>de</strong>rnização do<br />
país. Defen<strong>de</strong>mos as necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
se instaurar mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mo-<br />
cracia participativa, através dos<br />
quais o povo possa exercer direta-<br />
mente o po<strong>de</strong>r. Isto Inclusive é o que<br />
permite o artigo 1?, parágrafo único,<br />
da nova Constituição que as forças<br />
conservadoras procuraram alterar.<br />
Isso remete para a perspectiva <strong>de</strong><br />
uma certa Institucionalização do<br />
conselhos populares com a elabora-<br />
ção da nova Lei Orgânica do Municí-<br />
pio, a constituinte municipal, que<br />
teoricamente po<strong>de</strong> reconhecer-lhes<br />
os papéis que <strong>de</strong>stacamos acima<br />
(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que resguar<strong>de</strong> sua autono-<br />
mia).<br />
Membro da Executiva Municipal do PT e d?<br />
corrente ligada ao jornal Em Tempo ■<br />
dições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> vida da popu-<br />
lação, integrando na luta funcioná-<br />
rios, usuários e população em geral,<br />
ao mesmo tempo em que contri-<br />
buem para uma transformação so-<br />
cial mais profunda. Neste sentido, os<br />
Conselhos Populares po<strong>de</strong>m ser en-<br />
tendidos como embriões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
popular,<br />
O PT <strong>de</strong>ve estimular a formação<br />
dos Conselhos Populares á partir<br />
das contradições existentes em nos-<br />
sa socieda<strong>de</strong> e das <strong>de</strong>mandas so-<br />
ciais. Os Conselhos Populares <strong>de</strong>-<br />
vem comportar a participação <strong>de</strong> di-<br />
ferentes segmentos da socieda<strong>de</strong>,<br />
com caráter amplo, unitário e <strong>de</strong>mo-<br />
crático; e neles, os petistas procura-<br />
ram disputar a hegemonia para os<br />
setores populares.<br />
Deputado estadual do PT e membro da cor-<br />
rente PPS — Po<strong>de</strong>r Popular e Socialismo<br />
Queremos é mais <strong>de</strong>mocracia<br />
José Álvaro Moisés<br />
A proposta <strong>de</strong> organizar Conse-<br />
lhos Populares está diretamente li-<br />
gada ao <strong>de</strong>bate socialista contempo-<br />
râneo em tomo das relações entre<br />
<strong>de</strong>mocracia representativa e <strong>de</strong>mo-<br />
cracia direta. Os Conselhos Popula-<br />
res pertencem à família da <strong>de</strong>mo-<br />
cracia direta, mas como toda forma<br />
política que supõe algum nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, não é difícil encon-<br />
trar, também, eles elementos <strong>de</strong><br />
consangüinida<strong>de</strong> próprios á família<br />
da <strong>de</strong>mocracia representativa,<br />
Quem propõe Conselhos Popula-<br />
res, pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia, e quem<br />
pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia — ao menos<br />
no campo da esquerda — <strong>de</strong>seja,<br />
certamente, conquistar mais igual-<br />
da<strong>de</strong> e mais liberda<strong>de</strong>. No limite, co-<br />
mo todos sabemos, essa reivindica-<br />
ção coloca em questão a própria na-<br />
tureza do capitalismo, ou seja, a<br />
apropriação privada dos resultados<br />
e dos meios <strong>de</strong> produção coletiva.<br />
Quem pe<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>mocracia, par-<br />
te <strong>de</strong> uma constatação: o mo<strong>de</strong>lo re-<br />
presentativo apoiado no sufrágio<br />
universal, no voto direto e secreto, e<br />
na escolha <strong>de</strong> representantes, é um<br />
primeiro passo, mas insuficiente. A<br />
, crítica clássica ao sistema represen-<br />
tativo é bem conhecida: uma vez<br />
eleitos, os representantes do povo<br />
não têm quase mais contato com os<br />
seus representantes que, <strong>de</strong>ssa for-<br />
ma, são alienados quase completa-<br />
mente dos seus direitos políticos. Só<br />
não são totalmente alienados por-<br />
que, periodicamente, po<strong>de</strong>m votar,<br />
confirmar ou negar legitimida<strong>de</strong> aos<br />
seus representantes.<br />
É neste contexto que a proposta <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mocracia direta aparece como<br />
uma nova solução.<br />
Ocorre que esta <strong>de</strong>mocracia dire-<br />
ta não po<strong>de</strong> mais se realizar no mun-<br />
do contemporâneo: a dimensão e a<br />
complexida<strong>de</strong> das socieda<strong>de</strong>s que se<br />
formaram <strong>de</strong>pois das revoluções<br />
burguesa e industrial toma imprati-<br />
cável colocar milhões e milhões <strong>de</strong><br />
pessoas na praça pública para, jun-<br />
tas, <strong>de</strong>cidirem os rumos da econo-<br />
mia e da política.<br />
Portanto, ao invés-<strong>de</strong> se substituir<br />
completament a <strong>de</strong>mocracia repre-<br />
sentativa, a <strong>de</strong>mocracia direta po<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong>ve corrigi-la, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que articu-<br />
lando-se com ela. Em outras pala-<br />
vras, é preciso (1) aperfeiçoar os<br />
mecanismos <strong>de</strong> representação, co-<br />
mo os parlamentos; (2) articulá-los<br />
com os mecanismos <strong>de</strong> participação)
liiiiiiiii<br />
Quinzena<br />
direta, como o referendo e a Iniciati-<br />
va legislativa; e (3) integrá-los com<br />
novos mecanismos como os Conse-<br />
lhos Populares, criando referências<br />
<strong>de</strong> nova qualida<strong>de</strong> para o próprio<br />
funcionamento dos parlamentos tra-<br />
dicionais.<br />
Nesse sentido, penso que os Conse-<br />
lhos Populares <strong>de</strong>verão ser forma-<br />
dos por <strong>de</strong>legados eleitos diretamen-<br />
te pela população, em ampla disputa<br />
CONFIANÇA NO PROCESSO<br />
História das Tendências no Brasil,<br />
<strong>de</strong> Antônio Ozai da Silva - 238pp.<br />
CzS 2000,00 (À VENDA NO CPV)<br />
Maurício Tragtenberg<br />
O autor náo é intelectual acadêmi-<br />
co, o que diz muito a seu favor. Nas-<br />
cido em Santa Maria (PB) a<br />
7/11/1962. Em São Paulo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1974, aos 13 anos começa a trabalhar<br />
como operário. A partir <strong>de</strong> 1978/9<br />
Torna-se militante político, tendo par-<br />
ticipado ativamente da greve dos me-<br />
talúrgicos em 1980, época em que<br />
trabalhava na Saab Scania do Brasil,<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>mitido em 1982. Fez<br />
parte da equipe responsável pelo tra-<br />
balho sindical em Dia<strong>de</strong>ma do Sindi-<br />
cato dos Metalúgicos <strong>de</strong> São Bernar-<br />
do e Dia<strong>de</strong>ma, optando pelo retomo à<br />
fábrica. É filiado e militante do PT.<br />
Sua obra traça um panorama da<br />
história do movimento operário brasi-<br />
leiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cisão do movimento<br />
anarquista no Brasil que originou a<br />
formação do PC e sua vinculação à<br />
3 § Internacional até a formação do<br />
Bloco Operário Camponês em 1928 e<br />
da Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalha-<br />
dores do Brasil em 1929. Os <strong>de</strong>sdo-<br />
bramentos da Revolução Russa no<br />
Brasil levarão à cisão trotskista <strong>de</strong><br />
NOTA<br />
<strong>de</strong>bate I<br />
^O<br />
i com<br />
maseff<br />
i<strong>de</strong> espaç0 a<br />
_ . oT i<br />
•Que pT<br />
inuação<br />
éesse e>' volta"<br />
e r ' -<br />
prtixima<br />
■ na<br />
105<br />
ÍÜINZENA^<br />
político-partidária, para funciona-<br />
rem em certas áreas da administra-<br />
ção pública e, mesmo, em nível glo-<br />
bal.<br />
Não vejo, portanto, os Conselhos<br />
Populares como expressão <strong>de</strong> um<br />
po<strong>de</strong>r paralelo que, como se sabe, só<br />
se constitui em circunstâncias histó-<br />
ricas bem <strong>de</strong>terminadas (nos<br />
momentos revolucionários). Por is-<br />
so, se é verda<strong>de</strong> que não cabe aos KO-<br />
1929 e ao início da política <strong>de</strong> "frente<br />
popular", do PCB (1930). Entre 1941 o<br />
PCB <strong>de</strong>senvolve a política <strong>de</strong> "união<br />
nacional" que dura até 1958, o início<br />
da guerra fria.<br />
Como resultado da política <strong>de</strong> mo-<br />
bilização popular durante o período <strong>de</strong><br />
Jango Goulart, surge em 1961 a Po-<br />
lop (Organização Revolucionária Mar-<br />
xista Política Operária), formada por<br />
elementos que <strong>de</strong>ixaram o PCB, o<br />
Partido Socialista Brasileiro, e por<br />
marxistas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. A Polop<br />
contesta a versão do PCB da "revolu-<br />
ção por etapas" e apresenta um "Pro-<br />
grama Socialista para o. Brasil". Mos-<br />
tra o autor que, paralelamente surgia<br />
a Ação Popular, formada por militan-<br />
tes da JOC e da JEC, com influência<br />
LtAs^r<br />
da Vermelha<br />
PC<br />
«iw^<br />
j-tÚ-** 0 "*"<br />
'"■:<br />
A " U "" < 'O-iUaSUv. íí<br />
Poltttca Nacional<br />
vemos petistas vinculá-los orgânica-<br />
mente à administração pública, isso<br />
não exclui que eles <strong>de</strong>vam institucio-<br />
nalizar-se. Se queremos que eles te-<br />
nham vida longa, para permitir um<br />
novo patamar <strong>de</strong> luta social e politi<br />
ca no pais, eles precisam fazer parte<br />
efetiva da estrutura política dos rru-<br />
nicípios.<br />
Sociólogo, professor üa USP. militapt» üc<br />
PT R membro da correnle Articulação<br />
no movimento estudantil. O golpe <strong>de</strong><br />
1964 leva à formação <strong>de</strong> muitas ten-<br />
dências que apelam à luta armada.<br />
Rachas<br />
Assim, o autor estuda os rachas do<br />
PCB com a formação da ALN (Alian-<br />
ça Libertadora Nacional), PCBR (Par-<br />
tido Comunista Brasileiro Revolucio-<br />
nário), Movimento Revolucionário 8<br />
<strong>de</strong> Outubro (MR-8). Estuda os rachas<br />
da Polop, com o Colina (Comando <strong>de</strong><br />
Libertação Nacional), VPR (Vanguar-<br />
da Popular Revolucionária) a Var-<br />
Palmares, o Partido Operário Comu-<br />
nista (POC), o MEP (Movimento <strong>de</strong><br />
Emancipação do Proletariado). Estuda<br />
os rachas da AP com o Partido Re-<br />
volucionário dos Trabalhadores, a<br />
APML, a Ala Vermelha do PC do B e<br />
os rachas do trotskismo. O livro é far-<br />
tamente documentado e esclarece ao<br />
leitor ou ao estudioso os movimentos<br />
sociais no Brasil. Deve ser lido, pois<br />
documenta a trajetória aos militantes<br />
que se filiaram a uma visão etapista<br />
do processo brasileiro (PCB, PC doB,<br />
MR-8) e os militantes do PT, cujo par-<br />
tido enuncia os seus objetivos socia-<br />
listas, confiando no processo para<br />
melhor <strong>de</strong>fini-los.<br />
Maurício Tragtenberg é o professor <strong>de</strong><br />
Ciência Política na Fundação Getúlio<br />
Vargas e na Pontifica Universida<strong>de</strong><br />
Católica <strong>de</strong> São Paulo.<br />
WS KTAMOS UHW £ ESTAMOS<br />
A00RAAIDO'
li l<br />
Quinzena<br />
Boletim do DIBESE - Out/88<br />
O Movimento <strong>Sindical</strong> c a Social<br />
Tanto a industrialização quanto o movimento operário<br />
chegaram relativamente tar<strong>de</strong> na Suécia. Mas, quando<br />
a industrialização e as idéias socialistas a alcançaram,<br />
conquistaram um significado mais radical que em<br />
muitos países. A Suécia se transformou, em relação<br />
ao seu tamanho e número <strong>de</strong> habitantes,<br />
em um dos principais países industrializados. Com<br />
gran<strong>de</strong> expressão, a União Geral dos<br />
Trabalhadores (LO) congrega atualmente cerca <strong>de</strong> 2<br />
milhões <strong>de</strong> trabalhadores e mantém estreita<br />
relação com o Partido Social Democrata do país.<br />
As idéias socialistas chegaram à Suécia, efetivamen-<br />
te, nos anos 1880, impulsionadas principalmente pelo<br />
movimento operário <strong>de</strong>senvolvido na Alemanha e Dina-<br />
marca. Pela iniciativa <strong>de</strong> militantes viajantes, fundaram-<br />
se sindicatos e organizações social-<strong>de</strong>mocratas em todo<br />
o pais, apesar da forte oposição das autorida<strong>de</strong>s, setores<br />
burgueses e empregadores. As reuniões e assembléias<br />
eram proibidas. Os trabalhadores que se organizavam<br />
eram <strong>de</strong>spedidos e os familiares dos trabalhadores com-<br />
prometidos com os sindicatos eram <strong>de</strong>salojados nas mo-<br />
radias, proprieda<strong>de</strong> das companhias.<br />
Apesar da oposição e das perseguições, o movimento<br />
dos trabalhadores cresceu. Em 1889 fundou-se o Partido<br />
Operário Social Democrata da Suécia, como um partido<br />
nacional do movimento dos trabalhadores suecos. No en-<br />
tanto, as organizações sindicais careciam <strong>de</strong> uma dire-<br />
ção nacional central. Em 1898 criou-se a União Geral<br />
dos Trabalhadores (LO) e em 1906 os empregadores or-<br />
ganizaram a Associação Patronal Sueca e reconheceram<br />
o direito dos trabalhadores a organizar-se em sindicatos.<br />
Entre os trabalhadores não organizados, no entanto,<br />
ocorreram violações ao direito <strong>de</strong> associação, que se<br />
prolongaram posteriormente.<br />
A partir <strong>de</strong> 1909, o movimento sindical sueco cresceu<br />
em número <strong>de</strong> participantes e em força. Nesse ano, a<br />
exigência <strong>de</strong> redução salarial proposta pelos empresários<br />
provocou um gran<strong>de</strong> conflito trabalhista, comprometendo<br />
a maior parte do mercado <strong>de</strong> trabalho. O conflito signifi-<br />
cou <strong>de</strong>rrota para os trabalhadores, que foram obrigados a<br />
ven<strong>de</strong>r seu trabalho mais ou menos nas condições im-<br />
postas pelos patrões, o que <strong>de</strong>libitou seriamente o mo-<br />
vimento sindical.<br />
Des<strong>de</strong> essa época, o movimento sindical na Suécia<br />
tem crescido <strong>de</strong> forma contínua em número <strong>de</strong> membros,<br />
grau <strong>de</strong> organização e força. Atualmente, cerca <strong>de</strong> 2 mi-<br />
lhões <strong>de</strong> trabalhadores estão filiados à LO, ou seja, 90%<br />
dos trabalhadores estão organizados sindicalmente, em<br />
alguma das "uniões" <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong>.<br />
Trabalhando lado a lado com o Partido Sociai-Demo-<br />
crata, os sindicatos na colaboração <strong>de</strong> classes três pon-<br />
tos fundamentais: a empresa privada é o instrumento es-<br />
Democracia na Suécia<br />
Internacional<br />
sencial <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>ve obter lucros, a fim <strong>de</strong> asse-<br />
gurar os reinvestimentos; o papel do Estado consiste em<br />
ser o regulador das ativida<strong>de</strong>s econômicas; os comitês<br />
<strong>de</strong> empresa têm como objetivo "facilitar uma colaboração<br />
sem choques entre entida<strong>de</strong> patronal e trabalhadores<br />
com vistas a uma produção ótima".<br />
O PRINCÍPIO INDUSTRIAL DE ORGANIZAÇÃO<br />
A maioria das uniões que formam a União Geral dos<br />
Trabalhadores aplica o chamado princípio industrial <strong>de</strong><br />
organização, ou seja, todos os trabalhadores que traba-<br />
lham em um mesmo local pertencem à mesma União<br />
Nacional, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do ofício que tenham. Por<br />
exemplo, uma gran<strong>de</strong> empresa metalúrgica que emprega<br />
uma série <strong>de</strong> profissionais diferentes (torneiro, fresador,<br />
eletricista, mantenedores, mecânicos e reparadores) tem<br />
seus empregados representados pela União <strong>de</strong> Traba-<br />
lhadores Metalúrgicos.<br />
Certas uniões <strong>de</strong>ntro do ramo da construção - a União<br />
dos Trabalhadores <strong>de</strong> Funilaria, a União dos Eletricistas<br />
e a União dos Pintores - aplicam o princípio profissional<br />
<strong>de</strong> organização. Assim, os funileiros, eletricistas e pinto-<br />
res pertencem a uniões próprias, enquanto outros grupos<br />
profissionais <strong>de</strong>ntro do ramo da construção, como por<br />
exemplo os carpinteiros e pedreiros, pertemcem à União<br />
Sueca <strong>de</strong> Trabalhadores na Construção.<br />
A maioria das uniões que compõem a LO têm entre<br />
80% e 90% <strong>de</strong> grau <strong>de</strong> organização. Em certos setores,<br />
como na indústria metalúrgica e na indústria papeleira, a<br />
filiação sindical é <strong>de</strong> quase 100%. O grau <strong>de</strong> filiação é<br />
mais baixo nos setores que possuem muitos locais <strong>de</strong><br />
trabalho pequenos, especialmente <strong>de</strong>ntro do setor <strong>de</strong><br />
serviços e no comércio.<br />
O chamado closed shops - modo <strong>de</strong> produção por ta-<br />
refa - não existe em princípio. Porém, o BPA, uma das<br />
maiores empresas <strong>de</strong> construção do país, que pertence<br />
ao Sindicato dos Trabalhadores, adota esse princípio,<br />
com a concordância da União Sueca <strong>de</strong> Trabalhadores<br />
na Construção.<br />
Recentes pesquisas, mostram que a ativida<strong>de</strong> sindical<br />
é reaitivamente alta entre os trabalhadores suecos. Na<br />
LO, 17% dos filiados se consi<strong>de</strong>ram sindicalistas ativos,<br />
sendo que a maioria tem cargo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> sin-<br />
dical. Durante o último ano, 45% dos filiados à LO ha-<br />
viam estado em alguma reunião sindical, 83% afirmam<br />
conhecer algum representante sindical e 30% haviam<br />
procurado, alguma vez, contato com seus representantes,<br />
a fim <strong>de</strong> influir nas <strong>de</strong>cisões. Existe uma diferença consi-<br />
<strong>de</strong>rável no grau <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> sindical, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do se-<br />
xo e data <strong>de</strong> ingresso na União. Os <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong> são<br />
mais ativos que os mais jovens, os homens mais que as<br />
mulheres e, <strong>de</strong>ntro dos setores, os que são melhores re-<br />
munerados são mais atuantes que os <strong>de</strong> menor remune-<br />
ração.<br />
As pesquisas mostram, também, que a maioria dos
trabalhadores está bastante satisfeita com sua organiza-<br />
ção sindical. Assim, 75% dos filiados consi<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>-<br />
sempenho dos <strong>de</strong>legados sindicais bom e muito bom.<br />
ORGANIZAÇÃO DAS UNIÕES<br />
A estrutura orgânica das uniões varia ligeiramente en-<br />
tre uma e outra, conservando, no entanto, as linhas es-<br />
sências. Cada união possui na base um clube sindical,<br />
uma subsencional e um <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> contato.<br />
Acima <strong>de</strong>ssas organizações estão as sencionais, que<br />
nos últimos anos, através <strong>de</strong> fusões, têm se transforma-<br />
do em uniões, constituindo unida<strong>de</strong>s relativamente gran-<br />
<strong>de</strong>s.<br />
Com isso, a criação <strong>de</strong> uma boa base econômica tem<br />
Em Tempo - Jan/89<br />
Internacional<br />
permitido a contratação <strong>de</strong> pessoal técnico especializa-<br />
do, liberando os <strong>de</strong>legados sindicais <strong>de</strong> tarefas rotineiras,<br />
a fim <strong>de</strong> que possam se concentrar no trabalho sindical<br />
básico e proporcionar assistência aos sindicalistas nas<br />
negociações. A criação <strong>de</strong> sencionais gran<strong>de</strong>s tem facili-<br />
tado também a transferência <strong>de</strong> tarefas essências das<br />
uniões nacionais às sencionais.<br />
A nível nacional, a união é dirigida por um comitê exe-<br />
cutivo e um conselho (equivalente à assembléia <strong>de</strong> re-<br />
presentantes da LO). O órgão supremo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é o<br />
congresso e a maioria das uniões o realizam a cada qua-<br />
tro anos. Geralmente, as uniões nacionais têm conselhos<br />
<strong>de</strong> convênios, compostos por representantes eleitos em<br />
todo o país, assessorando em questões relacionadas às<br />
negociações.<br />
A <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />
na revolução<br />
,— ■ ^ÚT^Carlos<br />
í ' onseCfl I Lo ^Democracia<br />
obtido pelo W 0 Américas'\<br />
{ y Revolución eni<br />
Orlando mnez ^^<br />
americano Roge ir uma<br />
entrevista com ^ dinisía e<br />
40 anos, *"%%0?do <strong>Centro</strong><br />
atualmente ^tor ^<br />
analisa a expe<strong>de</strong> <strong>de</strong> questões<br />
^ r0p0e nT<strong>de</strong>Ze entre os<br />
para<br />
revolucwnarw^<br />
o «^ . Iflí «o-<br />
^ erÍcan0 d S a <strong>de</strong>mocracia e do<br />
vee r n %ifmo%* àrio - no<br />
— ■<br />
,,,:.-:...■ : : .>. V.<br />
Qual é o tema centrai do que você<br />
se ocupa no livro "Democracia<br />
y Revoiución en Ias Américas"?<br />
Nunez — Abor<strong>de</strong>i no livro o <strong>de</strong>bate<br />
que me parece mais significativo: entre<br />
os que colocam como estratégia a toma-<br />
da do po<strong>de</strong>r (que eu chamo revolução<br />
política) e os que afirmam que a estraté-<br />
gia tem <strong>de</strong> ser a busca <strong>de</strong> transformações<br />
sociais e econômicas.<br />
O marxismo tradicional quando pensa<br />
na revolução, tem em vista as transfor-<br />
mações sòcio-econômicas e a estratégia<br />
<strong>de</strong>stas transformações. Pelo contrário,<br />
pensa pouco em termos <strong>de</strong> luta concreta<br />
para a tomada do po<strong>de</strong>r. É claro que<br />
existe uma articulação entre os dois ex-<br />
tremos, mas uma ênfase muito gran<strong>de</strong><br />
nas transformações sòcio-econômicas<br />
tornou muito difícil assumir as tarefas<br />
das transformações políticas.<br />
— Você propõe a idéia <strong>de</strong> um bloco<br />
do proletariado com diferentes setores<br />
camponeses e com o que você chama a<br />
terceira força social, não sendo este um<br />
conceito que busca reintroduzir a bur-<br />
guesia na aliança.<br />
Nunez — A noção <strong>de</strong> terceira força é<br />
uma maneira <strong>de</strong> provocar a discussão.<br />
Existe uma primeira força, o proletaria-<br />
do; existe uma segunda força, o campe-<br />
sinato. Não tenho a pretensão <strong>de</strong> formu-<br />
lar um conceito acabado. O que busco é<br />
fazer com que os revolucionários com-<br />
preendam que, se pensam em fazer a re-<br />
volução política, é necessário dirigir a<br />
maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças sociais pos-<br />
sível. Não se <strong>de</strong>ve ser purista. Jamais os<br />
burgueses disseram: "aqueles que não<br />
são burgueses não po<strong>de</strong>m lutar a favor<br />
<strong>de</strong> nosso projeto". Em contrapartida,<br />
passamos anos discutindo sobre a pure-<br />
za das forças sociais que po<strong>de</strong>m partici-<br />
par na luta pela tomada do po<strong>de</strong>r.<br />
Outra coisa é <strong>de</strong>terminar quais são as<br />
forças que vão participar das transfor-<br />
mações históricas após a tomada do po-<br />
<strong>de</strong>r. E aí correspon<strong>de</strong> ao proletariado<br />
um papel <strong>de</strong> vanguarda mais <strong>de</strong>stacado.<br />
Dai busco "provocar" o <strong>de</strong>bate ao<br />
conferir toda a importância a numerosos<br />
movimentos como o <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> es-
^ ^ „^<br />
Quinzena Internacional<br />
tudantes, <strong>de</strong> indigenas, <strong>de</strong> bairros po-<br />
bres.<br />
— O conceito <strong>de</strong> terceira força me pa-<br />
rece importante para compren<strong>de</strong>r a «s-<br />
tratégia atual que está sendo colocada<br />
em prática em El Salvador pelos revolu-<br />
cionários. A Union Nacional <strong>de</strong> Traba-<br />
jadores Salvadorenos (UNTS), por<br />
exemplo, procura aliar-se ao setor do pe-<br />
queno-comércío urbano aos artesãos.<br />
Nunez — Exatamente. Lembro a você<br />
uma das minhas "provocações" que ex-<br />
pus no livro, parafraseando uma citação<br />
<strong>de</strong> Marx, contida no Manifesto Comu-<br />
nista: "Em nossa luta todo mundo po<strong>de</strong><br />
tomar parte, até os burgueses, indivi-<br />
dualmente, que compreen<strong>de</strong>m o sentido<br />
da história, que se sentem arrastados por<br />
ela e que se comprometem acompanhá-<br />
la".<br />
Isto é o que ocorreu na Nicarágua. Se-<br />
tores importantes da burguesia eram<br />
i<strong>de</strong>ologicamente contra o somozismo,<br />
contra o imperialismo, não apenas por-<br />
que existiam importantes contradições<br />
objetivas entre a burguesia e o somozis-<br />
mo, mas também pela atração exercida<br />
pelos valores revolucionários junto a se-<br />
tores da burguesia que sabem ser o seu<br />
projeto frágil e em <strong>de</strong>clínio.<br />
— A aliança com um setor da burgue-<br />
sia foi, então, útil. Mas, se tomamos o<br />
exemplo <strong>de</strong> El Salvador, não se percebe<br />
bem que setor da burguesia po<strong>de</strong>ria<br />
participar da luta revolucionária ...<br />
Nnnez — É possível que não se perce-<br />
ba, mas isto não exclui esta eventualida-<br />
<strong>de</strong>. Se existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal alian-<br />
ça, é necessário explorá-la.<br />
— Sim, mas esta é uma questão muito<br />
concreta ...<br />
Nnnez — Certamente. E não se <strong>de</strong>ve,<br />
por principio, aceitar ou recusar esta<br />
possibilida<strong>de</strong> ...<br />
— Seria muito perigoso que os sandi-<br />
nistas dissessem a outros revolucioná-<br />
rios: a aliança com a burguesia é neces-<br />
sária por principio ...<br />
Uso o conceito <strong>de</strong> "terceira<br />
força" para afirmar a<br />
importância do movimento<br />
<strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> estudantes,<br />
<strong>de</strong> indígenas, <strong>de</strong> bairros, na<br />
luta pelo po<strong>de</strong>r.<br />
Nnnez — Fui muito pru<strong>de</strong>nte ao falar<br />
dá experiência nicaraguense para evitar<br />
justamente este risco. Se se fala <strong>de</strong> alian-<br />
ça com a burguesia, isto implica que ela<br />
se dê sob a hegemonia dos revolucioná-<br />
rios. Em nosso caso, a aliança foi reali-<br />
zada sob a hegemonia da FSLN.<br />
— Gostaria <strong>de</strong> abordar agora a segun-<br />
da parte do livro, <strong>de</strong>dicada ao <strong>de</strong>bate da<br />
transição ao socialismo.<br />
Nnnez — Até hoje, a ban<strong>de</strong>ira da <strong>de</strong>-<br />
mocracia foi levantada pela burguesia.<br />
A este respeito, os revolucionários têm<br />
sido muito reticentes.<br />
Creio que é fundamental assumir a <strong>de</strong>-<br />
fesa da <strong>de</strong>mocracia. Creio que o próprio<br />
^ínarxismo, na sua origem, é <strong>de</strong>mocráti-<br />
co. O pluralismo político é parte essen-<br />
cial da <strong>de</strong>mocracia. A existência do par-<br />
tido único não é uma condição indispen-<br />
sável para manter, alimentar e <strong>de</strong>senvol-<br />
ver a hegemonia revolucionária, a qual<br />
po<strong>de</strong> ser mantida perfeitamente com o<br />
pluralismo partidário. Naturalmente es-<br />
tamos supondo que o pluralismo se dê<br />
em uma socieda<strong>de</strong> que tem um projeto<br />
revolucionário e no seio da qual as mas-<br />
sas são revolucionárias. Nestas condi-<br />
ções, nem <strong>de</strong> longe um partido <strong>de</strong> direita<br />
po<strong>de</strong> causar preocupações, pois a bur-<br />
guesia è uma classe minoritária e tira a<br />
sua força da manipulação das massas.<br />
Com mais forte razão, a existência <strong>de</strong><br />
numerosos partidos <strong>de</strong> esquerda não <strong>de</strong>-<br />
ve ser fonte <strong>de</strong> preocupações. O pluralis-<br />
mo político é parte do projeto revolucio-<br />
nário. A própria esquerda <strong>de</strong>ve ser plu-<br />
ralista.<br />
No processo <strong>de</strong> transição, as diferen-<br />
ças <strong>de</strong> classe subsistem. Mesmo a classe<br />
operária não é homogênea. Por exem-<br />
plo, não é certo que os interesses dos tra-<br />
balhadores <strong>de</strong> uma mesma fábrica cor-<br />
respondam aos interesses estratégicos da<br />
revolução. E o mesmo ocorre com seto-<br />
res camponeses, estudantis etc. Não há,<br />
portanto, concordância automática en-<br />
tre os interesses setoriais e os interesses<br />
estratégicos.<br />
Manter o pluralismo no seio da es-<br />
querda é necessário, mesmo quando as<br />
condições são difíceis. Não só não esta-<br />
mos habituados ao pluralismo, como te-<br />
mos nos negado a praticá-lo. O mesmo<br />
po<strong>de</strong> se dizer da direção coletiva. O plu-<br />
ralismo ao qual me refiro implica tam-<br />
bém no direito a ter divergências. É atra-<br />
vés dos <strong>de</strong>bates e da discussão que se<br />
forja uma síntese, uma <strong>de</strong>cisão. A dire-<br />
ção coletiva é parte do pluralismo. Ela<br />
permite sintetizar diferentes apreciações,<br />
o que uma pessoa só não po<strong>de</strong> fazer.<br />
Faz parte da história negativa do so-<br />
cialismo a não permissão do pluralismo.<br />
Isto implicou em um divórcio entre a crí-<br />
tica e a hegemonia, entre a ciência e a<br />
política, entre o <strong>de</strong>bate critico e a <strong>de</strong>fesa<br />
da revolução. E terminou mal, como em<br />
Granada, com o assassinato <strong>de</strong> Maurice<br />
Bishop ou com numerosos revolucioná-<br />
rios que "<strong>de</strong>sapareceram", com uma<br />
bala na cabeça, ou como ocorreu com o<br />
próprio Trotsky.<br />
Esta confusão entre hegemonia e dita-<br />
dura é profundamente negativa. Temos<br />
uma rica experiência na Nicarágua. Em<br />
plena guerra e apesar dos limites da<br />
consciência popular — com efeito, as<br />
maisas nicaraguenses não têm ainda<br />
uma consciência plenamente socialista<br />
— conseguimos <strong>de</strong>senvolver um proces-<br />
so pluralista que tem o gran<strong>de</strong> mento ae<br />
existir.<br />
— De acordo com o Partido Socialista<br />
da Nicarágua (PSN) e o Partido Comu-<br />
nista da Nicarágua (PCM, o pluralismo<br />
é necessário porque não se está ainda em<br />
um Estado em transição para o socialis-<br />
mo. Para eles, em um verda<strong>de</strong>iro Estado<br />
revolucionário não po<strong>de</strong>ria existir o plu-<br />
ralismo. Este tipo <strong>de</strong> posição continua<br />
causando prejuízos e provêm <strong>de</strong> uma<br />
aceitação <strong>de</strong> certos princípios estalinis-<br />
tas...<br />
Nunez — Com toda certeza è uma tese<br />
estalinista porque pane do postulado <strong>de</strong><br />
que a socieda<strong>de</strong> é monolítica. Segundo<br />
eles, na "verda<strong>de</strong>ira" transição ao so-<br />
cialismo, todo mundo será operário e<br />
concluem que como não há mais <strong>de</strong> uma<br />
classe operária, não <strong>de</strong>ve haver mais que<br />
um partido. O problema é que a classe<br />
operária não é monolítica. No seio da<br />
classe operária há numerosos compo-<br />
nentes que têm todo o direito <strong>de</strong> ter vi-
Quinzena<br />
soes diferentes e <strong>de</strong> expressá-las.<br />
Nas socieda<strong>de</strong>s socialistas, fora da<br />
classe operária nó sentido estrito do ter-<br />
mo, existem estudantes, professores, in-<br />
telectuais... Há nações ou grupos étnicos<br />
diferentes, como os Miskitos na Nicará-<br />
gua ou os armênios na URSS. Nâo está<br />
em jogo apenas a diferença entre os que<br />
são operários e os que não são: existem<br />
também as discriminações raciais, se-<br />
xuais etc. Na Nicarágua atual ou futura,<br />
o direito à discrepância <strong>de</strong>verá existir e,<br />
portanto, o direito ao pluralismo. Os re-<br />
volucionários não <strong>de</strong>vem ter medo. Não<br />
há por que eliminar os que não estão <strong>de</strong><br />
acordo conosco. Devemos convencê-los.<br />
Ser vanguarda das massas é algo que <strong>de</strong>-<br />
ve ser conquistado a cada dia.<br />
Se nâo é <strong>de</strong>mocrático, pluralista, ter-<br />
mina-se por se separar das massas. Co-<br />
A existência do partido<br />
único não è uma condição<br />
indispensável para manter e<br />
<strong>de</strong>senvolver a hegemonia<br />
revolucionária.<br />
meça-so por fuzilar os burgueses, <strong>de</strong>pois<br />
os revolucionários "com <strong>de</strong>svio" e ter-<br />
mina por se dizer que as massas nâo sa-<br />
bem nada e que só um tem a razão.<br />
— No que concerne às instituições do<br />
po<strong>de</strong>r revolucionário, você caracteriza o<br />
regime nicaraguense como "participati-<br />
vo, consultivo e representativo". E afir-<br />
ma que po<strong>de</strong>ria ser útil criar uma As-<br />
sembléia Popular áo lado da Assembléia<br />
Nacional, eleita por sufrágio secreto.<br />
Até o momento, esta Assembléia Po-<br />
pular não existe. A representação das or-<br />
ganizações <strong>de</strong> massas passa por alguns<br />
<strong>de</strong> seus dirigentes eleitos no parlamento<br />
da Assembléia Nacional.<br />
Nunez — Aspiramos realmente a uma<br />
<strong>de</strong>mocracia participativa representativa<br />
e consultiva.<br />
A Assembléia Nacional é um instru-<br />
mento da <strong>de</strong>mocracia representativa.<br />
Para a <strong>de</strong>mocracia consultiva e partici-<br />
pativa, temos <strong>de</strong> criar distintos órgãos<br />
ou aparatos, como seria uma Assem-<br />
bléia Popular. Mas não excluo a possibi-<br />
lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a Assembléia Nacional<br />
possa permitir a representação das mas-<br />
sas. Quando me refiro à Assembléia Po-<br />
pular, penso sobre tudo na prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
bates em função dos interesses das mas-<br />
sas. No que diz respeito à <strong>de</strong>mocracia<br />
consultiva, ela po<strong>de</strong> passar pelos comitês<br />
<strong>de</strong> bairro, <strong>de</strong> fábrica, pela autogestão<br />
nas empresas, nas cooperativas, na uni-<br />
versida<strong>de</strong>. Não há mo<strong>de</strong>lo que possa ser<br />
copiado. Temos que estar abertos à pos-<br />
sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar instrumentos que ga-<br />
rantam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer o po-<br />
<strong>de</strong>r.<br />
Quando estivermos livres da agressão<br />
imperialista e avançarmos na transição,<br />
po<strong>de</strong> ser que a Assembléia Popular te-<br />
nha mais sentido que a Assembléia Na-<br />
cional, na qual estão representados inte-<br />
resses <strong>de</strong> classes contraditórias. Nesse<br />
caso, o tipo <strong>de</strong> Assembléia Popular exis-<br />
tente em Cuba nos será possivelmente<br />
^^^^^^^^^^^^^^^^^^<br />
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30<br />
útil, sem excluir outras experiências.<br />
Em Cuba há uma<br />
experiência <strong>de</strong> Assembléia<br />
Popular. Há também um<br />
certo burocratismo que<br />
<strong>de</strong>vemos discutir<br />
fraternalmente como<br />
revolucionários.<br />
— A Assembléia Nacional atual está<br />
composta <strong>de</strong> partidos <strong>de</strong> esquerda e <strong>de</strong><br />
direita, representando estes últimos à<br />
burguesia expulsa do po<strong>de</strong>r. Se ao lado<br />
da Assembléia Nacional, se constitue<br />
uma Assembléia Popular que. represen-<br />
tará mais fielmente os interesses das<br />
massas e suas organizações <strong>de</strong> bairro,<br />
sindicatos, feministas...<br />
Nunez ... e grupos étnicos, religiosos,<br />
estudantes... dando por certo que esta<br />
Assembléia Popular não <strong>de</strong>va substituir<br />
aos comitês <strong>de</strong> base, senão seria um pou-<br />
co burocrática. Mas as minhas propos-<br />
tas ten<strong>de</strong>m sobretudo, a provocar o <strong>de</strong>-<br />
bate, não são uma fórmula acabada. Em<br />
Cuba há uma experiência <strong>de</strong> Assembléia<br />
Popular. Há também um certo burocra-<br />
tismo, que <strong>de</strong>vemos discutir fraternal-<br />
mente como revolucionários. Na Nicará-<br />
gua nâo existiu uma experiência <strong>de</strong>ste ti-<br />
po, excetuando o período do Conselho<br />
<strong>de</strong> Estado (até as eleições <strong>de</strong> 1984).<br />
— Quais são as iclações da FSLN com<br />
o Estado? Como fazem vocês para evitar<br />
o perigo <strong>de</strong> fusão entre o partido e o Es-<br />
tado?<br />
Nunez — Por que e um perigo?<br />
— Refiro-me à e? eriência soviética.<br />
Já nos primeiros an s da revolução rus-<br />
sa havia um <strong>de</strong>bate a respeito. Debate no<br />
qual participaram não somente Stalin e<br />
Trotsky, senão o próprio Lenin. Uma<br />
das questões <strong>de</strong>batidas era a <strong>de</strong> como<br />
evitar que o Estado soviético, em condi-<br />
ções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s econômicas<br />
e <strong>de</strong> carência <strong>de</strong> quadros, pô<strong>de</strong> conhecer<br />
um rápido processo <strong>de</strong> burocratização.<br />
Se não se é <strong>de</strong>mocrático,<br />
termina-se por se separar<br />
das massas. Começa-se por<br />
fuzilar os burgueses, <strong>de</strong>pois<br />
os revolucionários "com<br />
<strong>de</strong>svio" e termina por se<br />
dizer que as massas não<br />
sabem nada.<br />
Nunez — Sim, existe um risco <strong>de</strong> bu-<br />
rocratização no caso <strong>de</strong> fusão entre o<br />
aparato do Estado e o do partido. Este<br />
perigo existe na Nicarágua e nâo foi con-<br />
jurado. É sempre possível que setores do<br />
aparato <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong>fendam seus inte-<br />
resses em contradição com os interesses<br />
da revolução.<br />
Ò fato <strong>de</strong> que existem comandantes da<br />
revolução fora do aparato <strong>de</strong> Estado<br />
tem contribuído para evitar o perigo<br />
Internacional<br />
mais ameaçador. A existência <strong>de</strong> uma di-<br />
reção coletiva da FSLN è um segundo<br />
escuda protetor. Cada sexta-feira ela<br />
discute tudo, a partir das responsabilida-<br />
<strong>de</strong>s respectivas <strong>de</strong> seus membros ... Isto<br />
evita que uma só pessoa tome as <strong>de</strong>ci-<br />
sões.<br />
Hoje estamos realizando uma redução<br />
do aparato do Estado. É provavelmente<br />
a redução mais radical que houve na Ni-<br />
carágua e na América Latina. Passou-se<br />
<strong>de</strong> trnta ministros e secretários <strong>de</strong> Esta-<br />
do a v.nze ministérios. Centenas <strong>de</strong> vice-<br />
ministios e diretores gerais foram obri-<br />
gados a <strong>de</strong>ixar a sua função e ligar-se a<br />
tarefas produtivas e isto não provocou<br />
atritos nem resistências burocráticas. E<br />
isto porque gran<strong>de</strong> parte dos quadros da<br />
Fomos maoístas,<br />
anarquistas,<br />
social<strong>de</strong>mocratas, radicais,<br />
castristas, guevaristas,<br />
trotskistas. Há <strong>de</strong> tudo na<br />
FSLN. Somos a geração da<br />
década <strong>de</strong> setenta que<br />
formulou muitas críticas<br />
aos regimes socialistas.<br />
FSLN estão ligados às Organizações <strong>de</strong><br />
massa e não ao aparato <strong>de</strong> Estado.<br />
Outra razão: nós, sandinistas, somos<br />
originários <strong>de</strong> muitos grupos, maoitas,<br />
anarquistas, social<strong>de</strong>mocratas, radicais,<br />
castristas, guevaristas, trotskistas. Há <strong>de</strong><br />
tudo na FSLN. Somos a geração da dé-<br />
cada <strong>de</strong> setenta que formulou muitas cri-<br />
ticas aos regimes socialistas. Muitos<br />
quadros estiveram em Cuba, no Viet-<br />
nam, na Coréia, no Chile, na França. Is-<br />
to explica que tenhamos uma gran<strong>de</strong> cul-<br />
tura antiburocrática. Existe uma gran<strong>de</strong><br />
consciência do perigo burocrático.<br />
A direção coletiva, o direito à crítica e<br />
ao pluralismo são ferramentas antiburo-<br />
cráticas importantes. O pluralismo fun-<br />
damentalmente permite a critica da fu-<br />
são partido-Estado. Os sindicatos <strong>de</strong><br />
jornalistas, embora sejam sandinistas,<br />
são muito críticos ao Estado.<br />
Enfim, as massas armadas são muitos<br />
importantes. Enfrentar a burocracia<br />
com 300 mil pessoas armadas é muito fá-<br />
cil. A massa <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r, elas têm o<br />
fuzil, elas po<strong>de</strong>m ter um sindicato, um<br />
comitê <strong>de</strong> autogestão, tudo isto é muito<br />
eficaz na luta contra a burocracia que<br />
mil discursos.<br />
Queremos um projeto socialista que se<br />
enriqueça culturalmente com a ativida<strong>de</strong><br />
e a vida cotidiana das massas. É necessá-<br />
rio ter em conta que as massas se cansam<br />
<strong>de</strong> um socialismo estatal, <strong>de</strong> um socialis-<br />
mo economicista. Para dar coragem à<br />
ativida<strong>de</strong> das massas, é preciso que o<br />
projeto socialista se realize com alegria,<br />
com efervescência popular. Se o socialis-<br />
mo é cinzento, triste, as massas não se<br />
i<strong>de</strong>ntificam com ele.