Amaxônia e doMovimento Sindical. - Centro de Documentação e ...
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O assassinato <strong>de</strong><br />
Chico Men<strong>de</strong>s<br />
Trabalhadores<br />
Durante todo o ano <strong>de</strong> 1988 esteve presente na QUINZENA às <strong>de</strong>núncias aos assassinatos no Campo. Este<br />
primeiro número <strong>de</strong> 1989 começa com o mesmo assunto: O assassinato <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Fizemos uma seleção <strong>de</strong> documentos sobre este fato que procurou enfocar os seguintes aspectos: 1. A luta<br />
dos Povos da Floresta. Nos artigos <strong>de</strong> Lucélia Santos, <strong>de</strong> Malgue Guelhs e num relatório elaborado pelo<br />
Instituto <strong>de</strong> Estudos Amazônicos (IEA) mostramos um pouco das lutas que estão sendo travadas nesta<br />
região do país. 2. O assassinato: Publicamos uma nota produzida por várias entida<strong>de</strong>s que se solidarizaram<br />
com as lutas dos Povos da Floresta, on<strong>de</strong> é narrada a forma como se <strong>de</strong>u o crimes um artigo datado <strong>de</strong><br />
03.12.88, no qual o próprio Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nuncia a Policia Fe<strong>de</strong>ral local <strong>de</strong> planejar seu assassinato. Por<br />
fim, publicamos alguns documentos do Comitê Chico Men<strong>de</strong>s, formado logo após o crime,<br />
por várias entida<strong>de</strong>s sindicais, partidárias e da socieda<strong>de</strong> civil, que vem acompanhando os<br />
<strong>de</strong>sdobramentos das investigações.<br />
Esperamos que a repercussão que causou a morte <strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s abra uma nova etapa na luta<br />
contra a violência aos trabalhadores do Campo. Uma etapa on<strong>de</strong> possamos <strong>de</strong>ixar a <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong><br />
ficar lamentando os nossos mortos, e partamos para uma ofensiva, que mobilize uma verda<strong>de</strong>ira<br />
Campanha <strong>de</strong> Luta contra a violência no campo.<br />
Folha <strong>de</strong> São Paulo ■ 19.05.88<br />
Especial para a Folha<br />
Valeu a pena viajar milhares <strong>de</strong><br />
quilômetros para visita - Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Esse lí<strong>de</strong>r dos seringueiros que chegou<br />
a Miami sem um tostão no bolso, em<br />
busca <strong>de</strong> aliados para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
floresta, é um marco na luta ecológica<br />
biasileira. Premiado em Nova York,<br />
recebeu sua medalha no Waldorf Asto-<br />
ria.-Os granimos que O aplaudiram<br />
talvez não tenham sequer idéia do que<br />
é Xapuri, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 18 mil habitantes,<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Chico Men<strong>de</strong>s comanda a<br />
resistência.<br />
Filho <strong>de</strong> seringueiros, Chico foi<br />
analfabeto até os nove anos. Por sorte<br />
sua, apareceu na floresta um exilado<br />
político que tinha participado da Colu-<br />
na Prestes, ficou preso em Fernando<br />
<strong>de</strong> Noronha e <strong>de</strong>cidiu nunca mais<br />
voltar para "o mundo civilizado". Seu<br />
nome era Eucli<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s Távora.<br />
Um dia visitou o pai do Chico e <strong>de</strong>cidiu<br />
escolher o menino para transmitir toda<br />
a sua experiência intelectual e política.<br />
O velho exilado tinha um rádio e suas<br />
aulas eram todas baseadas em pro-<br />
gramas <strong>de</strong> rádio. Um dia, ouvia-se a Voz<br />
da América para se fazer uma critica<br />
do ponto <strong>de</strong> vista norte-americano;<br />
outro dia ouviam a Rádio Moscou para<br />
achar criticas ao governo brasileiro.<br />
Depois <strong>de</strong> algum tempo, o exilado<br />
acabou aconselhando-o a ouvir mais a<br />
BBC <strong>de</strong> Londres, pois, das três, era a<br />
que trazia noticiário mais imparcial.<br />
Chico Men<strong>de</strong>s viajava três horas por<br />
Seringueiros, resistência contra a<br />
<strong>de</strong>vastação na floresta<br />
dia para. se alfabetizar. Chegou um<br />
momento em aue o velho exilado disse<br />
para ele: Um dia acabará surgindo um<br />
sindicato dos seringueiros. E você vai<br />
<strong>de</strong>sempenhar um papel. Para isso<br />
estou preparando sua cabeça.<br />
A hora estava <strong>de</strong>morando a chegar.<br />
È que os seringueiros da Amazônia<br />
sempre foram muito explorados. No<br />
princípio tentavam ven<strong>de</strong>r borracha,<br />
escondido do patrão, para os marretei-<br />
ros. Marreteiros são intermediários<br />
que ven<strong>de</strong>m tudo para eles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
roupa até a comida. Quando <strong>de</strong>scober-<br />
tos pelo patrão, alguns eram queima-<br />
dos vivos.<br />
Durante muito tempo, os patrões<br />
contraíam empréstimos no Banco da<br />
Amazônia, investiam o dinheiro nas<br />
gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e obrigavam os serin-<br />
gueiros a trabalhar dobrado, para<br />
honrarem a dívida. Tudo isso aconte-<br />
ceu muito até o tempo da ditadura<br />
quando se entrou na onda do progresso<br />
a todo custo. Ai, com dinheiro do<br />
próprio governo, os fazen<strong>de</strong>iros entra-<br />
ram rijo na área, comprando tudo<br />
<strong>de</strong>struindo tudo e plantando capim<br />
Ninguém vai comer hambúrguer ino<br />
centemente no mundo. Por trás d«<br />
cada carne tenra, há toda a história df<br />
<strong>de</strong>vastação da Amazônia.<br />
Um dia o sindicato chegou. As<br />
reuniões eram nas casas paroquiais, a:<br />
assembléias <strong>de</strong>ntro da igreja. Era a<br />
única maneira <strong>de</strong> escapar á fúria dos<br />
novos donos da terra. Um gjran<strong>de</strong> li<strong>de</strong>i<br />
seringueiro foi morto assim que os<br />
ASSINATURAS<br />
- Para militantes sem condições financeiras: Cz$ 6.080,00 (por seis meses) e Cz$ 12.160,00 (por 12 meses)<br />
- Para CUT, militantes com condições financeiras: Cz$ 8.120,00 eCz$ 16.240,00<br />
- Sindicatos, Pastorais e assinaturas <strong>de</strong> apoio: Cz$ 12.160,00 e Cz$ 24.320,00<br />
- Exterior (via áerea): US$ 30,00 (por seis meses) e US$ 60,00 (por 12 meses).<br />
O pagamento <strong>de</strong>verá ser feito em nome do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Pastoral Vergueiro em cheque nominal, cruzado, ou<br />
vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA - CEP 04299 -<br />
Código da Agência 401901 - Preços válidos até 31/03/89<br />
QUINZENA ■ Pufallcaç6es do CPV - Caixa Postal 42.791 - Sâo Paulo - S.P. - Fones: (011) 273 6533 e 273 9322<br />
sindicatos foram colocados <strong>de</strong> pé:<br />
Wilson Pinheiro.<br />
Hoje o trabalho <strong>de</strong> Chico e seus<br />
companheiros, apesar <strong>de</strong> ameaçadc<br />
pela UDR, ganhou uma dimensão<br />
internacional. O próprio BID, através<br />
do chefe da missão, Carlos Ferdinand,<br />
admitiu que colocará dinheiro nas<br />
reservas extrativlstas.<br />
A solução que Chico apresenta para<br />
essa parte da Amazônia me parece a<br />
mais racional. Eles preten<strong>de</strong>m extrair<br />
a borracha, castanhas, realizar lavou-<br />
ras <strong>de</strong> sobrevivência, e trabalhar com<br />
uma série <strong>de</strong> produtos ainda não<br />
comercializados: copaíba, assai e vá-<br />
rias plantas medicinais.<br />
Com essa proposta, Chico quer <strong>de</strong>-<br />
monstrar aue a Amazônia não precisa<br />
ser <strong>de</strong>struída nem precisa ser trans-<br />
formada num santuário on<strong>de</strong> ninguém<br />
toca em nada.<br />
O gran<strong>de</strong> passo no momento é a<br />
união dos índios com os seringueiros. O<br />
BID não está colocando mais dinheiro<br />
pdrque os índios repelem o tipo <strong>de</strong><br />
trabalho que foi feito. Apesar <strong>de</strong> serem<br />
minoria, 10 mil, em relação aos<br />
seringueiros, 500 mil, os índios têm<br />
uma repercussão internacional maior.<br />
O contato dos seringueiros com a<br />
União das Nações Indígenas está ca-<br />
minhando para um pacto <strong>de</strong> união dos<br />
povos da floresta. Apesar <strong>de</strong> haver um<br />
certo <strong>de</strong>sinteresse no sul, os olhos do<br />
mundo estão cada vez mais voltados<br />
para eles. Não só organismos gover-<br />
namentais como vários grupos ecolóRi-^.<br />
A QUINZENA divulga as questões políticas <strong>de</strong><br />
fundo em <strong>de</strong>bate DO movimento, contudo coloca<br />
algumas condições para tanto. Serão publicados<br />
os textos que contenham teses e argumentações<br />
estritamente políticas, evitando os<br />
ataques pessoais; serão publicadas ás réplicas<br />
que esteiam no mesmo nível <strong>de</strong> linguagem e<br />
companheirismo. Nos reservamos o direito <strong>de</strong><br />
divulgarmos apenas as partes significativas<br />
dos textos, seja por imposição <strong>de</strong> espaço, seja<br />
pva por solução ^uiuyMW <strong>de</strong> uv redação. ivuMyau.<br />
ÍSS