Amaxônia e doMovimento Sindical. - Centro de Documentação e ...

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Quinzena w Trabalhadores
Cenários - dez/BB
"Riocentro" em Volta Redonda
Dirigentes sindicais estão convencidos de que o enfren-
tamento de tropas militares contra os grevistas da Compa-
nhia Siderúrgica Nacional tinha o objetivo de criar uma situa-
ção de instabilidade institucional impedindo a realização das
eleições municipais. De acordo com esta avaliação, o episó-
dio que resultou na morte de três operários, longe de ter sido
provocado por um excesso localizado do comando da ope-
ração diante da resistência dos trabalhadores, foi uma ofen-
siva de setores golpistas no interior das Forças Armadas.
Alguns dos argumentos que fundamentam esta conclusão
poderão ser encontrados na edição especial do boletim na-
cional da CUT ("Volta Redonda, os fatos na voz dos traba-
lhadores") que circulará nas próximas semanas. É uma es-
pécie de resposta à versão apresentada recentemente pelo
"Noticiário do Exército", e veiculado na imprensa, onde o
Ministério do Exército explica a ação das tropas e sustenta a
tese da utilização de técnicas de guerrilha urbana pelos ope-
rários amotinados no interior da usina da CSN.
Custódia - A análise do movimento sindical sobre a pre-
sença cada vez maior dos militares nas questões trabalhistas
(o eixo de decisões do governo em relação às greves da
CSN, Light e petroleiros se deslocou do Palácio do Planalto
para a Praça dos Três Poderes, onde fica o QG do Exército)
desemboca nas seguintes constatações: -
1 - Há, de fato, no nível da ação institucional das Forças
Armadas, especialmente do Exército, o objetivo de ocupar o
vácuo de poder criado por um governo sem autoridade e
ineficiente no enfrentamento dos problemas econômicos.
2 - Este quadro coloca sob custódia das Forças Armadas
o Governo Sarney, que tem nos militares hoje a sua principal
base de sustentação, uma vez que carece de apoio das ruas,
dcs partidos políticos e é abertamente questionado pelo em-
presariado, preocupado com o desdobramento da cnse
econômica.
3 - A situação facilita a ofensiva da direita golpista no inte-
rior dos quartéis. Este setor é minoritário na disputa de in-
fluência no Estado Maior do Exército. Mas é ativo e está bem
situado em postos intermediários (em alguns casos mantendo
sob influência alguns comandos de tropa) e vinculado dire-
tamente aos organismos da comunidade de informações,
como o SNI e o Ciex.
4 - Estes organismos se mantém ativos. O General Ivan de
Souza Mendes, um dos mais importantes articuladores do
Planalto, não mantém controle sobre a Agência Central do
SNI, em Brasília, que tem agora uma estrutura operacional
maior do que no tempo do regime militar. Situação idêntica
experimenta o Ciex, que realiza trabalho de levantamento de
informações e produção de análises que chegam direta-
mente à presidência da República. Ao Ciex é atribuído a ela-
boração de um dossiê envolvendo a CUT com um plano de
desestabilização do país. A greve da CSN seria parte deste
plano.
Veja-14.12.88
A primeira vez
Massacre de Ipatinga
ainda é tabu
Houve pelo menos uma cidade que
sentiu com a mesma intensidade o
desespero e o drama dos moradores de
Volta Redonda durante a invasão do
Exército na Companhia Siderúrgica Na-
cional, no mês passado, quando foram
mortos três operários. Ipatinga, cidade
mineira a 300 quilômetros de Belo Hori-
zonte, passou por uma situação seme-
lhante há 25 anos. A Polícia Militar ma-
tou um número até hoje não esclarecido
de pessoas durante um conflito dentro da
Siderúrgica Usiminas. A versão oficial
diz que foram sete mortos. O sindicato
dos metalúrgicos fala em mais de trinta.
"Só eu contei 32 corpos e 117 feridos",
contabiliza o ex-sindicalista Geraldo Ri-
beiro. Os inquéritos abertos depois do
que ficou conhecido como "massacre de
Ipatinga" não deram nenhum resultado e
alguns dos operários que participaram do
conflito tiveram suas vidas prejudicadas
por bastante tempo. "Sofri muitas humi-
lhações e minha família foi bastante pe-
nalizada", queixa-se o mecânico José
Vilas Novas.
O conflito de Ipatinga não começou
com greve ou piquetes, como na CSN.
Tudo aconteceu por causa da truculência
dos vigilantes da usina, que, na saída dos
5 - A tese de ocupação do vácuo de poder diante da cri-
se de autoridade do governo é que explica a crescente pre-
sença dos militares nos litígios surgidos com as greves e o
progressivo esvaziamento do ministério do Trabalho - desde
que Almir Pazzianoto foi para TST, o ministério está sem titu-
lar. Isto substitui soluções negociadas, por soluções de con-
fronto.
Intervenções - Os dados recolhidos pelos sindicalistas,
desde a explosão grevista que atingiu 17 ministérios entre
setembro e outubro, indicam que a alternativa da intervenção
militar no movimento já tinha sido colocada na mesa. Mas al-
guns pontos foram considerados para que a alternativa não
fosse acionada, a) a incapacidade da tropa militar de intervir
em movimento de massa sem provocar grandes danos -
mortes, feridos e destruição do patrimônio; b) A sensibilidade
do cenário: uma ação com este tipo de resultado em Brasília,
provocaria uma grande repercussão; c) a paralisação não
atingia unidades de peso para a vida econômica do país; d)
a imprensa, de certa maneira, trabalhava pela desmoraliza-
ção do movimento e dos trabalhadores, ao registrar no boio
do noticiário, evidência de gorduras na máquina admmstrati-
va; e) por fim, os setores duros se contentaram porque as
greves, ao atingirem serviços vinculados diretamente à po-
pulação, contribuíam para passar a imagem de ausência de
autoridade do Governo, num clima de anarquia.
Os dirigentes sindicais que realizaram a investigação ouvi-
ram fontes militares, parlamentares e políticos ligados ao Go-
verno. Eles ficaram convencidos de que a operação militar
em Volta Redonda pretendia adiar as eleições, diante do
prenuncio do avanço das esquerdas no pleito. Tratava-se,
assim, de uma ação com desdobramento imprevisíveis no
caminho da instabilidade política. Volta Redonda também se-
ria um palco mais que apropriado para servir de exemplo ao
movimento como um todo - inclusive aos grevistas de outras
estatais estratégicas, como a Petrobrás e a Light.
Outro ponto ficaria claro: definir os limites a que as Forças
Armadas entendem estarem submetidas na sua ação pela
nova Constituição em vigor. Em defesa do que consideram a
lei e a ordem, as restrições do texto constitucional são deixa-
das de lado. Ainda de acordo com o exame de sindicalistas a
intervenção em Volta Redonda, não conseguindo impedir as
eleições, buscou sinalizar para as correntes políticas que
emergiriam vitoriosas uma posição de força do Exército.
No jogo de pressões a que está exposto o Planalto a re-
percussão dos incidentes na CSN, de acordo com a avalia-
ção do movimento sindical, estabeleceu um recuo provisório
nas forças da direita militar interessadas no confronto. Um
recuo que acabou sé refletindo na reabertura de negocia-
ções e que fez com que o Governo desistisse de enviar ao
Congresso as medidas provisórias (que têm o valor de de-
creto lei) para enquadrar os trabalhadores que estavam pa-
ralisando atividades consideradas essenciais.
operários, pediam documentos, despiam
alguns para ver se não estavam roubando
algo e chegavam até a agredir os que rea-
giam. No dia 6 de outubro de 1963, a ir-
ritação dos operários chegou ao máximo
quando alguns vigilantes confiscaram o
leite que cada um deles tem direito na
saída do turno, por trabalhar em local
insalubre. Um dos trabalhadores recusou-
se a entregar seu litro e, agredido, revi-
aou. üm outro foi preso e a Cavalaria da
Polícia Militar foi chamada. Para piorar a
situação, um policial foi baleado não se
sabe por quem. A determinada altura,
uma metralhadora instalada em cima de
um caminhão começou a funcionar e
atingiu inúmeras pessoas. Uma criança,
atingida quando passava em frente d