Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp

demonstre certa contrariedade à separação das profissões de grammaticus e rhetor (o que é
contrário à posição defendida por Quintiliano), apresenta as mesmas razões para o uso dos
progymnasmata nas aulas dos professores de gramática: preparação para as aulas de retórica
propriamente ditas (a lista que apresenta também possui dois exercícios em comum com
Quintiliano – paráfrase e etologia).
Quintiliano também afirma que os três últimos exercícios a serem ministrados pelos
gramáticos têm um método semelhante (similis ratio), sendo as sentenças a composição de
máximas, as etologias descrições de caracteres e a cria a revelação do caráter de alguma
personagem por meio de um dito ou ato. Dessa maneira, poderíamos julgar que existe alguma
característica intrínseca para cada grupo de exercícios que permite unir alguns sob a gramática
e outros sob a retórica. Além do fato, que já apontamos, dos primeiros terem semelhanças
com a matéria tratada pelo gramático e dos últimos corresponderem a partes dos discursos
retóricos, podemos pensar nas capacidades exercitadas por cada um dos grupos. Rita
Copeland (1991, p. 12) diz que em Roma havia separação dos terrenos próprios da gramática
e da retórica feita a partir de uma divisão hierárquica das disciplinas que colocava a última
como a mais elevada das artes. Segundo a autora, à gramática competia somente uma
compreensão teórica das estruturas dos textos, enquanto à retórica estava destinada a
elaboração do texto como um todo, pensado como um ato:
Tais restrições no escopo do estudo gramatical em Roma poderiam parecer sugerir que
a retórica definia-se contra a gramática por reservar para ela mesma o privilégio
heurístico, isto é, o particular privilégio retórico da invenção, a descoberta que alguém
realiza de seu próprio argumento de modo a tornar sua causa plausível (Id. ibid., p.13) 5
Em outra passagem:
[P]oderíamos dizer que, ao menos na teoria retórica romana, a retórica relaciona-se
com o discurso, isto é, com um completo domínio do uso da linguagem ou um sistema
completo de comunicação; a gramática, por outro lado, está relacionada à forma
lingüística, com a linguagem enquanto instrumento do discurso (id. ibid., p.14).
Se tomarmos essa noção como base, veremos que também ela ajuda a entender a
separação dos dois grupos de exercícios. Aqueles que Quintiliano permite que sejam
ensinados pelo gramático, apesar de serem composições, restringem-se a “reaproveitamentos”
e “reelaborações” de uma matéria que é fornecida pela leitura dos textos dos poetas. Além da
paráfrase, um caso evidente, as sentenças, as etologias e as crias baseiam-se em ditos, feitos e
5 Tradução nossa.
Anais XXIII SEC, Araraquara, p. 13-20, 2008
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