30.04.2013 Views

Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp

Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp

Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

quando crê ser possível atingir o caminho <strong>da</strong> Virtu<strong>de</strong>, o qual só é acessível por meio <strong>de</strong> seu<br />

imaginário. Hermótimo “luta pela sombra <strong>de</strong> um asno” por ter sua visão tapa<strong>da</strong> pela viseira<br />

dogmática, isto é, ele não consegue mais enxergar as coisas reais que acontecem à sua volta<br />

porque tem os olhos ofuscados pelo brilho <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, cuja acepção possibilitaria,<br />

no pensamento <strong>de</strong> Hermótimo, a construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> perfeita no sentido <strong>de</strong><br />

universalmente justa, bondosa e <strong>de</strong>sprendi<strong>da</strong> dos <strong>de</strong>sejos humanos, os quais para os estóicos,<br />

rebaixam a sabedoria dos homens a um grau ínfimo. Para ambos os autores aqui escrutados,<br />

esses i<strong>de</strong>ais comuns aos filósofos na<strong>da</strong> são, já que jamais foram comprovados, isto é, não<br />

consistem em uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> existência.<br />

É possível comparar a famosa frase <strong>de</strong> Luciano – “os filósofos lutam pela sombra <strong>de</strong><br />

um asno” – com o aforismo 8 <strong>de</strong> Nietzsche: “ 8. Em to<strong>da</strong> a filosofia há um ponto no qual a<br />

‘convicção’ do filósofo entra em cena: ou, para falar na linguagem <strong>de</strong> um antigo mistério:<br />

“adventavit asinus/pulcher et fortissimus [chegou o asno/ belo e muito forte]” (2007, p. 14).<br />

Nesse aforismo, Nietzsche explica que se chega a um ponto em que o filósofo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> convicção a fim <strong>de</strong> impor uma forma <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, tal como os estóicos tomam<br />

como pressuposto para a vi<strong>da</strong>: “viver conforme a natureza”. Neste momento, o filósofo não<br />

passa <strong>de</strong> um tolo advogado do Na<strong>da</strong>, pois estes homens que versam sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, certamente, versam sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> engano, assim, agem <strong>de</strong> forma análoga a<br />

um asno porque não escrutam com cui<strong>da</strong>do acerca <strong>da</strong>quilo que “colocarão em cena”.<br />

Além disso, fica explícito na obra Hermótimo que alguns filósofos, como a própria<br />

personagem Hermótimo, consi<strong>de</strong>ram, <strong>de</strong> forma ingênua, estas coisas não evi<strong>de</strong>ntes, enquanto<br />

outros, como o mestre <strong>de</strong>ste, fazem do amor à sabedoria um meio para a conquista <strong>de</strong> fins que<br />

não a prática <strong>da</strong> filosofia. Hermótimo, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>siludir-se com o diálogo travado com<br />

Licino, não questionava a doutrina que estu<strong>da</strong>va, ele a aceitava inocentemente. No entanto,<br />

seu mestre ministrava a i<strong>de</strong>ologia estóica menos como uma forma <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do que como uma<br />

profissão. Esta idéia também é evi<strong>de</strong>nte no pensamento nietzschiano, presente nos trechos a<br />

seguir:<br />

Falando seriamente, há boas razões para esperar que to<strong>da</strong> a dogmatização em filosofia,<br />

não importando o ar solene e <strong>de</strong>finitivo que tenha apresentado, não tenha sido mais que<br />

uma nobre infantili<strong>da</strong><strong>de</strong> e coisa <strong>de</strong> iniciantes (SAMÓSATA, 1992, p. 7).<br />

5. O que leva a consi<strong>de</strong>rar os filósofos com um olhar meio <strong>de</strong>sconfiado é que eles não se<br />

mostram suficientemente íntegros, enquanto fazem um gran<strong>de</strong> e virtuoso barulho tão logo<br />

é abor<strong>da</strong>do, mesmo que <strong>de</strong> leve, o problema <strong>da</strong> veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> (id. ibid., p.11)<br />

<strong>Anais</strong> <strong>XXIII</strong> SEC, Araraquara, p. 36-41, 2008<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!