Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp
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quando crê ser possível atingir o caminho <strong>da</strong> Virtu<strong>de</strong>, o qual só é acessível por meio <strong>de</strong> seu<br />
imaginário. Hermótimo “luta pela sombra <strong>de</strong> um asno” por ter sua visão tapa<strong>da</strong> pela viseira<br />
dogmática, isto é, ele não consegue mais enxergar as coisas reais que acontecem à sua volta<br />
porque tem os olhos ofuscados pelo brilho <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, cuja acepção possibilitaria,<br />
no pensamento <strong>de</strong> Hermótimo, a construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> perfeita no sentido <strong>de</strong><br />
universalmente justa, bondosa e <strong>de</strong>sprendi<strong>da</strong> dos <strong>de</strong>sejos humanos, os quais para os estóicos,<br />
rebaixam a sabedoria dos homens a um grau ínfimo. Para ambos os autores aqui escrutados,<br />
esses i<strong>de</strong>ais comuns aos filósofos na<strong>da</strong> são, já que jamais foram comprovados, isto é, não<br />
consistem em uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> existência.<br />
É possível comparar a famosa frase <strong>de</strong> Luciano – “os filósofos lutam pela sombra <strong>de</strong><br />
um asno” – com o aforismo 8 <strong>de</strong> Nietzsche: “ 8. Em to<strong>da</strong> a filosofia há um ponto no qual a<br />
‘convicção’ do filósofo entra em cena: ou, para falar na linguagem <strong>de</strong> um antigo mistério:<br />
“adventavit asinus/pulcher et fortissimus [chegou o asno/ belo e muito forte]” (2007, p. 14).<br />
Nesse aforismo, Nietzsche explica que se chega a um ponto em que o filósofo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> convicção a fim <strong>de</strong> impor uma forma <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, tal como os estóicos tomam<br />
como pressuposto para a vi<strong>da</strong>: “viver conforme a natureza”. Neste momento, o filósofo não<br />
passa <strong>de</strong> um tolo advogado do Na<strong>da</strong>, pois estes homens que versam sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, certamente, versam sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> engano, assim, agem <strong>de</strong> forma análoga a<br />
um asno porque não escrutam com cui<strong>da</strong>do acerca <strong>da</strong>quilo que “colocarão em cena”.<br />
Além disso, fica explícito na obra Hermótimo que alguns filósofos, como a própria<br />
personagem Hermótimo, consi<strong>de</strong>ram, <strong>de</strong> forma ingênua, estas coisas não evi<strong>de</strong>ntes, enquanto<br />
outros, como o mestre <strong>de</strong>ste, fazem do amor à sabedoria um meio para a conquista <strong>de</strong> fins que<br />
não a prática <strong>da</strong> filosofia. Hermótimo, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>siludir-se com o diálogo travado com<br />
Licino, não questionava a doutrina que estu<strong>da</strong>va, ele a aceitava inocentemente. No entanto,<br />
seu mestre ministrava a i<strong>de</strong>ologia estóica menos como uma forma <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> do que como uma<br />
profissão. Esta idéia também é evi<strong>de</strong>nte no pensamento nietzschiano, presente nos trechos a<br />
seguir:<br />
Falando seriamente, há boas razões para esperar que to<strong>da</strong> a dogmatização em filosofia,<br />
não importando o ar solene e <strong>de</strong>finitivo que tenha apresentado, não tenha sido mais que<br />
uma nobre infantili<strong>da</strong><strong>de</strong> e coisa <strong>de</strong> iniciantes (SAMÓSATA, 1992, p. 7).<br />
5. O que leva a consi<strong>de</strong>rar os filósofos com um olhar meio <strong>de</strong>sconfiado é que eles não se<br />
mostram suficientemente íntegros, enquanto fazem um gran<strong>de</strong> e virtuoso barulho tão logo<br />
é abor<strong>da</strong>do, mesmo que <strong>de</strong> leve, o problema <strong>da</strong> veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> (id. ibid., p.11)<br />
<strong>Anais</strong> <strong>XXIII</strong> SEC, Araraquara, p. 36-41, 2008<br />
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