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Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp

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Quanto à questão dos temas abor<strong>da</strong>dos pelos textos biográficos <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, quais<br />

eram realmente as suas intenções? Por que eram escritos, e com qual finali<strong>da</strong><strong>de</strong>? Sabemos <strong>da</strong><br />

gran<strong>de</strong> preocupação <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> valores que os gregos ten<strong>de</strong>m a transmitir<br />

por meio <strong>de</strong> seus textos. No quarto século, a biografia ocupa um espaço ambíguo entre<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e imaginário. Ou, tratando em outros termos, o antagonismo entre ver<strong>da</strong><strong>de</strong> superior<br />

e ver<strong>da</strong><strong>de</strong> inferior; dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, por exemplo, no estudo dos Evangelhos nas vi<strong>da</strong>s<br />

dos santos (MOMIGLIANO, 1991, p. 72).<br />

Tornam-se características do quarto século as marcas <strong>de</strong> personagens fortes e<br />

voluntários, o que acaba por oferecer aos biógrafos uma maior possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sujeitos (id.<br />

ibid.). Em nosso exemplo anterior, a Ciropedia, vimos a educação <strong>de</strong> Ciro como escopo para<br />

mo<strong>de</strong>lo exemplar <strong>de</strong> educação, controle político e virtu<strong>de</strong>s humanas. O protagonista segue, ao<br />

controle do autor, uma vi<strong>da</strong> inteira em caráter incorruptível, exemplo máximo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s,<br />

conquistas, coragem e serie<strong>da</strong><strong>de</strong>. São extremamente relevantes as palavras do próprio<br />

Xenofonte no prólogo <strong>da</strong> Ciropedia:<br />

Os animais caminham por on<strong>de</strong> os conduzem, pastam nos campos a que os levam, não<br />

entram naqueles <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os <strong>de</strong>sviam, e consentem que tirem <strong>de</strong>les todo o proveito. (...) a<br />

ninguém são mais inclinados, do que aos que os governam e que <strong>de</strong>les se aproveitam. (...)<br />

Portanto, <strong>de</strong>duzimos <strong>de</strong>stas reflexões que mais facili<strong>da</strong><strong>de</strong> tem o homem em governar os<br />

animais do que os próprios homens.<br />

Mas <strong>de</strong>pois que nos recor<strong>da</strong>mos que existiu um persa chamado Ciro, que soube conservar<br />

sujeitos ao seu domínio muitos homens, muitas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, muitas nações, fomos obrigados<br />

a mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> sentimentos, e a pensar que não é impossível nem difícil governar os homens,<br />

uma vez que para isso haja suficiente capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>. (MOMIGLIANO, 1991, p. 72).<br />

Xenofonte <strong>de</strong>monstra, neste trecho inicial do relato, profun<strong>da</strong> admiração por seu<br />

próprio protagonista, <strong>da</strong>ndo a enten<strong>de</strong>r que o leitor que quiser atingir um patamar próximo ou<br />

equivalente ao <strong>de</strong> Ciro <strong>de</strong>verá seguir as instruções <strong>de</strong> sua educação e fazer jus ao caráter<br />

virtuoso proposto pela narrativa.<br />

Cabe também como caráter retórico na exposição narrativa o trecho que expõe a<br />

genealogia <strong>de</strong> Ciro. Vejamos:<br />

Ciro era filho <strong>de</strong> Cambises, rei <strong>da</strong> Pérsia. Este Cambises era <strong>da</strong> geração dos Persei<strong>da</strong>s,<br />

que se gloriam <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Perseu. (...) Ciro, cujo nome ain<strong>da</strong> hoje é celebrado pelos<br />

bárbaros, era <strong>de</strong> estatura elegantíssima, <strong>de</strong> um coração cheio <strong>de</strong> benevolência, e muito<br />

amante <strong>da</strong> sabedoria e <strong>da</strong> honra. Para ganhar aplausos, sofria aos maiores trabalhos, e<br />

arrostava-se com os mais evi<strong>de</strong>ntes perigos. Tais foram suas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s morais e físicas<br />

que a história nos transmitiu (MOMIGLIANO, 1991, p. 72).<br />

<strong>Anais</strong> <strong>XXIII</strong> SEC, Araraquara, p. 21-26, 2008<br />

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