Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp
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negligenciassem esse critério ao escolherem o rhetor, to<strong>da</strong>s as outras prescrições e<br />
recomen<strong>da</strong>ções que ele faz em benefício dos discípulos seriam inúteis.<br />
Quintiliano começa apontando duas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que os professores <strong>de</strong>veriam possuir:<br />
por um lado, ter boa conduta, por outro, saber conter e orientar o caráter dos discípulos. Ele<br />
exige que eles sejam como um pai para aqueles que ensinam, consi<strong>de</strong>rando que substituem o<br />
lugar <strong>da</strong>queles que levaram o menino para sua escola. Po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar que a idéia do<br />
pai agrupa as duas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: tanto a <strong>de</strong> ser um exemplo para o filho 7 , quanto a <strong>de</strong><br />
preocupar-se em corrigir e orientá-lo.<br />
Outras características importantes estão relaciona<strong>da</strong>s à manutenção do meio termo na<br />
relação com os alunos: eles não <strong>de</strong>veriam possuir uma severi<strong>da</strong><strong>de</strong> ameaçadora, mas não<br />
<strong>de</strong>veriam ser negligentes; não <strong>de</strong>veriam irar-se facilmente com as faltas dos alunos, mas não<br />
<strong>de</strong>veriam encobri-las; não <strong>de</strong>veriam, no elogio e na correção dos exercícios, ser muito<br />
generosos ou muito rígidos. Todos esses excessos são apresentados como más influências<br />
sobre o comportamento dos discípulos: generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mais po<strong>de</strong>ria gerar presunção e<br />
preguiça; severi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>sgosto pela oratória.<br />
Outras virtu<strong>de</strong>s seriam: saber discursar a respeito do que é honesto e virtuoso, <strong>de</strong><br />
modo a evitar o castigo pelo aconselhamento prévio e ser simples e persistente no ensino, não<br />
<strong>de</strong>ixando dúvi<strong>da</strong>s. Além disso, <strong>de</strong>veriam discursar por conta própria, <strong>de</strong> modo a servir <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo para seus discípulos, que, se os respeitassem e amassem, imitá-los-iam mais<br />
voluntariamente.<br />
Quanto à manutenção <strong>da</strong> disciplina, Quintiliano consi<strong>de</strong>ra que um <strong>de</strong>ver é não <strong>de</strong>ixar<br />
adolescentes misturados com os mais jovens, <strong>de</strong> modo a evitar qualquer possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>bili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos meninos ser afeta<strong>da</strong> pela imo<strong>de</strong>ração dos jovens. Por outro lado, o autor chama<br />
atenção principalmente para os elogios e aplausos excessivos que muitos alunos <strong>da</strong>riam aos<br />
discursos dos outros, que, sem critério e gratuitos, po<strong>de</strong>riam retirar a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor<br />
quando este fizesse alguma crítica, uma vez que aqueles que discursaram haveriam se tornado<br />
presunçosos pela aclamação que receberam e não aceitariam correções. Por essa razão, esses<br />
impulsos <strong>de</strong>veriam ser contidos, <strong>de</strong> maneira que o julgamento a ser mais respeitado fosse o do<br />
professor.<br />
7 Plínio, o Jovem, na Epístola III, 3 (on<strong>de</strong> indica um professor <strong>de</strong> retórica para o filho <strong>de</strong> uma conheci<strong>da</strong>),<br />
embora não chegue associar diretamente a figura do preceptor à do pai, diz: “ Ele [i.e. o professor] o advertirá<br />
mais do que tu e eu sobre que imagens <strong>de</strong>ve honrar e os gran<strong>de</strong>s nomes que <strong>de</strong>verá carregar. (Tradução <strong>de</strong> Marly<br />
<strong>de</strong> Bari Matos)”. Ao indicar que o professor ensinaria a respeitar as imagines (figuras <strong>de</strong> cera dos antepassados<br />
<strong>da</strong> família) e o nome <strong>da</strong> família, o autor mostra, por um lado, que os pais e antepassados eram consi<strong>de</strong>rados<br />
mo<strong>de</strong>los para seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e, por outro, a associação existente entre o papel do professor e o exemplo que<br />
os últimos representavam.<br />
<strong>Anais</strong> <strong>XXIII</strong> SEC, Araraquara, p. 13-20, 2008<br />
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