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A Perspectiva de Luciano de Samósata e a Perspectiva Nietzschiana acerca da Filosofia
Anais XXIII SEC, Araraquara, p. 36-41, 2008
Priscila BUSE
G – UFPR
priscilabuzze@yahoo.com.br
Este artigo consiste em uma análise que compara o pensamento de Luciano, expresso
por meio da personagem Licino, no livro Hermótimo, com o de Nietzsche, no que condiz às
críticas deste em relação às crenças dogmáticas. Assim, não se pretende fazer uma
interpretação propriamente literária, mas provar uma possível semelhança entre esses
pensamentos.
Embora muitos possam entender esta abordagem de forma anacrônica, analisar-se-ão
as duas formas de pensamento, as quais não estão inseridas em um tempo histórico, isto é, não
se pretende situar o leitor deste artigo nas circunstâncias históricas que envolvem os dois
autores em questão. Desse modo, limita-se ao enredo e, em especial, a trechos do livro
Hermótimo e da obra Além do Bem e do Mal 1 , de autoria de Nietzsche, a fim de compará-los.
A obra Hermótimo tem como personagens Licino, um questionador das crenças
filosóficas, e Hermótimo, seguidor da corrente estóica. O livro consiste em uma crítica aos
diálogos comuns no âmbito da filosofia, sendo isso evidente em relação à própria forma
estrutural da obra – em forma de diálogo retórico entre dois personagens – a qual imita
algumas obras filosóficas, como por exemplo, as platônicas.
A pretensão de Luciano, por meio da personagem Licino, é demonstrar a falta de
atenção das pessoas que acreditam em coisas não evidentes, tal como o caminho da Virtude,
idealizado por Hermótimo. No diálogo, Licino convence Hermótimo de que não há
possibilidade de Verdade filosófica, porquanto todas as correntes filosóficas não passam de
defesas mal fundamentadas, o que pode ser observado quando a personagem Licino explica
que, em meio a tantas correntes ideológicas, não é possível saber qual delas é a verdadeira, já
que, para tanto, seriam exigidos mais de cem anos de vida dedicada ao estudo, assim, quando
um filósofo de uma determinada corrente critica a outro filósofo, essa crítica não passa de
uma recriminação infundada, pois aqueles que versam, por exemplo, sobre o estoicismo, não
se dedicam ao platonismo, e por isso, não o conhecendo, não podem o criticar a fim de fixar
sua filosofia como a única Verdade.
1 Cf. Referências Bibliográficas.