Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp
Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp
Anais da XXIII Semana de Estudos Clssicos - Home - Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Sua base principal é Aristóteles, não só pelo fato do livro ser construído a partir <strong>de</strong><br />
uma frase atribuí<strong>da</strong> ao mesmo, mas também por consi<strong>de</strong>rá-lo como o primeiro discurso <strong>da</strong><br />
amiza<strong>de</strong> nos termos que viria a ser entendi<strong>da</strong> – isto é, o <strong>da</strong> familiari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
<strong>Anais</strong> <strong>XXIII</strong> SEC, Araraquara, p. 42-48, 2008<br />
[...] Nous avons cru <strong>de</strong>voir commencer, précisement, par interroger le<br />
plus canonique du canonique, en ce lieu où se concentre pour nous, en<br />
Occi<strong>de</strong>nt, la puissance <strong>de</strong> signification maximale du povouir dominant, en<br />
sa plus sûre autorité [...] (Id. Ibid., p. 256) 5<br />
Isso coloca um primeiro problema que é o <strong>de</strong> homogeneizar os discursos <strong>da</strong><br />
Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, em especial os gregos e os romanos, como se fossem a mesma coisa. Isso fica<br />
claro quando se percebe que nenhum autor romano foi analisado <strong>de</strong> forma específica como<br />
acontece com Aristóteles. Inclusive o próprio Cícero, cujo epigrama 6 abre o livro, que não é<br />
avaliado com maior profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Aliás, Cícero é tratado quase como um apêndice <strong>de</strong><br />
Aristóteles, pois no corpo do texto ele aparece geralmente para justificar e comprovar as<br />
afirmações <strong>de</strong>ste. O autor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s não só <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> texto, mas também<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Além disso, não é feita uma problematização entre os dois textos: suas semelhanças<br />
são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como algo previamente estabelecido. Isto é complicado, pois o De Amicitia<br />
não é uma obra <strong>de</strong> filosofia, mas sim um opus oratorium (obra oratória), é apodítica (tem<br />
valor prescritivo). Essa diferença é muito importante se for consi<strong>de</strong>rado que Cícero não está<br />
preocupado em perguntar “o que é a amiza<strong>de</strong>”, mas sim, “como se vive a amiza<strong>de</strong>”. Um outro<br />
ponto a ser levantado é Cícero questionar logo no início <strong>de</strong> seu texto os gregos e o modo<br />
como entendiam a amiza<strong>de</strong>. Aliás, ele também <strong>de</strong>ixa claro que é justamente o oposto o que<br />
preten<strong>de</strong> fazer no seu Laelius <strong>de</strong> Amicitia consi<strong>de</strong>rando a amiza<strong>de</strong> na “prática”.<br />
Outro ponto a observar-se é a idéia <strong>de</strong> societas (socie<strong>da</strong><strong>de</strong>) que não é traduzível ao<br />
grego. Essa palavra <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> socius (aliado) e significa uma junção <strong>de</strong> pessoas/ aliados. No<br />
grego, pelo contrário, politikos é que <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> palavra polis. A diferença é significativa, pois<br />
no primeiro caso é o conjunto <strong>de</strong> indivíduos que fun<strong>da</strong>menta a vi<strong>da</strong> em comum, enquanto que<br />
no segundo é a polis que dá base para a construção dos seus membros.<br />
5 [...] Nós acreditamos <strong>de</strong>ver começar, precisamente, interrogando o mais canônico do canônico, nesse lugar<br />
on<strong>de</strong> se concentra para nós, no Oci<strong>de</strong>nte, a potência <strong>de</strong> significação máxima do po<strong>de</strong>r dominante, em sua mais<br />
segura autori<strong>da</strong><strong>de</strong> [...].<br />
6 O epigrama é “Quocirca et absentes adsunt (...) et, quod difficilius dictu est, mortui vivunt”. Laelius De<br />
Amicitia (VII, 23). Por isso os amigos, mesmo ausentes estão próximos (...) e o mais difícil <strong>de</strong> ser dito, apesar <strong>de</strong><br />
mortos, vivem.<br />
44