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prima 1361:Apresentação 1.qxd - Jornal de Leiria

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| Crónicas sobre o futuro |<br />

A Sabedoria no Governo<br />

dos Povos (3)<br />

Ao tratar este<br />

tema nas<br />

duas crónicasanteriores,<br />

recor<strong>de</strong>i que a sabedoria<br />

dos governantes e<br />

gran<strong>de</strong>s homens públicos,<br />

ten<strong>de</strong> a esten<strong>de</strong>rse<br />

aos seus seguidores<br />

e, por vezes, a tornarse<br />

parte da sabedoria dos<br />

seus povos. A Índia, ainda<br />

hoje é muito influenciada<br />

pela sabedoria contida<br />

nos ensinamentos<br />

<strong>de</strong> Mahatma Gandhi e<br />

os Estados Unidos per<strong>de</strong>ram<br />

muito do seu passado<br />

racista e fundamentalista<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Mar- qualida<strong>de</strong><br />

tin Luther King. Por sua<br />

vez, a África do Sul é<br />

hoje um exemplo para<br />

o mundo <strong>de</strong>vido ao<br />

extraordinário legado <strong>de</strong><br />

Nelson Man<strong>de</strong>la. O inverso<br />

é também verda<strong>de</strong>iro,<br />

abundando os exemplos<br />

<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res que perpetuaram<br />

a sua própria<br />

ignorância e os seus<br />

maus exemplos através<br />

dos seus seguidores.<br />

Como tenho dito e escrito<br />

inúmeras vezes, entre<br />

nós o legado que José<br />

Sócrates <strong>de</strong>ixará a Portugal<br />

será a má influência<br />

do seu exemplo junto<br />

dos seus colaboradores<br />

e no partido que dirige.<br />

Porventura, também<br />

junto <strong>de</strong> muitos milhares<br />

<strong>de</strong> portugueses, seja<br />

pela pedagogia <strong>de</strong> valor<br />

negativo, seja pelo tempo perdido num<br />

percurso que é essencialmente errado e<br />

nos conduz ao <strong>de</strong>sastre.<br />

Esta semana, ainda a propósito do caso<br />

Freeport, tivemos disso mesmo três exemplos<br />

gritantes e todos lamentáveis. Vital<br />

Moreira, cada vez mais longe do seu passado<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência e <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z intelectual,<br />

não encontrou nada melhor para<br />

fazer do que um escrito no Público sob<br />

o título Para a História Nacional da Infâmia,<br />

em que consi<strong>de</strong>ra que os jornalistas<br />

e outros críticos do primeiro ministro,<br />

entre os quais me coloco, ”tivessem<br />

alguma vergonha, estariam hoje a pedir<br />

<strong>de</strong>sculpa pelas aleivosias que cometerem<br />

em relação a José Sócrates”. Dos juristas<br />

que elaboraram o relatório final do<br />

caso Freeport, diz: “Se o ridículo matasse,<br />

as duas criaturas estariam con<strong>de</strong>nadas”.<br />

Por sua vez, o ministro da Presidência,<br />

Pedro Silva Pereira, afirmou que<br />

“Estamos perante um <strong>de</strong>spacho perverso<br />

(...) É um comportamento absolutamente<br />

intolerável”. Finalmente, é <strong>de</strong> Francisco<br />

Assis que chega a pérola seguinte:<br />

“Uma actuação <strong>de</strong>sta natureza não merece<br />

outra qualificação que não seja uma<br />

pura canalhice”.<br />

Notemos <strong>de</strong> que toda esta artilharia é<br />

Os partidos e os<br />

seus maus<br />

dirigentes,<br />

pervertem e<br />

<strong>de</strong>stroem a<br />

intelectual, politica<br />

e cívica dos seus<br />

seguidores<br />

HENRIQUE NETO<br />

empresário<br />

netohenrique8@gmail.com<br />

dirigida, principalmente,<br />

contra os dois procuradores<br />

que investigaram<br />

a fase final do<br />

caso Freeport e que,<br />

como lhes competia, lá<br />

colocaram, com a autorização<br />

da hierarquia do<br />

Ministério Público, as<br />

perguntas que foram<br />

impedidos <strong>de</strong> fazer a<br />

José Sócrates. Note-se<br />

também que os três<br />

seguidores do primeiro<br />

ministro, se têm notabilizado<br />

na <strong>de</strong>fesa do<br />

segredo <strong>de</strong> justiça e do<br />

princípio da separação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, nomeadamente<br />

no caso das escutas<br />

das conversas entre<br />

Vara e Sócrates, <strong>de</strong>struídas<br />

pelo Procurador<br />

Geral da República, com<br />

o argumento, compreensível,<br />

<strong>de</strong> que as instituições<br />

<strong>de</strong>mocráticas,<br />

como o sistema <strong>de</strong> justiça,<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>fendidas<br />

e prestigiadas.<br />

Como vimos, <strong>de</strong>fendidas<br />

apenas quando possam<br />

ser manipuladas<br />

pelo po<strong>de</strong>r político amigo.<br />

São muitas as lições<br />

a tirar <strong>de</strong>ste caso Freeport,<br />

a maioria das quais<br />

políticas. Em primeiro<br />

lugar, mostra-nos até<br />

que ponto os partidos<br />

políticos controlam os<br />

cidadãos e a vida dos<br />

portugueses, não hesitando<br />

perante nada para<br />

levar a cabo os seus fins.<br />

Seguidamente, os partidos e os seus maus<br />

dirigentes, pervertem e <strong>de</strong>stroem a qualida<strong>de</strong><br />

intelectual, politica e cívica dos<br />

seus seguidores, como atestam os três<br />

casos referidos. Finalmente, que é na<br />

liberda<strong>de</strong> da imprensa e dos jornalistas<br />

que, apesar <strong>de</strong> todos os excessos, ainda<br />

resi<strong>de</strong> o conhecimento possível da<br />

verda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>fesa das instituições <strong>de</strong>mocráticas.<br />

E a propósito, lutemos com<br />

convicção contra o aumento dos po<strong>de</strong>res<br />

do Procurador Geral da República,<br />

como o PS se prepara para fazer, quando<br />

no passado preconizava exactamente<br />

o contrário, com o objectivo conjuntural<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r José Sócrates das muitas<br />

questões que, directa e indirectamente,<br />

sobre ele pen<strong>de</strong>m na justiça.<br />

A minha convicção é a <strong>de</strong> que, nas<br />

actuais condições <strong>de</strong> escolha partidária<br />

do Procurador Geral da República,<br />

prefiro a responsabilização individual<br />

dos procuradores e investigadores criminais<br />

perante a lei, do que perante<br />

um qualquer chefe, que, como estamos<br />

a apren<strong>de</strong>r neste caso, se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

impressionar excessivamente pelo po<strong>de</strong>r<br />

político, que, no caso português, tem<br />

um funcionamento muito pouco <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocrático. ■<br />

| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | OPINIÃO |<br />

12 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2010 | 17

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