prima 1361:Apresentação 1.qxd - Jornal de Leiria

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura
“O turismo cultural contribui
para a redução de assimetrias regionais”
Que balanço faz da actividade cultural do nosso
País fora dos grandes centros?
O dinamismo cultural de base local emanado
dos agentes culturais amadores e profissionais no
sector das artes não deve ser subestimado. No concelho
de Leiria, por exemplo, existem cerca de 60
entidades de carácter cultural e recreativo. Saliente-se
o programa de apoio à acção cultural, levado
a cabo pela Direcção Regional de Cultura do
Centro, contemplando iniciativas de criação, produção
e difusão das artes e dos espectáculos de
agentes culturais amadores, e de apoio à edição.
O papel das autarquias tem evoluído no aspecto
cultural?
Cada vez mais o Poder Local tende a aproximar-se
da Cultura e do Património. Aproveitandose
estas sinergias, tem sido feito um trabalho interessante,
com recurso à iniciativa local dos artistas
e também de algumas autarquias cada vez mais
conscientes da importância deste sector. Vejam-se
os resultados que a Rede de Cine-Teatros já está a
produzir, cumprindo-se o objectivo de criar uma
rede de recintos que conduzam à realização de
manifestações culturais diversas e leve a cultura e
a informação aos principais centros urbanos das
regiões mais afastadas das grandes cidades. Saliente-se
ainda a receptividade que existe nas autarquias
relativamente à partilha da gestão do património
classificado dos seus concelhos. A assinatura
do auto de cedência do Convento de Santo Agostinho,
entre o Instituto Português do Património
Arquitectónico e o município de Leiria, é disto exemplo.
No espaço, a autarquia pretende instalar o
Museu de Arqueologia, os serviços camarários de
arqueologia e património e a reserva arqueológica.
As actividades culturais têm perspectivas de crescimento,
de criação de riqueza e de emprego que
urge potenciar. O turismo cultural, designadamente,
constitui um factor de desenvolvimento e contribui
para a redução de assimetrias regionais.
Mais uma vez, as verbas do Orçamento de
Estado para a Cultura são muito reduzidas...
No actual contexto económico nacional e internacional,
a subida do orçamento da Cultura é uma
conquista. De facto, parte dos outros ministérios
teve decréscimos significativos, e a Cultura é um
dos poucos em que houve um acréscimo da dotação
orçamental. Teremos um período difícil, nos
próximos três ou quatro anos.
O que é possível fazer com menos de 1% do
Orçamento de Estado?
Desenvolver uma política orientada para a requalificação
das infra-estruturas dos serviços estruturais
do ministério de modo a promover a sua fruição
pública e inovar nos modelos de gestão, mas
também promover o aumento das parcerias e do
funcionamento em rede com instituições públicas
e privadas. Há que consolidar a transversalidade da
acção da cultura, potenciando outros meios e multiplicando
recursos. A transversalidade do Ministério
da Cultura reflecte-se, assim, não só na sua linha
de actuação e objectivos, na sua acção que se esten-
FILIPE POMBO
de a todas as áreas da sociedade, como também
na sua articulação/parcerias interministeriais, alargando
assim a sua esfera de actuação e orçamento.
Além do orçamento do PIDDAC, existem investimentos
de outros ministérios no sector da Cultura,
que devem ser considerados para efeito de aumento
do orçamento.
Quais serão as áreas prioritárias de actuação
do Ministério da Cultura?
Temos um programa de Governo ambicioso na
área da museologia, no património, nas indústrias
culturais, e no cinema. A activação do Conselho
Nacional de Cultura, revisão do quadro jurídico de
defesa da propriedade intelectual, conclusão da
Regulamentação da Lei do Património, elaboração
e aprovação do Regulamento de Trabalhos Arqueológicos,
criação de uma Lei das Bibliotecas, que permitirá
concretizar a Rede Nacional das Bibliotecas
Públicas, o Estatuto dos Artistas, a revisão dos instrumentos
de financiamento do cinema e do audiovisual
e da legislação de apoio às artes e implementação
do Plano Estratégico para os Museus.
De pianista a ministra
Alcobaça tem em curso um projecto emblemático
de requalificação do Mosteiro e do Convento
de Cós. Qual a sua opinião sobre este projecto?
Trata-se de um projecto que corresponde aos
nossos objectivos de proporcionar uma maior vivência
dos monumentos, colocando à disposição do
grande público, não apenas, zonas actualmente
visitáveis, mas sim, na sua totalidade, áreas que
fazem parte dos respectivos conjuntos monumentais,
sem perder de vista a necessidade de garantir
uma sustentabilidade da gestão dos monumentos,
que permita, sem encargos para o erário público
ou minimizando-os, garantir os meios financeiros
da sua conservação, evitando-se assim degradação
por falta de meios de investimento. Este
projecto de valorização do Património Histórico e
Cultural da Ordem de Cister conta com o nosso
inteiro apoio numa conjugação de esforços entre
vários níveis de administração central e local e
parcerias público-privadas.
Helena Silva
entrevista
Antes de tomar posse como titular da pasta da Cultura, em Outubro de 2009, exercia as funções de directora Regional da Cultura do Governo
Regional dos Açores. Mas foram as suas interpretações ao piano que lhe valeram distinções dentro e fora do País, e torná-la conhecida.
Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas nasceu em 1961. Como pianista, entre 1986 e 2004, manteve intensa actividade artística nos palcos
das principais salas de concerto, instituições culturais e festivais nacionais, bem como inúmeros concertos por todo o País. Dedicou-se à
revelação de obras eruditas portuguesas, apresentando ao vivo e em CD as primeiras audições modernas de obras de João Domingos Bomtempo
e primeiras audições de obras de compositores portugueses contemporâneos como Eurico Carrapatoso, Victorino de Almeida, Sérgio de Azevedo
ou Clotilde Rosa. Gravou sete CD, alguns dos quais com primeiras gravações de obras de compositores portugueses. Respondeu a esta
entrevista via email.
Jornal de Leiria . 12 de Agosto de 2010
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