Qual a perspectiva das PCH para futuro? - CERPCH - Unifei
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INTRODUÇÃO<br />
A energia é um fator preponderante no<br />
desenvolvimento dos povos, e sua obtenção<br />
ao longo da história, sempre representou<br />
um aumento na utilização de recursos<br />
naturais, como, lenha, petróleo, carvão,<br />
que<strong>das</strong> d'água, entre outros, acarretando<br />
em alterações no meio ambiente, sendo estas,<br />
muitas vezes, negativas (Muller, 1995<br />
apud Souza, et al, 2003).<br />
Dentre muitas opções <strong>para</strong> a geração<br />
de energia, a hidráulica se firmou no Brasil,<br />
sendo responsável por 95% da matriz energética<br />
nacional (Eletrobrás, 1990). Isso se<br />
deve não apenas ao potencial disponível,<br />
devido à imensa quantidade de rios que cobre<br />
nosso país, mas também pela atratividade<br />
econômica. Também, de acordo com<br />
Mariotoni (1999), a energia hidráulica ganhou<br />
destaque por se tratar de uma fonte<br />
renovável e não sujeita aos aumentos conjunturais<br />
de preços e interrupções no fornecimento,<br />
cujo aproveitamento se faz<br />
com tecnologia totalmente dominada no<br />
Brasil.<br />
Em 1984, com a crise do petróleo, o governo<br />
brasileiro lançou o Programa Nacional<br />
de Pequenas Centrais Hidrelétricas,<br />
com o objetivo de diminuir o uso de derivados<br />
de petróleo na geração de energia,<br />
bem como de incentivar a participação do<br />
setor privado, no entanto, o programa não<br />
ganhou as devi<strong>das</strong> proporções e acabou<br />
sendo deixado de lado (Mariotoni, 1999).<br />
Graziela de Toni Aguilar<br />
Resumo<br />
A energia hidrelétrica consolidou-se como matriz energética do Brasil devido à grande disponibilidade hídrica brasileira, bem como pela<br />
atratividade econômica. No que diz respeito a incentivos fiscais, tempo de execução do empreendimento e danos ambientais, as <strong>PCH</strong>s<br />
se consolidaram como uma opção na oferta de energia elétrica quando com<strong>para</strong><strong>das</strong> com as grandes centrais hidrelétricas pois, são uma alternativa<br />
energética com menor proporção de impacto ambiental negativo, já que utilizam uma pequena área alagada e permitem o atendimento<br />
a comunidades afasta<strong>das</strong> da rede elétrica. Dentre os impactos ambientais analisados durante a elaboração do EIA/RIMA, os impactos<br />
sociais vêm sendo abordados com maior relevância permitindo a coexistência entre o desenvolvimento do setor energético e o<br />
equilíbrio social da população afetada. Sobre este aspecto, o presente trabalho, tem por objetivo analisar, através de um estudo de caso,<br />
os impactos sociais potencialmente ocasionados pela implantação de <strong>PCH</strong>s no estado de Minas Gerais, bem como os programas ambientais<br />
propostos com a finalidade de mitigar e/ou compensar tais impactos.<br />
Palavras-Chave: impactos sociais, <strong>PCH</strong>, medi<strong>das</strong> mitigadoras, licenciamento ambiental<br />
AbstractThe<br />
hydroelectric power is consolidated as the main source of energy in Brazil due to great water sources availability, as well<br />
as because of its economic attractiveness. Considering the tax incentives, time of execution of the project and environmental damages,<br />
small hydroelectric plants have emerged as an option in offers of electric power when com<strong>para</strong>tive with the huges hydroeletric plants because<br />
it is an alternative energy with lesser ratio of negative environmental impacts since they flood smaller areas and they provide energy<br />
to communities settled away from the power net. Amongst the analyzed environment impact assessment studies, greater attention is been<br />
given to social impacts allowing the coexistence of the development of the energy sector and the social balance of the affected population.<br />
Focusing on these issues, the present work aims to analyze, through a case study, the potentially social impacts caused by construction<br />
of small hydroeletric plants in the State of Minas Gerais, as well as the environmental programs proposed in order to mitigate and/or to<br />
compensate such impacts.<br />
12<br />
Avaliação de Impacto Social e proposição de medi<strong>das</strong><br />
mitigadoras – Compromisso com a Responsabilidade Social”<br />
Keywords: social impacts, small hydroelectric plants, mitigate measures, environmental licensing<br />
O Plano Real, grande estimulador de<br />
consumo e produção de eletros-intensivos,<br />
bens e serviços gerais, incitou a crise energética<br />
brasileira dada pelo descompasso entre<br />
os investimentos em grandes hidrelétricas<br />
e a demanda de energia (Mauad et al,<br />
2001). Neste contexto, e frente à crise do<br />
setor energético, o governo brasileiro retomou<br />
o Programa Nacional de Pequenas Centrais<br />
Hidrelétricas, lançado em 1984 a fim<br />
de abrir concorrência com usinas que exploravam<br />
outras formas de obtenção de<br />
energia. Através deste programa, a inserção<br />
<strong>das</strong> <strong>PCH</strong>s no setor elétrico ganhou algumas<br />
vantagens, tais como, outorga <strong>para</strong> o<br />
empreendimento sem a necessidade de licitação,<br />
isenção do pagamento de taxas de<br />
compensação financeira, possibilidade de<br />
comercialização imediata da energia produzida<br />
com consumidores cuja carga fosse<br />
maior ou igual a 500 KW e a isenção do pagamento<br />
por uso da rede de transmissão e<br />
distribuição <strong>para</strong> <strong>PCH</strong>s que entrassem em<br />
operação até o ano de 2003 e após esta data,<br />
50% de redução, no mínimo (Eletrobrás,<br />
2001).<br />
Com a inclusão <strong>das</strong> <strong>PCH</strong>s no setor energético,<br />
estas foram classifica<strong>das</strong>, inicialmente,<br />
em função da potência instalada<br />
com valor máximo de 10 MW, de acordo<br />
com o Manual de Pequenas Centrais Hidrelétricas<br />
(ELETROBRÁS, 1982) e da portaria<br />
109/82 do Departamento Nacional de<br />
Águas e Energia Elétrica - DNAEE. Hoje, a<br />
1 - Engenheira Ambiental/UNIFEI-Mestranda em Meio Ambiente pela Universidade de São Paulo<br />
Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP<br />
1<br />
classificação toma como base não somente<br />
a potência instalada, mas também a área<br />
de inundação do reservatório, dada em função<br />
da cota máxima de montante. Esses valores<br />
variam entre 1 MW e 30 MW <strong>para</strong> potência<br />
instalada e área de inundação igual<br />
2<br />
ou inferior a 3,5 km , definidos pelo decreto<br />
nº 2.335/97 instituído pela Agência Nacional<br />
de Energia Elétrica - ANEEL, órgão sucessor<br />
do DNAEE.<br />
Pode parecer sensato não reconhecer a<br />
importância <strong>das</strong> <strong>PCH</strong>s em face da resolução<br />
dos problemas de abastecimento, porém<br />
estas se destacam por possuir características<br />
de menor impacto ambiental, exigir menores<br />
investimentos, prazo de concretização<br />
mais curtos, além de receber incentivos<br />
legais. Porém, há necessidade de se<br />
avaliar a implantação de <strong>PCH</strong> sob os aspecto<br />
ambiental e neste contexto, um estudo<br />
realizado por Mariotoni (2000) aponta impactos<br />
no ambiente geofísico, no meio hídrico,<br />
na biota, nos aspectos paisagísticos,<br />
bem como riscos, ruídos e impactos sócioambientais.<br />
Em que se pesem as controvérsias,<br />
segundo CERNEA apud Cunha<br />
(1999) a implantação de barragens e reservatórios<br />
pode resultar em conseqüências<br />
sociais positivas como, por exemplo, a<br />
eletricidade de baixo custo, a criação de empregos,<br />
o acesso à água potável e a água <strong>para</strong><br />
irrigação de plantações. Porém, o mesmo<br />
autor destaca três efeitos sociais negativos:<br />
o reassentamento e deslocamento in-