Edição 35 - Revista Algomais
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n Censura militar proibiu qualquer menção ao arcebispo que só podia falar<br />
nos púlpitos das igrejas e na rádio Olinda<br />
pensamento do Concílio Vaticano Segundo,<br />
que com a forte atuação do Dom da Paz tentou<br />
adaptar a Igreja aos tempos modernos.<br />
“Este ambiente conservador e fechado<br />
continua, e muitos da cúpula da Igreja gostariam<br />
que a memória do Dom fosse esquecida<br />
ou, ao menos, domesticada, mas há sempre,<br />
como o próprio Dom Helder chamava, ‘minorias<br />
abraâmicas’ que continuam insistindo no<br />
caminho e nas propostas dele”, revela o monge<br />
beneditino e escritor Marcelo Barros.<br />
A prova disso é que mesmo com as<br />
mudanças, a sociedade pernambucana ainda<br />
lembra os atos de Dom Helder e revela a<br />
vontade de vê-lo ser elevado ao altar como<br />
santo. Apesar de muitos considerarem quase<br />
impossível, ecoam poucas opiniões otimistas,<br />
que defendem a tese de que a sede<br />
da Igreja Católica de fazê-lo santo mostrará<br />
que ao eternizar Dom Helder a instituição<br />
estaria se atualizando. Para os que pensam<br />
o contrário, a beatificação do Dom nunca vai<br />
sair porque ele não tinha o perfil obediente,<br />
como exige a estrutura da Igreja.<br />
Já os que acreditam na beatificação<br />
não criam expectativas para um futuro próximo.<br />
“Dom Helder é um santo, sem dúvida,<br />
a vida que ele viveu dá razão para isso, mas<br />
a legalização à subida dos altares é difícil. A<br />
gente acredita que o nosso Dom alcançou a<br />
santidade tanto que alguns ainda arriscavam<br />
chamá-lo de meu santinho quando ele estava<br />
vivo. Mas, quando diziam isso, ele falava logo<br />
‘ser santo padre não é mérito de alguns é mérito<br />
de todos, todos nós devemos ser santos’.<br />
Dom Helder acreditava que aquilo realmente<br />
não era para ele”, revela Marieta Borges.<br />
Apesar de entenderem que a beatificação<br />
seria uma homenagem ao legado deixado<br />
por Dom Helder, o assunto não preocupa<br />
tanto os seguidores, que se confortam por<br />
entenderem que não interessaria ao religioso.<br />
Segundo o padre João Pubben, era muito<br />
provável que Dom Helder fosse até contra<br />
o processo porque é muito dispendioso. “Ele<br />
ficaria muito mais feliz se esse dinheiro fosse<br />
gasto para promover o irmão e alimentar<br />
famílias. Dom Helder já é santo. Quem em<br />
vida serve e ama o irmão é santo, não precisa<br />
ser oficialmente.”<br />
u uu<br />
Arcebispo<br />
sonhava<br />
acabar com<br />
a miséria<br />
“Na pobreza,<br />
o indivíduo tem o<br />
indispensável para<br />
viver, mas na miséria,<br />
nem o indispensável<br />
existe” Dom Helder Camara<br />
Peregrino da paz e precursor da luta<br />
contra a desigualdade social, Dom Helder<br />
morreu sem conseguir alcançar o seu<br />
objetivo principal: o Ano 2000 Sem Miséria.<br />
A campanha traçada em 1995 tinha<br />
como objetivo acabar com a desnutrição<br />
infantil. O simples trabalho, que dependia<br />
da vontade que a sociedade tinha de mudar<br />
a situação, não obteve resultado.<br />
Segundo a irmã Catarina Damasceno,<br />
ajudar aos pobres era uma felicidade<br />
muito grande para o Dom. “O dinheiro<br />
que ele tinha era na mão do próximo.”<br />
Os prêmios internacionais recebidos em<br />
dinheiro deram início à reforma agrária no<br />
Estado. “Com a quantia Dom Helder comprou<br />
três engenhos que até hoje existem<br />
e a terra está sob a posse das pessoas<br />
que lá foram morar. A luta dele ainda conseguiu<br />
que o governo assentasse várias<br />
famílias do Tururu”, revela a historiadora<br />
e integrante da diretoria do Idhec, Marieta<br />
Borges.<br />
Para alertar a humanidade da gravidade<br />
do problema que fazia com que poucos<br />
tivessem muito e muitos tivessem pouco,<br />
Dom Helder escreveu a letra da “Sinfonia<br />
dos Dois Mundos”, musicada pelo maestro<br />
Pierre Kaelin. A obra, que por ele era<br />
recitada, mostra todo o momento de desespero<br />
do homem no mundo da miséria,<br />
pobreza, da exclusão e acaba revelando a<br />
sociedade que a esperança são as crianças.<br />
u uu<br />
fevereiro ><br />
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