Edição 35 - Revista Algomais

Apesar de expressamente as pessoas
não se manifestarem contra o público gay,
por ser considerado discriminação, muitas
vezes o preconceito se manifesta de forma
velada. “Eu senti num hotel em Curitiba. A
gente se hospedou lá, mas não recebemos
o mesmo tratamento dos outros hóspedes;
num olhar você sente o preconceito. Eu não
volto mais lá, foi uma experiência horrível”,
diz o advogado mineiro André Gomes, que
escolheu o Recife para passar dez dias de
férias com o namorado. O casal vai se hospedar
no Cult Hotel, que faz parte da rede
friendly. “Eu vou me sentir mais à vontade,”
explica o advogado, que aprova a iniciativa
do CVB: “O turismo tem que englobar todas
as tribos, e você tem que agradar o público
GLSBT, que tem dinheiro para gastar.”
De fato, o mercado gay brasileiro não
pode mais ser ignorado. Formado por 18
milhões de brasileiros - 39% pertencem às
classes A e B - e 22% possui diploma de
curso superior. A pesquisa realizada pela
Insearch, que entrevistou 5.315 gays em
diversos Estados, constatou que 84% viajaram
pelo Brasil nos últimos 12 meses e 36%
foram para o exterior nos últimos três anos.
Como a maioria não tem família com filhos,
e consequentemente todas as despesas que
isso acarreta, acaba sobrando mais tempo e
dinheiro para o lazer, e é este público que a
campanha do CVB pretende atrair.
“É uma idéia pioneira, que coloca
Pernambuco à frente dos outros Estados
quando se trata do mercado GLSBT. Este é
o primeiro passo no sentido de que o setor
do turismo passe a receber os frutos deste
segmento”, diz Pádua, que nos treinamentos
com os funcionários dos hotéis vai abordar,
entre outros temas, o histórico da homossexualidade,
legislação municipal e estadual
sobre o assunto, bem como atendimento ao
público. “Dar esse treinamento vai ser muito
fácil, porque a única coisa que eles têm que
fazer é agir naturalmente, para saber lidar
com um casal do mesmo sexo que faz um
gesto de carinho, ou mesmo saber agir se
levar uma cantada, porque isso pode acontecer
tanto com um hóspede hétero, quanto
com um hóspede gay,” ressalta.
O Recife tem um dos mais consolidados
roteiros GLSBT do Nordeste com bares, boates,
cinemas, e trechos de praias, que são
considerados badalados pontos de encontro.
“Em frente ao hotel Savaroni o território
é demarcado por uma bandeira com as
n Placa que credencia os hotéis
cores do arco-íris. A praia de Gaibú é uma
referência gay de Pernambuco, e Porto de
Galinhas também tem alguns pontos”, explica
Adriano Pádua, que está elaborando um
guia, voltado para este público, que promete
ser uma importante ferramenta para auxiliar
o turista a escolher a melhor programação.
“O projeto está sendo apresentado para a
Secretaria de Turismo do Estado. A expectativa
é sejam feitos 10.000 exemplares que
serão distribuídos para agências de viagens
em todo Brasil, bem como casas voltadas
para este segmento.”
Além dos estabelecimentos voltados
especificamente para o público GLSBT, a
diversidade cultural do Estado é mais um
atrativo. “O Recife se diferencia por sua vida
cultural e noturna agitadas, e este é um pú-
Alexandre Albuquerque
blico que se interessa muito por cultura, porque
em geral são pessoas bem preparadas,”
ressalta José Otávio. Alguns hotéis que já
participam da campanha friendly são o Blue
Tree, Pousada Quatro Cantos, Cult Hotel, Tivoli
e Jangadeiro. “Nós já trabalhamos bastante
com esse público, e dentro do hotel
já preparamos os nossos funcionários para
tratarem bem o turista homossexual, porque
se a gente não atender bem quem perde somos
nós,” explica Maria do Carmo, gerente
comercial do Jangadeiro, que estima em
35% o movimento do público gay no hotel.
A gerente ressalta que no reveillon o
movimento foi muito bom: “Recebemos
muitos estrangeiros no final do ano. Teve
um casal de suíços que chegou no dia 26 de
dezembro, no dia 31 foram passar o reveillon
em Tamandaré, e em janeiro voltaram para
passar mais alguns dias no Recife.” Ao total
vão passar mais de 20 dias em Pernambuco,
consumindo e utilizando os serviços do
Estado. Segundo a Associação Brasileira de
Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes
(ABRAT-GLS), o turismo gay é o mercado
que apresenta mais crescimento no exterior.
Enquanto 9% dos heterossexuais americanos
viajam ao exterior, o percentual de gays
é de 45%. O Brasil é o quinto país mais procurado
para viagens pelos norte-americanos.
Após a campanha do CVB, Pernambuco vai
se mostrar ainda mais atrativo para receber
este público, que tanto quanto qualquer outro,
precisa ser respeitado. n
n José Otávio Meira Lins, presidente do Recife Convention Bureau, ressalta
que o público GLBTS gasta mais que o heterosexual em turismo e lazer
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