Johan Huizinga ea crítica da cultura contemporânea - Curso de ...
Johan Huizinga ea crítica da cultura contemporânea - Curso de ...
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Neste livro, <strong>Huizinga</strong> reconhece que a <strong>cultura</strong> oci<strong>de</strong>ntal está em crise e tenta buscar os<br />
elementos que tornaram esse momento atual distinto <strong>de</strong> um momento anterior, o século<br />
XVIII, em que, segundo ele, os valores imprescindíveis <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> oci<strong>de</strong>ntal ain<strong>da</strong> estavam<br />
intactos. Isto é, ele tenta diagnosticar o que a civilização per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> suas tradições e o que fez<br />
suscitar esse então presente quadro <strong>de</strong> colapso.<br />
Em Homo Lu<strong>de</strong>ns, <strong>Huizinga</strong> <strong>de</strong>senvolve a tese <strong>de</strong> que o jogo é anterior a <strong>cultura</strong> e<br />
que tem uma função significante, ou seja, carrega um significado que transcen<strong>de</strong> as<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s biológicas e que se apresenta como fator <strong>cultura</strong>l <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. Assim sendo,<br />
o aspecto lúdico é tomado como sendo um fenômeno <strong>cultura</strong>l e não biológico e estu<strong>da</strong>do a<br />
partir <strong>de</strong> uma perspectiva histórica. Para <strong>de</strong>senvolver essa análise, <strong>Huizinga</strong> dialoga com<br />
outras ár<strong>ea</strong>s do conhecimento humano apresentando uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> impressionante <strong>de</strong><br />
informações. Há uma investi<strong>da</strong> no universo <strong>da</strong> filologia, que permite ao autor compreen<strong>de</strong>r<br />
como a noção <strong>de</strong> jogo se expressa em diferentes línguas; e no universo <strong>da</strong> antropologia, que<br />
contribui no sentido <strong>de</strong> enriquecer os exemplos <strong>de</strong> como o elemento lúdico esteve presente em<br />
diferentes <strong>cultura</strong>s. Na lista <strong>de</strong> antropólogos citados nessa obra estão: Mauss, Malinoswki,<br />
Granet, Boas e outros. 51<br />
O jogo, a partir do recorte <strong>cultura</strong>l constituído por <strong>Huizinga</strong>, é tomado como sendo<br />
uma <strong>da</strong>s principais bases <strong>da</strong> civilização oci<strong>de</strong>ntal: a <strong>cultura</strong> surge sob a forma <strong>de</strong> jogo e ela é,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primeiros passos, como que “joga<strong>da</strong>”. 52 Em uma análise que retoma as<br />
especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do jogo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as <strong>cultura</strong>s “primitivas” até o século XX, este historiador se<br />
propõe a seguinte problemática: como na transição do século XVIII para o XIX o lúdico passa<br />
a ocupar um lugar secundário na <strong>cultura</strong>. Segundo ele, no século XIX, as gran<strong>de</strong>s correntes <strong>de</strong><br />
pensamento eram adversas ao fator lúdico na vi<strong>da</strong> social. A ciência analítica e experimental, a<br />
filosofia, o reformismo, a igreja e o estado neste século revestiram-se <strong>da</strong> mais extrema<br />
serie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que nunca se levou uma época tão a sério. Diante disso, a <strong>cultura</strong> <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ter alguma coisa a ver com o jogo.<br />
Além <strong>de</strong>ssa perspectiva diacrônica, <strong>Huizinga</strong> <strong>de</strong>bruça-se sobre o problema do jogo a<br />
partir <strong>de</strong> um recorte sincrônico. Durante todo o livro, ele busca <strong>de</strong>scobrir como o elemento<br />
lúdico está presente em várias esferas <strong>da</strong> atuação humana como na guerra, na poesia, no<br />
direito, no conhecimento e etc. Para tanto, ele parte <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> que o jogo não exclui a<br />
serie<strong>da</strong><strong>de</strong> e nem o ritual e po<strong>de</strong> se esten<strong>de</strong>r mesmo àquelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />
51 GOMBRICH, E. Op.cit. p. 141.<br />
52 HUIZINGA, J. Homo Lu<strong>de</strong>ns. Op. cit. p. 53.