o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público
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de desvios e dilações (ou atrasos, expansões). Saturno é o astro invocado por Walter<br />
Benjamin para tratar – de maneira muito peculiar – sua teoria da melancolia, mas também é a<br />
versão romana de Cronos, mito fundador grego do <strong>tempo</strong>. As reflexões desenvolvi<strong>das</strong>,<br />
encontram-se, portanto, sob o signo de Saturno ou Cronos, consistem em um desdobramento,<br />
uma leitura <strong>das</strong> narrações que formaram a modernidade, seus elementos constitutivos como<br />
meio de entrelaçamento <strong>das</strong> três dimensões/temáticas propostas: <strong>tempo</strong>, <strong>direito</strong>/linguagem e<br />
<strong>violência</strong>.<br />
Por isso, inicia-se a dissertação com o <strong>tempo</strong>, tratado a partir de diferentes marcos,<br />
mas com um norte delimitado, qual seja, a relação existente entre o <strong>tempo</strong>, a história, a<br />
linguagem, o <strong>direito</strong> e a <strong>violência</strong> (que, com a inversão <strong>das</strong> posições, <strong>das</strong> nuances entre os<br />
temas, acaba por perpassar todo o texto). A primeira questão trabalhada é a aporia do <strong>tempo</strong><br />
em Santo Agostinho, em que se expõe como ela representa uma mudança significativa na<br />
percepção do <strong>tempo</strong> na filosofia, promovendo o diálogo entre o <strong>tempo</strong> e a subjetividade (o<br />
local da aporia) e entrelaçando a finitude e a história humana, assim como, o <strong>tempo</strong> e a<br />
linguagem.<br />
O segundo tópico versa sobre os conceitos do <strong>tempo</strong>, guiado pela dicotomia entre<br />
Cronos e Kairós, em que o primeiro representa uma perspectiva linear, contínua, da<br />
<strong>tempo</strong>ralidade, enquanto o segundo remete a uma perspectiva fragmentada, circular, uma<br />
oportunidade fugidia. São tecidos comentários sobre como o conceito de <strong>tempo</strong> pode ser<br />
utilizado para a criação de dicotomias (ocidente e oriente), e a estratégia que as subjaz, qual<br />
seja, a busca por elevar um conceito cultural ao status de verdade universal. Também é<br />
debatida a questão sociológica do <strong>tempo</strong>, ou seja, o meio pelo qual ele pode funcionar como<br />
um mecanismo de regulação social, um sistema de disciplina que se protege sob um manto<br />
coercitivo semelhante ao do <strong>direito</strong>. A continuidade da questão disciplinar procede por meio<br />
de uma análise histórica da formação do conceito de <strong>tempo</strong> moderno, principalmente em sua<br />
relação com o trabalho, e com a introjeção de uma <strong>tempo</strong>ralidade aprisionada pela produção.<br />
Na terceira seção, a análise <strong>das</strong> raízes do <strong>tempo</strong> moderno se desloca para uma crítica à<br />
perspectiva que busca reduzir a complexidade do <strong>tempo</strong> a uma dimensão exclusivamente<br />
cientificista, um <strong>tempo</strong> homogêneo e vazio, ao mesmo passo em que são expostos os<br />
argumentos que fundaram a noção de modernidade. Como no caso de Baudelaire, o “primeiro<br />
modernista”, que é uma <strong>das</strong> principais fontes de inspiração de Benjamin. Logo, a partir <strong>das</strong><br />
reflexões de Benjamin, realiza-se uma análise da vida nas cidades, <strong>das</strong> multidões, e de como<br />
as pessoas lidam com as situações de choque e com o esvaziamento de suas experiências na<br />
modernidade.<br />
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