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o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público

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<strong>tempo</strong>ralidade inscrita em nossa linguagem, que se pode galgar uma reflexão não aporética<br />

sobre o <strong>tempo</strong> 27 .<br />

No Livro XI <strong>das</strong> “Confissões”, <strong>tempo</strong> e linguagem se fundem. O <strong>tempo</strong> – o ser fugidio<br />

que me devora – e a linguagem – o ser estranho que torna presente as ausências – não se unem<br />

por meio de uma relação de forma e conteúdo, mas de uma relação transcendental mútua,<br />

como expõe Gagnebin: “... o <strong>tempo</strong> se dá, de maneira privilegiada, à minha experiência em<br />

atividades de linguagem – no canto, na recitação, na escrita, na fala –, e só consigo falar,<br />

escrever, cantar e contar porque posso lembrar, exercer minha atenção e prever. 28 ”.<br />

Por isso, o <strong>tempo</strong>, como distensão da alma, condição transcendental da <strong>tempo</strong>ralidade<br />

em relação à linguagem e ao pensamento, impede a realização de uma reflexão sobre ele<br />

como um objeto externo à própria ação de pensar. Agostinho realiza, então, o duplo<br />

movimento de enredar de maneira diferenciada ação, linguagem e <strong>tempo</strong>ralidade e abrir uma<br />

teoria de várias intensidades <strong>tempo</strong>rais. Por isso, aprofundar a <strong>tempo</strong>ralidade humana, para<br />

além de uma concepção de um <strong>tempo</strong> homogêneo e vazio, implica perscrutar as diferentes<br />

<strong>tempo</strong>ralidades que são esboça<strong>das</strong> tanto no plano histórico como sociológico, tratar <strong>das</strong><br />

diversas intensidades do <strong>tempo</strong> e as representações que essas possuem na sociedade.<br />

2 – Cronos e Kairós<br />

A partir da dicotomia – que não é absoluta – entre Cronos e Kairós desenvolvem-se as<br />

diversas perspectivas que tecem um sentido para a categoria do <strong>tempo</strong>. Cronos sintetiza a<br />

sucessão irreversível entre antes, agora e depois, na qual tudo aquilo que já ocorreu não pode<br />

ser desfeito e nada daquilo que está por vir pode ser conhecido plenamente. Kairós conjuga,<br />

por sua vez, o <strong>tempo</strong> distendido em que o presente possui sua determinação do passado e do<br />

futuro, enquanto a memória daquilo que aconteceu e a imaginação sobre o destino de<br />

coletividades podem convocar ao ontem ou ao amanhã em cada agora histórico 29 .<br />

A análise de Agnes Heller sobre o <strong>tempo</strong> histórico ajuda a iniciar as reflexões que<br />

envolvem essa dicotomia. O <strong>tempo</strong> do drama grego era comprimido geometricamente,<br />

descrevia um círculo. Vinte e quatro horas formariam um círculo perfeito, a trajetória<br />

percorrida entre um amanhecer e o seguinte, um crepúsculo e seu próximo, representariam um<br />

<strong>tempo</strong> mítico, um <strong>tempo</strong> como unidade, um <strong>tempo</strong> de repetição. Para Heller: “O <strong>tempo</strong><br />

histórico não é circular muito menos linear, ao menos, não muito. Para exibi-lo graficamente,<br />

27 GAGNEBIN, J. M. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. p. 68.<br />

28 GAGNEBIN, J. M. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. p. 74.<br />

29 GARCÍA, G. V. Entre cronos y Kairós: Las formas del tiempo sociohistórico. Barcelona: Anthropos Editorial;<br />

México, D.F.: UNAM, 2007. p. 1.<br />

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