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o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público

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A disciplina do <strong>tempo</strong> do trabalho pode, de modo simbólico, ver seus primeiros<br />

esboços no ano de 1355, em que Felipe VI concedeu à prefeitura de Amiens a faculdade de<br />

regular a hora dos trabalhadores, por meio do soar de um sino, como o início da jornada, a<br />

hora de descanso e almoço, a hora de voltar ao trabalho e a hora de finalizá-lo 81 . Em<br />

continuidade, reflete-se sobre o <strong>tempo</strong> da produção e as mudanças que esse promoveu na<br />

sociedade como o controle do <strong>tempo</strong>, por meio do relógio, aparelho chave para a época<br />

industrial, que permitiu mesurar o <strong>tempo</strong> da automatização do trabalho, ao passo que também<br />

respondia à demanda epistemológica da ciência da época de certeza, métrica e precisão<br />

<strong>tempo</strong>ral. Época em que o <strong>tempo</strong> deixou de ser uma sucessão de experiências plenas, para se<br />

tornar uma coleção de horas que podem ser medi<strong>das</strong>, molda<strong>das</strong>, negocia<strong>das</strong>. Passa-se a tratar,<br />

então, de como ocorreram essas mudanças do sentido <strong>tempo</strong>ral com o advento da sociedade<br />

capitalista.<br />

2.3 – A disciplina do <strong>tempo</strong> abre as portas para a modernidade<br />

Segundo Thompson, já se encontra bastante difundido o conhecimento sobre o fato de<br />

que entre povos “primitivos” a medição do <strong>tempo</strong> se forjava costumeiramente com atividades<br />

familiares ou no ciclo do trabalho ou de tarefas domésticas 82 . Essa forma de relação do <strong>tempo</strong><br />

pode ser chamada de orientação pelas tarefas. Muito comum em sociedades agrícolas, ela<br />

pode ser fragmentada em três planos. Primeiro, havia uma relação imediata do camponês com<br />

suas necessidades. Segundo, na comunidade campesina não se realizava uma separação nítida<br />

entre o “trabalho” e a “vida”, havia uma confluência entre relações sociais e relações laborais.<br />

Terceiro não se relacionavam com a marcação do <strong>tempo</strong> de forma precisa, o que poderia<br />

parecer indolente a olhos externos 83 .<br />

A mudança dessa relação ocorreu com a passagem da economia familiar, ou de<br />

pequena escala, para a inclusão da mão-de-obra, da contratação do trabalho e da delimitação<br />

da relação entre empregador-empregado. Buscava-se nessa relação (contratual) a delimitação<br />

do trabalho com determinado <strong>tempo</strong> marcado, ainda que não precisamente houvesse um<br />

“horário” marcado – esse poderia ser estimado em dias ou meses dependendo da relação<br />

laboral.<br />

desperdiçado. Seus pontos de referência para o <strong>tempo</strong> são fornecidos por suas atividades sociais.” (WHITROW,<br />

G. J. O <strong>tempo</strong> na história. pp. 21-22).<br />

81 GARCÍA, G. V. Entre cronos y Kairós. p. 112. Ainda que este exemplo não possa ser visto como algo além de<br />

um esboço, ele simboliza em alguma medida seu futuro em que o <strong>tempo</strong> do trabalho passaria a ocupar um lugar<br />

central na modernidade, na sociedade industrial.<br />

82 THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia <strong>das</strong> Letras, 2008. p. 269.<br />

83 THOMPSON, E. P. Costumes em comum. pp. 271-272.<br />

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