o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público
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seu significado relacionado com o fim dos <strong>tempo</strong>s, passaram a ser, em si e por si, o sentido da<br />
<strong>tempo</strong>ralidade, apresentando-se como históricos 116 .<br />
Com isso, percebe-se que a imagem do <strong>tempo</strong> da modernidade se pautou pela<br />
perspectiva <strong>das</strong> ciências da natureza, de modo que é um <strong>tempo</strong> do “desenvolvimento” e do<br />
“progresso”, que se coloca como a razão de um processo orientado cronologicamente,<br />
tornando-se a categoria que guia o conhecimento histórico. Tal ponto de vista leva a um<br />
paradoxo, pois, sob a égide do triunfo do historicismo no século XIX, para Agamben, está<br />
escamoteada uma profunda negação da história em nome de uma epistemologia moldada<br />
pelas ciências da natureza 117 .<br />
Para além da concepção cientificista vulgar da <strong>tempo</strong>ralidade e de uma busca<br />
(ideologizante) da percepção do <strong>tempo</strong>, o modo de pensar a história de Marx, em que o ser<br />
humano não é um ser histórico por ter caído no <strong>tempo</strong>, mas, ao contrário, pelo fato de ser um<br />
ser histórico, teve condições de encontrar os meios para produzir sua <strong>tempo</strong>ralidade,<br />
<strong>tempo</strong>ralizar-se.<br />
Contudo, como observa Agamben: “Marx não elaborou uma teoria do <strong>tempo</strong> adequada<br />
à sua idéia da história, mas esta é certamente inconciliável com a concepção aristotélica e<br />
hegeliana do <strong>tempo</strong> como sucessão contínua e infinita de instantes pontuais. 118 ”. Ademais, a<br />
contradição do ser humano con<strong>tempo</strong>râneo estaria na impossibilidade de experienciar o <strong>tempo</strong><br />
da mesma forma como poderia produzir sua história, cindido entre o ser-no-<strong>tempo</strong>, em que<br />
experimenta uma fuga de instantes sem fim, e o ser-na-história, compreendida esta como<br />
dimensão constitutiva dos seres humanos para o marxismo.<br />
Na tradição ocidental, seja a representação do <strong>tempo</strong> feita por meio de um círculo ou<br />
uma linha, o caráter que domina toda concepção do <strong>tempo</strong>, para Agamben, é a pontualidade,<br />
pois o <strong>tempo</strong> vivido é formulado como um conceito metafísico-geométrico, e esta formulação<br />
embasa a afirmação de uma “descoberta” de um <strong>tempo</strong> real da experiência. Por isso, qualquer<br />
proposição diferente da compreensão do <strong>tempo</strong>: “... deve, portanto, defrontar-se fatalmente<br />
com este conceito, e uma crítica do instante é a condição lógica de uma nova experiência do<br />
<strong>tempo</strong>. 119 ”.<br />
Para os Estóicos, esta noção de um <strong>tempo</strong> homogêneo, infinito e quantificado, é a<br />
compreensão de um <strong>tempo</strong> inexistente, inapreensível, o qual constituiria a enfermidade<br />
fundamental que retardaria a existência humana de se perceber como única e completa. Como<br />
116 AGAMBEN, G. Infância e história. p. 117.<br />
117 AGAMBEN, G. Infância e história. p. 118.<br />
118 AGAMBEN, G. Infância e história. p. 121.<br />
119 AGAMBEN, G. Infância e história. p. 122.<br />
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